A IMPORTÂNCIAQ DA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR PARA PROBLEMAS COMPLEXOS

Por Jarsen Guimarães | 11/08/2010 | Ambiental

A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
PARA PROBLEMAS COMPLEXOS
Jarsen Luis Castro Guimarães

I. INTRODUÇÃO
As últimas duas décadas registram um estado de profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida: a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais, uma crise de escala e premência sem precedente em toda a história da humanidade. A sustentabilidade econômica ou sustentabilidade do desenvolvimento, a qual era vista somente de um ângulo, sem levar em consideração as implicações resultantes de uma busca desenfreada e até mesmo irracional desse avanço, tende a ser trabalhada de outra maneira.
Este trabalho parte do princípio que o conhecimento interdisciplinar é a base para a solução dos problemas complexos frutos do Modo de Produção Capitalista. Essa visão interdisciplinar, holística, aliada a Teoria dos Sistemas Complexos tem muito a contribuir na busca das soluções desses problemas. Para tal abordagem, o trabalho é subdividido em três tópicos. O primeiro trata da compreensão do que é interdisciplinaridade, o que é método, bem como o seu histórico, chegando a fazer alusão ao que é metodologia. O segundo trata da abordagem interdisciplinar e dos problemas complexos, conceituando problemas complexos, modo de produção e caracterizando o modo de produção capitalista, bem como tratando especificamente da teoria dos sistemas complexos. A última parte traz as conclusões acerca do trabalho.

2. ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
O termo interdisciplinaridade está presente desde quando o homem começa a buscar o conhecimento do mundo, da natureza e do próprio homem. A ciência filosófica estudava a totalidade das coisas. A partir de certo momento na história houve um desmembramento dessa totalidade, isto é, as ciências se desmembram da filosófica, surgindo: medicina, Matemática, Física, História, entre outras. Nesse sentido, interdisciplinaridade é a expressão legítima da conjugação do coletivo em direção a construção de um projeto único entre as áreas de conhecimentos.
Em uma definição mais específica do termo interdisciplinaridade, temos: INTER - prefixo latino, que significa posição ou ação intermediária, reciprocidade, interação; DISCIPLINA - significa epistemé/ ramo do conhecimento e; DADE = sufixo latino, que significa qualidade, estudo, modo de ser. Assim, interdisciplinaridade expressa recuperar a totalidade, a ontologia geral da produção de conhecimento.
Outros termos são usados para expressar um conhecimento mais avançado, tais como multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade. A diferença dos conceitos entre essas grandezas consiste em:
Multidisciplinaridade: varias disciplinas trabalhando juntas.
Pluridisciplinaridade: justaposição, disciplinas do mesmo ramo.
Transdisciplinaridade: é a superação do fazer único em busca uma nova concepção de vida.
A Interdisciplinaridade, por sua vez, contempla todas as disciplinas trabalhando o conhecimento como algo único. É a ação coletiva em direção a um desejo, sonho, ambição, projeto eleito entre os fazedores do processo; é a ousadia de querer construir uma sociedade cidadã, onde seus sujeitos vivem em um nível de competição exagerado; é a importância de todas as disciplinas em um mesmo nível; é a produção de novos conhecimentos; é assumir atividades com o prazer de querer construir um novo projeto; é uma questão de assumir uma nova atitude; é algo que vai além da integração; exige questionamento, é um fator de transformação, que prevê novas buscas e mudança na atitude de entender e compreender; é a construção conjunta e não a simples justaposição; troca de querer essencialmente individual por um querer também coletivo; é uma relação metodológica que ultrapassa a exposição verbal, leitura, correção de exercícios, teste, prova, mas fundamentalmente uma busca pela compreensão do conhecimento, além do saber fazer; é um processo avaliativo no qual o erro passa a ser mais um momento de superação de aprendizagem; não é um método, mas uma tomada de decisão, de uma nova atitude;
Assim, a interdisciplinaridade envolve um conjunto de elementos e conceitos cujas condições para realização de práticas e atitudes interdisciplinares são o desenvolvimento da sensibilidade da arte de entender e esperar, da criação e da imaginação. Envolve a possibilidade de criar a perplexidade do querer conhecer e buscar uma forma de abordar o conhecimento, o qual visa superar visões dicotômicas e fragmentadas da realidade. Caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real entre as disciplinas, ou seja, é uma relação de reciprocidade, mutualidade, um regime de co-propriedade, de interação que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema do conhecimento. É a substituição de uma atitude fragmentária por uma atitude unitária. Não é a negação da especificidade, mas o reconhecimento de que o específico demanda a busca de sua complementação, impondo a cada especificidade a tomada de consciência de seus próprios limites para colher as contribuições das outras disciplinas. A interdisciplinaridade pressupõe uma atitude feita de curiosidade, no sentido de abertura, de intuição das relações existentes entre as coisas escapam à observação comum.
Dessa forma, interdisciplinaridade exige: reflexão mais ação conjugada mais engajamento. Implica em coragem para alterar hábitos já estabelecidos
Como observamos a interdisciplinaridade não é um método de análise, mas um suporte para ajudar nas decisões. Os métodos, por sua vez, são usados na busca da construção do conhecimento. É o que veremos a seguir.

