A Inclusão Digital da Mulher Negra nas Turmas da Eja de Santa Cruz de Minas: Superando a ExclusÃo Social
Por Neuza MARIA CÂMARA DE SOUZA | 26/11/2008 | EducaçãoRESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a
pesquisa das trajetórias escolares da mulher de cor negra residente na pequena
cidade de Santa Cruz de Minas em Minas Gerais matriculadas nas turmas de EJA
(Educação de Jovens e Adultos) do ensino fundamental séries iniciais que nos
últimos anos vem demonstrando que a exclusão social pode ser amenizada pela
inclusão digital. Na vida delas sempre estiveram presentes problemas de
exclusão social, dificuldades econômicas que embarreiraram o acesso a uma
educação escolar que priorizasse a alfabetização. Serão abordados traços do
perfil da mulher negra quanto aos aspectos: trabalho exaustivo e mal
remunerado, peso do sustento da família e da educação dos filhos, sendo elas as
responsáveis pelo sustento da família, muitas das vezes são as que representam
a figura paterna. O presente artigo busca aprofundar sobre o interesse da
mulher negra em estudar nas turmas de Educação de Jovens e Adultos que a partir
de 2006 tem conseguido superar muitas dificuldades de aprendizagem e
permanecido na escola por causa da abertura de uma sala de informática na
Escola Estadual que estão matriculadas possibilitando a inserção do uso do
computador no cotidiano das aulas e aliando a informática aos conteúdos
ensinados em sala de aula. Levando em consideração que o número de mulheres
negras matriculadas nas turmas de EJA do ensino fundamental séries inciais é
significativo com relação ao restante das alunas de cor parda ou branca
tornou-se relevante a averiguação das trajetórias delas que representam 40% das
matriculas que são efetivadas desde primeiro ano até o quarto ano do ensino
fundamental. Sendo a condição inicial da mulher negra de analfabeta, ou seja,
que não distingue o sistema de alfabeto e não possui habilidades de leitura e
escrita e no processo de alfabetização, e quando no processo de ensino e
aprendizagem é inserido o uso de uma ferramenta nova, pertencente à Tecnologia
da Informação que é o uso do computador e programas simples de manuseio de
textos e exercícios dos conteúdos estudado e o uso da internet também como
característica de informação de busca ela se tornou alfabetizada digital, sendo
possível conjugar aprendizagem alfabética e digital, é perceptível a mudança
ocorrida no comportamento e uso da linguagem delas que demonstrou uma aceitação
da sociedade da condição de que a mulher negra também pode ser alfabetizada e
ter acesso ao uso do computador. Como elemento de informação o processo que
envolve o ensino da mulher negra é basicamente a alfabetização e quando ocorre
à inserção no mundo digital é percebida uma prática nova que poderia ser
traduzida como o letramento, onde são vivenciadas as práticas sociais
existentes em cada trajetória escolar. Palavras-chave: exclusão social,
alfabetização, letramento, inclusão digital e superação.
Introdução:
As mulheres sempre estiveram presentes na história do país desde o período colonial, a presença da mulher negra então foi fato consumado pela historiografia. A escravidão que perdurou por séculos trouxe a mulher negra para o país como mão de obra frágil, pronta para a procriação e serviços domésticos e sempre manteve um rastro de exclusão social mesmo após a Abolição da Escravatura ocorrida em fins do século XIX (1.888), embora ainda houvesse senhoras negras de classe abastada. Limitada, a ascensão social de descendentes de escravos era possível. Por exemplo, em atividade como comércio, a mineração, jornalismo ou até pelo casamento. Embora no século XX tenham ocorrido muitos movimentos feministas mesmo assim a exclusão e racismo sempre estiveram presentes na vida da mulher negra brasileira.
No dias atuais a mulher de cor negra tem alcançado o seu espaço quer seja como dona de casa, ou fora atuando em alguma profissão e tem se destacado no ingresso aos cursos da educação básica e cursos de graduação. Mas existem alguns pontos de relevância nessa pesquisa que é demonstrado que:
A conquista do espaço feminino no mercado de trabalho fez com que as mulheres hoje representem uma parcela superior a 45% da população economicamente ativa em cada uma das regiões pesquisadas. Embora uma parte significativa dos trabalhadores de ambos os sexos tenham baixo nível de escolaridade, as mulheres têm um perfil educacional mais elevado que a parcela masculina e a proporção daquelas que concluíram o 2º grau ou alcançaram o ensino superior é maior que a verificada pelos homens (POMPEU, 2007 p.56-57).
