A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E DA CONTAÇÃO DE MITOS...

Por Ana Aparecida da Rocha | 22/06/2017 | Educação

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E DA CONTAÇÃO DE MITOS E LENDAS NO ENSINO FUNDAMENTAL FINAL

 

ROCHA, Ana Aparecida*

FERREIRA, Maria de Lourdes Costa*

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo mostrar a importância que os mitos e lendas têm sobre a leitura, através de uma pesquisa realizada em uma sala do 7º ano, utilizando uma estratégia de leitura com textos de diversas histórias sobre os mitos brasileiros, com o intuito de despertar a imaginação e o gosto pela leitura. Utilizamos os seguintes autores para dar ênfase a nossa pesquisa, Ilan Brenman, Mircea Eliade. O trabalho contribuiu para o avanço no processo de leitura, na observação de características e na visão crítica do aluno, bem como para o desenvolvimento da apropriação pelos alunos do gênero textual denominado lendas.

 

Palavras-chaves: Estratégia. Leitura. Lendas. Mitos

 

 

  1. INTRODUÇÃO

 

       Sabemos o quanto a leitura é de extrema importância para a formação da criança e do jovem. Esta deve ser como um imã precisa atrair e prender o leitor numa relação de prazer. A leitura precisa ser apresentada de forma interessante e, visando sempre o desenvolvimento do pensamento reflexivo e crítico da realidade que é vivida.

       Pensando nisso elaboramos nosso trabalho tendo por base uma estratégia de leitura realizada em uma sala de aula com alunos do 7º ano com o intuito de mostrar a importância que os mitos e lendas têm, procurando mostrar em que podem contribuir para desenvolver a capacidade de expansão do universo social e cultural dos alunos. Visamos mostrar que os mitos e lendas além de serem contados oralmente podem ser encontrados em vários livros, sendo de fácil acesso, estando direcionados a estes jovens leitores, com uma linguagem fácil de entender, e ainda com a utilização de imagens que prendem a atenção, ajudam na interpretação da historia e estimula os alunos a tornarem-se mais críticos e criativos. É importante observarmos que com a atividade desenvolvida com os alunos, propomos a eles uma proximidade com a leitura e a escrita.

      Nosso objetivo foi de desenvolver atividades como: leitura de roda, para que os alunos tenham conhecimentos prévios sobre as estórias, usando o tema mitos e lendas para a preservação da memória, cultura nacional, regional e local. Utilizamos a contação de histórias como metodologia para o desenvolvimento dos alunos e reescritura das histórias contadas a fim de estabelecer melhoria do seu desempenho escolar tanto na leitura quanto na escrita,respondendo as necessidades afetivas e intelectuais pelo contato com o conteúdo simbólico das histórias trabalhadas.

 

  1. MATERIAIS E MÉTODOS

 

      Este artigo fundamentou-se em pesquisa empírica e por pesquisa bibliográfica, pois os mesmos facilitaram na construção do nosso trabalho. O primeiro refere-se à pesquisa realizada na sala de aula do 7º ano com alunos da faixa etária de 13 anos, no qual foi utilizado uma sequência de Historias de Lendas e seus respectivos mitos como (Iara, lobisomem, curupira entre outros), de forma dinâmica através da estratégia de leitura, como o jogo da adivinhação.

      Realizamos a pesquisa empírica na Escola Ensino Fundamental Professora Ester de Aguiar Menezes situada na Rua Coronel João Damasceno, Bairro Estádio na cidade de Tianguá. A turma que aplicamos a estratégia era composta por 40 alunos, dos quais apenas 35 estiveram presentes, foi aplicada em junho de 2014.

     Para que nosso trabalho fosse concretizado pesquisamos em sites algumas estratégias e sugestões de aula, analisamos alguns sites como o Portal do professor e Nova escola, mas optamos por trabalhar uma ideia de jogos de leitura, de Luiz Percival Leme Britto adaptando para nossa temática Mitos e lendas, para torná-los mais críticos, foi utilizado debates com a turma sobre o tema proposto. Essa estratégia de leitura foi escolhida por se tratar de um método dinâmico e que atrairia a atenção dos alunos aplicando assim a ideia de forma mais divertida, porém dando ênfase à importância da leitura e da interpretação, a partir do senso critico de cada um.

       Os dados da pesquisa foram reunidos por meio da interação com os alunos, pois desta forma conseguimos com sucesso prender a atenção deles, que participaram de forma positiva as dinâmicas e as histórias contadas. Através da ajuda da professora que a princípio nos informou sobre a resistência que a turma tinha em relação com a leitura e os materiais disponibilizados como folhas para que eles pudessem repassar as lendas que eles montaram na atividade sugerida na dinâmica: Jogo da adivinhação.

 

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

     Para os resultados e discussões de nossa pesquisa ressaltamos os textos realizados pelos alunos após a contar-se se histórias onde continha o conhecimento que eles obtiveram através da estratégia de leitura, bem como a avaliação feita pela professora que nos observava durante a aplicação.