2.1. MÉTODO
Conceituando, método são as vias para se chegar a um objetivo, ou seja, é maneira de agir, de proceder. O método é relativo a uma determinada categoria de problemas, acompanhado de questões específicas. A partir do método pode se construir paradigmas, modelos, teorias, construção teórica para explicar uma realidade. Nesse sentido, se apresenta diferente nos vários períodos históricos, vejamos:
a) GRÉCIA ANTIGA
? Filósofos ? organização do sistema explicativo da realidade. Busca as verdades a partir de uma visão totalizante do mundo - (estudos da geometria, lógica, matemática, física, medicina, astronomia). Preocupação com a técnica, saber fazer e com o medir, ou seja, saber medir.
? Tradição metafísica clássica ? busca da essência.
b) IDADE MÉDIA
? Drama da salvação ? nasce uma nova visão de mundo. Paradigma Teocêntrico (Ptolomeu ? Geocêntrismo). Do saber medir caminha para conciliar Razão e Fé.
? Cosmos - expressão da vontade de Deus.
Santo Agostinho (354/430) ? revisão dos textos de Platão
Santo Tomás de Aquino (1227/1273) ? revisão dos textos de Aristóteles
? Textos bíblicos como autoridade cientifica.
? Desenvolve atitude de preservação e conservação da natureza = natureza mãe sagrada.
c) RENASCIMENTO
? Novo paradigma ? Copérnico ? Heliocêntrismo ? Humanismo ? Antropocentrismo.
? Mundo Moderno ? nova forma de interpretar o mundo = interpretação matematizada ? nova ciência.
? Método de investigação ? busca explicações verdadeiras. Elabora instrumentos para demarcar o que é ou não cientifico. O parâmetro de conhecimento é o método cientifico. A experimentação fonte de autoridade (busca relação de causa e efeito).
? Propõe a neutralidade cientifica, a fragmentação do saber especializado.
? Atitude ? preservar para manipular e transformar a natureza.
? Método ? busca a ordem e a medida. Quer conhecer para prever. Prever para controlar. Controlar para melhorar as condições próprias da vida.
? Possui caráter mecanicista de mundo.
? Elimina a filosofia ? leva ao fim da autocrítica.
Galileu ? Fim da investigação ? conhecimento da lei geral. Sentido e razão indispensável ã ciência. (Hipotético ? indutivo-dedutivo) Observação, análise, hipótese, indução, dedução, elaboração da lei.
Bacon ? método indutivo experimental (do particular para o geral).
Descartes ? método racional dedutivo (do geral para o particular). Divide o mundo em mundo material (físico ? objeto da ciência) e mundo humano (espiritual ? objeto da filosofia)
Kant ? analisa o empirismo e o racionalismo ? o conhecimento se dá pela experiência e síntese. Revoluciona a posição filosófica tradicional: o sujeito não em que se adequar ao objeto; o sujeito pode ordenar e construir experiências por meio da ordem do pensamento. O conhecimento se dá pela capacidade de apreender o que existe.
Hegel ? por meio da dialética critica Kant de a - histórico porque o conhecimento não se dá apenas com a apreensão do que existe. O conhecimento é a capacidade de apreender o processo de construção das coisas.
d) REVOLUÇÃO FRANCESA (1789)
? Fim do período moderno e inicio do período contemporâneo ? se deu pelo desenvolvimento acelerado da economia capitalista.
? Primado do conhecimento cientifico
? Ciências naturais ? evolução do método experimental ? critério para estabelecer o real.
? Atitude ? conhecer a natureza para controlar e explorar.
? Mundo contemporâneo ? universo das probabilidades e incertezas ? questionamento sobre a infalibilidade do método cientifico.
? 1920 ? 1930 ? Circulo de Viena ? estruturação do conceito de ciência a partir da idéia de operacionalidade e mensuração ? influencia neopositivista (empirismo lógico ? a lógica, a matemática, as ciências empíricas esgotam a possibilidade de conhecer).
Popper ? critica a indução ? propõe o método hipotético-dedutivo pelo critério da refutabilidade.
Tomas Kuhm ? ciência entendida em dois momentos: primeiramente para solucionar problemas com os pressupostos (conceituais, metodológicos, estruturais) da comunidade cientifica. Nesse caso a ciência amplia, mas não altera o paradigma. No segundo caso, tem-se a crise paradigmática, na qual o desenvolvimento e progresso requerem explicações que o paradigma vigente não consegue responder, ocasionando assim a revolução cientifica. Nesse sentido, demonstra que a ciência é provisória e não opera com verdades irrefutáveis.
Popper/Kuhn ? levam a pensar a questão do método.
Paul Feyerabend ? crítica ao neopositivismo ? observa que o método quando normatiza os procedimentos científicos não é instrumento de descoberta. Propõe epistemologia anarquista perante o racionalista ? a ciência avança sem plano ordenado.

