A IMPORTÂNCIA DE UM CURRÍCULO MULTICULTURAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Por BIANCA ANTONIA DA SILVA | 07/12/2016 | Educação
RESUMO
O presente trabalho aborda a importância de um currículo multicultural nas aulas de educação física escolar para crianças e adolescentes, onde há um processo de formação e aquisição de conhecimentos das diversas culturas dentro de um contexto escolar e sociocultural. Este estudo pretende trazer algumas reflexões sobre o papel dos jogos e das brincadeiras populares na cultura brasileira, com ênfase no ensino escolar. Atualmente os currículos abordados nas escolas seguem apenas um padrão específico, o qual foram impostos pelos europeus. Os jogos, lutas, danças, ginásticas e brincadeiras são importantes ferramentas de ensino e sua utilização durante o processo de aprendizagem é de fundamental relevância, não apenas para facilitar a aprendizagem, mas, também para ajudar na assimilação de valores convencionados e legitimados pela sociedade. A metodologia utilizada neste trabalho foi de revisão de literatura, onde foram utilizadas as seguintes bases de dados Scielo, EF Artigos e Portal de Periódicos da CAPES. A educação física escolar pode contribuir com o desenvolvimento das crianças, contribuir com uma sociedade menos desigual, na medida em que ela tematiza práticas corporais de diferentes grupos sociais. Para alcançar este objetivo: os professores poderão produzir aulas com conhecimentos culturais de uma forma onde haja colaboração e a partir de um diagnóstico feito pelo professor e irão discutir sobre informações disponíveis em diversos conteúdos.
INTRODUÇÃO
Através do ensino das práticas corporais na escola entende-se que o currículo cultural é uma grande ferramenta de inclusão e socialização entre os alunos e as diversidades presentes na sociedade.
A maioria das crianças tende a brincar dentro de casa e essas práticas caracterizam os vínculos familiares, pois elas são as brincadeiras que brincaram, as danças que dançaram, e os esportes que praticaram. Não dá para desconsiderar a importância desse patrimônio. Se existir uma escola que valoriza as experiências esportivas, as lutas, as danças e as ginásticas, a tendência das crianças é conhecer pelo menos o significado dessas práticas. São experiências que os professores e a escolas devem proporcionar aos alunos onde eles possam ter uma visão mais ampla da sociedade. Não se pode mais continuar com uma sociedade em que só certo tipo de corpo é importante, em que só certo tipo de práticas corporal é importante.
O que as escolas precisam ter em mente é que ao partilharem experiências corporais estarão colocando em circulação os modos de ver o mundo e estarão ajudando na constituição de cidadãos mais sensíveis as questões do mundo. Por exemplo, como não julgar certos tipos de músicas que são tocadas na sociedade.
A sociedade está diante de uma mudança muito grande de significados. Por isso a importância de partilhar o currículo cultural na escola pensando em garantir experiências para as crianças no qual serão fundamentais na constituição das pessoas que essas crianças estão se tornando.
O objetivo deste trabalho é tratar sobre o contexto do surgimento do currículo multicultural, sua proposta pedagógica, ele em ação, o por quê ele vai além de outras propostas curriculares e por que defender este novo currículo cultural visando uma descolonização do currículo imposto atualmente nas escolas.
A metodologia utilizada neste trabalho será a revisão de literatura, através de revisões de artigos, livros e entrevistas. Os referenciais utilizados foram baseados nos estudos de Marcos Neira, Mario Nunes entre outros autores. E a periodicidade da pesquisa se deu com as obras dos últimos 15 anos.
MULTICULTURALISMO
O movimento multiculturalista se inicia no final do século XIX nos Estados Unidos com a ação principal do movimento negro para combater a discriminação racial no país e lutar pelos seus direitos civis Gonçalves e Silva (1998).
Os precursores do multiculturalismo foram professores, doutores afro-americanos, docentes universitários na área dos estudos sociais que trouxeram por meio de suas obras, questões sociais, políticas e culturais de interesse para os afrodescendentes”. Esses precursores foram essenciais para que no século XX por meio de novos intelectuais o tema se voltasse também à educação. (SILVA, BRANDIM, 2008, p. 56)
Segundo Gonçalves e Silva (1998) na década de 90 algumas universidades dos Estados Unidos da América aderiram ao movimento juntamente com as pressões populares e ganharam força e espaço com a criação de políticas públicas em todas os campos do poder público no que diz respeito a oportunidades educacionais iguais aos grupos sociais favorecidos daquele país.
O Multiculturalismo se refere a diferentes culturas do mundo, na aprendizagem o objetivo é visar a importância de cada cultura evitando conflitos sociais, como também referente a política, onde grandes grupos de pessoas reivindicam seus direitos e deveres como cidadãos (SILVA, BRADIN, 2008, p. 63)
O pós-modernismo que defende a valorização da diversidade cultural em sua linguagem curricular ajuda o fortalecimento dos estudos multiculturais nos anos 80 e 90. Nos tempos atuais o assunto é influenciado pela globalização, com a influência da mídia e de outras culturas. Fala-se de um privilégio cultural, no quem vem causando problemas sociais graves (FLEURI, 2003).
