A IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO RESISTIDO PARA CAPOEIRISTAS VETERANOS
Por CARLOS PELEGRINO | 26/08/2013 | SociedadeCARLOS ROBERTO PELEGRINO ALVES DE SENA
A IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO RESISTIDO PARA CAPOEIRISTAS VETERANOS.
Artigo apresentado à Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP como parte dos requisitos para conclusão do curso de Pós Graduação Lato-Senso em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na Saúdena Doença e no Envelhecimento. |
SÃO PAULO, 2012
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Carlos Roberto Pelegrino Alves de Sena
RESUMO
Este estudo procura relatar o quanto é importante o treinamento resistido, quer seja para pessoas que não praticam qualquer modalidade esportiva, mas principalmente para os praticantes, como uma ação preventiva, sendo o foco a atividade de Capoeira, onde devido há distância entre a prática e a falta de informações no meio acadêmico é fator determinante desta pesquisa. A Capoeira é hoje uma atividade universal, praticada em todos os continentes do planeta. Inúmeros são os benefícios associados a sua prática, contudo, essa arte, também luta, assim como os demais esportes é baseada na repetição constante de determinados movimentos que podem levar a desequilíbrios que geram alterações de força, flexibilidade, equilíbrio e coordenação motora, causando o aparecimento de alterações posturais que, por sua vez, podem predispor o praticante, principalmente o veterano a inúmeras lesões, assim como, seu tempo ativo na prática. O músculo é o único tecido capaz de desenvolver tensão ativamente. Essa característica permite ao músculo esquelético realizar as importantes funções de manter a postura ereta do corpo, movimentar seus membros e absorver os choques. Levando-se em conta que o músculo somente consegue desempenhar essas funções quando devidamente estimulado
Palavras chave; capoeira, resistido, força e lesões.
INTRODUÇÃO
A capoeira, tudo leva a crer seja uma invenção dos africanos no Brasil, desenvolvida por seus descendentes afro-brasileiros, tendo em vista uma série de fatores colhidos em documentos escritos e sobretudo no convívio e diálogo constante com capoeiristas atuais e antigos (REGO, 1968 p.31).
Segundo Gladson (1989), o negro assim como sua cultura, sofreram intermináveis violências como em 15/12/1890, quando um dos mais renomados políticos da época, Rui Barbosa então Ministro da Fazenda do Governo Deodoro da Fonseca, prestou um péssimo serviço á nação, mandando queimar todos os documentos referentes á escravidão negra no Brasil, motivo este que temos tão poucos relatos sobre os acontecimentos e concomitantemente a capoeira e seus eventos, mas que nos dias de hoje é prestigiada não somente em nosso pais, mas em todos os continentes do mundo.
Em 26 de dezembro de 1972, a capoeira foi homologada pelo Ministério da Educação e Cultura como modalidade desportiva (GLADSON, 1989,P.23).
E como todo desporto, pode ocasionar lesões durante a sua prática, principalmente com o passar dos anos, estando o praticante com a musculatura cansada e fraca, em decorrência do envelhecimento dos tecidos, fato este que é inevitável (SENA, 2008).
O envelhecimento é um processo caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas e de todas as capacidades físicas. A força muscular por sua vez é talvez a capacidade física que mais deva receber atenção, pois com o passar dos anos o processo de perda da mesma e de massa óssea acontece de maneira muito acelerada gerando consequências muitas vezes irreparáveis (MAZINI FILHO, 2006).
METODOLOGIA
O método da pesquisa foi através de revisão bibliográfica, sendo vários livros e artigos consultados também de revistas cientificas dos sites; scielo(Revista Brasileira de Reumatologia),uscs.edu.(Revista Brasileira de Ciências da Saúde),ufpb(Revista da Faculdade de Ciências da Saúde) eufv(Revista Mineira de Educação Física de Viçosa).
