A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER

Por Cleber Moreira de souza | 03/08/2009 | Arte

Desde o início do processo de escolarização e alfabetização, os temas de natureza científica e técnica, por sua presença variada, podem ser de grande ajuda, por permitirem diferentes formas de expressão. Não se trata somente de ensinar a ler e escrever para que os alunos possam aprender Ciências, mas também de fazer usos das Ciências para que os alunos possam aprender a ler e a escrever. (PCNs, 1997, p. 62)

A física pode ter muito mais a contribuir com o ensino em geral do que geralmente se supõe. É comum se pensar, em um primeiro momento, que ensinar física desde os primeiros anos de escola tem grande importância para a construção de conceitos físicos, como os relacionados ao movimento dos corpos ou às leis de conservação, sem que se questione no que mais a física pode contribuir.

Esse ponto de vista, pelo menos aparentemente, ignora aquilo que a física tem de mais fundamental: o fato de ser o mais básico dos ramos da ciência.

Adotando-se uma perspectiva mais ampla a respeito dos propósitos do ensino e da física, pode-se identificar nesta uma oportunidade singular para que os alunos desenvolvam sua auto-estima através da vivência de situações ao mesmo tempo desafiadoras e prazerosas.

Historicamente é reconhecida a importância de Galileu Galilei (1564-1642) como inspirador da atividade que hoje se conhece como Ciência.

Isso se deve não somente aos métodos de trabalho de Galileu, detalhista na descrição de procedimentos, processos de raciocínio, resultados e conclusões, mas também no desejo de tornar seu trabalho acessível ao maior público possível.

Galileu inovou, ao publicar seus livros, não só em latim, mas em italiano e providenciar a tradução a outros idiomas. Além de causas políticas, foi também por essa postura que Galileu chegou a ser duramente criticado por Johannes Kepler e perseguido pela inquisição.

Segundo Paulo Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial.

Primeiro, a "leitura" do mundo, do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da "palavra mundo".

Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua atividade perspectiva, por isso, mesmo como o mundo de suas primeiras leituras.

Os "textos", as "palavras", as "letras" daquele contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais.

A Leitura e a Formação do Leitor

É através da leitura que fazemos a internalização das informações e por meio desta adquirimos a habilidade de ver as coisas com novos significados, novas perspectivas, além do que a leitura é uma forma de nos apropriarmos da realidade na qual estamos condicionados.

Ler dá à pessoa condições de resistir e contestar os instrumentos de manipulação da sociedade.  Ler faz crescer interiormente, enriquecendo a cultura e ampliando o poder de questionar, reivindicar e fazer acontecer.

Leitura é:

Fonte de conhecimento (cultura)

Fonte de prazer

Fonte de liberdade ideológica

Fonte de reflexão, seleção e análise crítica

Fonte de ações transformadoras do mundo

Fonte de iniciação e aprimoramento da arte literária

Fonte de elevação do indivíduo de objeto a sujeito

Fonte de sucesso em concursos públicos, vestibulares, bons empregos etc. - Fonte de ascensão social.

Quem lê sabe mais e melhor. Ler facilita a interpretação crítica da realidade, pois forma ou consolida a consciência crítica.

Importante: a consciência crítica, uma vez adquirida, jamais regride; só se aperfeiçoa, fazendo a pessoa agir sobre o meio, transformando-o. ("A Leitura e a Formação do Leitor", de Eliana Yunes).

O ensino de Física, muito freqüentemente, é caracterizado por resoluções automáticas de equações desprovidas de significado para o estudante, ficando a explicação conceitual relegada a um segundo plano, o que dificulta o entendimento de seus fenômenos e conceitos.

Desse modo, considera-se que a utilização de textos alternativos, em aulas de Física, pode se instituir como uma ferramenta didática capaz de promover a compreensão do aluno acerca dos conceitos apresentados, possibilitando contextos de aprendizagem e mediando a interação entre professor e alunos de modo a viabilizar a produção de múltiplos sentidos e a capacidade de argumentação por parte dos estudantes.

Feynman em uma palestra para autoridades brasileiras disse: "O principal propósito da minha apresentação é provar aos senhores que não se está ensinando ciência alguma no Brasil!"

