A IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL NA GESTAÇÃO DE ALTO RISCO

Por Rosimeire Ferreira | 12/01/2011 | Saúde

UNIVERSIDADE PAULISTA ? UNIP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM


ROSIMEIRE FERREIRA DA SILVA (AUTORA)
CAROLINE CRISTINA MOREIRA
FABIERRY CAMARGOS JUNQUEIRA
LEIDIANE RODRIGUES NAZÁRIO
ROSANGELA FERREIRA DA SILVA



ORIENTADORA: PROFª MS. JULIANA BARBOSA MAGALHÃES




A importância do pré-natal na gestante de alto risco



Resumo
Introdução: A gestação é um processo natural que envolve mudanças fisiológicas complexas. Múltiplos desafios podem evoluir durante esse período, como as síndromes hipertensivas, que se dividem em pré-eclâmpsia, eclâmpsia e síndrome de Hellp. Acredita-se que o pré- natal é uma das estratégias eficazes na redução das taxas de mortalidade materna. Objetivo: Analisar a assistência de enfermagem no pré-natal às gestantes de alto risco, com doença hipertensiva específica da gestação. Métodos: A revisão da literatura ocorreu a partir da abordagem qualitativa, a busca dos materiais ocorreu através das bases de dados BVS; LILACS e SCIELO. Resultado: Os distúrbios da hipertensão gestacional tem sido uma das principais complicações na gravidez, levando á altas taxas de morbi mortalidade materno fetal, representando em torno de 25% dos óbitos maternos. Conclusão: A qualidade da assistência prestada à saúde da mulher em seu período gravídico-puerperal dependerá dos cuidados integrais e educativos executados pelo profissional da saúde, havendo necessidade do profissional enfermeiro atuante no pré-natal, estar capacitado a prestar uma assistência adequada à mulher acometida pela doença hipertensiva na gestação, visando assim à prevenção, à promoção e à recuperação da saúde da gestante em seu ciclo gravídico.
Descritores: hipertensão, gestação, eclampsia, pré-eclampsia e risco, pré-natal.
Abstract
Introduction: pregnancy is a natural process, that involves complex physiological changes. Many challenges can evolve during this period, such as hypertensive disorders, which are divided into pre-eclampsia, eclampsia and HELLP syndrome. It is believed that prenatal care is one of effective strategies in reducing maternal mortality rates. Objective: to evaluate the nursing care in the antenatal high-risk pregnant women with hypertensive disorders of pregnancy. Methods: the study was conducted from a literature review, focusing on the qualitative approach, the pursuit of material occurred through the databases BVS; LILACS and SciELO. Result: the disturbances of gestational hypertension has been a major pregnancy complications, which lead to high rates of fetal morbidity and maternal mortality, accounting for around 25% of maternal deaths. Conclusion: the quality of health care provided to women in their pregnancy-puerperium period will depend on comprehensive care and education performed by health professionals, having need of the professional nurse acting in the prenatal care, be able to provide adequate assistance to women affected by hypertensive disease in pregnancy, thereby focusing on prevention, promotion and rehabilitation of health of pregnant women in their pregnancy cycle.
Keywords: hypertension, pregnancy, eclampsia, pre-eclampsia and risk, prenatal care.
Introdução
A gravidez é um período de profundas mudanças no corpo feminino, envolvendo todos os sistemas, que se alteram fisiologicamente à nova condição, que tem seu início na primeira semana e se prolonga até o final da gravidez. Embora a gestação seja um evento biológico, para algumas mulheres representa uma situação de alto risco que ameaça a sua saúde (3,7).
A gestação é definida como um processo natural, que ocorre na maior parte dos casos sem intercorrências. Apesar deste fato, existe uma pequena parcela das gestantes que, por terem características específicas ou por sofrerem algum agravo, apresentam maiores probabilidades de evolução gestacional desfavorável, tanto para o feto quanto para a mãe. Essa parcela constitui o grupo chamado de "gestantes de alto risco" (6).
Estudos revelam que 10 a 20% das grávidas podem ser consideradas de alto risco e responsáveis por 50% da mortalidade fetal no anteparto, as gestações de alto risco podem comprometer o concepto, o desenvolvimento e o crescimento no sentido de influenciar todo o processo gestacional vivenciado pela mulher (8).
Para as mulheres que possuem riscos, seja pela presença de patologias associadas ou ciclo gravídico-puerperal ou até mesmo pela própria gestação, deve-se ter o máximo de atenção ás questões referentes á qualidade e aprimoramento da assistência prestada (11).
