A importância da formação continuada para a ação docente no ensino.
Por Edna de Jesus Vieira | 31/05/2012 | EducaçãoRESUMO:
O presente artigo proporciona uma reflexão e discussão sobre a importância da formação continuada enquanto base de conhecimento e sustentação à práxis do docente no ensino superior, tomando como desafios: O processo de ensinar e aprender; a atuação profissional como objeto de reflexão; os desafios atuais para a formação dos professores.
Palavras Chave: Docentes - Formação continuada - Conhecimento
ABSTRACT
This article provides a reflection and discussion about the importance of continuing education as a knowledge base and support the practice of teaching in higher education, taking as challenges: The process of teaching and learning, professional activity as an object of reflection, the current challenges for the training of teachers Keywords: Faculty - Continuing Education - Knowledge
Introdução
A sociedade contemporânea caracteriza-se por transformações no mundo do trabalho, avanço da ciência e da tecnologia, ampliação do acesso à comunicação, que interfere no ensino realizado na escola.
A conquista de uma sociedade mais participativa exige uma instituição capaz de educar cidadãos atuantes, aptos a responderem aos desafios do seu tempo. Essa instituição de ensino pressupõe o envolvimento coletivo e interativo de diretores, professores, funcionários, pais de alunos e, sobretudo órgãos governamentais, ministérios e secretárias de educação. Para a promoção dessa proposta educacional o professor é a “peça” fundamental. Daí a importância da sua formação inicial e continuada.
O investimento no trabalho formativo do educador exige cuidado para que ele responda as exigências do mundo contemporâneo, pois como afirma NÓVOA(1995, p.7): hoje sabemos que não é possível separar o eu pessoal do eu profissional, sobretudo numa profissão fortemente impregnada de valores e idéias e muito exigente do ponto de vista do empenho e da relação humana.
Houve um tempo em que estudar o ensino, para além da subjetividade do professor, foi considerado um sucesso científico e um passo essencial em educação, mas as utopias racionalistas não conseguiram por entre parênteses a especificidade irredutível da ação de cada professor, numa óbvia relação com características pessoais e com as suas vivências profissionais como escreve Jennifer Nias: “O professor é a pessoa; e uma parte importante de pessoa é o professor”.
Nesse contexto, a formação continuada vem ao encontro das necessidades que os professores deparam em seu dia-a-dia em sala de aula, mesmo os que não estão preparados para trabalhar com essa diversidade de situações. No entanto verificamos a necessidade de estarmos a cada dia refletindo sobre a nossa prática pedagógica, buscando novas estratégias e formas de ensinar o nosso aluno, com o objetivo de promover a melhoria da qualidade de Ensino, através da qualificação, atualização e valorização dos profissionais da educação, a fim de garantir o melhor desempenho dos alunos.
Daí, a importância de construção desse artigo, tendo como premissa a formação continuada enquanto base de conhecimento e sustentação à práxis do professor do ensino superior, considerando os seguintes pressupostos:
O processo de ensinar e aprender; A atuação profissional como objeto de reflexão; Os desafios atuais para a formação dos professores
Diante do exposto, acredita - se que o fortalecimento das lideranças e o incentivo à postura pesquisadora dos profissionais da instituição de ensino superior, criarão novas possibilidades de trabalho e reorganização das atividades acadêmicas , desenvolvendo uma cultura em que o docente e a instituição assumam a responsabilidade de sua auto–formação, melhoria da prática pedagógica e, conseqüentemente, a qualidade de ensino.
O PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER NA INSTITUIÇÃO DO ENSINO SUPERIOR
Importantes e recentes pesquisas têm apresentado teorias sobre a construção do conhecimento, as quais ajudam a compreender como ocorre o processo de ensino e aprendizagem e, dessa forma, contribuem para nortear as ações pedagógicas desenvolvidas nas Instituições de Ensino Superior.
A apropriação desses conhecimentos pelos educadores é fundamental para a transformação das atuais práticas educativas que vêm resultando, freqüentemente, em frustrações e impotência diante do insucesso de seus alunos levando- os a sentirem despreparados para enfrentar as exigências e demandas contemporâneas.
