A importância do inglês para profissionais de administração e contabilidade

Por Eliana Sfalsin | 05/06/2017 | Adm

Do you speak English?

Que falar inglês hoje em dia deixou de ser um diferencial e passou a ser uma necessidade básica, isso nenhum profissional que se preze questiona mais. É fato!

Antonio Suarez Abreu, autor do livro “A arte de argumentar”, menciona uma pesquisa americana que “chegou-se à conclusão de que, entre as competências necessárias para que o país continue líder mundial, neste século que se inicia, está a de gerenciamento da informação por meio da comunicação oral e escrita, ou seja, a capacidade de ler, falar e escrever bem.” Para o autor, “já é coisa sabida que o mais importante não são as informações em si, mas o ato de transformá-las em conhecimento. As informações são tijolos e o conhecimento é o edifício que construímos com eles.”

Deter a informação é crucial para que as decisões e formação de juízo sejam a mais correta possível. Mas só conseguimos isso se as extrairmos na fonte. Se você quer ser um dos primeiros a ter conhecimento sobre uma pesquisa recente de impacto global, e formar sua própria opinião sobre temas diversos antes que os mesmos sejam distorcidos ou mal interpretados, precisa beber na fonte da língua inglesa. 

Mas por que o inglês se tornou a língua universal? Por que artigos e pesquisas cientificas importantes devem ser publicadas em inglês? Por que o inglês está tão presente no meio corporativo?

O inglês não se tornou língua universal da noite para o dia. A língua tem papel crucial na história da humanidade e se fundamenta na influência e no poder da sua terra de origem sobre as outras. A primeira língua considera universal foi o Latim, por toda sua importância erudita. O latim foi o idioma reservado para as relações da aristocráticas com funcionários do império, motivando à adoção do latim por parte das elites, especialmente com a oficialização do cristianismo e a dispersão da liturgia romana (oficializada em latim) entre a população. Depois veio o Italiano com o movimento renascentista. Adicionalmente, do século XVII a meados do século XX, o francês serviu como a linguagem preeminente da diplomacia e de assuntos internacionais, bem como a língua franca entre as classes educadas da Europa. A posição dominante da língua francesa só recentemente foi tomada pela inglesa, desde a hegemonia britânica no processo de colonização de novos territórios até a emergência dos Estados Unidos como superpotência depois da segunda guerra.


Embora a língua mais falada no mundo seja o Mandarim, com mais de 1,2 bilhão de falantes, o domínio de uma língua sobre as demais deve-se ao poder econômico, tecnológico, social e político da sua nação de origem, e não ao seu número de falantes nativos. A hegemonia americana foi determinante para que o inglês se tornasse língua universal, consequentemente tornando-se a língua utilizada na publicação de artigos científicos que precisam de visibilidade mundial e a mais usada no universo corporativo por questões econômicas.


Leiam esse texto:
"Somos uma startup especialista em e-comerce. Nosso know-how é baseado nos diversos projetos envolvendo empresas B2B e B2C ao longo desses dez anos de existência. Utilizamos um sistema de CRM (Customer Relationship Management) personalizado, tendo a certeza de que nossos clientes terão suas necessidades atendidas conforme suas peculiaridades. Nos desenvolvemos aplicando práticas do brainstorming entre nossos funcionários e praticamos um follow up atuante. Conheça nosso team building através de uma hand-off meeting e seja nosso parceiro também.".

É evidente que nem sempre um pequeno texto estará tão recheado de estrangeirismo. De qualquer modo, nenhuma dessas expressões deve ter soado estranha para os profissionais mais atuantes. Assim como ocorre com gírias, a não utilização de termos considerados importantes para seu seguimento pode dar a impressão de que o profissional está ultrapassado e não faz parte do “dream team” sendo espontaneamente empurrado para longe dos grupos influenciadores. Além disso, não saber o que significa determinadas expressões pode resultar na incompreensão de um cenário. Vejam o exemplo a seguir, retirado de um pequeno trecho do livro “Plano de Negócios para Startups”:

“É muito curioso como funciona a maioria das startups. Na minha visão, existem dois principais cenários: O time que tem background técnico, que estão mais do que capacitados para criar um excelente produto, mas possivelmente pecarão nas vendas. Ou o time tem excelente background de vendas, mas não conhecem absolutamente nada sobre tecnologia e ficam quase que de mãos amarradas em relação ao produto. Quando uma startup consegue reunir as duas qualidades no time, as chances de sucesso aumentam absurdamente.”

Agora interpretem esse texto: o que o autor disse afinal? Aposto que muitos de vocês recorreram ao google tradutor para descobrir o que é “background”.