A hipertensão arterial tem preocupação da saúde publica, e a mesma é caracterizada quando a pressão arterial sistólica/diastólica são iguais ou superiores a 140 x 90 mmHg, ou então, com elevação de 30 mmHg na pressão sistólica ou 15 mmHg na diastólica, em relação ao menor valor registrado no segundo trimestre da gestação (1).
Durante o período da gravidez a hipertensão gestacional vem sendo uma das doenças que freqüentemente mais complica a gravidez, presente em 5 a 10 % das gestantes, sendo responsável pelo maior índice de morbidade e mortalidade materna e perinatal (3). Uma estimativa mundial demonstrou que 600.000 mulheres morrem a cada ano por causas relacionadas à gestação, sendo que 99% destes óbitos ocorrem em países em desenvolvimento (6).
A gravidez pode apresentar complicações, manifestadas a partir de três formas distintas como: pré-eclampsia, eclampsia e síndrome de hellp. Estas complicações podem ser acompanhadas de descolamento prematuro da placenta, hipóxia, e a prematuridade (4).
Portanto, foi necessário a implementação de Políticas Públicas para atender a mulher em sua integralidade, em todas as fases da vida, respeitando as necessidades e características de cada uma delas. O Programa de Atenção Integral de Saúde da Mulher (PAISM) foi criado na década de 80, com enfoque na atenção ao pré-natal, no planejamento familiar e na melhora da atenção à saúde da mulher, na tentativa de reduzir os índices de mortalidade materna e neonatal. Com isso ocorreu queda de 8,7% da mortalidade infantil em crianças com até um ano de idade e de 7,3% da mortalidade neonatal (bebês com até 28 dias de vida) (1).
O pré-natal é o nome dado ao acompanhamento médico e de enfermagem dedicado a gestante e ao bebê durante todo o período gestacional (10). Neste acompanhamento o enfermeiro oferece instruções à futura mamãe, como cuidados com a alimentação, formas de se manter confortável, estimulação do bico do seio, polivitamínicos a serem ingeridos, realização de exames oferecendo respostas e apoio aos sentimentos de medo, dúvidas, angústias, fantasias e a curiosidade de saber sobre o que acontece com o seu corpo nesse processo de transição (6).
Sendo assim, o profissional de saúde tem como responsabilidade a manutenção da vida da mãe e do bebe, com destaque no profissional enfermeiro que ocupa um papel fundamental no acompanhamento às gestantes de alto risco, que necessitam de cuidados para que a gestação chegue a termo (37ª semana à 42ª semana incompleta), a fim de prevenir a prematuridade e riscos à saúde da mulher e a do concepto (6).
O presente estudo tem como objetivo analisar a importância do pré-natal às gestantes de alto risco, com doença hipertensiva específica da gestação.
Métodos
O estudo se deu através de uma revisão da literatura a partir da abordagem qualitativa acerca da doença hipertensiva na gestação. A coleta de dados foi realizada nos sites da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na base de dados da Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), em artigos publicados no período de 1999 á 2009, tendo como descritores as palavras chave: hipertensão, gestação, eclampsia, pré-eclampsia e pré-natal.
Este estudo implicou no levantamento de dados de variadas fontes, seguindo método rigoroso, a partir da leitura atenta e interpretativa, a fim de levantar o maior número de dados, atualizados e fidedignos. Foram utilizados periódicos dos últimos dez anos, específicos sobre o assunto.
Resultados e Discussão
Os resultados mostraram que a hipertensão gestacional tem sido uma das principais complicações na gravidez, levando á altas taxas de morbi mortalidade materna e fetal (1, 9, 17). Alguns autores defendem que esta taxa está em torno de 12% a 22% nas gestações em países em desenvolvimento como o Brasil, constituindo a primeira causa de morte materna com uma taxa de 35% (6,7, 14).
Estudos recentes apontaram que, nas capitais brasileiras, os transtornos hipertensivos lideram as causas deste tipo de morte, representando em torno de 25% dos óbitos maternos investigados (3, 11, 19). Outros demonstram que, apenas 7% são afetadas pela hipertensão gestacional, e 6 a 10% dos óbitos perinatais estão associados aos episódios hipertensivos. (11, 15). Já outros autores afirmam que essa síndrome ocorre em 6% a 8% das gestações (4, 16).