 

3.1.   RELEVÂNCIA DOS MITOS E LENDAS PARA O ESTÍMULO Á LEITURA

 

       Estimular o ato da leitura nas crianças e nos jovens é extremamente importante, pois através da mesma poderão desenvolver um senso critico. O aluno que passa a ter contato com livros, jornais ou revista, consequentemente conseguirá ter um melhor desempenho na escola e futuramente ser um grande profissional. É de extrema importância que se busque maneiras de fazer o ato de ler algo prazeroso, e ainda que se desperte a curiosidade para que se torne um hábito, assim como cita o trecho a seguir retirado dos PCN (1998; P.17).

 

“Para tornar os alunos bons leitores — para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura —a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência. Uma prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente.” (PCN de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª Série, 1998; p. 17).

 

        Podemos dizer então que além de tornar o aluno capaz de ler é preciso fazer com que ele crie o gosto pela leitura. Utilizamos a contação de histórias de mitos e lendas, buscando estimular a imaginação e o gosto dos alunos, os informando às origens e características, buscando dessa forma mostrar a cultura de nosso pais, para que assim eles percebam o quanto as histórias de lendas brasileiras são interessantes e procurem por novas histórias a fim deque a leitura  se torne um hábito.

     Em relação às histórias de lendas e mitos que utilizamos na estratégia usamos como embasamento teórico o pensamento de Mircea Eliade que cita:

“O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares.... o mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos...o mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade teatral, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir..”(Mircea Eliade, Aspectos do Mito. Pág. 12/13).

       Dessa forma o mito é considerado como verdadeiro contado de forma fantasiosa, como na mitologia que contam supostos acontecimentos em épocas primordiais sobre o surgimento do homem, de certa forma isso chamaria a atenção dos alunos para conhecerem melhor a origem dos mitos desde a época primordial. Os alunos aprenderiam a analisar um mito, ou seja, suas diferenças e semelhanças através das origens, pois é de extrema importância que tanto as crianças quanto o jovens conheçam as histórias dos mitos como ressalta IIlan Brenman que fala do seu interesse sobre os mitos:

“Tenho paixão pela mitologia universal. Já escrevi alguns livros recontando mitos de várias partes do mundo. Os mitos nasceram da necessidade do homem de explicar o inexplicável, dar sentido à vida. Os antigos viam uma aranha, mas não conheciam Discovery Channel, nem a teoria de Darwin. De onde viria, então, esse animal que tece tão belamente? O mito de Aracne resolveu a questão, uma bela história que mostra a origem das aranhas. Não só a natureza que o homem enxergava trazia inquietações, que eram quase sempre resolvidas com os mitos (de onde vieram as estrelas, o sol, a lua, o mar, o vento)...” (Este texto faz parte da Coluna Palavrórios e Rabugices da edição 223 (Junho, 2012) da Revista CRESCER)

        Assim procura explicar como a mitologia era importante para a vida antigamente e como eles conseguiam explicar os fatos onde não existia explicação pela ciência, e que é importante para a criança conhecer até mesmo como os antigos viviam antes de tanta tecnologia que hoje está a nossa disposição, e como as descobertas cientificas mudaram nossa maneira de pensar e agir em determinadas situações.

        Durante uma entrevista ao site “conexão professor”, Ilan Brenman após ser indagado sobre que conselhos ele daria aos educadores para estimular e a aproximar os jovens dos livros. Ele afirma o seguinte:

“Surpreendam seus alunos, leiam trechos de livros em voz alta para eles, escolham livros que despertem o interesse dos alunos, construam pontes narrativas, contem sobre livros que vocês estão lendo, despertem a curiosidade, provoquem com temas que eles gostem. (Ilan Brenman, revista Conexão Professor.)

      As palavras de Brenman confirma o que estamos procuramos aplicar na sala de aula, buscando o interesse por parte dos alunos a partir do nosso tema e da proposta escolhida.Dessa forma,fazer com que eles passem a vontade e curiosidade de buscar livros de sua preferência, mas que não deixem de ler e nem percam o gosto pela leitura.

        A Interação entre o aluno e o que está sendo lido é importantíssima, como cita o texto para maior explicação retirado do PCN (1998, 69-70):

“A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.”

         Nesse caso, o aluno tem o papel de dar sentido ao texto lido, de interpretá-lo a partir do uso de outros tipos de narrativas em sala de aula para que o aluno possa torna-se um leitor competente que saiba diferenciar os tipos de textos, ou seja, só será possível com a prática constante da leitura não apenas na escola, mas fazer com que o aluno crie o gosto em ler em casa também.

 

3.2.   ESTRATÉGIA DE LEITURA

       Nossa proposta de leitura foi retirada de um artigo, cujo título é Jogos de leitura da série ideias, de Luiz Percival Leme Britto, no qual ele cita duas estratégias de leitura, escolhemos a estratégia do jogo da adivinhação por se tratar de uma proposta mais dinâmica.