Segundo CORREIA, W R. et al. (2010),com base em levantamento efetuado foi possível analisar a produção acadêmica dos periódicos nacionais em Educação Física sobre a temática L/AM/MEC (Lutas e Artes Marciais), a partir dos quais identificou uma significativa precariedade restritiva do conhecimento cientifico nas dimensões quantitativas e qualitativas. Como evidência, apontamos para presença de poucas pesquisas de cunho aplicado do ponto de vista da intervenção profissional e sócio-educativa, cujo direcionamento esteve circunscrito num viés da Biodinâmica do Movimento Humano ou dos Estudos Sócio-culturais da Educação Física em poucas manifestações da cultura corporal relacionadas às L/AM/MEC.
O objetivo deste trabalho é descrever a importância do treinamento resistido, no fortalecimento muscular do capoeirista veterano, prevenindo assim o acometimento de lesões decorrentes de sua prática com relação também à sua idade cronológica, a qual nem sempre corresponde à biológica.
RESULTADOS
1.CAPOEIRA
A partir de 1.535, dá-se início o processo continuado do tráfico negreiro para o Brasil, que segundo Verger, dividir-se-ia em quatro ciclos bem distintos entre si, e deveras significativo quanto a distribuição geográfica dos conjuntos populacionais africanos traficados, permitindo-nos assim, a identificação das áreas de tráfico e, consequentemente, dos possíveis grupamentos étnicos, independentemente do quantitativo dos stocks que formaram ao longo dos tempos e construção do Brasil, que com seus elementos de cultura, influenciaram significativamente as matrizes culturais deste país emergente, onde a Capoeira, inquestionavelmente, tem um lugar de destaque (ARAUJO e JAQUEIRA, 2006).
Consideráveis porções de escravos desembarcaram nos portos do Brasil, vindos de Angola, e os elementos étnicos deste povo aí estão em múltiplos tipos de gente do nosso pais (MARINHO, I P. 1945, p.15).
Quanto à influência africana na Capoeira, consideramo-la ponto assente, visto identificarmos na sua passada e atual forma de expressividade, elementos culturais africanos, que nem por isso poderíamos considera-los exclusivos para o contexto da luta brasileira (ARAUJO e JAQUEIRA, 2006).
Luta em que predomina a defesa e o ataque, a sua concepção atribui ao mestiço franzino, e que sobressaia pelos seus dotes de agilidade, que o capacitavam para enfrentar os lusitanos dotados de murros demolidores, e muitas vezes, capazes de prostrarem o contendor com violentos golpes de pau. A tática predominante entre os nativos do Rio, tinha sempre como objetivo negacear durante a pugna, com o intuito de cansar e distrair o contendor, até que surgisse uma oportunidade para vencê-lo com um passe decisivo: rasteira ou cabeçada “(MOURA, J, p. 16, 2009).
Trabalhando num regime de sol a sol, chicoteados pelos seus feitores, derrubavam matas, preparavam a terra, plantavam a cana e produziam, com o amargor do sofrimento, o açúcar, doce riqueza dos senhores (AREIAS, 1996, p. 11).
De acordo com Mello (1996) apud Fontoura e Guimarães (2002), a capoeira acontecia de forma clandestina, pois uma vez usada como arma de luta, os senhores de engenho à coibiam veementemente na base da tortura (SENA, 2008).
O capoeira desde seu aparecimento foi considerado um marginal, um delinquente, em que a sociedade deveria vigiá-lo, e as leis penais enquadrá-lo e puni-lo (REGO, 1968, p. 291).
Mesmo depois de abolida a escravidão, os capoeiristas continuaram a sofrer perseguições da polícia e eram mal vistos pela sociedade (GLADSON, 1989, p.22).
O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca foi o mentor das ações coercitivas contra os capoeiristas, que eram os responsáveis pelos tumultos e agressões registrados nas festas populares, realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Ficou combinado que a desolada e inóspita ilha de Fernando de Noronha, seria o local do desterro desses elementos, que ameaçavam a Segurança Nacional (MOURA, J. 2009, p. 89).
Do artigo 402, do código penal capitulo XIII de 1890 diz: Fazer nas ruas e praças públicas, exercício de agilidade e destreza corporal conhecida como capoeiragem; prisão celular de dois a seis meses (REGO, 1968, p.292).
