A Importância Da Organização Da Informação No Século XXI: Reflexões
Por Noeli Viapiana | 30/07/2008 | Arte
A atividade produtiva passa a depender de conhecimentos e das
habilidades, e o trabalhador deverá ser criativo, crítico e pensante,
organizado e preparado para agir e se adaptar rapidamente às mudanças
dessa nova sociedade. O exercício de uma profissão está relacionado
diretamente à qualificação pessoal; as competências técnicas deverão estar
associadas à capacidade de decisão, de adaptação às novas situações, de
comunicação oral e escrita, de trabalho em equipe.
Estas mudanças ocorridas na sociedade nos últimos anos,
ocasionadas pela globalização, pela velocidade das informações
compartilhadas, pela redefinição de tempo e espaço, pela descoberta do
virtual e do digital, alterou completamente o cotidiano das pessoas e
consequentemente do ambiente em que vivemos.
Os reflexos dessa revolução ainda estão sendo assimilados por todos:
as pessoas adaptam-se às novas tecnologias, organizações buscam soluções
para os seus problemas e estratégias para diferenciá-las das demais. É
exatamente no campo organizacional que se pode identificar as maiores
mudanças nas suas abordagens, empresas redirecionando seus objetivos,
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ampliando seus produtos e serviços e redefinindo a sua estrutura política e
administrativa.
É neste ambiente de transição que nos encontramos, nós usuários e
profissionais da informação, capazes de gerenciar recursos disponíveis em
sistemas de informação, que mais se adapta as nossas necessidades, que
funcione como apêndice às tomadas de decisão. Estes sistemas de
informação auxiliarão no processo de organização da informação, seja em
qualquer tipo de suporte.
2 INSTRUMENTOS E FERRAMENTAS AUXILIARES
Neste processo, verifica-se a importância crescente da informação
nas organizações, a velocidade com que são disseminadas, é natural que as
instituições tradicionais, entre elas a biblioteca, que utilizam procedimentos
manuais e materiais em formato impresso se tornem obsoletos.
A construção de um centro de informação que utilize os meios
tecnológicos existentes para atender ao cliente/usuário com eficiência,
disponibilizando a informação em diversos formatos (impressos e digitais)
é um processo que envolve algumas etapas, entre elas a escolha de
equipamentos, como hardwares e softwares a serem utilizados. É de
suma importância para o bom funcionamento da instituição, o
conhecimento dos tipos de equipamentos disponíveis no mercado, as
especificações técnicas e marcas existentes são essenciais aos profissionais
da informação.
O centro de informação para atender as necessidades do
usuário/cliente deverá disponibilizar além dos materiais tradicionais
existentes (livros, CD, fita de vídeo, revista), documentos eletrônicos para
acesso remoto (via internet) ou local.
Esses documentos podem estar disponíveis na íntegra ou em partes,
além de informações referenciais. A consulta e/ou empréstimo de materiais
é feita utilizando mecanismos automatizados, gerenciados por um software
de automação hospedado no servidor.
O profissional da área de informação que quer implementar um
sistema informatizados no centro de informação onde atua, deverá estar
atento às novas tecnologias disponíveis no mercado. Não perdendo de vista
o objetivo final do processo de informatização que é atender a necessidade
informacional do cliente/usuário.
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3 AS MUDANÇAS OCORRIDADAS NAS UNIDADES DE INFORMAÇÃO (UI)
Vivemos no século XXI, era da informação, das buscas do ser
humano pelo conhecimento infinito; era das avalanches de novas
tecnologias, da informática (redes de computadores) e principalmente da
Internet que, estão explodindo e adentrando em todos os campos de atuação
do homem, facilitando as suas atividades em todas as suas áreas de ação
e/ou atuação, principalmente, no ambiente educativo, ao qual, a Internet e
as redes de computadores estão contribuindo qualitativamente no
desenvolvimento do educando.
Da mesma forma que são maravilhosos esses "novos"
acontecimentos, tornam-se preocupantes na medida em que não se pode
apreender tudo o que se passa à nossa volta, no mundo em que se vive e o
que está ocorrendo e surgindo em nossas áreas profissionais. Com isso a
Internet e as redes de computadores são consideradas a maiores evidências
da revolução dos conceitos comunicativos, disseminadores de informação e
principal realidade desta era.
