A importância da família na escola

Por Rosmari Elena Carraro de Moraes | 28/11/2023 | Educação

                                                 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA ESCOLA

      

     

                                                                                                                                  MORAES, Rosmari Elena Carraro de

 

 

RESUMO 

 

 

Este estudo, tem como objetivo, contribuir e refletir a necessidade do bom relacionamento entre as instituições, para o desempenho escolar, e por uma educação de qualidade. Refletir sobre a construção de uma parceria baseada na cooperação. Mostrou-se a importância dos vínculos afetivos na formação da criança, em seu processo de aprendizagem, e a questão da eficiência na comunicação familiar como fator primordial, para o desenvolvimento social e cognitivo do educando.  Apresentou-se a dificuldade que a escola enfrenta frente as mudanças sociais e familiares, pois além de exercer a função de transmitir conhecimentos científicos, tem que absorver as novas tarefas, que a ela tem sido incumbida. A metodologia foi a pesquisa bibliográfica qualitativa, fundamentada em livros e artigos científicos, onde pensadores e filósofos argumentaram sobre a importância da família na escola.  Como resultado verificou-se que a aprendizagem não pode ser restrita ao espaço escolar e a participação familiar ser limitada ao ambiente de casa, assim as instituições tem que estar em harmonia e formar parceria. Que os espaços formativos devem assumir seus papéis, cabendo à família, participação e aceitação de responsabilidades, e a escola promover um espaço democrático que objetive uma aprendizagem significativa. Ficou evidenciado, que a família é a primeira instituição social, e apesar das mudanças continua a mais qualificada para educar a criança. Que a participação da comunidade é fundamental para o processo educacional. No entanto observa-se progressos referente a participação da família na escola, porém ainda existe um longo caminho a ser percorrido para a integração da comunidade.

 

Palavras-chave: Família. Envolvimento. Escola. Aprendizagem.

 

 

1.INTRODUÇÃO

 

O assunto a ser apresentado neste trabalho é de extrema importância, pois pretende contribuir com uma educação de qualidade, por meio de práticas cotidianas, se busquem caminhos que visem à participação de todos e a integração da família com a escola.

A importância da família no desenvolvimento social e cognitivo do educando, baseados na participação escolar e na integração escola-família.

Qual é o papel da família e da escola no processo de aprendizagem, e como a parceria escola-família podem proporcionar um bom desenvolvimento ao educando?     

Até quando a escola vai continuar assumindo isoladamente a responsabilidade de educar?

Ao meio acadêmico e científico, a pesquisa refletirá sobre questões que contribuirão no entendido de que a tarefa de ensinar e educar não compete apenas à escola, e sim um trabalho que se desenvolve no coletivo, com ampla participação de toda comunidade escolar.

Como justificativa pessoal, em função de observações feitas na escola, em uma turma de primeiro ano, onde atuava como professora contratada, e percebia o grande número de crianças que apresentam dificuldades comportamentais, de alfabetização, e há pouca participação dos pais, além do interesse social que a matéria representa. É necessário que as famílias percebam a importância da parceria escola-família, através da educação, e que é preciso compartilhar responsabilidades.

Almeja-se, com o presente estudo, contribuir com subsídios às escolas, para o aperfeiçoamento do processo participativo. Busca-se ainda, privilegiar caminhos para desenvolver potencialidades do educando, no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e do prazer em aprender.

Discutir a importância dos pais no processo educativo dos filhos, pois a educação e os valores familiares podem transformar a sociedade mais justa e ética. Quando a família e a escola mantém boas relações, a aprendizagem dos educandos se torna muito mais eficaz. 

Contribuir para o desenvolvimento de uma relação escola-família de maneira responsável e comprometida com uma educação de qualidade.

            Analisar questões sobre como a escola pode melhorar a integração com a família. É necessário refletir sobre os papéis que cada um deve desempenhar nesse processo.

            Embora seja um tema polêmico, pais e educadores concordam que a escola e a família devem ser parceiras na missão de formar cidadãos de maneira integral, unindo esforços para que este objetivo seja alcançado, pois nossa sociedade necessita de indivíduos com valores morais e éticos.