Mas o universo da mulher negra o acesso à educação e trabalho ocorrem de forma menos positiva,
Segundo a literatura, o mercado de trabalho privilegia, além de características objetivas de desempenho do trabalhador, características demográficas como sexo e raça. Seria característica indesejável ser mulher e negros para o melhor desempenho do mercado de trabalho. Assim, dois tipos de discriminação são identificáveis. A discriminação estatística que ocorre pela média de um atributo atribuído à totalidade da população (informação imperfeita entre empregador e empregado). A população negra tem menor escolaridade que o branco, mas isto não quer dizer que todo negro tem menor escolaridade. O outro tipo de discriminação é por preconceito (mercado de trabalho ineficiente). Ela ocorreria pela negação de um atributo ou característica presente no trabalhador. A opção religiosa ou sexo não desejado pelo empregador é um exemplo. Este “filtro” não é relacionado à capacidade do trabalhador de desempenhar uma função, mas a preferências subjetivas de quem emprega (HASENBALG, 2005 p.125-126).
E com isso a mulher negra apesar de abrir espaços em todos os setores da vida, mas ainda não tem conseguido superar a exclusão social principalmente. Acreditamos que, mesmo
situações educacionais semelhantes, os negros apresentarão menores chances de ascender
socialmente. O efeito negativo da mobilidade ascendente dos negros tende a somar com o efeito também negativo das mulheres. Portanto, as mulheres negras teriam as menores chances de mobilidade ascendente (a chamada interação estrutura). VALLE SILVA (1999 p.124).
No presente artigo é tratado especificamente da mulher negra residente em Santa Cruz de Minas pequeno município de Minas Gerais, que são analfabetas, não sabem ler ou escrever são observados alguns traços importantes no estudo, onde é evidenciado um grande número significativo de mulheres negras 35% 2 em uma população estimada de 8.155 habitantes. A economia local está pautada em atividades do comércio e empregos informais sendo também de grande relevância os empregos no setor de artesanato.
As alunas negras matriculadas no Projeto EJA (Educação de Jovens e Adultos) de primeira à quarta série da Escola Estadual Amélia Passos localizada no município de Santa Cruz de Minas apresentam muitas dificuldades no processo ensino-aprendizagem, não diferenciando, porém de outras alunas de escolas públicas da região, porém há fatores adicionais e que estão presentes na história de vidas delas que é atípica e por se tratar de alunas na faixa etária adulta possuem vivências e desejos diversos.
A Escola Estadual é o local onde funcionam o ensino fundamental e médio com a opção de ensino regular e EJA. A partir de 2004 quando foi implantada a modalidade de ensino direcionada para o público adulto a escola recebeu um grande volume de matrículas, a faixa etária da mulher negra matriculada é de 20 a 60 anos, pois o pensamento dominante era centrado no ensino direcionado a quem havia parado de estudar a mais tempo e o ensino direcionado para atender a essa clientela. Segundo CASTELLS (1999),
Ao se falar em Educação de Jovens e Adultos, pensa-se logo naqueles sujeitos que não tiveram oportunidade de estudar na idade considerada apropriada ou que, por algum motivo, abandonaram a escola antes de terminar a Educação Básica, ou seja, pessoas que foram excluídas da escola e dos processos educacionais nela presente. Assim a EJA (Educação de Jovens e Adultos) busca também fornecer a esses sujeitos, que possuem em sua maioria um histórico de exclusão social, direitos que lhes foram negados, de modo a incluí-los não só no processo de escolarização, mas socialmente, na perspectiva dos direitos sociais e, portanto devendo levar em consideração o período de vida em que se encontram. (p.92)
A realidade das alunas negras do Projeto EJA não é diferente. Todas apresentam uma fala que demonstra uma trajetória de vida sofrida, sem ter tido condições de acesso à escola durante a idade regular e o trabalho para garantir a sobrevivência é o ponto chave da questão. Trabalhar ou estudar sempre é o binômio decisivo na vida das alunas e sempre a questão de sobrevivência é primordial, optando pelo trabalho em vez dos estudos.