E para provar sua afirmação fez uma analogia com um erudito grego que ama a língua grega, que sabe que em seu país não há muitas crianças estudando grego. Mas ele vem a outro país, onde fica feliz em ver todo mundo estudando grego – mesmo as menores crianças nas escolas elementares.

Ele vai ao exame de um estudante que está se formando em grego e pergunta a ele: "Quais as idéias de Sócrates sobre a relação entre a Verdade e a Beleza?" – e o estudante não consegue responder. Então ele pergunta ao estudante: "O que Sócrates disse a Platão no Terceiro Simpósio?" O estudante fica feliz e prossegue: "Disse isso, aquilo, aquilo outro" – ele conta tudo o que Sócrates disse, palavra por palavra, em um grego muito bom.

Mas, no Terceiro Simpósio, Sócrates estava falando exatamente sobre a relação entre a Verdade e a Beleza!

O que esse erudito grego descobre é que os estudantes em outro país aprendem grego aprendendo primeiro a pronunciar as letras, depois as palavras e então as sentenças e os parágrafos.

Eles podem recitar, palavra por palavra, o que Sócrates disse, sem perceber que aquelas palavras gregas realmente significam algo. Para o estudante, elas não passam de sons artificiais. Ninguém jamais as traduziu em palavras que os estudantes possam entender. Feynman conclui: "É assim que me parece quando vejo os senhores ensinarem 'ciência' para as crianças aqui no Brasil"

Ao folhear o livro aleatoriamente e ler uma sentença de uma página, posso mostrar qual é o problema – como não há ciência, mas memorização, em todos os casos.

coloquei meu dedo e comecei a ler: "Triboluminescência. Triboluminescência é a luz emitida quando os cristais são friccionados…" disse: "E aí, você teve alguma ciência?

Não! Apenas disseram o que uma palavra significa em termos de outras palavras. Não foi dito nada sobre a natureza – quais cristais produzem luz quando você os fricciona, por que eles produzem luz? Alguém viu algum estudante ir para casa e experimentar isso? Ele não pode".

se em vez disso, estivesse escrito:

'Quando você pega um torrão de açúcar e o fricciona com um par de alicates no escuro, pode-se ver um clarão azulado. Alguns outros cristais também fazem isso. Ninguém sabe o motivo. O fenômeno é chamado triboluminescência'.

Aí alguém vai para casa e tenta. Nesse caso, há uma experiência da natureza." Usei aquele exemplo para mostrar a eles, mas não faria qualquer diferença onde eu pusesse meu dedo no livro; era assim em quase toda parte

Por fim, eu disse que não conseguia entender como alguém podia ser educado neste sistema de autopropagação, no qual as pessoas passam nas provas e ensinam os outros a passar nas provas, mas ninguém sabe nada. Feynman conclui dizendo: depois de eu dar minha palestra, o chefe do departamento de educação em ciências levantou e disse:

"O Sr. Feynman nos falou algumas coisas que são difíceis de se ouvir, mas parece que ele realmente ama a ciência e foi sincero em suas críticas. Assim sendo, acho que devemos prestar atenção a ele. Eu vim aqui sabendo que temos algumas fraquezas em nosso sistema de educação; o que aprendi é que temos um câncer!" – e sentou-se.

Freire (1999) enfatiza que a leitura não deve ser apenas um processo mecânico de repetição das palavras, mas da compreensão destas e do contexto que as envolve.

Para ele, o aprendizado da leitura está presente em todas as fases da vida, iniciando-se na infância, quando se tem a primeira percepção de mundo segue através da leitura da palavra propriamente dita.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alice Assis; Odete Pacubi Baierl Teixeira. DINÂMICA DISCURSIVA E O ENSINO DE FÍSICA: ANÁLISE DE UM EPISÓDIO DE ENSINO ENVOLVENDO O USO DE UM TEXTO ALTERNATIVO. Disponível em: http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v9_n2/03-dinamica-discursiva-e-o-ensino-de-fisica-revisado.pdf acesso: 02/agosto/09

BRASIL; Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1997. Livro 1 disponível em: http://www.conteudoescola.com.br/pcn-esp.pdf acesso: 03/agosto/09

FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1999. (coleção leitura).

http://simplesmente.com/2007/09/15/deve-ser-brincadeira-sr-feynman/ acesso: 29/julho/09