Em 1936 surge Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado), sendo o grande pioneiro na projeção da capoeiragem. Faz a primeira demonstração da inovação do seu trabalho, e um ano depois é convidado pelo então governador da Bahia, General Juracy Magalhães, para fazer uma apresentação no palácio para um grupo de amigos e autoridades convidadas, mostrando a eles uma parte da nossa herança cultural. Naquele mesmo ano a capoeira é oficializada pelo governo como instrumento de Educação Física e Mestre Bimba recebe da Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública uma licença e registro para funcionamento da sua escola como centro de Educação Física (AREIAS, 1983, p. 67).
Na década de 30, Getulio Vargas tomou o poder, derrubando o Presidente Washington Luis, e, permitiu a pratica da Capoeira (vigiada), somente em recintos fechados e com alvará da polícia (FONTOURA E GUIMARÃES, 2002).
Em 1972 a capoeira foi homologada pelo ministério da Educação e Cultura como modalidade desportiva (GLADSON, 1989, p.23).A Capoeira é hoje uma atividade universal, praticada em escolas, clubes, universidades e esta em todos os continentes do planeta.
2.TREINAMENTO RESISTIDO
Existem cerca de 434 músculos no corpo humano, perfazendo de 40 a 45% do peso corporal da maioria dos adultos. Os músculos se distribuem aos pares nos lados direito e esquerdo do corpo. Cerca de 75 pares de músculos são responsáveis pelos movimentos e pela postura do corpo, com os demais participando em atividades como controle ocular e deglutição (HALL, S J., 2005, p.141).
São quatro as propriedades comportamentais do tecido muscular; extensibilidade, elasticidade, irritabilidade e a contratilidade que nada mais é que a capacidade de desenvolver tensão. Essas propriedades são comuns a todos os tipos de músculo, incluindo o cardíaco, o liso e o esquelético do ser humano. A extensibilidade é a capacidade de ser estirado (alongado) ou de aumentar em comprimento, ao passo que elasticidade é a capacidade de voltar ao comprimento normal após o estiramento. Outra propriedade é a irritabilidade, a qual tem a capacidade de responder a um estimulo. Quando ativado por um estímulo, o músculo responde desenvolvendo tensão. A capacidade de desenvolver tensão ou a contratilidade é uma característica comportamental especifica do tecido muscular. Históricamente, o desenvolvimento de tensão pelo músculo foi designado de; contração, ou componente contrátil da função muscular (HALL, S J., 2005, ps. 141-143).
Treinamento é um conjunto de atividades sistemáticas e controladas visando o aperfeiçoamento de um organismo, com o enriquecimento de um repertório de habilidades e o aumento da capacidade de trabalho (MATURANA DOS SANTOS, 2007).
Treinamento Resistido é conhecido como treinamento de força e envolve ativação voluntária de músculos esqueléticos específicos contra alguma forma de resistência externa, que pode ser proporcionada pelo peso corporal, pesos livres (barras e halteres), ou uma variedade de outros tipos de exercícios (máquinas, molas, elásticos, resistência manual, etc.) (WINETT, R A. 2001).
O treinamento com exercícios resistidos é definido como uma atividade que desenvolve e mantém a força, e tem sido praticado por uma grande variedade de indivíduos com e sem doenças crônicas, porque esta associado a mudanças favoráveis na função cardiovascular, metabolismo, fatores de risco coronários e bem-estar psicossocial. Além disso, estes exercícios estimulam a hipertrofia e a coordenação, trazendo assim melhora funcional das atividades de vida diária. A inclusão deste tipo de exercício na reabilitação musculoesquelética teve grande impulso e reconhecimento cientifico a partir da segunda guerra mundial, quando se demonstrou a importância dos exercícios resistidos para a melhora da força muscular dos militares. Nos dias atuais, estudos tem enfatizado os benefícios potenciais da aplicação dos mesmos em fisioterapia e, especialmente, no tratamento de diversas doenças reumatológicas, já que o déficit de força é um achado comum na maioria destas doenças e que contribui fortemente para inabilidade em realizar atividades diversas (JORGE,R, SOUZA, M 2009).