A oportunidade do Projeto EJA para essas alunas veio como uma possível solução no quesito estudos e diplomação. Embora exista a idéia pedagógica que o curso EJA com grade curricular e horária condensados facilita a aprendizagem e proporciona a conclusão do ensino fundamental ou médio, porém o que se percebe ao verificar os Parâmetros Curriculares do EJA (MEC, 2007) a grade curricular dos conteúdos priorizam o mesmo ensino ministrado no regular e ainda têm temas diversificados ligados ao trabalho, educação, cultura e tecnologias buscando interagir os conteúdos com a realidade das alunas. Mas existe a concepção de que o ensino do EJA não é um ensino completo fato esse que deve ser dissipado com novas trajetórias dos alunos pós curso do ensino médio. Esse pensamento é defendido por ARROYO, 2005.
A visão reducionista com que, por décadas, foram olhados os alunos da EJA – trajetórias \escolares truncadas, incompletas – precisará ser superada... As políticas de educação terão de se aproximar do novo equacionamento que se pretende para as políticas de juventude. A finalidade não poderá ser suprir carências de escolarização, mas garantir direitos específicos de um tempo de vida. Garantir direitos dos sujeitos que os vivenciam. ( p.21).
Através de observação e levantamento de dados foi possível formar o perfil das alunas matriculadas no curso de EJA fundamental nas classes de alfabetização que apresentam características peculiares tais como: Possuem renda de meio a um salário mínimo, são responsáveis pelo sustento de suas famílias e trabalham uma carga horária extensiva e não possuem tempo para estudar além da sala de aula. Em 60% dos casos são mães solteiras ou separadas, sempre sobreviveram sem a presença masculina. São analfabetas e não possuem conhecimentos de informática são analfabetas digitais. A falta de motivação para a aprendizagem como processo básico de leitura e escrita é um ponto negativo no processo de aprendizagem dos conteúdos, na realidade. A leitura do mundo foi sempre fundamental para a compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma prática consciente. Assim lembrando PAULO FREIRE,
A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi à leitura da “palavra mundo”. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua atividade perspectiva, por isso, mesmo como o mundo de suas primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais. (p.80)
Para as alunas negras matriculadas na EJA fundamental conseguir ler e escrever é um desafio enorme, principalmente porque a realidade delas e a vivência cotidiana em uma comunidade simples, com linguagem simples e muitas vezes fora dos padrões da norma culta e hábitos arraigados são fatores determinantes para o desânino.
O que se pode afirmar, por ora, é que valorizar a pessoa e a inovação permanentes está centrado nesse tipo de inteligência. Nesse contexto, a educação pressupõe uma busca criativa e permanente da inovação, ao mesmo tempo em que lida com o conhecimento e o vê como um ativo; sentindo, pois, a necessidade de geri-lo e cercá-lo do mesmo cuidado dedicado à obtenção de valor de outros ativos mais tangíveis (notas, provas, boletins). Pressupõe, também, motivação para aprender. E motivação só é possível se os educandos se identificam no processo e consideram significativas as ações nele desencadeadas. É assim que a educação poderá gerar conhecimento disponibilizado de forma assertiva para h da humanidade (CYNTHIA ROSENBURG, 2002 p. 28).
No presente artigo o conceito de alfabetização é traduzido por ensinar a ler e escrever e a aprendizagem decodificando símbolos, onde o letramento investiga o conhecimento do aluno quanto à sua vivência social e a leitura que ele faz do mundo à sua volta. Assim alfabetização não precede o letramento, os dois processos são simultâneos (SOARES, 2004 p.15)
Alfabetizar de maneira correta alunos adultos é um desafio que a Educação de Jovens e Adultos enfrenta e com referência as alunas negras presentes nas salas de aula são percebidas um fator exclusivo que permeia o processo educativo delas. As próprias atitudes delas são passíveis de exclusão, geralmente se reúnem em grupo para estudo ou atividades com colegas que tenham a mesma cor, pouco participa das aulas e parecendo apáticas buscam o isolamento.