Saber o que as expressões significam, onde e como utilizá-las pode representar o seu green card no mercado de trabalho, ou seu passaporte direto para turma do “old school”.

Para diversas corporações, a fim de reservarem seu “lugar ao sol” nesse oceano nada azul da competitividade, seus processos são ajustados por meio de normas e requisitos definidos por órgãos internacionais. O objetivo dessas organizações é definir parâmetros de comparação e validação de dados a partir de indicadores capazes de serem compreendidos por stakeholders do mundo inteiro. Assim o fazem a família ISO e a IFRS, por exemplo.

A ISO surgiu em 1946, International Federation of the National Standardizing Associations, quando representantes de 25 países reuniram-se em Londres e decidiram criar uma nova organização, para padronização, com o objetivo de "facilitar a coordenação internacional e unificação dos padrões industriais". Presente em cerca de 161 países, no Brasil é representada pela ABNT “Associação Brasileira de Normas Técnicas”. A parametrização das normas garantem que a empresa está preocupada com a melhoria continua, minimizando seus custos e sinalizando um padrão de qualidade onde o cliente é o maior beneficiário.

A IFRS foi criada com o intuito de “unificar” um mundo corporativo ainda bem dividido para a adoção de um único padrão internacional de contabilidade. A internacionalização das normas tem sido uma consequência do processo de globalização, uma vez que a interação entre os países, cada vez maior e dinâmico, traz consigo efeitos econômicos e jurídicos que modificam o panorama internacional. Em razão disso, surge a atuação de organizações que visam à produção de normas técnicas a serem adotadas globalmente em matérias onde o interesse privado predomina. No que concerne à contabilidade, o International Accounting Standards Board - IASB tem produzido normas com a finalidade de adoção uniforme por todos os países. Para Padoveze, Benedicto e Leite (2012), a criação de regras internacionalmente uniformes desobriga as empresas e investidores de um ônus causado em função da falta de um padrão, de modo a “promover a convergência entre as normas contábeis locais e as normas internacionais de contabilidade para soluções de alta qualidade e transparência”.

É possível sim, obter as normas que nascem na língua inglesa em português de forma cada vez mais célere. No entanto, não beber dessa água na fonte pode significar cair na armadilha do efeito dominó repetindo um erro contido numa interpretação que não expressa seu signinificado original.

Anna Maria Campos narrou sua trajetória para “traduzir” o “intraduzível” e definir o significado da expressão “accountability” ouvida durante uma aula nos Estados Unidos. A dificuldade para encontrar uma explicação foi tamanha que lhe rendeu um reconhecido artigo e todo mérito pela interpretação da expressão que foi estudada pela professora ao longo de 12 anos. Ou seja, mesmo para alguém que dominava a língua e o contexto da aula sobre administração pública, não entender uma única expressão representou uma perda considerável na assimilação do resto do conteúdo ministrado.

Não se trata apenas de saber traduzir, é uma questão de compreender o conceito de muitas das expressões inglesas utilizadas no dia a dia. Tente usar uma expressão em português capaz de substituir a expressão “brainstorming” por exemplo. Como ficaria? Você convidaria seus colaboradores para uma “tempestade de cérebros”? A menos que o convite seja feito em véspera de “halloween”, duvido que alguém em sã consciência aceitasse. Imagine trabalhar na área de TI sem saber o que significa termos como hardwaresoftware...Tente ir numa “conference meeting” sem um “coffee break”... Ou tente tirar férias sem fazer uma selfie para postar em suas redes sociais. Experimente ir numa livraria e não querer comprar um “best-seller”. Ou ainda, tente não usar internet por um dia, não fazer nenhum download ou usar seu pendrive para gravar o seu Cd ou DVD predileto. A influência da língua inglesa em nossas vidas deixou de ser um mero modismo para ser parte de um processo incontestável do desenvolvimento de uma comunicação mais homogênea. Portanto, ignorar sua existência e importância é ignorar que a língua é um fenômeno social que evolui com a humanidade como um organismo vivo e interfere em nossas vidas tanto quanto as grandes descobertas da humanidade ao longo da nossa história.

So...Do you speak English?

 

ABREU, S Antônio, A arte de argumentar, São Paulo: Ateliê Editora, 2001
RIDGERS, Bill, A arte dos negócios, São Paulo: Zahar, 2014
TOLEDO, Marcelo, Plano de negócios para Startups, disponível em http://lelivros.love/book/download-plano-de-negocios-para-startups-marcelo-toledo-em-epub-mobi-pdf/
http://cafecomsociologia.com/2015/10/o-que-e-accountability.html
http://idiomasrio.com.br/por-que-o-ingles-tornou-se-a-lingua-universal/
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/a-historia-da-organizacao-iso/40732
http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/contabilidade-internacional.htm