Para a realização deste trabalho a metodologia utilizada foi estruturada em pesquisa bibliográfica tradicional, fundamentada por diversos autores renomados sobre a importância da família na escola para o desenvolvimento do aluno, na tentativa de expor o melhor entendimento do tema a ser discutido. Dentre os quais destaco: Szymanski (2002), Parolin (2007), Carvalho (2013), Vygostsky (1984), Paro (1997), Paulo Freire (1999), Içam Tiba (1998), Vasconcellos (1995), Pimenta (1991), Polity (2001), Nogueira (2006), Cubero (1995).

 

 

2.FAMÍLIA E ESCOLA, UM PROCESSO CONJUNTO

 

 

 

A família, como uma construção social, sofre a influência dos valores e padrões de sua época, atualmente passa também por grandes transformações, que vão desde os novos arranjos familiares, reconstituídas por novas uniões e com o convívio dos filhos, fruto das diversas uniões, mudanças econômicas, políticas, até as mudanças nos papéis familiares.

De acordo com Nogueira (2006, p. 159), a família é uma “instituição social mutante por excelência”, ela “[...] apresenta configurações próprias a cada sociedade e cada momento histórico, embora sua existência seja um fato observado universalmente”.

Quando fala-se em família, considera-se uma estrutura com pai, mãe e filhos, e no papel que desempenham: o pai trabalhando fora e provendo as necessidades da família, a mãe cuidando da casa ou trabalhando fora, mas cumprindo seu papel dentro do lar, cuidando dos filhos.

A estrutura familiar em que há um pai, mãe e filhos ainda é um modelo bastante encontrado nas famílias brasileiras. No entanto, diversas outras formas têm surgido na sociedade moderna.

Segundo Szymanski (2002), família pode ser definida como uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo com todos os membros que a compõem.

Essas mudanças são formas contemporâneas de exercício da maternidade e paternidade, cujos papéis já não são mais rigidamente preestabelecidos como cuidadores e provedores, respectivamente. Ambos, pai e mãe, podem ocupar funções diversas.

Além das questões de configuração e estrutura familiar, que por si já falam destas novas formas de relação e da nova família, as práticas educativas familiares tem sido o ponto de preocupação na atualidade. As famílias há alguns anos atrás tinham práticas educativas baseadas em autoridade e hierarquia e formas claras de educar seus filhos. Com o surgimento de movimentos em benefício da autonomia da criança, os pais parecem ter perdido seus referenciais em meio a tantas reflexões.

Pais autoritários criam filhos com maior confiança em si mesmos, com melhor desempenho escolar, com atitudes e poucos problemas de conduta. Já pais negligentes criam filhos com problemas escolares e psicológicos, muitos problemas de conduta e uso de drogas. Isso mostra que é preciso que os pais tenham autoridade sobre os filhos. Quando na família a vontade dos filhos prevalece, ele não será capaz de superar os obstáculos que a sociedade impõe, pois nunca vivenciou situação de negativa em casa, onde ninguém discordou de suas atitudes.

Os pais precisam ser capazes de dar o exemplo em casa, na família, pois não adianta falar uma coisa e fazer outra completamente diferente, porque isto implica na educação e formação ética das crianças, que seguem o exemplo, ou seja copiam as atitudes dos pais, que são a referência para eles. As crianças criadas sem contarem com bons exemplos e a presença de adultos, que as oriente, aconselhe, acompanhe, defina limites e regras para seu comportamento têm grandes possibilidades de terem problemas em seu desenvolvimento.

Quando chegam na escola, onde ficam expostas a várias situações e regras de convivência social, a educação e a experiência adquirida no convívio familiar será colocada em prática e conforme determinada situação, pode ou não gerar muitos confrontos.

O fato das mulheres terem maior participação na sociedade e no mercado de trabalho, tornando-se por vezes chefe de família, condições em que diminui a participação no cuidado dos filhos, feito por terceiros.  Os pais ficam pouco tempo com os filhos, e nos momentos em que estão juntos, não querem frustrações e conflitos, assim deixam de educá-los.

Esta diversidade nos prepara para o que pode existir no cotidiano escolar em termos de organização familiar. Assim a escola deve evitar o protótipo de família regular ou irregular e desenvolver uma educação crítica, que possibilite ao indivíduo o crescimento como ser humano integrado na comunidade em que vive.