Em uma comparação das Ciências Naturais com as Ciências Sociais e Humanas, observa-se que as Ciências naturais ressaltam o método via experimentação. Já nas Ciências Sociais a grande preocupação é como medir o social ? Nesse sentido alguns pensadores têm abordagens mais significativas, tais como Marx e Comte.
a) Marx ? produção de intercâmbios de bens materiais constituem a base da ordem social. Determina pensamentos e ações.
? Conhecimento histórico ? se dinamiza nas relações existentes na estrutura social (economia, jurídico, político, ideológico)
? O conhecimento não se dá pelas descobertas de relações causais ou analogias mas no desvelar do real aparente para o real concreto.
? Ciência ? revelação do mundo e do homem como ser social considerando a cultura e o trabalho em cada momento histórico. Pretende ultrapassar o nível da descrição dos fenômenos isolados.
? Conhecimento ? processo continuo.
b) Comte ? Positivismo ? O social está sujeito as leis invariantes.
? Propõe o conceito de ordem e progresso.
? Racionalidade e objetividade ? vanguarda do saber cientifico.
? Ciência ? resolve os problemas sociais pelo método das ciências naturais.
? Elite cientifica ? industrial ? resolve os problemas sociais.
? Tecnocracia ? Dualismo como método para analisar a sociedade = de um lado a sociedade e do outro o pensamento sobre ela feito pelos especialistas.
e) Século XX ? compartimentação do saber. (psicanálise, psicologia, antropologia, sociologia, lingüística, política, etc.) Áreas do conhecimento em busca do status cientifico ? querem se adequar a racionalidade e objetividade ? procedimentos científicos particulares de uma técnica geral.
Contribuições e discussão sobre as metodologias. 1930 ? 1940 têm-se organização das ciências sociais e humanas. Consolidaram-se posturas distintas no entendimento do homem e suas ações.
? Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Benjamim, Marcuse, Reich, Fromm, Habermas, etc) ? construir uma critica ã sociedade e à técnica. Utilizaram Kant, Hegel e Marx como referencias teóricos.
Lévi Strauss ? estruturalista com base na antropologia e lingüística. Busca aordem estrutural invariante dos fenômenos sociais.
Pensamento técnico ? a partir da cibernética, da teoria matemática da informação e do jogo matemático vai buscar explicar a realidade social.
? Explica a realidade pela automação e computação que dá uniformidade a interpretação do real. Defende que todo funcionamento dinâmico pode ser descrito pelas mesmas leis e por mecanismos de auto-regulação.
? Teoria Sistêmica ? mesma postura epistemológica do positivismo ? por não discutir os fins, mas os meios de administrar e por em funcionamento dentro do mecanismo de retroalimentação.
? Aqui a natureza e a sociedade são sistemas ? podem ser apreendidos e controlados.
f) CIENCIA HOJE
? Trabalha com o aleatório, o incerto, o indeterminado, o complexo.
? Busca um conhecimento transdiciplinar.
? Tem como paradigma o Ecocêntrismo e a Cosmovisão.
? Interessa os fenômenos multidimensionais.
? Tudo que é humano é psíquico, sociológico, econômico, histórico, demográfico.
? Considera a filosofia parte do processo de construção do conhecimento.
? O paradigma que se propõe é do da Complexidade.
? Diferente do Holismo que olha a totalidade e da Simplificação que olha somente a parte a Complexidade vai considerar o tod esta na parte e a parte esta no todo.
? Essa transição filosófica para entender a vida complexa é chamada de pós-modernidade por Lyotard. Supera a infalibilidade do método cientifico.
? Produção do conhecimento ? processo histórico individual e coletivo. Deriva da práxis humana que não é linear e nem neutra.
Assim, não há procedimentos sem pressupostos, pelo contrário, a partir da analise do pressuposto ontológico, ético, ideológico têm-se condições de compreender a complexidade do real.
Porém, na análise e estudos de problemas usa-se também certa metodologia. Se o método é o caminho para se chegar a um fim, a metodologia é o estudo da melhor maneira de um determinado estado de conhecimentos, abordar determinados problemas. Assim, a metodologia não procura soluções, mas contribui na escolha das maneiras de encontrá-las, integrando os conhecimentos adquiridos sobre os métodos em vigor nas diferentes disciplinas científicas ou filosóficas. Dessa forma, a metodologia conduz toda a elaboração do método que será empregado na resolução de um determinado problema. Metodologia passa a ser a ciência integrada de métodos.
Após o conhecimento do que é interdisciplinaridade e os conceitos de método e metodologia, vejamos a aplicação da abordagem interdisciplinar aos problemas complexos.

3. ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E PROBLEMAS COMPLEXOS
Problema significa dificuldade, enigma e complexo significa difícil, complicado. Assim, problemas complexos envolvem coisas de difícil solução. O grande problema complexo vivido pela humanidade está relacionado à questão do uso, preservação e/ou conservação dos recursos. Daí, diante dessa realidade na qual os recursos são cada vez mais escassos e as necessidades ilimitadas, buscam-se soluções para tal dicotomia: desenvolvimento sustentável. Ressalta-se aqui que ao longo dos anos desenvolvimento sempre esteve caracterizado como crescimento econômico, porém fazemos uma distinção, pois crescimento é a evolução de uma das variáveis econômicas, tais como renda e emprego. Já desenvolvimento pressupõe a evolução de variáveis econômicas e não econômicas, tais como renda, emprego, questões sociais, políticas, morais, filosóficas, éticas, culturais, religiosas e etc. Nesse sentido, desenvolvimento envolve muitas ciências. Conforme Fenzl e Machado (2009), não há uma ciência específica que estude o desenvolvimento sustentável de uma sociedade. Assim, é preciso criar bases teóricas e metodológicas capazes de construir instrumentos científicos para reconstruir a sociedade e torná-la mais sustentável.
A crise das ciências hoje é da dificuldade de recompor o conhecimento detalhado a fim d esse ter uma visão mais holística, mais macro, ou seja, uma meta linguagem da realidade. Os primeiros professores lecionavam várias disciplinas. A partir de Newton o conhecimento passou ser mais específico. Hoje se procura a quebra desse paradigma newtoniano, cartesiano, de modo a termos uma visão mais globalizada. Busca-se uma linguagem comum, uma meta-linguagem. Nesse sentido, tem-se a teoria dos sistemas complexos a qual é um método de pensar a realidade a partir de certo nível de abstração. Essa linguagem foi criada a partir do momento em que se verificou que o conhecimento precisava de uma integração. Dessa forma, diante do problema ambiental, diante do tema desenvolvimento sustentável vem à tona à questão da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade. Porém, antes de nos determos na teoria dos sistemas complexos, torna necessária entendermos a equação lógica da relação entre os elementos que compõem essa questão complexa, ou seja, meio-ambiente, desenvolvimento sustentável, globalização e modo de produção.
Segundo Fenzl e Machado (2009) meio ambiente é tudo aquilo que existe no planeta e pode ser dividido em ambiente natural e ambiente humano. Entende-se por ambiente natural aquilo que é oferecido pela natureza e por ambiente humano o ambiente produzido pela sociedade a partir dos recursos oferecidos pela natureza. Segundo os autores o maio ambiente é um espelho do modo de produção, ou seja, é resultado do modo de produção.
O conceito de desenvolvimento sustentável está ligado à economia global, ou seja, ao conceito de globalização. O conceito de desenvolvimento sustentável foi criado com base na insustentabilidade do modo de produção capitalista. Dessa forma, torna necessário conhecermos o conceito de modo de produção, características do modo de produção capitalista para depois adentrarmos na teoria dos sistemas complexos.