Atualmente está bem estabelecido que o treinamento resistido, estimula favoravelmente variáveis de aptidão como velocidade e agilidade, coordenação, equilíbrio e flexibilidade, sendo importante na habilidade para saltos, corrida de velocidade e de longa distância, força de chute, golpes do tênis e do golf, desempenho em natação e demais atividades esportivas (RATAMESS, N A. et al 2009).
A prática do treinamento resistido vem crescendo significativamente nos últimos anos, pois seus benefícios à saúde vêm sendo comprovados a cada dia (FLECK E JUNIOR, 2003) (MAZINI FILHO, 2006).
Segundo Holloszy e Booth (1976), o exercício de força regular e de certa intensidade leva a respostas de adaptação muscular, envolvendo a hipertrofia das células musculares com o aumento da síntese de proteínas miofibrilares e até a proliferação de fibras musculares, com o consequente aumento da força, exemplificado pelos levantadores de peso (IMAMURA, et al, 1999).
Dentre muitos fatores benéficos obtidos por tal treinamento, está o aumento da força. Talvez este seja o maior proveito, pois é útil tanto no aumento da performance de atletas, como na melhora das atividades de vida de pessoas comuns (FLECK E JUNIOR, 2003) (MAZINI FILHO, 2006).
Segundo DANTAS (2003), é interessante considerar a associação do genótipo ao fenótipo, na construção da Individualidade Biológica que produz pessoas totalmente diferentes entre si. Mesmo duas pessoas que, por capricho da natureza, venham a nascer com o mesmo genótipo, como é observado em gêmeos univitelinos, terão experiências diversas durante suas vidas, ocasionando a formação de indivíduos diferentes.
Toma-se como exemplo, o treinamento ministrado a homens negros, de terceira idade, será diferente do aplicado, a meninas japonesas (DANTAS, 2003).
2.1 NO ENVELHECIMENTO
Uma das mais evidentes alterações que acontecem com o aumento da idade cronológica é a mudança nas dimensões corporais. Com o processo de envelhecimento existem mudanças principalmente na estatura, no peso e na composição corporal (MATSUDO, 2002).
O envelhecimento é um processo caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas e de todas as capacidades físicas. A força muscular por sua vez é talvez a capacidade física que mais deva receber atenção, pois com o passar dos anos o processo de perda de massa muscular e massa óssea acontece de maneira muito acelerada gerando consequências muitas vezes irreparáveis (MAZINI FILHO, 2006).
Recentemente pesquisa da ONU estimou que, já nos primeiros anos do novo milênio, o Brasil teria a sexta maior população idosa do mundo. Esses dados alertam para a necessidade urgente de direcionar os estudos e as pesquisas relacionadas com a fisiopatologia e a prevenção das alterações e das doenças próprias do envelhecimento (IMAMURA, et al. 1999)
Araujo (2003) sugere que a diminuição das fibras musculares, em quantidade e tamanho, é um dos principais aspectos responsáveis pelo decréscimo da força com o passar dos anos. A fraqueza muscular e/ou o encurtamento muscular e a redução da amplitude dos movimentos podem levar a alterações no equilíbrio e a dores articulares, com consequente restrição da capacidade funcional e com aumento do risco de quedas e fraturas (MAZINI FILHO, 2006).
Entre os 25 e 65 anos de idade há diminuição substancial da massa magra ou massa livre de gordura de 10 a 16% por conta das perdas na massa óssea, no músculo esquelético e na água corporal total que acontecem com o envelhecimento (BAUMGARTNER et al. 1998) (MATSUDO, 2002).
A perda de força, relacionada à idade, pode ocorrer por fatores miogênicos ou neurais, Hakkinem (2001), Fleck (1997) verificaram que, de acordo com os fatores miogênicos, evidências cientificas suportam que a diminuição da massa muscular incide mais sobre as fibras do tipo II (contração rápida), produzindo, desta forma, uma elevação da concentração das fibras do tipo I (contração lenta), (MAZINI FILHO, 2006).