Não é somente a prova de que a evolução tecnológica não tem
limites, mas também a quebra de idéias e valores que até então mantiveram
o mundo preso ao entendimento e ao conhecimento.
No princípio a Internet era vista como mero lazer, depois passou a
ser um
outdoor de divulgação, como uma ferramenta que estava
revolucionando o comércio, a educação, entre outros setores. Já as redes de
computadores eram vistas como um "emaranhado" de computadores que
mandavam dados entre si, após este conceito veio o de que esta grande rede
é o meio mais rápido e eficaz de comunicação entre os seres humanos em
qualquer ponto do mundo.
Hoje ambos já se impõem como as melhores opções para se reduzir
custos e ganhar competitividade no relacionamento de negócios e/ou
divulgação entre pessoas, empresas , instituições e outros órgãos.
Para muitas Unidades de Informação, tanto a Internet como as redes
de computadores tornaram-se uma ferramenta indispensável, utilizada para
várias atividades das mesmas: contato com um cliente/usuário, organização
de tarefas administrativas, uma comunicação interna na própria instituição;
dando maior agilidade aos processos desempenhados pela mesma, e
também, com um custo muito baixo, tempo reduzido de implementação e à
dispensa de treinamentos caros e prolongados, o relacionamento via rede e
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Internet, são hoje imprescindível para qualquer Unidade de Informação
que queira manter-se competitiva na nova economia.
À velocidade que a tecnologia avança, as barreiras que ainda existem
podem ser consideradas mais de cunho cultural. Uma delas, que já começa
a ser derrubada, é a preocupação com a segurança na rede. É provável que
nenhuma área hoje esteja sendo tratada com tanto cuidado, como a
segurança na Internet.
Se a informação é um bem de valor hoje, o tempo é outra moeda que
não pode ser menosprezada. A rapidez na cotação e na concretização de
negócios, aliada à facilidade de se trabalhar com dados em formatos
padronizados, está facilitando muito o trabalho dos profissionais de todas
as áreas. Estes já podem tomar decisões em tempo real e enxergar os
resultados imediatamente.
O resultado acaba refletindo nos custos dos "produtos" e/ou
"serviços" que, por sua vez, irão influenciar o grau de competitividade da
UI no mercado.
Em uma época em que as Unidades de Informação procuram reduzir
custos e aumentar seus "lucros" e proporcionando serviços de qualidade,
somente os que insistirem em permanecer apegados a processos obsoletos
de comunicação de dados, disseminação da informação, organização da
informação, que geram um grande fluxo de papel e exigem um volume
considerável de recursos e mão-de-obra, arriscam perder terreno em um
mercado cada vez mais exigente.
Com a entrada das novas tecnologias, especialmente pela
implementação da rede de computadores, o que temos hoje de opção de
acesso à rede mundial de computadores no cenário nacional, se resume a
opções tecnológicas que oferecem conexão dedicada, o que já difere
significativamente dos idos de meados dos anos 90.
As possibilidades de acesso aumentaram e os custos baixaram, mas
fundamentalmente, e o que interessa discutir nesse momento, o processo de
enculturação da comunicação mediada por redes de computadores (CMC)
que está sendo consistentemente deflagrado.
Giordan (2003, p. 2), explica que:
Por enculturação, entenda-se a aproximação entre
culturas diferentes, aquela com origem nos processos
de organização, processamento e comunicação da
informação próprios dos ambientes informatizados, e
aquelas de origem diversificada, reunidas no ambiente
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das unidades de informação.
Para ter uma medida desse processo basta notar a presença de
endereços eletrônicos e URLs de páginas pessoais ou institucionais nos
cartões de visita, faixas, anúncios de rádio e TV, o que às vezes é motivo de
confusão, como por exemplo, a presença de acentos e cedilha nesses
endereços. Essa incapacidade de dominar as regras da sintaxe básica dos
serviços da rede flagra o processo de enculturação num estágio ainda
francamente alfabetizador.
As redes eletrônicas de computadores proporcionam a seus usuários
comunicação a baixo custo e acesso a fontes inesgotáveis de informação.
Elas interconectam pessoas para os mais variados fins e têm contribuído
para ampliar e democratizar o acesso à informação, eliminando barreiras
como distância, fronteiras, fuso horário, etc.