Essa constatação implica na urgente necessidade de uma reflexão sobre o processo de ensino e de aprendizagem, dinâmica considerada racional e dialética, pois só existe na relação com o outro, conforme é abordado nos Parâmetros Curriculares Nacionais:
“ Os fracassos escolares decorrentes da aprendizagem, das pesquisas que buscam apontar como o sujeito conhece, das teorias que provocam reflexão sobre os aspectos que interferem no ensinar e aprender, indicam que é necessário dar novo significado à unidade entre aprendizagens e ensino superior, uma vez que, em ultima instância, sem aprendizagem não há ensino,” ( PCN – V.Introdução P71).
Conforme a abordagem interacionista, a aprendizagem e uma atividade de construção pessoal, uma elaboração que parte do próprio sujeito com a realidade sócio-cultural, o que pressupõe a participação ativa do aluno na construção e re-construção do seu conhecimento.
Com isso, a atuação do professor universitário é muito importante, como mediador e facilitador do processo de construção desse aluno, que por meio de sua intervenção pedagógica, vai modificando , aperfeiçoando e construindo novos instrumentos de ação e interpretação. É o trabalho do professor que
dinamiza o processo de ensino e aprendizagem, proporcionando atividades significativas, pois sabemos que o conhecimento novo se processa a partir do conhecimento prévio do aluno.
O desenvolvimento de aprendizagens significativas resulta do trabalho de dar sentido a realidade que se conhece, de modo que o aluno possa estabelecer relação entre o que já sabe e o conteúdo a ser estudado, resultando assim, na produção de um saber pensado, discutido e elaborado.
“ As aprendizagens que os acadêmicos realizam na universidade, serão significativas na medida em que eles consigam estabelecer relações entre os conteúdos curriculares e os conhecimentos previamente construídos, que atendam às expectativas, intenções e propósito de sua aprendizagem.” (PCN.V.Introdução p 72).
Contudo, a forma de organizar as situações de aprendizagens, o relacionamento cooperativo entre docentes e acadêmicos, os questionamentos conceituais influenciam de forma decisiva no processo de construção de novos significados que esses acadêmicos atribuem aos conteúdos curriculares.
A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ENSINO SUPERIOR COMO OBJETO DE REFLEXÃO
Pela natureza de sua atuação, o docente da educação superior promove a articulação entre os objetivos educativos, as circunstâncias contextuais e as possibilidades de aprendizagem de seus alunos. É quando investiga, reflete, seleciona, planeja , organiza, integra, avalia, articula experiências, recria e cria formas de intervenção didática junto aos acadêmicos, para que eles avancem em suas aprendizagens, para produzam conhecimento científico. Assim, a investigação que o docente universitário realiza se diferencia da pesquisa acadêmica pela sua natureza e intencionalidade: quando se toma a prática, em toda a sua complexidade, como objeto para a reflexão, constitui – se um campo de conhecimento que é específico do professor.
A atitude investigativa dos docentes no ensino superior é um mergulho no mundo complexo d a prática pedagógica, no qual ele se envolve afetiva e cognitivamente, questionando as próprias crenças, propondo e experimentando alternativas. É um trabalho de levantar hipóteses, buscar dados para compreender aspectos de situações singulares ou encaminhamentos generalizáveis em sala de aula, como a constituição de boas situações de aprendizagens de alguns conteúdos específicos.
A importância dessas aprendizagens indica que o exercício de reflexão sobre a prática, isto é, de matizá-la em seus múltiplos aspectos, tomando-a como objeto de reflexão organizada e compartilhada, que deve ser sistemática desde o inicio do curso de formação inicial de professores ao longo de todo o processo de formação continuada.
A tematização da prática está diretamente vinculada à concepção de professor reflexivo, que toma sua atuação como objeto para a reflexão. Ser um docente que pensa e toma decisões è ser um professor que desenvolve o “saber fazer” e a compreensão do “para que fazer”, articulando a reflexão sobre “ o que”, “ como”, “para quê e “ quem” vai aprender, de forma a garantir a seus alunos o acesso a boas situações de aprendizagem. Para planejar intervenções didáticas pertinentes e de qualidade, é preciso interpretar e analisar o contexto da realidade educativa.
O conhecimento e a análise de situações pedagógicas, tão necessárias ao desenvolvimento de competências profissionais, não precisam ficar restritos apenas aos estágios, como é mais usual. Como já foi apontado, esse contato com a prática real de sala de aula pode vir até à instituição de formação por meio das tecnologias de informação, de situações simuladas e estudos de casos.
