A influência do candomblé na formação da cultura baiana.

Por Paulo Henrique Paiva dos Santos | 06/09/2016 | Literatura

RESUMO

O presente artigo propõe discutir acerca da religião de matriz africana, candomblé, desde suas raízes, visando estabelecer uma breve relação entre sua formação e sua influência na construção da cultura baiana, dessa forma, procuramos discutir conceitos de cultura, partindo de concepções de alguns autores, pensando nesse objetivo, se fez uso de artigos científicos, pesquisas em terreiros de candomblé, além de observação de cerimônias religiosas, festejos populares e visitação museológica, toda construção do trabalho visa como resultados principais, a desconstrução de uma visão deturpada do candomblé, do auto-pertencimento a essa cultura que foi disseminada em nosso país, e da sua contribuição na formação da identidade cultural de nosso estado e cidade. Com o estudo, se percebe claramente que a cultura africana contribui significativamente na construção da formação da cultura brasileira, e todas as pesquisas realizadas possui relevância significativa para o entendimento e conhecimento acerca da nossa cultura como um todo, sendo a religião de matriz africana, candomblé, um produto desta, contribuindo assim, para novas concepções e saberes, auxiliando no combate a intolerância religiosa, secundar para que todos os brasileiros se sintam pertencentes a essa cultura que foi disseminada em nosso país, e hoje faz parte da formação da nossa identidade cultural.

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais vivemos, em nossa sociedade, grandes problemas em decorrência á impregnação da intolerância religiosa, principalmente no que diz respeito aos cultos de matriz africana, pensa-se que tal problemática se dissemina devido a falta de conhecimento e a um elevado estagio de preconceito racial, previamente imposto pelo processo de escravização, cujo dá referência de que essa é uma religião de negros, fazendo dessa forma associação aos cultos com anjos malignos “diabo”, assim, ainda está instituída  uma guerra civil-religiosa em que os cultos são comumente desrespeitados e os seus devotos sofrem constante violência de varias espécies, que evidenciam atos de intolerância religiosa acontecem constantemente em todo o Brasil.

Dessa forma, o presente artigo versa acerca dessa problemática, discutindo a importância do culto, candomblé, na formação da cultura baiana, tendo como objetivo principal, o levantamento de questões que levem a reflexão de que sua existência possui grande influência sobre a identidade cultural de nosso povo, viabilizando o entendimento acerca da religião de matriz africana, sua formação e existência, contribuindo de forma significativa, para que cada indivíduo, independente de credo, sinta-se pertencente a essa cultura, e para que os conceitos expostos aqui contribua para á abolição da intolerância religiosa. Partindo dessa vertente, o presente artigo analisa desde o conceito de cultura, manifestações culturais, surgimento do candomblé na Bahia, até sua atual existência e cultos, discutindo e exemplificando as relações existentes entre seu culto e a cultura do povo baiano.

2  DESENVOLVIMENTO

Pensa-se que onde há vida, inerente a existência humana, há cultura, e determinada cultura é histórica partindo do ponto de vista de que toda nação possui sua própria história, desde o que diz respeito á seu surgimento territorial e urbano, até sua formação de povos e seus costumes, levando dessa forma a construção de culinárias, vestimentas e cultos religiosos.

Entretanto, os bens patrimoniais são materialidades e práticas culturais que se destacam no tecido urbano e nas manifestações populares por mediarem diferentes e memoráveis fatos históricos e personagens ilustres, ou por representarem heranças culturais, técnicas e estéticas de tempos passados. (SOCORRO, 2008, p. 8).

Assim, é importante definir que a religião de matriz africana, em suma, como no caso em estudo, o candomblé, apresenta características que evidenciam sua relação com a história de nosso povo, pois representa em sua estrutura fatos e personagens históricos, segundo suas tradições, podendo dessa forma compreender que se deve preservar sua existência e sua influência na formação da cultura baiana, e sua representatividade enquanto patrimônio cultural, já que “o termo ‘patrimônio’ – em inglês, heritage- refere-se a algo que herdamos e que, por conseguinte, deve ser protegido”. (SOCORRO, 2008, p. 7 apud, OLIVEN, 2003.p.77). O culto do candomblé apresenta em sua estrutura a inspiração em lendas, de origem africana, ao orixá, em que se dá por meio dessa, crenças aos orixás que possui em seu culto relação direta com a natureza, e sua representação é feita através desses elementos, que por sua vez possui sua energia emanada ao corpo do sacerdote, que passa pelo ócio de transi e representa a energia do orixá incorporado, através de danças, conversas, rezas e cânticos, e toda essa crença representativa torna-se suficiente para que se possa definir o candomblé como um patrimônio cultural imaterial.  

  “São considerados bens patrimoniais imateriais as manifestações das culturas populares, festejos tradicionais, rituais, técnicas produtivas, cantos, contos, lendas, além de hábitos, costumes e crenças de uma determinada sociedade”. (SOCORRO, 2008, p.).

Como se pode perceber, o culto ao candomblé é cercado de costumes e tradições, que influenciam direta, ou indiretamente na cultura baiana, a exemplo disso, daremos referência aos festejos baianos que se relacionam diretamente ao culto, tanto na sua estrutura estética como em sua culinária, os traços candomblecistas possuem relação com os festejos baianos, podemos então citar, a festa de Santa Bárbara que reúne não somente os devotos católicos como os candomblecistas, e tem como culinária principal o caruru, comida da culinária africana também servida nos cultos ao orixá, acompanhada de celebrações com samba de roda que remetem os movimentos dos orixás, já que possuem em sua estrutura coreográfica traços da africanidade, assim como a festa do Senhor do Bonfim, Festa do São Lazaro, Conceição da Praia, e essa relação é que forma a identidade cultural baiana.

  “As festas culturais são traços de um conjunto etnográfico da história e da cultura de todos os povos, em todos os níveis de classes sociais. Assim, as manifestações étnicas entre negro, índio e branco resultaram em um alicerce etnográfico comum a todo território com suas tradições de ordem religiosa e social, firmadas no Brasil.” (SOCORRO, 2008, p.3).

Toda essa representação possui grande influência na formação da identidade cultural do povo baiano, sua aparência, sua culinária, seu modo de ver o mundo, sua conexão com a natureza, sua formação hierárquica, suas danças, suas rezas, seus cânticos, suas ideologias e seus fundamentos.

“Pode-se dizer que o fato culinário, o jogo das aparências, os pequenos momentos festivos, as deambulações diárias, os lazeres não podem ser considerados elementos sem importância ou frívolos da vida social.” (SOCORRO, 2008, p.5 apud MOESH, 2002, p.45).

Além de toda essa relação com as manifestações culturais, é possível perceber que o candomblé possui relação também no fazer artístico, e hoje, com a implantação da lei 10.639/03, no fazer educacional, ainda que mesmo com a lei em vigor, a prática não seja comum, essa não é uma problemática em estudo, porém se pode identificar exemplos reais de que o candomblé, atualmente possui, também, uma grande representação artística, a exemplo disso, podemos citar o Ballet Folclorico Da Bahia, criado em 1988 por Walson Botelho e Ninho Reis, que apresenta em suas coreografias, técnicas com temáticas relacionada a dança dos orixás e possui grande representação artística na Bahia, e já tem seu nome reconhecido mundialmente, levando para outros países a história dos Orixás, com isso reproduzindo o saber acerca da nossa cultura.

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