No aparelho locomotor, a deterioração funcional que ocorre com o progredir da idade envolve alterações morfológicas e bioquímicas. Dessa forma, a atrofia muscular concomitante ao aumento dos tecidos conjuntivo e gorduroso parece atingir com maior intensidade as fibras musculares de contração rápida (tipo II), (IMAMURA, et al. 1999).
A perda da massa muscular e consequentemente da força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do individuo que está envelhecendo (MATSUDO, 2002).
Muito se tem discutido sobre força muscular e treinamento resistido de um modo geral. E de acordo com Guedes (1997), força é a capacidade de exercer tensão muscular contra uma resistência, superando, sustentando ou cedendo à mesma. E esta capacidade física é essencial que os idosos a tenham pela maior parte do tempo vivido, por isso torna-se imprescindível o treinamento resistido como parte de um planejamento que vise saúde e qualidade de vida (ACSM, 2009) (MAZINI FILHO, 2006).
A força é uma valência física de suma importância para se desempenhar as atividades de vida diária. A literatura revela que a força muscular máxima é atingida entre 20 e 30 anos de idade, quando o sistema neuromuscular do homem alcança sua maturação plena. A partir desta idade, começam as reduções dos níveis de força, gradativamente. Por volta dos 60 anos de idade, é observada uma diminuição da força máxima em torno de 30% a 40%, o que significa uma perda de 6% por década, a partir dos 35 até os 50 anos; dessa idade em diante, a perda chega a ser de 10% (OURIQUES E FERNANDES, 1997) (MAZINI FILHO, 2006).
O ACSM (2009), Fleck (1997) e Skelton (1995) inferem dobre os benefícios que o treinamento de força proporciona ao idoso. Podemos perceber melhoras significativas na massa muscular, na força muscular, na hipertrofia, na densidade mineral óssea e na taxa metabólica basal (MAZINI FILHO, 2006).
2.2 NAS LESÕES
Baetzner (1936) foi o primeiro autor a relatar a maior frequência de doença articular degenerativa em atletas profissionais, mas foi a partir de 1946 que foram realizados vários estudos para avaliarmos as alterações produzidas pelos exercícios físicos nas articulações de membros inferiores (EGRI, D, et al, 1999).
A atividade física atua sobre as articulações, as cartilagens, os tendões e os ligamentos, influenciando o metabolismo e a resistência dos mesmos. A modalidade do exercício praticado, a duração, a intensidade e a frequência de treinamento, associadas a fatores genéticos, exercícios extenuantes, anomalias anatômicas e historia de trauma articular, são pontos cruciais a serem avaliados, quando falamos em tal prática, tendo como consequência a lesão. Ocorrendo o uso excessivo da articulação, o índice de degradação de proteoglicanos pode exceder o índice de síntese, sobretudo nas regiões submetidas a maior carga durante a atividade articular. Consequentemente, há redução da interação de tais elementos com a rede colágena, que acaba por sofrer alterações em suas propriedades mecânicas e funcionais. Esses fenômenos diminuem a integridade da cartilagem articular e aumentam sua suscetibilidade às alterações degenerativas (EGRI, D, et al, 1999).
A ocorrência de lesões de partes moles (músculos, tendões e bursas) é comum na prática esportiva, e apesar de muitas delas estarem associadas a um mecanismo de trauma, um numero expressivo, acima de 50% do total de lesões, está associado às síndromes por uso excessivo (VAISBERG, M et al, p. 303, 2010).
Hill et al. (2004), em estudo no qual acompanharam jogadores de softball por um período de dois anos, mostraram que mais de 70% dos atletas apresentaram lesões musculoesqueléticas e que 70% destas estavam relacionadas a mecanismos de lesão por uso excessivo, demonstrando a importância desse mecanismo nas lesões esportivas (VAISBERG, M et al, p.303, 2010).
A osteoartrite é uma enfermidade crônico-degenerativa que promove alterações na cartilagem articular, sendo a doença musculoesquelética mais comum em todo o mundo (RICCI, N A. et al. 2006).