Desse modo, as tecnologias tornam- se recursos importantes, porque podem potencializar uma formação mais consonante com a natureza do trabalho do professor universitário, ampliando assim as possibilidades de discussão da prática nos programas de formação continuada, pois oferecem múltiplas formas de registro e de abordagem da experiência pedagógica. Para Nóvoa (1992:62,63) , há três tipos básicos de atitudes que identificam um professor reflexivo: mentalidade aberta, responsabilidade e entusiasmo. Essas atitudes- juntamente com as conexões entre conhecimentos e suas respectivas
estruturas quanto aos temas envolvidos nas atividades (em que inclui teorias da aprendizagem e desenvolvimento e o domínio da ferramenta informática), devem ser objetos de estudo nos programas de formação da educação básica e superior, uma vez que se complementam.
Um professor universitário que tem a mentalidade aberta é aquele que convive com as diferenças, analisa as possíveis alternativas, incita o debate, a crítica, o confronto, a dúvida e promove a construção do conhecimento fazendo uso de conteúdos formais e estruturados. A responsabilidade refere- se ao autodomínio e a assumir as conseqüências das próprias posições - uma responsabilidade no sentido intelectual e ético. O entusiasmo relaciona- se com a predisposição em relação às inovações, à vontade, à alegria e ao prazer de ensinar e de aprender ( Freire, 1995:Papert,1994).Não significa predisposição a modismos, porque o professor reflexivo apropria-se do conhecimento, critica-o e emprega-o em sua prática e em suas reflexões.
OS DESAFIOS ATUAIS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO ENSINO SUPERIOR
Considerando a educação como prática social, a formação de professores que atuam, constitui interesse social.
Esse contexto proporciona a realização de análise, reflexões, discussões, pesquisas e propostas de ações em torno da formação continuada desses profissionais da educação. Segundo Severino (2001 p.141), a característica essencial do trabalho do professor no ensino superior é promover a educabilidade, ou seja, favorecer para que os sujeitos, eles próprios tornam-se os construtores e transformadores de sua individualidade e da sociedade como um todo. Nessa perspectiva, torna-se imprescindível a reflexão sobre o preparo desse profissional em seus aspectos políticos e técnicos, porém, sem negarmos a importância dos aspectos humanos nesse processo de formação do professor para transitar no cotidiano universitário. Daí, as indagações: O que é ser professor no ensino superior, nos dias atuais? Quais os desafios que lhe concerne?
A educação segundo LDB, “DIREITO DE TODOS”, exige a garantia, acesso e permanência com sucesso na escola a todas as crianças e jovens, tornando-a um espaço democrático e melhorando os níveis de escolarização, perpassando a universidade e portanto, a sociedade como um todo. Assim, a formação de professores destaca-se como um tema crucial, e sem dúvida, uma das mais importantes políticas públicas para a educação, pois os desafios colocados às universidades exigem do trabalho educativo outro patamar profissional, muito superior ao hoje existente. Não se trata de responsabilizar pessoalmente pela influência das aprendizagens dos alunos, mas de considerar o que muitas evidências vêm revelando, que a formação de quem dispõe não tem sido suficiente para garantir o desenvolvimento das capacidades imprescindíveis para que crianças e jovens não só conquistem o sucesso escolar, mas principalmente, capacidade pessoal que lhe permita plena participação social num mundo cada vez mais exigente sob todos os aspectos. Além de uma formação inicial consciente, é preciso proporcionar aos professores do ensino superior, oportunidades de formação continuada, pois promover o seu desenvolvimento profissional é também intervir em suas reais condições de trabalho, de modo a superar as exigências atuais da formação, como: Conscientização do potencial da humanidade e direcionamento da existência para inserção no grupo social; Compreensão de construção e reconstrução do conhecimento e sua aplicabilidade na ação humana; A competência superando o senso comum, a improvisação e a superficialidade; O exercício da criatividade de modo dinâmica e inteligente, incluído as diversidades culturais; Criticidade vigilante do conhecimento, da ideologia e de sua própria ação, refazendo o comprometimento ético e sócio-político para participar realmente de uma sociedade mais justa e igualitária.
