A Inflação E As Estratégias Do Negócio

Por Roberto A. Trinconi | 13/06/2008 | Adm

A Inflação e as Estratégias do Negócio

O impacto inflacionário – um complexo e temível exercício de atenção.

A inflação é uma variável que representa extrema dificuldade e complexidade à estratégia de qualquer empreendimento. Enquanto que as suas conseqüências diretas na alta dos custos estruturais podem exigir atitudes contundentes na gestão operacional das empresas, o seu enfoque mais amplo – global, por assim dizer, pode gerar efeitos ainda mais radicais.

Nesse cenário podemos tomar como exemplo um fato que tem alardeado os analistas econômicos de plantão: a inflação chinesa.

Sabemos que a China possui uma população astronômica em relação à maioria dos outros países e que, com o passar dos tempos, com o brutal crescimento de sua economia, e com a incipiente e gradativa abertura ao mundo capitalista, o povo chinês começa a ter maior acesso ao consumo de novos produtos – algo impensável num passado recente.

Com uma população superior a 1,3 bilhões de habitantes, a China representa a maior concentração de necessidades de consumo do planeta. Se considerássemos esse novo "poder de compra" na mão de apenas 1% dos chineses, ou seja, por volta de 13 milhões de pessoas, isso corresponderia a uma população maior do que as da Bélgica, Grécia, Hungria, Áustria, Portugal, Suécia, Irlanda, e um grande número de outros países.

Com esse raciocínio, não nos fica difícil entender a grave preocupação do governo chinês com os alarmantes índices de crescimento da inflação no país – algo jamais sentido por um povo governado nos mais austeros princípios do regime comunista.

Como já assistimos a esse filme várias vezes, podemos imaginar os movimentos radicais que o governo chinês já ensaia tomar na economia: diminuir a circulação interna de dinheiro, limitar o acesso ao consumo básico e aumentar, ainda mais, a exportação da gigantesca produção interna.

Não queremos tecer análises ou tendências econômicas, mas fica claro que o torrencial de exportações chinesas passará a ser destinado aos países que buscam produtos de baixo custo, ainda que isso signifique aceitar níveis questionáveis de qualidade. Lembram-se da síndrome causada pela enxurrada de artigos nas "lojas R$ 1,99"?

No cenário doméstico, o temor que a inflação brasileira se re-estabeleça, causa às empresas enorme aflição, uma vez que surge como fator deflagrador de diversos índices de reajustes de preços, e como sabemos, importantes impactos às estruturas de custos operacionais nas pequenas e médias empresas (PME), que vivem na difícil luta pela sobrevivência.

Quando os reajustes começam a impactar, parece-nos impossível interromper tal escalada – salários, custos das matérias primas, despesas de infra-estrutura, transporte, alimentação, e por aí vamos... 

Por outro lado, aos primeiros indícios de crescimento da inflação global, temos que levantar a guarda ainda mais, pois esse choque não pode ser desprezado. Mesmo que muitos empresários imaginem-se distantes do mercado internacional...!

Conforme comentamos anteriormente, o caso da inflação chinesa e suas conseqüências nos mercados globais geram duas importantes vertentes:
 
1.    A explosão da demanda interna por gêneros alimentícios e matérias primas (commodities);

2.    Uma drástica ofensiva na exportação de manufaturados – a indústria chinesa está totalmente voltada ao mercado exterior.

Em tempo: o mercado fala em commodities de forma a qualificar os produtos primários, normalmente em estado bruto e sem qualquer valor agregado – por exemplo: café, açúcar, grãos (milho, arroz, soja, trigo, feijão, etc.), petróleo, minérios, etc. – cujos preços são determinados e cotados pela oferta e demanda no mercado global.

Adicionalmente, vem crescendo, vertiginosamente, algo que poderíamos chamar de a "onda da produção massificada" – certos produtos manufaturados, comuns em utilização em todo o mundo e que inundam o mercado com gigantescas ofertas de volume e preços imbatíveis. Geralmente, o preço final com que chegam ao mercado não sustentaria nem mesmo os custos de produção das empresas locais mais competitivas.

Você já buscou verificar a procedência de produtos, tais como: cabos e conectores de eletrônicos e de informática; ferramentas manuais (alicates, chaves de fenda, etc.); parafusos; plásticos e utensílios; brinquedos; e um universo de outros produtos e equipamentos menores, incluindo, peças automotivas?

A esmagadora maioria desses produtos vem dos países asiáticos, sendo que a fatia principal é da China. Assim, não nos fica difícil entender o temor que o movimento inflacionário, associado à tendência de desvalorização do câmbio, poderá trazer ao Brasil – uma chuva de produtos e serviços, nos mais diversos segmentos e utilizações.

Como anteriormente dissemos em outro artigo, a busca e a interpretação dos sinais e das informações do mercado são imprescindíveis a qualquer empresa. Infelizmente, as PME não se prestam muito a essa preocupação.

Basta uma olhadela no comportamento do mercado de atuação e uma busca simples pelas ondas da internet, para sentir os movimentos e as tendências das ofertas e das suas características.

Aprofundar conhecimentos sobre clientes, fornecedores, concorrência, canais de distribuição dos produtos e dos serviços, enfim, poder interpretar os movimentos do segmento de atuação é imprescindível.

A internet, por sua vez, propicia o acesso rápido e seletivo a informações, comentários, novidades e notícias que, uma vez interpretadas com atenção, poderão nortear a análise estratégica do momento da empresa frente ao mercado.

Muitas vezes, pequenos ajustes poderão ser iniciados com grande antecedência, diminuindo o impacto doloroso das reações drásticas de cortes e de enxugamento, normalmente tomadas quando a empresa se encontra desavisada e desprovida de informações.

Em outras tantas, a desinformação pode gerar feridas ainda maiores, percebidas apenas quando os produtos ou serviços da empresa encalham diante de um mercado que compra por preços impraticáveis nos moldes convencionais de produção e sob a luz da legalidade e da estrutura de tributos vigentes no país.

Agindo com a lucidez estratégica gerada pela antecipação de tendências e informações, a empresa poderá até mesmo mudar o rumo de seu objeto de negócio, de forma a reorientar seus esforços a segmentos ou nichos menos explorados, evitando o embate mortal da concorrência por preços. Tudo se pode imaginar e intentar quando antecipadamente preparados e prevenidos!

A fonte de energia necessária ao planejamento estratégico reside no conhecimento do mercado de atuação e no alto nível e precisão das informações que norteiam os movimentos desse mercado.

Isso não é um privilégio das empresas mais preparadas. Pelo contrário, trata-se de uma questão de sobrevivência para o mundo das pequenas e médias empresas brasileiras.

Roberto A. Trinconi
CEO
EdgerSense Consulting
The Business Management Intelligence Company