A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM LÍNGUA ORAL E USOS E FORMAS A LÍNGUA ESCRITA

Por Maria Leonor Pereira de Carvalho | 26/01/2017 | Educação

A linguagem está onde o homem está, pela necessidade de interagir, de trocar, de comunicar. Somos seres linguageiros. As narrativas, principalmente, marcam a história da humanidade, possibilitando que cada nova geração conheça a história e as histórias das outras gerações que a antecedem. Orais e escritas, as narrativas compõem um acervo de conhecimento rico e culturalmente diverso. O desenvolvimento do ser humano vai-se marcando através dos tempos pelas suas descobertas, invenções, criações de vários tipos, e também por necessidades que vão definindo em funções das mudanças de vida, geradas por aquelas descobertas, invenções e outras ações humanas. O fato é que a inventividade humana construiu o mundo que temos hoje com todos os acertos e erros, vantagens e desvantagens, certezas e incertezas. Todos têm direito de conhecer esses conhecimentos acumulados historicamente e de conhecer os contextos em que foram produzidos. O conhecimento da linguagem escrita, nesse sentido, é fundamental. Um grande marco na história da humanidade foi, sem dúvida, a invenção da escrita. Ao longo dos séculos foi sendo aperfeiçoada, recriada. Usos e funções para a escrita foram variando, acompanhando as necessidades do homem de registrar suas memórias, de alcançar mundos não alcançados anteriormente pela palavra oral, de veicular ideia, de criar novas realidades. Ao longo do tempo, do mesmo modo, os conhecimentos foram se especificando, definindo- se por áreas, e em consequência determinando novos modos de escrever, de registrar esses diferentes domínios do saber. Os suportes em que a escrita é realizada foram sendo ampliados e transformados, e hoje temos a escrita em papéis, livros, em faixas de tecidos, madeira, na televisão, nas legendas de filmes, em embalagens, etiquetas, composições artísticas, e, mais recentemente, nas telas dos computadores. A escrita, então, nos marca de várias maneiras e com várias finalidades. Ganhou um peso tão grande, principalmente jurídico, nas sociedades que a utilizam que, em grande parte das situações sociais em que vivemos, a nossa palavra, a nossa voz, não é suficiente, é necessário escrever e assinar. Tornou-se um marcador e separador social forte também: os analfabetos e os alfabetizados, gerando preconceitos e afastando milhões de pessoas de uma participaçãocidadã no espaço social. Uma questão importante, principalmente se considerarmos que somos professores, e a grande maioria atua em escolas públicas, é o preconceito linguístico. Como afirma marcos Bagno (2002, p 16), Ora, a verdade é que o Brasil, embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade não só por causa da grande extensão territorial do país – que gera diferenças regionais, bastante conhecidas e também vitimas algumas delas, de muito preconceito-, mas principalmente por causa da trágica injustiça social que faz o brasil o segundo pais com a pior distribuição social de todo o mundo. A má distribuição de bens econômicos está vinculada estreitamente á, á distribuição de bens culturais. Do mesmo modo como os bens econômicos estão mal distribuídos, os bens culturais, com a escrita, também estão. O fato é que ainda temos hoje milhões de pessoas que, mesmo tendo passado pela escola, não dão conta de participar de modo integral da sociedade letrada, porque o domínio que possuem da escrita é tão pouco significativo que não lhes permite ler e escrever textos mais complexos. O Ensino brasileiro atravessa graves problemas de ensino aprendizagem, gerando deficiências na formação dos alunos, mas, muitas são as tentativas e propostas para melhorar este quadro. A escola vive historicamente as contradições da sociedade capitalista, representando, não só os padrões culturais, sociais, políticos e econômicos como também vem a ser um mecanismo de luta contra as inculcações ideológicas na busca de instrumentalização para uma compreensão mais ampla das relações que se dão na sociedade, ampliando a própria capacidade de transformar esta sociedade. Nesta perspectiva é fundamental desenvolver um trabalho onde o aluno aprenda a ler, captando o significado, ao invés de decifrar; a escrever, ao invés de copiar, apropriando- se d a língua enquanto instrumento de compreensão e explicitação da realidade, e principalmente a conhecer os fatos históricos ocorridos em movimentos coletivos na construção e