3.1. MODO DE PRODUÇÃO:
A visão marxista sobre esse processo leva em consideração inicial o fator econômico, mais especificamente a produção. Segundo Marx, a base de uma sociedade é o modo de produção. Antes de qualquer coisa o homem precisa se alimentar e para isso acontecer ele necessita produzir. Entende-se por modo de produção a relação que o homem estabelece com a natureza na qual ele retira e transforma os recursos oferecidos por ela de modo a atender as suas necessidades, bem como de toda uma sociedade. Assim, o modo de produção considera duas relações importantes: homem e natureza, denominada de forças produtivas e as relações que são estabelecidas entre os homens dentro do processo produtivo, denominada de relações sociais de produção. De tal forma, quanto mais harmônicas forem essas relações, mais forte será o modo de produção. Maior será o crescimento econômico o que promoverá o desenvolvimento dessa sociedade.
Entende-se por forças produtivas todas as forças que uma sociedade dispõe para retirar os recursos da natureza e transformá-los de modo a atender suas necessidades. Essas forças são divididas em: a) objeto de trabalho, aquilo que o homem retira da natureza; b) meios de trabalho, tudo aquilo que o homem coloca entre ele e o objeto de trabalho de modo a retirar esse objeto da natureza e transformá-lo. São os instrumentos de trabalho mais os instrumentos auxiliares, tais como: estradas, energia, prédios e etc.; c) Força de trabalho, que é o próprio homem em ação. Ressalta-se que o conjunto objeto de trabalho e meios de trabalho é chamado de meios de produção.
As relações sociais de produção são as relações que os homens estabelecem entre si dentro de um processo produtivo e dependem da propriedade dos meios de produção. Se a propriedade for social ou coletiva essas relações serão de ajuda mútua ou colaboração, por exemplo, no modo de produção comunal primitivo. Caso a propriedade dos meios de produção seja privada essas relações serão de exploração e subordinação, como é o caso do modo de produção capitalista.
Conforme HUNT (1981), Marx observou uma relação indissolúvel entre as forças produtivas e as relações sociais de produção responsável pelo início, desenvolvimento e dissolução dos modos de produção. Segundo essa perspectiva a produção está sempre em desenvolvimento e esse processo se inicia pelo avanço das técnicas produtivas. Mas, há um entrave inicial para um maior salto desse processo, isto é, as relações estabelecidas entre as pessoas, no momento inicial, são passivas a essas mudanças, tornando-se obstáculos a um maior caminhar das forças produtivas. Em uma fase posterior, essas relações começam a se modificar e passam a influenciar o avanço das forças produtivas até deixarem de serem obstáculos e tornarem-se o principal elemento motivador desses avanços. As forças produtivas por sua vez também influenciam nas mudanças dessas relações de tal forma a acelerarem as mesmas, tornando assim um movimento continuo de influências até chegarem a um novo estágio de desenvolvimento, diferente do anterior. Segundo Marx essa lei é válida para todos os modos de produção e é ela que explica a passagem de um modo para outro (SANTOS, 1984). Marx afirmou, toda a história nada mais é do que a evolução dos Modos de Produção, ou seja, "a história de todas as sociedades existentes até hoje é a história das lutas de classes" (MARX E ENGELS, 1948).
Vejamos as características do Modo de Produção Capitalista.

