A Influência da Televisão nos Interesses do Consumidor
Por Diego Gianni Gomes Jacinto | 15/09/2013 | SociedadeA Influência da Televisão nos Interesses do Consumidor
Diego Gianni ¹; 5° período, Módulo Televisão B
Resumo
Por meio de uma pesquisa empírica e estudos relacionados com as disciplinas Teoria do Conhecimento; Técnicas de Produção em TV; Direito do Consumidor, este presente artigo tem por objetivo analisar de que forma a mídia televisiva ainda desperta ou não o interesse dos seus potenciais consumidores por meio da difusão das propagandas. O texto propõe não apenas uma comparação entre a televisão e a internet (análise esta que certamente abrange muito mais embasamento teórico e profundidade de pesquisa do que os breves dados aqui apresentados), mas sim uma reflexão acerca da comunicação interligada aos interesses dos consumidores - estes com acesso a uma multiplicidade maior de informações propiciadas pela web. Se o público que tem acesso ao uso da internet pode escolher o conteúdo a ser acessado, levando em consideração, nas palavras de André Lemos, o “excesso e a circulação virótica de informações”, qual o impacto que as propagandas vinculadas na mídia televisiva ainda podem exercer no consumo? No presente artigo também são consideradas as condições socioeconômicas do Brasil na tentativa de abordar, com mais zelo, qualquer efeito comparativo entre a televisão e a internet. A hipótese aqui apresentada é a de que a televisão, como fonte de propaganda, ainda mantém a soberania no mercado publicitário, porém, em processo de convergência para se adequar ao perfil de um novo consumidor.
Palavras - chave: Consumo; Consumidor; Interesse; Televisão
¹ Estudante de Graduação 5º semestre do Curso de Jornalismo da Facinter, email: diegogianni@hotmail.com
Introdução
No livro Mídia e Produção Audiovisual (2008), a autora Marcia Nogueira Alvez (também consultora e de criação e produção de novos formatos para a televisão), escreve que é provável que o primeiro anúncio da história da propaganda tenha sido feito pelos egípcios (até neste quesito eles foram os pioneiros). A base para curiosa informação é um fragmento de papiro datado do ano 1.000 a.C e conservado no Museu de Londres. No papiro, há a informação sobre a fuga de um escravo e uma generosa recompensa para quem o encontrar.
A necessidade de divulgar informações sempre acompanhou a humanidade, tão natural quando a importância do homem se comunicar, “se fazer entender”. O que muda através dos tempos são os interesses que caminham paralelamente a comunicação. No século 19 surgiu o fenômeno da cultura de massa. O cinema e o rádio foram os primeiros meios a atingirem uma comunicação em massa, algo que o jornal impresso não podia fazer por não ter as mesmas condições de atingir grande parte da população.
Mas até então, dentro desse contexto, estamos falando de uma evolução. O que provocou uma revolução foi o surgimento da televisão. O cientista político Giovanni Sartori, em seu livro Homo Videns, faz uma severa crítica as consequências de televisão sobre o comportamento humano. Para ele, a imagem é inimiga da abstração e a televisão está produzindo uma geração de pessoas incapazes de raciocínio lógico.
Partindo dessa crítica de Sartori, e também levando em consideração questões legais relacionadas ao CDC (Direito do Consumidor) e questões éticas levantadas pela filosofia, desenvolvemos um questionário para compor as resultantes como parte importante deste artigo. Considerando a hipótese de que a televisão no Brasil ainda é o maior meio de comunicação em massa (sendo as múltiplas possibilidades midiáticas da internet inacessíveis para a maior parte dos brasileiros), de que forma a televisão exerce ou não influência nas pessoas em relação ao consumo?
Pesquisa, Imagem e Credibilidade
Recentemente ², a cantora brasileira Sandy vinculou sua imagem a uma marca de cerveja. A reação do público foi de surpresa, evidentemente, pois a imagem que Sandy passa para o público em geral (ou a imagem que o público sempre teve da Sandy) entra em contradição com a cantora como a garota propaganda de uma marca de cerveja, produto que geralmente utiliza mulheres sensuais de forma estereotipada. A cor do cabelo de Sandy foi também mudada para que ela se adequasse a esse universo e supostamente chamasse ainda mais a atenção para a propaganda. Em uma das entrevistas que deu para comentar sobre o assunto, Sandy admitiu que não tem o hábito de beber cerveja. Disse ainda, para reforçar sua defesa, que duvida que determinados artistas usem os produtos que anunciam. Essa simples declaração gerou protestos por parte de alguns artistas que se sentiram ofendidos e fizeram uma auto defesa nas redes sociais, alegando que “sim, usamos o que anunciamos porque confiamos no que vendemos”.
O exemplo dado é válido para este artigo, pois trata de uma das questões que estabelecemos em nosso questionário: um anúncio televisivo feito por uma celebridade influencia no interesse do consumidor?
Entrevistamos dez homens e dez mulheres, todos com idade entre 18 e 30 anos (apenas como forma de restringir a pesquisa), classes A e B, no centro da cidade de Curitiba.