Com isso, o que se percebe, é que a informação passou a exercer
novos valores, decorrente do uso e principalmente pelo fluxo intenso na
transmissão, alterando o seu significado nas organizações. A informação
que permeia seja na utilização de redes de computadores, na gestão dos
recursos (os indivíduos ou os grupos na organização, ou de bens - produtos
e serviços - ou financeiros), na gestão da inovação, no "aprender a
aprender" alicerçam novos valores na cultura organizacional. Surge a
preocupação dos gestores em converter a informação em produtividade
com qualidade inserida no ambiente com características da diversidade e
regado pela alta competitividade.
4 O BIBLIOTECÁRIO E OS NOVOS SUPORTES DE INFORMAÇÃO
A definição da função do bibliotecário sempre esteve atrelada a
biblioteca em sua forma "física". Assim, os bibliotecários tinham sua
imagem associada aos edifícios de bibliotecas, servindo a sociedade apenas
para adquirir, organizar, e preservar coleções. Com a explosão
documentária na década de 80, juntamente com o advento da Internet, na
década de 1990, o profissional bibliotecário começou a se preocupar com o
futuro de sua profissão.
A tecnologia da informática surge como grande auxílio ao
bibliotecário em suas atividades, mas exige mudanças na função e no perfil
do profissional da informação. Santos (2000), publicou um artigo que
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descreve um pouco dessa preocupação, e cita Robredo (1989), que assim se
manisfestam em relação ao papel do bibliotecário no contexto das TIC's:
Na realidade, essa visão alucinada não parece diferir muito da que se
observa em alguns setores bibliotecários que pretendem ser os únicos
profissionais com direito a lidar com todo o tipo de informação, essa forma
de pensar parece que teria surgido nos Estados Unidos, coincidentemente
com o aparecimento da novas profissões da informação. O resultado foi
que, ao se gastar as energias de uma profissão, numa luta por manter um
status, equivalente ao que iam ganhando pouco a pouco as novas
profissões, sem cuidar de adaptar os conteúdos das carreiras de
biblioteconomia, quando ainda era tempo, a uma realidade imposta pelo
mercado e pela sociedade como um todo, as escolas de biblioteconomia
mudaram – ou perderam – seu nome, para se converter em escolas de
tecnologia da informação, de gerência de sistemas de informação, etc.
A primeira reação do profissional bibliotecário, foi se amparar no
status do nome de sua profissão, achando-se o único, no direito de trabalhar
a informação documental. O caminho aberto pelo avanço tecnológico, não
tem volta. Para Robredo (1989),
apud Santos (2000), "abriu uma nova
dimensão espacial, onde todas as profissões encontram sua razão de ser e
onde permanecerão ativas e produtivas enquanto o justifiquem a
necessidade e a qualidade de suas contribuições, em função das exigências
da sociedade".
Ainda em Robredo (1989),
apud Santos (2000),
Não se conhece transformação sem conflito. [...] e a
luta de uns por preservar seu espaço, como a dos
outros por abrir espaços novos, são normais. O que
parece importante é tratar de evitar que o conflito se
converta em confronto, e isso pode-se conseguir
mediante a compreensão lúcida da mudança que as
tecnologias avançadas estão introduzindo na sociedade
como um todo. O que importa, também, é saber
canalizar o potencial que nos oferecem as novas
tecnologias, no sentido de acelerar o desenvolvimento
econômico e cultural de todos os segmentos da
sociedade.
É natural que com o advento da era virtual, digital e a automação de
acervos impressos, houvesse certa insegurança quanto ao futuro do
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profissional bibliotecário, pois faltava uma certa visão futura das aplicações
de nossa profissão nesse novo momento que se enunciava. De acordo com
Vergueiro (1997),
apud Santos (2000), com a "realidade de uma
informação eletrônica onipresente, imagina-se que cada cidadão será seu
próprio profissional de informação", o que dispensaria o auxílio de um
bibliotecário.
O que ocorreu foi justamente o contrário. O profissional da
informação tem cada vez mais oportunidade de ser um multiplicador de
suas funções, tendo em vista as várias direções que podem ser seguidas,
quando nos referimos à tratamento e disseminação de informação.
O simples controlador da aquisição, da preservação e
armazenamento de informações passa a exercer a função de colaborador
com o computador e cientistas de informação, auxiliando a manutenção de
sistemas automatizados de acesso a informação, destacando suas
habilidades de ensinar, consultar e pesquisar.