3.1.2. CARACTERÍSTICAS DO MODO DE PRODUÇAÕ CAPITALISTA.
Na passagem do Modo de Produção feudal para o capitalismo, observaram-se mudanças no antigo modo de produção que corroboram com a análise marxista. O não estímulo a mão de obra escrava, entravando todo o processo de desenvolvimento das forças produtivas foi um dos fatores interno mais importante para o aceleramento da queda do modo de produção feudal. Como fator externo destaca-se os constantes conflitos romanos, culminando com a derrota para os Bárbaros. Dessa forma têm-se as relações de produção estagnadas inicialmente, impedindo mudanças nas forças produtivas. No Modo de produção capitalista a força de trabalho deixa de ser escrava e o processo de desenvolvimento se torna cada vez mais rápido e eficiente. Vejamos as principais características do modo de produção capitalista, segundo Hunt (1989):
a) Produção de mercadorias orientada pelo mercado- O valor do produto do trabalho humano no capitalismo é dado por duas razões distintas: valor de uso e valor de troca. Os produtos podem ser vendidos no mercado porque têm valor e a atividade produtiva de uma pessoa na tem qualquer ligação direta com seu consumo. Existem inter-relações e dependências econômicas extremamente complexas e que não envolvem interação e associação pessoal direta. O indivíduo interage somente com a instituição social impessoal do mercado, no qual ele troca mercadorias por moeda e moeda por mercadorias. Na realidade o que se observa é apenas uma série de relações impessoais entre coisas, ou seja, entre mercadorias. Cada indivíduo depende das forças impessoais do mercado de compra e venda, ou oferta e procura, para satisfação de suas necessidades.
b) Propriedade privada dos meios de produção ? A sociedade dá a certas pessoas o direito de determinar como matérias-primas, ferramentas, maquinaria e edifícios destinados à produção podem ser usados. Tal direito implica em excluir outros indivíduos do processo de decisão do uso desses recursos. Ao grupo que decide sobre a forma de uso dos s meios de produção chama-se capitalista e ao grupo excluído trabalhadores ou proletariado.
c) A força de trabalho transforma-se em mercadoria- Um grande segmento da população que não pode existir, a não ser que venda sua força de trabalho no mercado, em troca de salários. Com este salário, podem comprar dos capitalistas apenas uma fração das mercadorias que eles mesmos produziram. O restante das mercadorias produzidas constitui o excedente social e é retido e controlado pelos capitalistas.
d) Comportamento individualista, aquisitivo e maximizador, da maioria dos indivíduos dentro do sistema econômico ? No capitalismo, um novo ethos social, ?as vezes chamado consumerismo, tornou-se dominante. Caracteriza-se pela crença de que mais renda para si mesma significa mais felicidade. Daí o capitalismo ter sido sempre caracterizado pelo esforço frenético dos trabalhadores em busca de mais trabalho, mais renda e mais consumo de mercadorias e dos capitalistas em obter mais lucro e converter seus lucros em mais capital.
Dessa forma, após definirmos modo de produção e conhecermos as principais características do modo de produção capitalismo, passaremos para a teoria dos sistemas complexos.

3.3. TEORIA DOS SISTEMAS COMPLEXOS
Conforme dito anteriormente, a teoria de sistemas complexos é um método de analisar a realidade a partir de certo nível de abstração. Ela identifica o problema, a sua estrutura e as relações que esse problema tem com outros problemas (nível macro) e outras questões. Dessa forma considera várias formações, ou seja, diferentes níveis de conhecimentos. É interdisciplinar, isto é, é, de um lado, uma metalinguagem científica que permite descrever e definir o "objeto de investigação" em qualquer área do conhecimento e conseqüentemente tornou-se a linguagem da interdisciplinaridade. Por outro lado, é um método, uma descrição sistêmica do alvo da investigação científica, um trabalho metodológico capaz de mostrar as relações entre diferentes dimensões de espaço ? tempo do sistema, o que permite ampliação radical do horizonte de percepção do observador em relação ao seu objetivo de investigação. Como resultado, os sistemas complexos não têm um futuro determinado, todos os sistemas complexos têm um futuro incerto (Fenzl e Machado, 2009).
A teoria de sistemas complexos distingue entre sistemas isolados, fechados e abertos: isolados, fogem do acesso empírico, pois não trocam energia e nem matéria com seus ambientes; fechados, traçam somente energia com seu ambiente; e abertos, trocam energia e matéria com seus ambientes.
Essa teoria apresenta três dimensões: a) mesoscópica - relaciona espaço interno e espaço externo do sistema, por meio da inclusão de uma dimensão intermediária, ou seja, elementos que interagem entre si. É a fronteira estrutural do sistema que separa o espaço interno e o espaço externo da estrutura do sistema; b) microscópica ? descreve o espaço interno das partes individuais, ou seja, os elementos do sistema, que se relacionam de forma não linear; c) macroscópica ? é constituída pelo espaço além da fronteira estrutural, também chamado de ambiente relevante ou campo de interação. É a fonte de energia e matéria necessária para a manutenção do seu metabolismo, da coerência estrutural e da reprodução energético-material do sistema como um todo.
Um sistema complexo se mantém em função dos fluxos in put e out put do sistema. Esses fluxos envolvem o elemento, a coerência (um se comporta coerente ao outro) coesão (força de ligação entre os elementos), estrutura ?inercial estrutural, fronteira estrutural e o campo de interação (ambiente relevante). Como resultado se têm trabalho e entropia.Vejamos:
TRABALHO