Essa disparidade dos índices de morbi-mortalidade está diretamente ligada à condição socioeconômica da população brasileira, já que a distribuição de renda é feita de forma desigual, acarretando a falta de acesso da população à saúde e a educação, representada pelo alto índice de mortalidade infantil, baixa expectativa de vida, analfabetismo, baixa escolaridade, alimentação inadequada vista pela subnutrição, fome, a falta de informação da população sobre as medidas de prevenção das doenças, a deficiência do funcionamento do setor público de saúde, a dificuldade de acesso aos equipamentos de alta tecnologia, seguida de uma assistência precária prestada á mulher, sendo assim, estes fatores tem contribuído de forma significativa para essa taxa elevada de morbi-mortalidade.
Ao abordar a saúde da mulher, o foco estava na especialidade da ginecologia e obstetrícia, reduzindo-a apenas à sua capacidade reprodutora. Nota-se, no entanto, que atualmente a pobreza, a dependência econômica, a dupla jornada de trabalho, a violência, a discriminação vem afetando diretamente a saúde das mulheres nas diversas etapas de sua vida (6, 8, 10). Para garantir saúde às mulheres, as políticas públicas devem ir além do eixo materno-infantil, mas sim visualizar de forma integral, educando e prevenindo as situações de risco (5, 18, 20).
O Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) foi criado em 1983 pelo Ministério da Saúde, e é considerado como uma das principais conquistas do movimento feminista no Brasil. Efetivamente uma série de demandas específicas à saúde das mulheres, é incorporada buscando o atendimento integral as suas necessidades, em todas as fases da vida e não apenas na fase reprodutiva. É um instrumento importante para auxiliar na identificação de necessidades e de soluções adequadas à realidade, melhorando assim a qualidade do atendimento às mulheres (1, 6, 13).
Garantir o atendimento integral à saúde da mulher em todas as faixas etárias é respeitá-la como cidadã e não apenas como responsável pela reprodução da espécie humana. Desta forma, abre-se espaço para atender as mulheres também no seu momento de vida em que são acometidas por agravos, que podem comprometer a vida do concepto (12, 16, 17).
A assistência ao pré-natal é o primeiro passo para o parto e para um nascimento humanizado. A consulta de pré-natal envolve procedimentos simples, podendo o profissional de saúde dedicar-se a escutar as necessidades da gestante, transmitindo nesse momento o apoio e confiança necessária para que ela se fortaleça e possa conduzir com mais autonomia a gestação e o parto.
O pré-natal deve ser organizado para atender às reais necessidades das gestantes, mediante utilização de conhecimentos técnico-científicos existentes e dos meios e recursos disponíveis mais adequados para cada caso (9, 13, 21).
A adesão das mulheres ao pré-natal está relacionada com a qualidade de assistência prestada pelo serviço e pelos profissionais de saúde, o que, em última análise, será essencial para redução dos elevados índices de mortalidade materna e perinatal verificados no Brasil (2, 7).
A finalidade da consulta de enfermagem é acolher a mulher respeitando sua condição emocional em relação à atual gestação, esclarecer suas dúvidas, medos, angústias ou simplesmente curiosidade em relação a este novo momento em sua vida; identificação e classificação de riscos; confirmação de diagnóstico; adesão ao pré natal e educação para saúde estimulando o auto cuidado (13, 18).
As altas taxas de morbimortalidade materna ainda permanecem como um desafio a vencer, e a atenção qualificada no pré-natal pode contribuir significativamente na redução dessas taxas e promover uma maternidade segura. No entanto, o oferecimento de uma atenção qualificada está na dependência do desempenho qualificado por parte dos profissionais de saúde que assistem as mulheres na sua gestação.
Conclusão
No intuito de diagnosticar e minimizar as complicações decorrentes da doença hipertensiva específica da gravidez e reduzir os elevados índices de morbimortalidade materna e perinatal verificadas no Brasil torna-se relevante refletir sobre as ações em saúde e avaliar a qualidade da assistência prestada através dos indicadores de saúde. O enfermeiro é imprescindível na execução de um cuidado mais especializado, com o intuito de individualizar a assistência, visando à prevenção, à promoção e à recuperação da saúde da gestante, através de estratégias e protocolos específicos no cuidado à mulher.
A assistência no pré-natal constitui um recurso fundamental na prevenção e/ou controle de problemas de saúde podendo interferir na saúde da mulher em seu ciclo gravídico-puerperal, conseqüentemente contribuindo para a redução da morbimortalidade materna e fetal. Essa assistência oportuniza e dispensa um cuidado integralizado à gestante, em um amplo contexto, em que se articulam os aspectos biológicos, socioeconômicos, educacionais, políticos e familiares.
Referências

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