Viana (1996), apud Santos (2002), afirma que o "bibliotecário será
um dos responsáveis por unir as pessoas e colocar à disposição delas
recursos de comunicação, informação e produção de conhecimento". Será o
gerenciador do mundo virtual e digital, reunindo todas as suas habilidades
do moderno profissional da informação.
Na mesma linha de raciocínio, Santos e Passos (2000), entendem
que, independente de todas as inovações tecnológicas, o espaço virtual
entre o usuário e a informação será complementado pelo bibliotecário e
assim se posicionam frente a questão:
Podemos perfeitamente vislumbrar um futuro para bibliotecas
tradicionais, virtuais e digitais. Porém, com certeza o papel desempenhado
pelos bibliotecários em qualquer um desses ambientes será um só, o de
facilitador do acesso à informação.[...] Resta ao bibliotecário estar
continuamente se aperfeiçoando, tornando-se um profissional
multidisciplinar, em condições cada vez maiores de estar a frente desse
mercado tão promissor que é o mercado da informação. (SANTOS e
PASSOS, 2000, p. 16)
O bibliotecário deverá caminhar continuamente, a fim de conseguir
um nível de aperfeiçoamento que lhe conceda um novo perfil [que] deve
ser adotado com rapidez pelo bibliotecário. Ele precisa: ter visão
estratégica; ter visão econômica; adotar técnicas de qualidade e marketing;
saber trabalhar em equipes multidisciplinares; ser gestor e não guardião da
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informação; saber manipular e disseminar as novas tecnologias da
informação; utilizar as novas tecnologias para redefinir tarefas antigas
(VICENTINI
apud SANTOS, 2000, p. 9).
Constata-se a partir da literatura, que o avanço tecnológico tem
exigido do bibliotecário, competências e habilidades específicas para
trabalhar em contextos onde as tecnologias de informação e comunicação
são utilizadas como recurso na produção, tratamento e disseminação da
informação.
5 COMPETÊNCIAS DOS PROFISSIONAIS BIBLIOTECÁRIOS
No sentido de conhecer/identificar as competências dos profissionais
bibliotecários nos seus papéis, funções e tarefas diante do contexto virtual e
digital, buscou-se na literatura identificar estas questões.
Inicia-se a reflexão a partir do conceito de competência profissional,
apresentado por Ohira e Prado (2004, p. 8), "competências profissionais
compreende os conhecimentos e habilidades que o profissional da
informação deve ter para desempenhar as funções e atribuições específicas
da profissão". Este estudo foi realizado com o objetivo de conhecer a
produção científica sobre o profissional da informação publicado no Brasil
entre os anos de 1995 a 2002, e segundo os autores,
Percebe-se a responsabilidade dos cursos de Biblioteconomia, na
capacitação formal dos profissionais da informação, que devem estar
constantemente atentos às mudanças que ocorrem no mercado de trabalho e
nas áreas de atuação desses profissionais, no sentido de adequar o currículo
para atender essas necessidades, como também, no sentido de diagnosticar
e levantar novas áreas de atuação. (OHIRA e PRADO, 2004, p. 18)
No relatório anual de 1996 enviado ao Comitê Especial de
Competências da SLA - Special Libraries Association, Marshall et
al.(1996),
apud Santos, (2000), relata as principais competências
profissionais e pessoais dos bibliotecários especializados nos seus papéis e
tarefas que lhe caberão executar no futuro,
do bibliotecário especializado nas áreas de recursos de informação, acesso
de informação, tecnologia, administração e pesquisa, e a habilidade para o
uso destas áreas de conhecimento como base provedora da biblioteca e dos
serviços de informação.
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Já as competências pessoais segundo Marshall et al. (1996),
apud
Santos (2000),
Englobam um jogo de habilidades, atitudes e valores que permitem
aos bibliotecários realizar um trabalho eficaz. Essas competências exigem
dos bibliotecários algumas atitudes, como boa comunicação, interesse
"especial [na] educação continuada ao longo de suas carreiras; etc. Esses
valores - somados a natureza das suas contribuições, são na garantia de
sobrevivência dos profissionais da informação no mundo novo de trabalho.
Entre as competências profissionais citadas pela SLA – Special
Libraries Association, e que serão necessárias ao bibliotecário
especializado, estão:
•
ter conhecimento especializado do conteúdo de
recursos de informação, inclusive na habilidade de
avaliar criticamente e os filtrar;