A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO PARA OS PROFESSORES EM FORMAÇÃO
Por Mateus Rosa Tognella | 24/09/2009 | EducaçãoPONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
ARTIGO: A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO PARA OS PROFESSORES EM FORMAÇÃO
Disciplina 01121 – Projeto de Atuação Ensino Ciências Sociais I
Docente – ProfessoraMara Salvucci
Ana Paula Silva L.L. Dreyer – RA 07029952
Caio Zulian – RA 07264500
Fabio de Carvalho Lazzari – RA 02591345
Mateus Rosa Tognella – RA 07382187
Vitório Guazelli de Souza – RA 07071988
Orientação: Professora Mara Salvucci
Campinas
2009
DREYER, Ana Paula S.L.L.; ZULIAN, Caio; LAZZARI, Fabio de C.; TOGNELLA, Mateus R.; SOUZA, Vittorio G.. A importância do estágio para os professores em formação
Orientação: Professora Mara Salvucci
A transformação da Educação brasileira só ocorrerá quando o Estado, na posição de provedor de normas educacionais cobrar das instituições de ensino superior responsáveis pela formação dos educadores, a reformulação de suas propostas curriculares quanto ao tempo de aulas práticas e também da conscientização destes, quanto à importância dos estágios na preparação de um bom profissional. Temos que observar também o papel das entidades educacionais, principalmente as públicas, quanto à cooperação nas práticas de estágio. Este artigo tem como proposta ressaltar como as experiências anteriores à atuação docente definitiva, ou seja, antes do término da graduação possibilitam uma possível perspectiva transformadora no desempenho do professor.
A problemática da formação
Sabemos que a formação de professores também constitui uma problemática na
Educação brasileira; processo negligenciado pelas instituições de ensino superior e pelas políticas educacionais. A docência é encarada muitas vezes como uma atividade de "reprodução cultural", (Bourdieu 1986, 1988; Bourdieu e Passeron, 1977), ou seja, a reprodução de todo um processo de não participação, de não questionamento a respeito das condições sociais, políticas e econômicas e marcada pelo desinteresse e vista como "inferior" pelos estudantes (PCN's, 2006, p.99).
Nas instituições de ensino superior a formação para a docência fundamenta-se quase que integralmente em teoria, perpetuando assim à distância da prática. Mas também devemos observar que a relação entre as entidades educacionais (ensino público) e as instituições formadoras não estabelecem um "espaço institucional para os estágios" (PCN's, 2006, p. 99), para que o futuro professor antes de terminar seu processo de formação, já tenha obtido uma experiência relevante de contato com a sala de aula e com os educandos. Por conta disso, as propostas curriculares do ensino superior, para a formação de professores continuam a manter o distanciamento (teoria/prática) e transformando a inabilidade da construção de "didáticas eficazes" (PCN's, 2006, p.100) num aspecto "naturalizador" da Educação brasileira. Portanto, faz-se necessário observar que para a formação do educador – o estágio – ou seja, seu primeiro contato com a prática antes da atuação profissional concreta, tenha um espaço maior nas propostas curriculares do ensino superior.
A deficiência na formação de professores é uma herança histórica e diferentemente das políticas educacionais anteriores constitui-se fato a preocupação com a formação dos educadores, estando incluído nas Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+), que fazem parte da reformulação educacional do Ensino Médio, baseadas nas Leis de Diretrizes e Bases de 1996, capítulo referente a essa problemática. A proposta dos PCN's esta voltada para a orientação de ação de formação profissional em serviço, conduzida na escola.
Dentro desta reflexão sobre a formação do docente, principalmente aquele que atuará no Ensino Médio, e da fragilidade de sua formação relacionada ao pouco tempo destinado aos estágios, importantíssimos para um desempenho posterior, a fim de não "... perpetuar desigualdades econômicas e sociais ao longo de gerações".(Giddens apud Bourdieu, 2008, p. 413), faz necessária a observação sobre o trabalho pedagógico. Para isso recorremos a Miguel G. Arroyo (2000), em "Oficio de Mestre", para discutir o papel do professor hoje, já que a nova LDB (Lei nº 9394/96) propõe que o conceito de educação deve ser ampliado.
"Artigo 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais".
Para Arroyo, professores e professoras encontram dificuldades para incorporar a concepção de uma "visão aberta" (Arroyo, 2000) de educação. Historicamente a educação, o processo de aprendizado, assim, como a atividade de docência sempre estiveram ligados a uma hierarquia e a transmissão de conteúdos, não considerando a realidade e o contexto social do educando; a possibilidade da ampliação dos espaços sociais de aprendizagem torna a questão da especificidade do docente latente.
Segundo Arroyo (2000) o que ocorre é que a "imagem social" do educador é abalada, desenvolvendo-se uma insegurança: qual é o meu papel? E a minha formação disciplinar? Mas esses questionamentos segundo o autor, não poderão ser solucionados somente com o esclarecimento a cerca das inovações educacionais; trata-se da identidade do profissional e isso teve ser feito com cuidado e respeito.
"Não é fácil redefinir valores ou pensamentos, práticas ou condutas socialmente incorporadas a nossa personalidade profissional. É uma violência íntima. Exige muito cuidado e respeito. Não se trata de ser a favor ou contra mais uma moda na roupagem pedagógica, de ter consciência crítica ou alienada. Está em jogo o pensar, sentir e ser da gente".(Arroyo, 2000, p. 70).