A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O MULTICULTURALISMO
A educação física escolar é um espaço onde existe variadas culturas, e nele se propõe desenvolver um novo olhar onde sejamos capazes de enxergar essas diferentes culturas, ou seja, a o invés de trabalhar apenas o que é imposto, a educação física tem que lidar com variadas culturas para a valorização das diferenças.
A realidade da educação física escolar é diversa e multicultural. A diversidade de conceitos, valores e práticas é um elemento comum em relação a cultura. Na educação física, o multiculturalismo na prática cultural é vivido e envolve algum tipo de movimento (CANEN; OLIVEIRA, 2002).
O multicultural consiste nas diferentes expressões de culturas, onde acontece o respeito e acolhimento das mesmas. E é esse respeito comum que se deve ter em questões dos negros, dos homossexuais e demais grupos. E na educação física escolar, nessa mesma forma os alunos com tais características exigem os mesmos respeitos. A formação de um currículo escolar que aborde essa questão ensinando os alunos a “não” ter preconceitos e discriminações, já que a escola é um espaço de socialização.
O multiculturalismo ganhou força quando as pessoas se uniram com os tais “excluídos”, no movimento negro (consciência negra), feministas, homossexuais (parada do orgulho LGBT), e a luta dos deficientes (inclusão escolar, no esporte e adaptação social). O não reconhecimento faz com que atritos aconteçam em determinados grupos sociais e certos grupos acabam tendo mais direitos que os outros. Em questão econômica, precisamos de oportunidades para aprender e desenvolver como ser social e profissional (LOPES, 1999).
Freire (1977) defende que o fim maior da educação deve ser desenvolvido a partir de diálogo e da consciência, onde as pessoas podem lutar por sua liberdade, contra a máquina opressora do capitalismo contudo somos a favor do multiculturalismo crítico, entendendo que o respeito à vida humana, diversidade cultural é essencial para a construção de um mundo de paz, como futuro educador vemos na instituição escolar uma força maior que nos conduzirá a esse processo de justiça social e democracia. Nessa vertente é necessário o avanço de pesquisas teóricas e práticas envolvidas na formação de identidades e pluralidades culturais.
A instituição escolar, a educação física e o professor tem uma força de oportunizar os alunos com aulas coletivas sem exclusões fazendo com que os alunos entendam que o respeito a vida humana, a diversidade cultural é essencial para a construção de um mundo de paz sem conflitos e desigualdade.
Santin (1987) apresenta uma maneira de conceber o movimento humano. Para ele, o homem, ao se movimentar, expressar uma intencionalidade. Isso quer dizer que o movimento humano é repleto de significados. Aqui, o autor concebe o movimento humano como meio para expressar sentimentos, emoções e toda produção cultural de determinado grupo social.
O movimento humano é uma forma de linguagem. Essas ideias podem ser sintetizadas no conceito de “motricidade humana”, divulgado pelo filósofo português Manuel Sergio (1989 apud NEIRA, 2007 p. 4/5). Em suas definições , a motricidade humana é inseparável do conceito que se tem do homem e da sociedade. A motricidade, aqui, é passível de expressão pelo movimento. Para o autor, a motricidade expressa a unidade das funções sensoriais e motoras, que é constituída a partir da convivência do sentimento que o homem tem da sua corporeidade com a percepção do meio físico e social, ou seja, a cultura na qual o sujeito está inserido.
Atento à heterogeneidade da sociedade contemporânea, seus novos arranjos e às respectivas funções sociais da escola, o currículo cultural da Educação Física busca contribuir para valorizar a diversidade das formas como as manifestações culturais se expressam, bem como, as diferentes representações envolvidas, com intuito de refletir, aprofundar e ampliar os conhecimentos sobre cultura corporal socialmente disponíveis aos estudantes. Assim, quando entra em ação, o currículo cultural afasta-se do modus operandi tecnicista para abarcar outros princípios e procedimentos didáticos, desestabilizando qualquer lógica totalizante e dominante de currículo (NEIRA, 2011a; 2011b).
A escola não deve privilegiar certas práticas corporais em detrimento de outras. Não há cultura superior a nenhuma, toda cultura corporal tem sua importância na sociedade e em seu devido grupo social, e a escola de hoje em dia deve tematizar diversas práticas corporais para que os alunos possam entender o quanto a sociedade é diversificada.
Um currículo cultural da Educação Física aprecia, desde se planejamento, comportamentos igualitários para a decisão de diversos conteúdos e atividades no ensino. Considera uma reflexão crítica sobre tais práticas sociais da cultura corporal no mundo, fazendo com que os alunos possam praticar e em seguida se aprofundar mediante a uma conversa com outras manifestações corporais. No currículo cultural, a experiência escolar é um campo aberto a debates, encontros culturais e a diversidade de grupos sociais. A escola torna-se um campo de transmissão de sentidos, produção de identidades voltadas para a análise, compreensão e diálogo entre diversas culturas.
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