80% dos homens responderam que não se recordam de alguma vez já terem sentido interesse em adquirir determinado produto por terem assistido uma celebridade divulgando-o em comerciais televisivos. O mais importante, segundo os entrevistados, é o produto anunciado, e não necessariamente quem anuncia.
Entre as mulheres, a porcentagem que considera relevante o anúncio feito por alguma celebridade foi um pouco superior: 40% das entrevistadas responderam que “quando o comercial de TV anuncia produtos de beleza, o interesse delas (consumidoras) é despertado quando o anúncio é feito por uma mulher que tem algum traço de beleza que elas gostariam de imitar, se inspirar (creme para a pele, loção de banho, xampu, etc).
² Propaganda exibida pela televisão no 1° semestre de 2011
Quanto a Responsabilidade da Influência da Televisão
Se o telejornalismo forma opiniões, podemos discorrer a propaganda televisiva forma tendências e influencia no consumo, uma vez que a televisão, como mencionado anteriormente, ainda pode ser o mais abrangente meio de comunicação de massa.
80% das pessoas abordadas em nossa pesquisa disseram ter mais conhecimento dos produtos anunciados pela televisão, em comparação com os outros meios. O público da internet a utiliza para outros fins, enquanto o público televisivo assiste “obrigatoriamente” os intervalos comerciais distribuídos pelos programas. Portanto, a televisão tem enorme responsabilidade no cuidado dos tipos de produtos que estão sendo anunciados. Não se trata apenas de uma manutenção da qualidade visual do que está sendo anunciado, mas sim na veracidade do produto.
A respeito disso, o artigo 37 do Código do Consumidor legaliza que:
É proibida toda publicidade enganosa e abusiva. É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço, e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
Relação entre Televisão e Consumidor
Nesta última década, temos observado que, devido à evolução da internet, os comerciais também passaram por uma adaptação (ainda que não de forma soberana). Muitas propagandas passaram a ser inseridas dentro do roteiro de novelas. Comunicólogos analisam que a relação entre a propaganda televisiva e o consumidor irá passar por uma transformação crescente. Uma das explicações para esse fenômeno de convergência é descrita por André Lemos, professor da Universidade Federal da Bahia. Lemos fez um estudo (Cultura da Interface, 2.002) sobre a velocidade da troca de informações propiciada pela internet e o comportamento sociocultural:
As diversas manifestações socioculturais contemporâneas mostram que o que está em jogo com o excesso e a circulação virótica de informações nada mais é do que a emergência de vozes e discursos, anteriormente reprimidos pela edição da informação pelos mass média. Aqui a máxima é “tem de tudo na internet”, “pode tudo na internet”.
Relação entre Consumidor e Interesse
A totalidade de nossos entrevistados, na condição de consumidores, admitiu sofrer influência da televisão, Porém, tal influência não é emitida unicamente pelos intervalos comerciais entre os programas, mas também pelos próprios programas (novelas, especificamente). O interesse do consumidor é despertado pela mídia televisiva, mesmo quando determinada propaganda é feita de forma implícita (as jóias que uma atriz usa na novela, por exemplo).
O conceito de interesse é descrito pelo filósofo contemporâneo Jürgen Habermas (editora Zahar; Rio de Janeiro; 1982; 368 páginas):
No que diz respeito à busca de um conhecimento de termos, se faz necessária à presença de um estimulo dado pelo interesse que o individuo possui acerca deste assunto. Todo o conhecimento é induzido ou dirigido por interesses O conhecimento depende do interesse, uma vez que é necessário ter certo apreço na busca pelo mesmo.
Habermas defende a Razão Comunicativa como a solução para a ausência da contemplação no sujeito. É importante que ressaltemos isso neste estudo, pois dentro do contexto da cultura de massa, a Comunicação não pode estar separada da auto reflexão, ou seja: sendo a televisão o meio predominante de propaganda, deve também estar atenta ao impacto que seus anúncios e programação causam em seu público vigente.
Conclusão
Por meio dos nossos estudos teóricos e também de nossa pesquisa restrita, concluímos que a televisão ainda repercute, direta ou indiretamente, no perfil do consumidor. Por mais que a web ofereça uma multiplicidade maior de informações, ela ainda não superou a televisão no que diz respeito ao acesso que a maioria da população tem a programação como um todo. Os intervalos comerciais televisivos influenciam no comportamento do consumidor e são vistos por milhões de pessoas diariamente em todas as regiões do país, em todas as classes sociais. A televisão deve, portanto, estar preparada não apenas para atender os interesses da “geração que não sabe esperar” (como escreveu André Lemos), mas também estar cada vez mais atenta às questões éticas e legais.
REFERÊNCIAS
ALVES, Márcia. Mídia e produção audiovisual. Curitiba / PR, Editora Ibpex, 2.008.
SARTORI, Giovanni. Homo videns, televisão e pós-pensamento. Universidade do Sagrado Coração, Editora Edusc, 2.001.
Código do consumidor. Lei 8.078, 1990, art. 37.
LEMOS, André. Cultura da Interface. Porto Alegre / RS. Editora Sulina, 2.002.
HABERMAS, Jürgen. Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro / RJ: Zahar editores, 1982.