Cabe então aos educadores do ensino superior, buscar superar a prática pedagógica assentada em informações, contribuindo assim, para a melhoria da
qualidade na educação. Para isso, ele necessitará segundo Libâneo(2000), para os tempos atuais: Assumir o ensino como mediação; Executar uma prática interdisciplinar; Conhecer e utilizar estratégias do ensinar e aprender a aprender, contemplando os pilares da educação( aprender a conhecer,a conviver, a fazer , a ser); Desenvolver em seus alunos capacidades comunicativas Saber trabalhar com a diversidade cultural existente em sua sala de aula; Incluir a perspectiva afetiva em sua prática; Utilizar as novas tecnologias da comunicação e da informação para melhorar suas aulas.
Diante desses pressupostos, como afirma Gatti(1997 p.100), “o desafio não é simples. Em nosso país a complexidade da questão se amplia dadas as nossas condições de ensino, em que boa parte daquilo que é fundamental e que em outras nações já se fez, aqui ainda está por fazer”.
Contudo, cabe a cada uma das esferas: instituições de ensino, governo e sociedade atuarem de mãos dadas para superarmos os desafios que deparamos na prática de ensino.
Considerações Finais
As exigências da prática profissionais docentes no ensino superior, nos levam a refletir que: ensinar exige rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, exige criticidade, reflexão crítica sobre a prática, exige bom senso, humildade, tolerância, alegria, esperança, competência profissional enfim, ensinar exige disponibilidade ao dialogo.
Enquanto agirmos em nossasunivresidades contentando-nos com níveis mínimos de profissionalização e profissionalismo, a luta pela profissionalidade
se esvazia porque nós professores continuaremos pensando que como está, está bom.
Como afirma MORIM (2001, p.47), ”a educação trata-se de transformar as informações em conhecimento e de transformar o conhecimento em sapiência”. Com isso, progressivamente vem se formando um consenso sobre quais são as condições necessárias para assegurar uma educação universitária de qualidade real: existência de um projeto educativo explicita e compartilhado pelos diferentes segmentos da instituição de ensino superior, formas ágeis e flexíveis de organização institucional e de funcionamento, quadro estável de profissionais, apoio administrativo ao plano de desenvolvimento institucional, qualidade da formação inicial dos professores, desenvolvimento profissional contínuo por meio de ações internas e externas, planejamento coletivo de trabalho numa perspectiva de experimentação e avaliação contínua, adequação do espaço físico e das instalações, qualidade dos recursos didáticos disponíveis, existência de biblioteca e acervo de materiais diversificados de leitura e pesquisa, tempo adequados de permanência dos acadêmicos na universidade, proporção apropriada alunos-professor, condições adequadas de trabalho e salário.
Tudo parece indicar, portanto, que uma boa formação profissional aliada a um contexto institucional que favoreça o espírito de equipe, o trabalho em colaboração, a construção coletiva, o exercício responsável da autonomia profissional e adequadas condições de trabalho, são ingredientes sem os quais não se alcançará a qualidade pretendida na educação superior.
Segundo Severiano(2001,p.142) a formação dos professores “deveria por uma autêntica Bilding, formação em sua integridade”, superando uma habilitação apenas técnica, centrada no domínio de informações específicas e didática
Nesse contexto, a educação superior que se pretende, de qualidade, precisa contribuir progressivamente, para a formação de cidadãos capazes de responder aos desafios colocados pela realidade e nela intervir.
É através da Formação Continuada que o professor transforma-se num pesquisador, a caminho de construir sua autonomia profissional, enriquecendo seus conhecimentos e práticas, só assim estará garantindo a possibilidade de
se organizar coletivamente no espaço acadêmico, por meio de um projeto pedagógico voltado para a efetiva superação dos problemas presentes.
REFERÊNCIAS
Formação e Profissionalização Docente – Joana Paulin, editora Ibepex.2003.
Revista Nova Escola – BENCINI, Roberta ano XVIII, nº 160 p.48, março de 2003.
Parâmetros Curriculares Nacionais – Introdutório, Rio. Secretaria de Educação Fundamental – Brasília MEC/SEF,1998.
Libâneo. Novas exigências e profissão docente. 7º edição e editora Cortez,2003 p.82.
BITENTNCOURT,Circe( org).O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto,2001.
HENGENMUHLE,Adelar. Gestão de Ensino e Práticas Pedagógicas.Petrópolis,RJ:Vozes,2004
Documento da Proposta Curricular do Estado do Tocantins.