Pelo perfil dessas alunas da EJA fundamental objeto da pesquisa é conveniente salientar que a inclusão digital será uma novidade para a realidade delas. Levando em consideração às faixas etárias a que pertencem, o uso do computador é algo diferente e provocante. No início é perceptível certo receio em usar o computador porque no meio delas não existem computadores e se afigura como algo difícil e que causa medo.
Percebe-se que diante dessa realidade é um longo caminho a ser trilhado, mas a educação digital sempre atraiu professores e pedagogos, apesar de algo novo e complexo o computador sempre foi o recurso que completou a busca de novos conhecimentos. Em conversas informais é percebido tal conceito. Desenvolver conteúdos em sala de aula é uma tarefa simples, porém, o mais complexo seria levar os conteúdos para os alunos e esses começarem a usá-los através do meio digital, complementando-os, porém é necessário um constante treinamento do profissional da educação (professor). Mas, felizmente, isso já vem ocorrendo com os projetos do Governo Federal (Proinfo) de Inclusão Digital através da Secretaria Estadual de Educação, onde grupos de professores se ausentam das salas de aula para treinamento em cursos de informática de cunho educacional e com referência à prática pedagógica. No Ministério da Educação existe o link da Proinfo onde são oferecidos de tempos em tempos os cursos de capacitação em informática o que é um passo importante na implementação da idéia desenvolvida no presente projeto. O espaço na Escola abriga computadores para uma turma de alunas, na realidade da Escola Estadual Amélia Passos, a sala de informática possui 30 computadores ligados em rede e via satélite à conexão com a internet, as turmas de EJA fundamental contam com média de 15 a 20 alunos.
Quanto aos programas que são usados no ambiente virtual de aprendizagem chamado de AVA, o professor melhor decidirá em consonância com os outros colegas e a equipe pedagógica. O uso dos programas a princípio limita somente o acesso à internet, uso de programas tais como Word e adobe que são os alocadores de textos e exercícios baixados da internet. O Proinfo oferece um catálogo de programas que podem ser instalados e usados para fim didático, esses programas são de responsabilidade das Superintendências Regionais de Ensino que através do setor de informática podem instalá-los e ainda dar orientação aos professores quanto ao uso. Outro ponto relevante foi a decisão dos professores alfabetizadores de inserir nos conteúdos um pouco da história afro-brasileira embora seja obrigatório pela Lei de Diretrizes e Bases Educação Nacional no ensino fundamental, porém nas séries iniciais as alunas negras puderam aprender um pouco sobre a cultura afro-descente e a importância para o país a presença do negro e sua evolução social, educacional e econômica.
A raça é um constructo social que possibilita organizar a sociedade segundo orientações ideológicas específicas. Implicitamente, raça possibilita o racismo que organiza a sociedade de acordo com classificações hierárquicas. Ou seja, não basta um grupo classificar o diferente, há também a necessidade posicioná-lo em relação a quem compara (fenômeno coletivo). Assim sendo, raça estaria passível de discriminação. No Brasil a raça é orientada principalmente pelo fenótipo e não necessariamente pela origem racial (raça social). Outras características (como o status social) também podem alterar a definição de como um indivíduo é visto em relação a sua raça. Deste modo, raça no Brasil é uma classificação social fluida que permite opiniões diferentes dependendo do contexto onde o indivíduo esteja sendo classificado. Assim, temos os pardos como uma enorme categoria residual
que poder variar de quase branco à quase preto. (Bobbio, 1998).
Baseando nesses conceitos a mulher negra tendo conhecimento das suas origens é possível ela buscar caminhos inclusivos e motivadores superando a exclusão social e educacional.
Objetivos – A alfabetização da mulher negra e a sua inserção no mundo digital.
O desenvolvimento dessa pesquisa iniciou em 2007 e até a presente data está em contínua observação. Foram fatores relevantes quando da implementação do projeto analisar e confrontarem os dados estatísticos e avaliar a situação das alunas matriculadas na EJA ensino fundamental (séries iniciais) na Escola Estadual Amélia Passos em Santa Cruz de Minas MG quanto à condição de ser negra, fazer parte de um grupo segregado socialmente e estar em condições de exclusão social devido ser carente economicamente também, apresentando dificuldades de convivência com demais colegas de outra cor e desenvolvimento das capacidades cognitivas. Em confronto com a proposta de inclusão digital surgi um novo paradigma social, pois a mulher negra que em “tese” não apresenta capacidades cognitivas para superar as dificuldades dos estudos, ser alfabetizada, não evadir da escola e ainda conseguir ser inserida no mundo digital e adquirir conhecimentos necessários para compreender o processo de alfabetização e tornar-se letrada e alfabetizada digitalmente é um desafio que com o incentivo e o empenho tem trazido motivação para as alunas negras matriculadas na EJA fundamental da E.E. Amélia Passos prosseguir os estudos e não evadirem das salas de aula.