Em geral a iniciação das pessoas na cultura, nos valores e nas normas da sociedade começa na família, cabe a ela a transmissão dos modelos e a forma como a criança desempenhará seus papéis sociais, orientando-a no desenvolvimento e na aprendizagem dos comportamentos, de acordo com os padrões sociais adequados ao grupo em que está inserida.

Neste contexto, Parolin (2007, p.56), completa:

 

É na família que uma criança constrói seus primeiros vínculos com a aprendizagem e forma o seu estilo de aprender. Nenhuma criança nasce sabendo o que é bom ou ruim e muito menos sabendo do que gosta e do que não gosta. A tarefa dos pais, dos professores e dos familiares é a de favorecer uma consciência moral, pautada em uma lógica socialmente aceita, para que, quando essa criança tiver de decidir, saiba como e por que está tomando determinados caminhos ou decisões.

 

A aprendizagem envolve pensamento, afeto, linguagem e ação. Esses processos precisam estar em equilíbrio para que o sucesso seja obtido. A família e a escola, tem papel essencial e indispensável nesse processo. Freire (1996, p.145) comenta que a educação não pode ser compreendida “como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos”.

Porém, devido à complexidade da nossa sociedade, a família não dá conta e todo o processo de socialização, sendo a escola também responsável pela reprodução de valores sociais, além de conhecimentos científicos que o indivíduo necessita para o mundo do trabalho.

Pimenta (1991, p.128) declara que,

 

[...] a sociedade é, além do mais, um grande agrupamento social, que comporta inúmeros subgrupos (família, escola, etc). Aprender a conviver em grupo é uma forma de preparar-se para a vida social. A importância do grupo está também em propiciar a aprendizagem de papéis sociais diferentes e complementares na organização social como um todo. Assim, viver democraticamente na escola, expressar opiniões, aprender a ouvir, respeitar a opinião alheia, identificar as verdadeiras lideranças, organizar-se em torno delas, são as virtudes democráticas que, aprendidas na escola, serão transportadas para a vida social.

 

Os sistemas extrafamiliares tem influência significativa na vida das pessoas, porque depois da família, é na escola que as crianças permanecem por mais tempo.

Para que o desenvolvimento da personalidade das crianças seja harmonioso é necessário que seu ambiente familiar traduza uma atmosfera de crescente progressão educativa. Assim as instituições devem conhecer mais as histórias de vida dos alunos, ter um olhar atento para as particularidades dos alunos, saber quando interceder, quando algo não está bem. Alunos com problemas não conseguem manter a concentração nos estudos e obter bons resultados escolares. Vasconcellos (1995, p.22) afirma,

Percebemos muitas famílias desestruturadas, desorientadas, com hierarquia de valores invertida em relação à escola, transferindo responsabilidades suas para a escola [...], a família não está cumprindo sua tarefa de fazer a iniciação civilizatória: estabelecer limites, desenvolver hábitos básicos.

 

 

A escola, precisa garantir uma relação de diálogo, ouvindo o que a família tem a dizer e se colocando como parceira no processo de desenvolvimento dos alunos.

Depois do convívio familiar, a criança passa a socializar com a comunidade escolar, e é o professor que a recebe e insere no grupo a qual vai pertencer, que conduzirá as práticas que levarão as crianças a completarem o ciclo de alfabetização.

Tem início uma nova fase no processo de socialização, ela passa a ter contato e estar exposta a diferentes realidades e valores. É nessa convivência que as competências emocionais passam a ser desenvolvidas para enfrentar os desafios da vida.

 E para que isso ocorra é fundamental que os pais atuem junto com a escola como facilitadores do desenvolvimento social e cognitivo do educando.

Os direitos e deveres da família e da escola devem estar claramente definidos. Afinal, a professora nunca deve ocupar o papel dos pais na vida do aluno. A escola aperfeiçoa os valores incorporados pela família. Cada um tem suas funções na educação e essas funções são complementares.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no Artigo 1º, traz que

 

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisas, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996, p.1).

 

 

Escola e comunidade são elementos intimamente relacionados, porém com uma relação de disputas e conflitos, que refletem no processo educativo. Nesse sentido a educação não pode mais ficar restrita ao muros da escola. É necessário que o processo educativo não se reduza ao limites da escola, mas que passe a conectar-se com as famílias dos estudantes e a comunidade do seu entorno.