       Utilizamos a estratégia de Luiz Percival, adaptado para nosso tema e com algumas diferenças. A partir de uma narrativa, no caso uma lenda, de preferência curta, recortou alguns fragmentos correspondentes a episódios pequenos é distribuído aos alunos e pedimos que eles escrevessem o que iria acontecer a partir daquele fragmento, ou seja, adivinhem. O nosso objetivo não é fazer o aluno acertar, por se tratar de uma dinâmica levou em consideração a imaginação, a atenção do aluno e principalmente o conhecimento prévio de cada um. Em seguida eles leram para a turma o que escreveram.

      O intuito dessa estratégia é de despertar a imaginação e o gosto pela leitura, pois a seguir iríamos à roda de leitura ler as lendas originais. Primeiramente contaríamos a lenda original que eles reescreveram, e depois iríamos contar uma da cultura grega retratando a origem das lendas brasileiras, especificamente a lenda sereia conhecida como Iara ou “mãe d’água”, logo depois os próprios alunos iriam ler algumas lendas como  Caipora,   Saci Pererê,   Mula-Sem-Cabeça e a lenda do Boto cor de rosa. Após a leitura das lendas e mitos, debatemos sobre o que eles notaram sobre a lenda que contamos e as características dos mitos das lendas apresentadas.

 

 

3.3.     OS RESULTADOS

     Durante a aplicação da estratégia houve participação efetiva dos alunos, atenção durante a cotação de histórias e dedicação durante a reescrita da lenda, apenas alguns alunos leram o que escreveram, para que pudéssemos dar oportunidade deles lerem em roda de leitura as lendas brasileiras.

       Nossos objetivos foram alcançados e pudemos perceber que a proposta foi eficaz e agradou aos alunos e tivemos os resultados que esperávamos, pois os alunos contribuíram e ouviram eufóricos as lendas brasileiras. Dessa forma concluímos através do trecho retirado do PCN (1998; P.18):

 

“(...) o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre as pistas lingüísticas que possibilitam a atribuição de determinados sentidos. (...) os procedimentos que utilizam para atribuir sentido ao texto: como e por quais pistas lingüísticas lhes foi possível realizar tais ou quais inferências, antecipar determinados acontecimentos, validar antecipações feitas, etc.” (PCN de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª Série, 1998; p. 18).

      Percebemos que após uma leitura na qual contamos uma história no caso às lendas juntamente com os alunos, a partir do conhecimento prévio, a reescrita do trecho é a forma de antecipação da história onde o aluno se permite atribuir um sentido ao fragmento lhe dado.

        Ao terminamos nossa aplicação da estratégia de leitura conversamos com a professora que estava nos avaliando que nos disse que iria utilizar nossa metodologia em outros temas, pois achou eficaz e dinâmico, pois prendeu a atenção dos alunos mostrando-os participativos.

 

4.      CONSIDERAÇÕES FINAIS

     Concluímos após nosso trabalho realizado, o quanto a leitura influencia no aprendizado do aluno, quanto mais eles lerem mais conhecimentos terão e passarão a escrever melhor, pois terão novos argumentos. E através das histórias de Mitos e Lendas eles puderam conhecer a própria cultura e expor para os colegas seus conhecimentos prévios, havendo interação entre eles, e também com as histórias contadas.

     Observamos o quanto é importante o professor buscar maneiras que levem aluno a ter interesse pela leitura no ensino fundamental final. É preciso que seja um hábito diário e que proporcionem prazer ao aluno, mesmo que a leitura seja por curiosidade, o importante é que seja um estímulo e não uma obrigação. Resta ao professor ser criativo na elaboração dos seus planos de aulas buscando sempre incentivar o gosto pela leitura.

     A partir desse trabalho os alunos puderam conhecer o que eram as lendas, e saber que esse gênero que conta histórias antigas estabelece a relação entre a fantasia e a realidade. Desse modo nosso trabalho foi de suma importância para esses alunos e percebemos o quanto foi relevante trabalhar com os mitos e lendas na sala de aula com alunos do ensino fundamental final, pois abrimos um novo caminho para que eles busquem novos gêneros e sempre buscando o gosto e o hábito pela leitura.

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

BRASIL, Parâmetros Curriculares nacionais: Língua Portuguesa: primeiro e segundo ciclos / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. – Brasília : A Secretaria, 1998.

 

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

BRENMAN, Ilan entrevista ao site Portal do professor(29/09/10)Disponível em <http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/educacao-entrevista 00.asp?EditeCodigoDaPagina=5408>

 

BRENMAN, IlanColuna Palavrórios e Rabugices da edição 223 (Junho, 2012)da Revista CRESCER.Disponível em<http://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Ilan-Brenman/noticia/2013/03/o-franciscano.html>

 

BRITTO, Luiz Percival Leme. Jogos de Leitura. Série Idéias n.13. São Paulo: FDE,1994. ELIADE, M. Aspectos do Mito, Edições70, Lisboa.