Metodologia
A Metodologia utilizada no desenvolvimento da presente pesquisa descrita nesse artigo científico foi e está sendo realizada a partir de correlação de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Os dados obtidos através da pesquisa de campo de cunho etnográfica foram obtidos através de questionários onde as alunas matriculadas na EJA fundamental respondiam as acerca da visão que têm do ensino na modalidade EJA, conteúdos e quais as perspectivas que buscam para o futuro, qual o objetivo de serem alfabetizadas e o que esperam desses conhecimentos e o que significa para elas usarem o computador para aprenderem conhecimentos novos. Outro ponto relevante do questionamento delas é como elas se sentem por serem de cor negra e qual a diferença que percebem na vida social, profissional e econômica. O dado importante nessa análise através de questionários é o interesse em ser incluído digitalmente, a história de vida e com informações referentes ao nível de conhecimento de uso de computador e ferramentas de informática.
Para compreensão foi necessário fazer a descrição do perfil sócio-econômico das alunas negras e suas trajetórias escolares nas turmas de EJA fundamental na Escola Estadual Amélia Passos em Santa Cruz de Minas em Minas Gerais. Identificando a situação das alunas da EJA fundamental quanto às dificuldades de inserção social.
Foi feita analise acerca dos dados estatísticos dos questionários e dos boletins escolares onde foram evidenciados o desempenho escolar confrontando com os dados técnicos obtidos pela Secretaria de Estado de Educação quanto ao número significativo de mulheres negras matriculadas nas turmas de EJA fundamental das escolas públicas. Apontando daí hipóteses e perspectivas para solução do problema objeto da pesquisa, usando estratégias de observação na obtenção de dados. Monitoramento dos dados obtidos sobre a realidade das alunas quanto ao processo de aceitação social e reafirmação profissional. Culminando com a redação do relatório final do processo investigatório e conclusivo da pesquisa.
Participaram do estudo as alunas que estavam matriculados nas turmas de EJA fundamental 2006/2007 retirando uma amostra de 10 alunas de cada turma para responderem aos questionários. Acreditou-se que usando um critério de amostragem aleatória simples foi um erro amostral em média de 4%, onde esse valor foi corrigido para equacionar os dados.
Os resultados obtidos a partir da aplicação dos questionários foram colocados em uma planilha de dados utilizando o software Microsoft Excel concluindo para a fase de fechamento dos dados estatísticos.
Na fase de implementação do projeto foi definido o cronograma de reuniões pedagógicas semanais com a participação dos professores dos conteúdos lecionados e o uso do computador sendo testado primeiramente pelos professores. Tomando com base que todos os professores já foram capacitados no curso de informática do Proinfo foi um grande diferencial em ensinar às alunas o manuseio do computador e uso do ambiente virtual. A equipe pedagógica que agrega o serviço de supervisão e orientação educacional foram as responsáveis pela condução das reuniões e informações às alunas da inserção digital no processo de ensino e aprendizagem.
A implementação da pesquisa foi seguido pelo cronograma de execução que começou a ser executado em 2007, compreendendo os meses de agosto até a presente data, devendo ser mantido continuamente com as novas turmas que são matriculas na EJA e ingressam em sala de aula e possuam quantitativo de alunas negras.
Resultados da pesquisa e Discussão
O objetivo do presente artigo foi demonstrar a mudança da realidade das alunas matriculadas na EJA fundamental na Escola Estadual Amélia Passos em Santa Cruz de Minas – Minas Gerais de exclusão social frente à alfabetização e a inclusão digital que contribuiu deformam significativa para melhorar os problemas de aprendizagem e evasão.