Vive-se numa época em que valores como a ética e a cidadania estão sendo banidos e deixados de fora da formação do ser humano. A escola reclama da ausência da família no acompanhamento escolar das crianças, como o auxílio nas tarefas de casa, da falta de pulso dos pais para dar limites aos filhos, indisciplina e da falta de valores morais, necessários para conviver em grupo. Em contra partida, a família reclama da excessiva autoridade dos professores, dos processos pedagógicos ultrapassados, da cobrança demasiada das escolas para a responsabilidade dos pais na aprendizagem.

Conforme coloca Içami Tiba (1998 p.160) “Os pais, de tanto quererem agradar e poupar os filhos, não desenvolvem neles limites, disciplina e responsabilidade.”

A família permite o comportamento inadequado do filho por questões de comodidade, mas é na escola que esse comportamento tende a piorar. E se a escola também ignorar e não ajudar a corrigir, dar limites para as crianças, estaremos formando futuros delinquentes.

Aos pais cabe o importante papel de valorizar a escola e o estudo, incentivando o gosto das crianças pelo conhecimento e o respeito à autoridade do professor, preocupando-se com a qualidade do ensino e participando da vida da escola, dividindo com esta o desafio inadiável de educar nossas crianças e jovens.

Professores debatem formas de tentar superar as dificuldades, pois percebem que se nada for feito em breve não conseguirão mais ensinar e educar. Até quando a escola sozinha conseguirá levar adiante essa tarefa?

Nesse sentido, instituições como a escola e a família não podem deixar que isto aconteça sem fazer nada para mudar esta situação.

Conforme Carvalho (2013), a questão fundamental não é somente a participação dos pais e o tipo de relação que se estabelece entre a escola e a família, mas proporcionar encontros, estabelecendo confiança mútua. É necessário que a escola envolva a família dos educandos em atividades e grupos onde os pais possam trocar ideias entre si, e com os professores, discutindo os papéis e as responsabilidades, e também abordando outros assuntos além dos problemas disciplinares.

A maioria das família sentem receio quando são chamadas para comparecerem na escola, pois temem comportamentos inadequados dos filhos, não querem conversar sobre a questão da aprendizagem. A escola deve mudar esta lógica negativa e chamar os pais para atividades como: apresentações de trabalhos dos alunos, mostra científica, festas nas datas comemorativas, eventos, enfim muitas outras ações que estreitem a parceria, porque a união entre a família e a escola, criam vínculos e traz impactos positivos para a formação do aluno.

Participar é estar presente em todos os eventos realizados na escola; cobrar seus direitos; ter deveres para com a escola e a criança; participar nas decisões da escola.

Para Freire (1997, p.89),

 

É preciso e até urgente que a escola vá se tornando um espaço acolhedor e multiplicador de certos gostos democráticos como o de ouvir os outros, não por favor, mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância, o do acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte contudo, o direito de quem diverge de exprimir a sua contrariedade.

 

Assim, é preciso que se estabeleça um diálogo, integrando os vários elementos envolvidos no processo, de forma contínua e recíproca e com objetivos comuns, para o planejamento de metodologias adequadas, e assim tentar resgatar esses valores tão essenciais e importantes na formação do caráter das crianças.

Parolin (2008) afirma que: “O grande desafio da humanidade diante das novas ciências, das novas tecnologias e dos novos conhecimentos é reorganizar valores, reformular a ética do ser humano, redimensionando o valor do conhecimento”.

Um dos principais objetivos da escola hoje é favorecer uma participação que gere compromisso da família com a aprendizagem e o sucesso escolar do aluno.           

“A educação recebida na escola e na sociedade de um modo geral cumpre um papel primordial na constituição dos sujeitos, a atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual. Consequentemente o comportamento da criança na escola.’’ (Vygostsky, 1984 p.87).  

 

Uma escola democrática atende os objetivos esperados para uma educação de qualidade. A comunidade escolar juntamente com os pais precisa trabalhar em conjunto para que o aluno seja um cidadão crítico, atuante e transformador.

Os resultados positivos de uma escola somente serão garantidos, através de um trabalho coletivo, que envolva todos. A escola exerce importante papel social, pois a mesma deve ser um agente transformador, que leva em conta as necessidades e carência do meio em que está inserida, uma fonte de conhecimentos e informações para todos que nela buscam uma melhoria na qualidade de vida e um aperfeiçoamento como indivíduo e ser humano consciente.