A vivência da docência antes da atuação profissional através dos estágios e o papel do educador estão relacionados ao objetivo deste artigo, por se tratarem de aspectos levantados em nosso primeiro contato com os alunos e com o ambiente de sala de aula, em oficina temática sobre o "Trabalho: Divisão Social do Trabalho".Podemos perceber que a contextualização da temática a realidade social dos alunos, propiciou uma maior participação e um maior interesse por parte dos alunos, com isso a proposta dos PCN's para uma formação cidadã se confirma.
"Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente adquirir uma atitude de permanente aprendizado".(PCN's, 2006, p. 9).
A
contextualização temática a realidade social dos educandos, nos remete à Paulo
Freire em seu livro "Pedagogia do Oprimido" que reflete sobre a
importância do processo da educação enquanto um meio capaz de unir os homens em
busca da liberdade, do ato de tentar libertar-se da opressão, das desigualdades
e da exploração, entretanto, os homens devem entender e compreender o seu importante
papel enquanto agentes de transformação da realidade; o método que vislumbra
superar a atual realidade, portanto deve levar em conta o seu potencial
enquanto sujeitos históricos. Não deve o líder se impor sobre as massas, isso é
algo típico da elite opressora, o líder da revolução deve acima de tudo buscar
construir com as massas a libertação, nada deve ser imposto pela força e também
é fundamental acreditar no potencial dos sujeitos que se encontram no lado
menos privilegiado do sistema capitalista, pois bem, trata-se obviamente de uma
mudança de concepção política por parte das lideranças que pretendem ser
revolucionárias, afinal, no sistema capitalista o que mais interessa para o líder
é justamente o contrário, ou seja, ele se utiliza da falta de consciência e de
condições dignas de existência das massas para utilizar-se destas como massa de
manobra, com a revolução que ocorre é justamente o oposto, o líder revolucionário
já deve possuir a consciência de que junto com as massas é que se farão a
revolução e que os homens não se libertam isoladamente, mas constroem uma nova
realidade a partir da crítica e da reflexão em conjunto do modelo atual que
possuímos de sociedade. Desse modo, a necessidade de uma mudança radical no
estilo de liderança é essencialmente uma necessidade política com
intuito de se promover uma sociedade com relações em todos os sentidos mais
horizontais.
Quanto à metodologia, é necessário que o educador tenha compreensão de seu
papel, dominar fatos e fenômenos e como estes se relacionam e como foram
ocasionados (processo histórico) e ter clareza da função da educação, "daquilo
que ela faz: educação para quê, a favor de quem, contra quem, que tipo de homem
e de sociedade formar, etc, (dimensão política, filosófica)".(Vasconcellos,
2006, p. 25).Nossa
experiência se deu com os alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola
pública, localizada na periferia de Campinas. Através da primeira visita
realizada na escola com a duração aproximada de 3 horas e o encontro com os
professores de Sociologia, foram escolhidos os temas considerados relevantes e
que também estão propostos nos PCN's e nas OCN's. O próximo passo foi à atuação
docente que se deu em 2 dias, num total de 90 minutos, ou seja duas aulas por
dia.O tempo destinado à
atuação em nosso processo de formação, mínimo em nossa opinião, nos
proporcionou uma grande satisfação, não que concordemos com sua "quase
ausência" na matriz curricular, mas devido à distância existente entre a teoria
e prática e por se tratar de um curso noturno, ou seja, a dificuldade de alguns
alunos de se comprometerem com um tempo maior de estágio.
O que mais nos impressionou durante o estágio, é que tínhamos em mente em relação ao ambiente escolar, principalmente de uma escola pública, um meio hostil e de agressividade, onde o professor assumiria um papel de submissão e medo em relação ao comportamento dos alunos, no entanto o que observamos foi algo totalmente inesperado, contamos com a participação e a disciplina destes e podemos apresentar nossa proposta com tranqüilidade.
A atuação docente como já foi colocado anteriormente é dificultada devido a pouca experiência prática adquirida durante o curso de formação. Procuramos em nossa primeira experiência, nos orientarmos através das OCN'se e dos PCN's, que propõem a formação do cidadão, desenvolver a capacidade de analisar, compreender e situar o indivíduo como componente das transformações sociais, políticas e econômicas. Utilizando-se de Celso dos S. Vasconcellos (2006) e de seu conceito de "alienação da educação", concluímos:
"O professor não tem compreensão do seu trabalho na complexidade que ele implica; está alienado do seu quefazer pedagógico: foi expropriado do seu saber, situação esta que o desumaniza, deixando-o à mercê de pressões, de ingerências, de modelos que são impostos como 'receitas prontas', impossibilitando um trabalho significativo e transformador...".
(p. 25).
Por fim, devemos mais uma vez ressaltar a importância do estágio na formação do professor. Durante esse pequeno contato com a escola, com professores e com os alunos podemos vivenciar na prática como se dá efetivamente à relação entre os sujeitos, além de observar como o papel do educador ainda é importante para a construção da cidadania, mesmo que a realidade social contribua para o "... sofrimento, ao desgaste, ao desânimo, ao descrédito quanto à educação, à acomodação, à desconfiança, chegando mesmo à falta de companheirismo e de engajamento em lutas políticas..." (Vasconcellos, 2006, p.25).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais - Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2006: 7-40, 87-98.
Orientações Curriculares para o Ensino Médio - Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2006: 101-133.
ARROYO, Miguel G..Ofício de Mestre: Imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2005
GIDDENS, Anthony. "Trabalho e Vida Econômica". In: Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2008, p.305-340
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. São Paulo: Libertad, 2006.