Tomando como base os dados obtidos anterior à implementação da pesquisa foi possível a elaboração do presente artigo com ênfase que o fator motivação é mola principal na continuidade dos estudos e a inclusão digital vem para melhorar e incentivar as alunas a compreenderem melhor os conteúdos estudados, elaborar pesquisas e assim conseguirem tomar decisões em prosseguir os estudos. Outro fator relevante é a mulher negra se sentir capaz de usar o computador e estar em igualdade com as outras mulheres de cor branca ou parda. A valorização da mulher negra começou
De acordo com cada realidade e cada história de vida buscou-se com essa pesquisa tornar reais os sonhos dessas alunas que embora estejam demonstrando desmotivação possuem ainda segundo observações e dados desejos de crescimento pessoal e profissional, porque são trabalhadoras na maioria e estão na idade adulta com responsabilidades diversas. O professor tem sua cota de participação, incentivo e condução do processo de ensino e aprendizagem virtual.
Os resultados segundo análise são evidenciados após pelo menos um ano letivo de estudos e uso de computadores e ambientes virtuais, onde dúvidas, hipóteses e problemas terão surgidos e sanados. A melhora no fator exclusão social que a mulher negra enfrenta gradativamente tem sido amenizado com ações que priorizam a descoberta do valor que elas têm. Também a equipe pedagógica terá a participação nesse processo e a relevância do problema faz surgir um novo ideal em um mundo globalizado em que ser alfabetizado digital faz a diferença e melhora o nível de alfabetização escolar proporcionando às alunas negras da EJA fundamental estarem em condições de ter acesso a uma vida social e profissional melhor.
Conclusão:
Conclui-se a partir dos dados e conceitos apresentados no presente artigo cientifico que o problema de permanência e conclusão dos estudos do Ensino fundamental EJA turmas alfabetizadoras por parte das alunas negras da Escola Estadual Amélia Passos é um problema evidente e relevante, modificar a realidade é um passo significativo em adquirir novos conceitos em educação quanto à aquisição de conhecimentos através de conteúdos e motivar para uma alfabetização eficaz. A proposta de motivação e melhora no nível de conhecimentos através da inclusão digital é de grande relevância e trata-se de um passo a um ensino de qualidade e uma alfabetização inovadora.
Se for de todo evidente que essa família oferece bons exemplos e contrapontos para adensarmos a investigação da ascensão sócio-econômica do negro no Brasil, é também válido reconhecer a participação das mulheres em seu processo de ascensão sócio-econômica. Do ângulo das possibilidades teóricas, estamos trabalhando com operadores de diferença: “raça” e “gênero” são categorias analíticas vigorosas e sua articulação tem proeminência nos debates acadêmicos contemporâneos (FERNANDES,, 1965 p.160).
No processo de inclusão digital a formação de professores através de curso de capacitação propicia, também um grande avanço educacional na transmissão de conhecimentos contribui também para uma grande sensibilização dos envolvidos para o movimento de inclusão digital, onde se procura diminuir a distância social entre os alfabetizados e os não-alfabetizados digitalmente, tentando garantir, minimamente, os conhecimentos sobre os recursos que o computador pode oferecer para o desenvolvimento da cidadania e da sociedade. Por esta ótica a função do educador é: respeitar a leitura de mundo do aluno ajudando-o a descobrir novos saberes, ou também, sistematizar o conhecimento já apreendido, na sua realidade cultural, resignificando seu conhecimento. O que se espera é que o professor capacite o aluno a entender o conteúdo escolar, instrumento necessário para que ele tenha mais oportunidade de sucesso, no decorrer da sua vida cidadã.
Levar a frente os conceitos de alfabetizar para a vida e obter avanço do ensino dos conteúdos da EJA fundamental das séries iniciais e inserir os alunos no mundo digital é um desafio inovador. Cada aluna tem uma história de vida que demonstra um nível significativo de problemas, consolidarem esses com a realidade é meta do presente estudo e da presente pesquisa que está sendo desenvolvida, as ações baseadas na metodologia proposta na pesquisa torna um grande diferencial na obtenção de bons resultados. O mais que se evidencia no mundo atual e digital é o potencial de cada aluna como alavanca para melhorar o nível de conhecimentos e isso é o objetivo do trabalho que está sendo desenvolvido com as turmas de alfabetização da EJA fundamental.