Estudos foram realizados pelo USNational Health Surveysand the Zoetermeer Community Survey in the Netherlands, a prevalência de formas sintomáticas de osteoartite é de 6% joelhos e 4% quadris, com distribuição equivalente entre os sexos masculino e feminino na faixa etária de 30 a 60 anos (VAISBERG, M, et al. p. 227, 2010).
Taylor et al. (2005), fizeram um levantamento das revisões sistemáticas que abordavam o exercício resistido em diferentes especialidades, com ênfase em doenças cardiopulmonares, neuromusculares, gerontologicas e musculoesqueléticas. No que diz respeito a estas últimas, foram encontradas os seguintes trabalhos:
a) Duas revisões de lombalgia crônica, com 18 estudos, onde se verificou melhora da força extensora e flexora de tronco com redução da dor e melhorada função;
b) Uma revisão de cervicalgia, com quatro trabalhos, que verificou melhora de força, amplitude de movimento, função e dor;
c) Uma revisão de osteoartrite de quadril e joelho com dois estudos onde houve redução de dor;
d) Uma revisão de fratura de fêmur e tornozelo com três estudos, que verificou melhora da força e da função (JORGE, R T. et al. 2009).
Suetta et al. (2004) atestaram que o treinamento resistido, ao contrario da fisioterapia convencional, aumenta a massa muscular, a força muscular máxima e os estímulos neurais em indivíduos idosos com desuso do membro pós artroplastia de quadril (JORGE, R T. et al. 2009).
3. DISCUSSÃO
3.1 CAPOEIRA /ENVELHECIMENTO / LESÕES
O treinamento desportivo é baseado na repetição constante de determinados movimentos que podem levar a desequilíbrios que geram alterações de força, flexibilidade, equilíbrio e coordenação motora, predispondo ao aparecimento de alterações posturais que, por sua vez, podem predispor o praticante à lesão (SINORETI e PAROLINA, 2009).
A Capoeira, arte-luta brasileira praticada atualmente em mais de 150 países, conta com um grande número de praticantes, dentre os quais uma parcela significativa na terceira idade, principalmente os próprios Mestres, mas pouquíssimos são os estudos sobre os praticantes de Capoeira na terceira Idade (LUSSAC, 2009).
O capoeirista para aprender um novo golpe ou movimento precisa desenvolver o uso sincronizado de vários grupos musculares simultaneamente. Isso vai viabilizar o uso destes grupos musculares também em práticas corriqueiras no dia a dia, diferentemente do praticante da musculação que trabalha isoladamente para cada grupo muscular. Por outro lado, deve-se tomar muito cuidado, pois a prática indevida pode ocasionar lesões musculares, assim como, lesões articulares, muitas vezes irreversíveis, que podem acarretar prejuízos ao praticante, pelo resto de sua vida (BURIANOVÁ, Ph Dr. Suzana, 2007) (SENA, 2008).
A Capoeira é uma modalidade aberta e acíclica, classificada como arte marcial, onde o praticante joga com seu oponente, utilizando-se de um vasto repertório de movimentos (HEINE, V et. al. 2000).
Com relação à força, de uma maneira geral a Capoeira exige dos seus praticantes um bom componente de força dinâmica, por ser este um jogo com bastante movimentação (HEINE, V et. al. 2000).
[...] tomando-se como referência outras expressões do movimento humano (1), pode-se classificar as cargas externas geradas nos movimentos armada pulada e no parafuso como sendo de moderada intensidade. Considerando ainda que a carga externa, quando aplicada em intensidade e/ou volume excessivos, pode provocar lesões em diversas estruturas do tecido biológico, deve-se dedicar especial atenção à seleção dos movimentos utilizados nas aulas de capoeira (BRENNECKE,AMADIO, SERRÃO, 2005).
Segundo (VENTURA, T,2.000), durante estudo com 40 praticantes do Grupo de Capoeira Nova Geração de Angola e através de questionário randomizado, verificou-se grande índice de lesões de joelho, através da queixa da dor nos movimentos de; queda de rim, negativa e queda de quatro, sendo as lesões; plica, compressão patelar, tendinite e lesão meniscal.
Os movimentos gerados durante a prática de Capoeira são de alta velocidade e bruscos, onde o corpo sofre com giros e, as articulações absorvem demasiados impactos durante o jogo (SIGNORETI e PAROLINA, 2010).