ENERGIA INÉRCIA ESTRUTURAL


ENTROPIA

Da energia que entra, parte se transforma em trabalho e outra parte em entropia. O trabalho é a energia organizada em estruturas. A inércia estrutural é o conjunto de coisas que combinam em um só elemento. É necessário que a energia que entra supere essa inércia estrutural. A entropia, por sua vez, é a dissipação de energia. Serve somente para a execução do trabalho. Quanto maior a entropia de um sistema, menor será a sua sustentabilidade. Conforme Fenzl e Machado (2009), no geral a entropia têm que ser menor do que 50%.
De maneira geral, o trabalho é relacionado com ordem e a entropia com o caos, ou seja, a entropia é um mal necessário, impulsionando o sistema, mas também, causando um estresse nesse sistema. Essa é a relação dialética que está presente nessa teoria. Um fator relevante a ser destacado com relação à entropia é a informação. Quanto mais informação eu tenho, menos energia é gasto, conseqüentemente menor será a entropia. O inverso também é verdadeiro, ou seja, quanto menos informação maior será a entropia.
Segundo os autores, o problema de insustentabilidade do sistema, da economia globalizada, é o in put. Os padrões de comportamento da estrutura não podem ser lidos pelo padrão de comportamento de cada elemento individualmente. Isso faz com que o futuro seja imprevisível dentro de um sistema complexo. Dessa forma se criam cenários para o futuro, tornando-se necessário uma visão sistêmica do todo. Você passa a ter níveis de complexidade dentro de um sistema e à medida que aumenta esse nível de complexidade há uma simplificação de regras, isto é, regras específicas, regras menos específicas e regras gerais.
Assim, a teoria dos sistemas cria entropia. Tudo aquilo que não serve para a sociedade e/ou que é usado para destruição é entropia. Nesse sentido a criminalidade produzida pela sociedade é entropia, bem como as políticas públicas de combate ao crime que falham podem ser consideradas como entropia, pois é um gasto de energia sem retorno. Não será com um conhecimento científico específico que se resolverá o problema. O saber cartesiano não pode ser descartado, mas tem que se juntar a visão interdisciplinar, globalizada, holística, para que juntas possam formar soluções para esses problemas cada vez mais complexos que afligem a sociedade.
4. CONCLUSÃO
Hoje, com, a necessidade de recomposição do conhecimento e de uma nova forma de tratar e expressar esse conhecimento busca-se a teoria dos sistemas complexos. A teoria dos sistemas complexos é uma metodologia que trabalha com a interdisciplinaridade para a solução de problemas cada vez mais complicados, frutos do modo de produção capitalista. Sem descartar a visão antiga, trata o problema por meio de categorias sistêmicas. Uma das formas de expressar a sua linguagem é a metalinguagem, o que facilita a comunicação entre as disciplinas envolvidas. Esse novo método de olhar os problemas é mais abrangente, pois visualiza toda a realidade que nos cerca. É a visão globalizada, holística, interdisciplinar, sem descartar o conhecimento newtoniano unilateral, cartesiano que promoveu o desenvolvimento ao longo dos séculos. É uma nova tentativa de buscar soluções para os problemas cada vez mais complexos que emergem nesse modo de produção capitalista, causado pela sua instabilidade, inquietações, busca incessante de lucros, interesses maximizadores e opostos entre as classes de capitalistas e trabalhadores. Assim temos essa maneira abstrata de estudar problemas que permite a visão da inter-relação entre as coisas estudadas. Daí a importância da abordagem interdisciplinar para o estudo de problemas complexos.