Cabe ressaltar que as alunas da EJA fundamental mesmo devido à atipicidade da faixa etária que pertencem e a história de vida que possuem ainda assim estão sendo capaz de se adaptarem a situação proposta, elas têm demonstrado satisfação e motivação em usar o computador como complemento ao processo de alfabetização.
Resultados positivos é objetivo da pesquisa que está em andamento, mas somente quando da efetivação de todos os passos e avaliação das situações emergidas é que poderá prever o nível de resultados, porém a contribuição e empenho são significativos para se chegar ao alvo, com a prática pelas alunas negras da educação digital, o comprometimento dos professores alfabetizadores e toda a equipe pedagógica da escola e mesmo com as dificuldades da cidade de Santa Cruz de Minas em oferecer um nível melhor de vida à população o desenvolvimento de um projeto de inclusão digital envolvendo as alunas negras oferece uma oportunidade de consolidação de valores inclusivos e positivos para as demais mulheres negras da região.
Referências Bibliográficas:
ALVES, Rubem. Gaiolas e Asas . Jornal Folha de São Paulo, abril de 2001.
ALVES, ML e Duran, MCG. Formação contínua de educadores: um projeto de pesquisa-ação. In: Severino AJ e Fazenda, ICA. Formação docente: rupturas e possibilidades. Campinas: Papirus, 2002.
ARROYO, Miguel González. Educação de jovens e Adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. IN: Diálogos na educação de jovens e adultos .SOARES, Leôncio et. al (Org.). Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
_________, M. Educação de Jovens e Adultos: um campo de direitos e de
responsabilidade pública. In: GIOVANETTI, Maria Amélia, GOMES, Nilma Lino e
SOARES, Leôncio (Orgs.). Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte,
MG: Autêntica, 2006, p.19-50.
BELLONI, Maria Luiza. Educação à distância. Campinas: Autores Asssociados, 1999.
BOBBIO, Norberto. Elogio à serenidade. São Paulo: Ática. 1998.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
FERNANDES, Florestan, A Integração do negro na sociedade de classes, vol. I. São Paulo: Ed. Ática, 1965, p. 160.
GONZALEZ, Lélia. A mulher negra na sociedade brasileira. In: LUZ, Madel T. (org.). O lugar da mulher: estudos sobre a condição feminina na sociedade atual. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982, pp. 87- 106.
HASENBALG, Carlos. Descriminação e desigualdades raciais no Brasil. Belo Horizonte/ Rio de Janeiro: Editora UFMG/Iuperj. 2005.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo. 2000. https.www.ibge.gov.br/censo2000.hml acesso em 05/10/2008.
LDB – Lei de Diretrizes em Bases da Educação Nacional nº. 9394/96 de 20 de dezembro de 199. acesso pela portal www.presidência.gov.br/legislacao/leisordinarias.html em 05/10/2008.
MEC – Ministério da Educação e Cultura /SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007. Cadernos da EJA Fundamental.
POMPEU, Renato. In: Mulher e Trabalho. Coleção Cadernos de EJA.MEC/SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007.
ROSENBURG, Cynthia. Nota Alta. Revista Exame, abril de 2002.
SCHMIDT, Mario Furley. Nova Crítica: ensino médio: volume único. 1ªed. São Paulo: Nova Geração, 2005.
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS
Dados estatísticos de permanência e evasão escolar 2006/2007.
acesso ao portal www.educacao.mg.gov.br/dados/escolas públicas/html em 05/10/2008.
SOARES, Magda. Letramento e Alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, Minas Gerais, n.25,p. 5-17, jan./fev./mar./abr./2004.
VALLE SILVA, Nelson. Uma nota sobre raça social no Brasil. p. 107-125 in Cor e
estratificação social. HASENBALG, Carlos; VALLE SILVA, Nelson; LIMA, Márcia (orgs.).
Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria. 1999.
Schmidt, Mario Furley. Nova Crítica: ensino médio: volume único. 1ªed. São Paulo: Nova Geração, 2005(P.450).
LDB-Lei 9394/96 de 20 de dezembro de 1996. Artigo 26-A (incluído pela Lei nº. 10.639 de 9.01.2003)
SEE-MG – relatório estatístico de permanência e evasão escolar 2006/2007.