 A participação dos pais e da comunidade é essencial para o sucesso da gestão participativa, por se constituir um processo de abertura nas discussões sobre o papel da escola, na própria estrutura social em que está inserida.

Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há como não citar o mestre Paulo Freire (1999 p. 18), quando diz que:

 

[…] a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se opção é progressista, se não se está a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não se tem outro caminho senão viver a opção que se escolheu. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que se diz e o que se faz.

 

 

Manter a integração escola-família de forma estreita significa construir e desenvolver comunidades nas quais se podem satisfazer necessidades básicas ao almejar uma melhor qualidade de vida para as futuras gerações.  Os adultos da nossa sociedade são resultados diretos da educação familiar e escolar. Se a educação familiar falha e a escola também, não há como ter um futuro com mais esperanças. Desse modo, é preciso que as comunidades escolares e as famílias colaborem com princípios de integração fortalecidos pelo respeito e pela eficácia das ações.

No Estatuto da Criança e do Adolescente encontramos, no capítulo IV, parágrafo único, que “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”, ou seja, trazer as famílias para o convívio escolar já está prescrito o que está faltando é concretizá-lo, pôr a lei em prática.       

A participação na educação passa pela democratização do conhecimento e isso só será possível através da construção de um novo tipo de gestão onde se busca a transformação da sociedade e da escola por meio da participação de toda a comunidade escolar.

Neste sentido, a gestão participativa deve ser vista como um elemento importante pra a mudança, e que está amparada pela Constituição Federal, no artigo 206, inciso VI, e na Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394 de 1996, nos artigos 3, inciso VIII e 14. A ausência de uma gestão participativa e democrática é um dos motivos que impossibilitam a aproximação da escola com a comunidade.

É preciso que os pais se conscientizem para a função cada vez mais difícil que é educar, que nos dias atuais, os desafios parecem multiplicarem-se devido as transformações de um mundo globalizado, e sobretudo que as famílias não se esqueçam de que educar dignamente os filhos é um dever que não deve ser deixado unicamente por conta da escola.

Aproveitar a presença dos pais na escola nas reuniões e demais eventos para conscientizá-los dessa importância. É necessário deixar claro que a escola não está transferindo responsabilidades, mas sim criando uma parceria que é fundamental para a existência de bons resultados.

A motivação para aprender deve ser compreendida na relação entre os aspectos afetivos e cognitivos do indivíduo, os quais dependem do meio social. Polity (2001 p.23), ao investigar a interação da família com a criança com dificuldade de aprendizagem, afirma que o papel da família é essencial no processo de construção de uma nova relação da criança com o saber. Segundo a autora: “quando os pais e a escola oferecem compreensão e ajuda adequadas, muitas crianças demonstram melhora acentuada e redução nos conflitos emocionais resultantes do contínuo fracasso”.  Quando a criança percebe que os pais se interessam por seus estudos e pelas experiências escolares, ela sente-se valorizada, desenvolvendo-se de forma segura.

Os pais que procuram saber sobre a relação dos filhos com os professores, o comportamento em sala de aula, notas e dificuldades nas matérias, normalmente estão dispostos a ajudar o professor a vencer os desafios em sala de aula, se envolvem com as lições e os trabalhos e incentiva o progresso educacional em casa. E o relacionamento solidário entre todos, permite que os estudantes se sintam mais seguros no ambiente escolar, sintam-se mais capazes, estabeleçam conexões mais positivas com os outros colegas e obtenham maiores ganhos em sua aprendizagem.     Nesse contexto, a participação familiar no processo educativo das crianças é de extrema importância, embasada por legislações claras.                                                       Como encontramos no Artigo 205 da Constituição Federal,

[...] educação direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1998, p.1).

O processo de aquisição da leitura e da escrita não se dá somente no ambiente   escolar, pelo contrário, o ambiente escolar servirá como organizador do processo de letramento, que se inicia no ambiente familiar e na comunidade a qual pertence a criança. Diante dessa afirmação, sabe-se o quanto é importante os estímulos que ela recebe no seu dia a dia pra que se sinta interessada pelo mundo das palavras.

Com a evolução da tecnologia, hoje as escolas têm condições de terem um relacionamento mais próximo dos familiares com o uso das ferramentas tecnológicas, como aplicativos de comunicação. Devem ser estabelecidos canais eficientes de comunicação entre ambas as partes. Isso porque falta tempo para os pais acompanharem presencialmente a rotina escolar dos filhos, devido ao trabalho cada vez mais complexo.