A Capoeira ainda que em situações de jogo dificilmente se execute diversas vezes o mesmo movimento, em situações de treinamento, a repetição sistemática do mesmo movimento é usualmente realizada, aumentando, portanto, as chances de lesões por sobrecarga em indivíduos não preparados e/ou fatigados (BRENNECKE, AMADIO, SERRÃO, 2005).
Segundo SINORETI e PAROLINA, (2009), na Capoeira com relação à avaliação postural, as alterações mais evidentes foram encontradas em praticantes com tempo de treino superior a 10 anos, demonstrou que todos os jogadores que praticam há muitos anos apresentam desequilíbrios musculares em comum.
Aqueles que praticam há mais de dez anos, apresentam alterações posturais em comum tais como; protração cervical, protusão de ombros, escápulaS aladas, antebraços pronados, hiperlordose lombar, anteversão pélvica, hiperextensão de joelhos e pés pronados (SINORETI e PAROLINA, 2009).
Acredita-se que o praticante exercita o corpo para ambos os lados, entretanto, na prática, durante movimentos específicos, o praticante repete o gesto motor pelo lado dominante em busca de melhores resultados na técnica de execução do movimento, predominando a prática unilateral, em que os músculos se desenvolvem desarmonicamente e possibilita o surgimento de alterações posturais e lesões (SINORETI e PAROLINA, 2009).
O capoeirista ao atingir em sua vida a fase do envelhecimento, pode ocorrer a morbidade característica do geronte, retrogênese e certas peculiaridades, como a redução da força e tônus muscular, atrofia dos grandes grupos musculares, redução da flexibilidade, surgimento ou acentuação de problemas posturais, possibilidade do aparecimento da osteoporose e da senilidade, mudanças emocionais e no autoconceito, dificuldades na comunicação e na aprendizagem de informações novas em certos casos, além de vários outros problemas e doenças crônicas e simultâneas próprias do envelhecimento (LUSSAC, 2009).
Os benefícios do treinamento de força para idosos, mesmo aqueles com doenças crônicas, incluem melhor saúde, melhoria das habilidades funcionais e melhoria de qualidade de vida (FLECK e KRAEMER, p. 309, 2008).
Em razão da baixa produção acadêmica sobre o tema, é necessário ampliar as pesquisas para um maior conhecimento das potencialidades de utilização da Capoeira direcionada ao desenvolvimento e manutenção de seus praticantes da terceira idade e das correlações entre capoeira e envelhecimento (LUSSAC, 2009).
4.CONCLUSÃO
Diante ao exposto neste estudo e a precariedade de informações sobre nossa arte/luta brasileira, quanto a seus praticantes veteranos, é interessante que se tome algumas precauções durante a sua prática, como os demais esportes, quanto á riscos de lesões. Segundo consta, podem surgir de alterações posturais associadas à idade cronológica e pela repetição excessiva de posições e movimentos habituais ou sobrecarga. Podem provocar um excesso de adaptação orgânica que pode resultar em efeitos deletérios para postura e adicionado a gestos específicos e erros na técnica de execução dos movimentos e ao tempo de prática. Fatores estes que segundo a pesquisa realizada, podem ser trabalhados através do treinamento resistido, que por sua vez, indica ser uma atenuante tanto na sobrecarga articular como musculoesquelética, no alívio da dor e na capacidade funcional, levando em consideração também a individualidade biológica de cada indíviduo. Assunto este que ainda é um paradigma a ser quebrado por parte de muitos capoeiristas, onde segundo consta, o trabalho com pesos trava e tira a flexibilidade, o que não é verdade, devido às propriedades da extensibilidade e a elasticidade do músculo, desde que o exercício seja trabalhado com cargas moderadas e em toda sua amplitude articular, visando à saúde e bem estar.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[1] Educador Físico, aluno do curso de Fisiologia do Exercicio, na Saúde, Doença e Envelhecimento, EEP-FMUSP, São Paulo-SP
E-mail para correspondência: cove_io@hotmail.com