transformação da sociedade, ao invés da concepção factual cronológica e individualista da historia, vista erroneamente como acontecida por heróis individuais e por fatos ocasionais, desconhecendo a ação coletiva. Aprender a ler e escrever demanda conhecer não só vários assuntos, mas saber registrá-los de formas socialmente legitima e valorizadas. A nossa tradição tem sido uma preocupação intensa com a mecânica da escrita, isto é, com a análise da língua e com o desenho e soletração das palavras, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. Hoje sabemos a importância, para saber escrever bem, de conhecer os discursos das várias áreas de conhecimento, ou melhor, como cada área de conhecimento apresenta os saberes ali construídos. O letramento está associado aos muitos conhecimentos que se desenvolveram como já foi expresso anteriormente, a partir da escrita, como grandes campos de saber: ciência, arte, filosofia, religião. Estes conhecimentos se organizam de modos diferentes, com textualidades diferentes e estão associados a conteúdos diferentes. Sabemos que não é papel da escola ensinar o aluno a falar, pois isso é algo que a criança aprende muito antes da idade escolar, no contexto familiar. A capacidade de uso da língua oral que as crianças possuem ao ingressar na escola foi adquirida no espaço privado: contextos comunicativos informais, coloquiais, familiares. Ainda que, de certa forma, boa parte dessas situações também tenha lugar no espaço escolar, não se trata de reproduzi-las para ensinar aos alunos o que já sabem. Assim, a escola assume a língua oram enquanto conteúdo, para moldá-la de acordo com as necessidades estabelecidas pela sociedade. Porem, para esse ensinamento, exige-se planejamento da ação pedagógica, de forma a garantir, na sala de aula, atividades sistemáticas da fala, escuta e reflexão sobre a língua. São essas situações que podem se converter em boas situações de aprendizagem sobre os usos e as formas da língua oral: atividades de produção e interpretação de uma ampla variedade de textos orais, de observação de diferentes usos, de reflexão sobre os recursos que a língua oferece para alcançar diferentes finalidades comunicativas. Para isso, é necessários diversificar as situações propostas, tanto em relação ao tipo de assunto, com a relação aos aspectos formais e ao tipo de atividade que demandam – fala – escuta – reflexão – sobre a língua. É importante salientarmos que a tarefa didática deve se organizar de tal maneira que os alunos transitem, das situações mais informais e coloquiais, que já dominam ao entrar na escola e outras mais estruturadas e formais, para que possam conhecer seus modos de funcionamento e aprender a utilizá-las. Não basta deixar que as crianças falem; apenas o falar cotidiano e a exposição ao falar alheio não garantem a aprendizagem necessária. É preciso que as atividades de uso e a reflexão sobre a língua oral estejam contextualizadas em projetos de estudo, quer sejam da área de língua portuguesa, quer sejam das demais áreas do conhecimento. A linguagem tem um importante papel no processo de ensino, pois atravessa todas as áreas do conhecimento, mas o contrario também vale: as atividades relacionadas ás diferentes áreas, por sua vez, fundamentais para a realização de aprendizagem de natureza linguística... (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1977, p.50). Seguindo ainda, a proposta dos parâmetros Curriculares, o trabalho com linguagem oral deve acontecer no interior das atividades significativas: seminários, dramatização de textos teatrais, simulação de programas de radio e televisão, de discursos políticos e de outros usos públicos da língua oral. Só em atividades desses tipos é possível dar sentido e função ao trabalho com aspectos como entonação, dicção, gestos e postura que, no caso da linguagem oral, têm papel complementar para conferir sentido aos textos. A leitura e a escrita são práticas complementares, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo de letramento – a escrita transforma a fala (a constituição da ‘’fala letrada’’) e a fala influencia a escrita (o aparecimento de ‘’traços da oralidade’’ nos textos escritos). São práticas que permitem ao aluno construir seu conhecimento sobre os diferentes gêneros, sobre os procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los e sobre as circunstancias do uso da escrita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, M. preconceito linguístico. O que é. Como se faz. São Paulo: Loyola, 2002