Tanto a escola pode se comunicar com os pais, envolvendo diferentes colaboradores pedagógicos, como os responsáveis também podem enviar mensagens aos diferentes setores da instituição. Com a comunicação mais rápida e prática, os pais podem ser mais participativos, interagindo de forma contínua e também ajudando na solução e redução de conflitos. Como diz Paro (1997, p.30),

 

[...] a escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais, para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as questões pedagógicas. Só assim, a família irá se sentir comprometida com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvolvimento de seu filho como ser humano.

 

 

Para a construção de parceria família-escola se concretize, alguns obstáculos precisam ser ultrapassados, dentre eles, o preconceito, a falta de compreensão, as resistências e rivalidades, as atitudes de competição entre ambas instituições.

Seria utópico pensar em uma relação de parceria entre escola e família baseada no respeito mútuo e na formação recíproca?

Pensa-se que, com esforço e dedicação, principalmente dos professores que são os especialistas em educação, pode-se construir esse tipo de relação. O caminho é difícil e necessário, para um objetivo que acredito seja comum: a formação plena de nossas crianças. 

As argumentações apresentadas neste artigo pretenderam oferecer subsídios para a construção de um processo de interação e respeito ao ser humanos, visando um melhor funcionamento das instituições educativas, que conduzam a concretização de uma educação de qualidade.

 

 METODOLOGIA

 

 

Este trabalho tem como metodologia a pesquisa bibliográfica qualitativa sobre a importância da família na vida escolar das crianças, e foi fundamentada em livros, revistas científicas, artigos e outros matérias científicas de pensadores e filósofos que apresentam discussão sobre o tema.

Segundo Justino (2011, p.13)

 

A pesquisa é uma forma de investigação que desenvolve uma série de procedimentos necessários para que seja realizada e concluída de forma satisfatória. Esse conjunto de procedimentos tem por objetivo produzir novos conhecimentos em determinado campo científico, contribuindo assim com o desenvolvimento das diferentes áreas do conhecimento.

 

No processo de pesquisa foi adotado o fichamento simples, onde selecionou-se as citações relevantes sobre o objeto de estudo, obtendo-se informações que contribuam com as questões aqui apresentadas.

Percebe-se com a leitura dos teóricos estudados que a parceria família e escola faz-se necessária e de extrema importância para o desenvolvimento pedagógico das crianças, como afirma Cubero,

 

A escola é junto com a família, a instituição social que maiores repercussões têm para a criança. Tanto nos fins explícitos que persegue expressos no currículo acadêmico, como em outros não planejados, a escola será determinante para o desenvolvimento cognitivo e social da criança e, portanto, para o curso posterior da vida. (CUBERO, 1995 p.253)

 

 Após as anotações, iniciou-se a preparação do artigo. Na primeira parte explanou-se as novas constituições familiares da atualidade, onde os pais tem a necessidade de trabalhar fora de casa por questões econômicas. Nesse contexto Nogueira (2006, p.159), afirma que a família é uma “instituição social mutante por excelência”.

Em seguida falou-se sobre as práticas educativas familiares que vem mudando a cada dia, e são motivo de preocupação de estudiosos, porque as famílias estão perdendo a autoridade sobre os filhos, e como consequência escolas com alunos indisciplinares, sem respeito, sem ética e valores morais necessários para a convivência em grupo. A este respeito Vasconcellos (1995, p.22) nos coloca que: “[...] a família não está cumprindo sua tarefa de fazer a iniciação civilizatória: estabelecer limites, desenvolver hábitos básicos.”

Na segunda parte, explanou-se como a escola pode melhorar a relação família-escola, desenvolvendo ações que favoreçam a participação familiar. Trazer a comunidade para dentro da escola, com um projeto político pedagógico participativo. A participação dos pais na educação formal dos filhos deve ser constante e consciente.

Içami Tiba (1998, p.164) afirma que “a escola precisa alertar os pais sobre a importância de sua participação: o interesse em acompanhar os estudos dos filhos é um dos principais estímulos para que eles estudem.”

O processo de aprendizagem se inicia na família, através de ações educativas.

A escola precisa evoluir, usar ferramentas tecnológicas como suporte para o trabalho pedagógico e manter uma comunicação mais próxima com os pais. O uso de aplicativos para a comunicação escolar, torna os pais mais participativos e integrantes. Sobre este tema Paro (1997, p.30), declara, “[...] a escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais, para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as questões pedagógicas.”

E por fim, nas considerações finais, concluiu-se que para que a parceria família-escola se concretize, não fique só na boa vontade, será preciso romper alguns obstáculos, dentre eles, a falta de compreensão, as rivalidades e as atitudes de competição existente entre as instituições. Família e escola precisam formar parceria para superar as dificuldades.

Espera-se que esse trabalho sirva de reflexão para a comunidade escolar e para as famílias, mostrando que é imprescindível e urgente, que ambas sejam parceiras, para uma educação de qualidade para as crianças, acenando um futuro com mais valores e igualdade.

 

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS  

 

Diante de tudo o que foi evidenciado neste trabalho, conclui-se que a família é a base da sociedade moderna, é a primeira instituição social e funciona como formadora do caráter, e apesar de todas as mudanças sociais sofridas, continua a ser a instituição mais qualificada para educar a criança.

As famílias atuais estão sem tempo para se preocuparem com o desempenho escolar de seus filhos, deixando este papel para a escola. Atualmente a importância da escolarização não está sendo vista da mesma forma como era há alguns anos atrás. As relações afetivas dos familiares estão mais restritas. A escola e a família estão funcionando de forma diferente, não conseguem achar um ponto de equilíbrio, para então formar uma parceria.

Percebe-se que escola e família tem uma caminhada importante a fazer, sinto que é necessário um apoiar-se no outro nesse processo. Pois nessa perspectiva de amparo e ajuda, quem ganha é a criança, pois será mais flexível, mais motivada e interessada em aprender.

O processo de alfabetização em parceria com a família propicia novas perspectivas, pois é nesse meio que o indivíduo tem seus primeiros contatos com o mundo externo, com a linguagem, com as primeiras aprendizagens, valores, hábitos e estímulos para iniciar seus conhecimentos e capacidades. A escola tem uma percepção diferente das necessidades do aluno, assim como a família tem um olhar diferenciado. A união das duas visões é o que possibilita uma formação educacional eficiente e enriquecedora para todos. Tal convivência é fundamental para que a criança estabeleça relações afetivas verdadeiras e que permanecerão ao longo do seu desenvolvimento.

Os estudantes, ao se verem em um espaço seguro e controlado, tornam-se participantes ativos em sua própria educação. Neste sentido pode-se afirmar que o primeiro passo para ajudar um estudante a tornar-se motivado e facilitar a sua aprendizagem, é construir e manter relacionamentos positivos entre a escola e a família.

Constata-se que é realmente importante a participação ativa dos pais no crescimento de seus filhos, fato que é unanime entre pesquisadores estudados. Que grande parte do sucesso do aluno na escola passa pela educação que ele tem em casa. Sendo assim, a sociedade como um todo precisa da parceria família e escola, pois só assim terá uma educação de qualidade. É necessário também investir cada vez mais em programas que envolvam orientação de pais, pois muitos estão perdidos, não sabem sua importância na relação de pais e filhos. Só assim todos tem condições de cumprir seus papéis, para uma sociedade melhor e mais justa no processo educacional.

Vive-se uma época marcada pelo individualismo e por intensas mudanças. As mudanças são tão aceleradas que os projetos de vida se tornam mais maleáveis e sujeitos a constantes interferências externas.  Isso demanda da família e da escola, uma relação justa, respeitosa e democrática, a superação de grandes desafios como espaços formativos.

A escola precisa de mais do que boa vontade para atender as exigências de uma sociedade em mudança, mas se os primeiros passos não forem dados, corre-se o risco de ficar apenas na reflexão.

Infelizmente, não se tem a receita mágica para que a escola garanta um maior envolvimento dos pais. No entanto, estando consciente da importância da parceria entre a família e a escola, tudo fica mais fácil.

Assim, com a busca constante por novos caminhos inseridos sempre num processo de reflexão e auto reflexão sobre a prática, desenvolvendo o espírito crítico em relação à sociedade em que se está inserido, pode-se acenar novos caminhos para a educação.

 

REFERÊNCIAS 

 

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