A Importância da Contação de História na Educação Infantil

Por Carla Cristiane Meyer | 26/03/2019 | Literatura

A Importância da contação de história na Educação Infantil

Carla Cristiane Meyer

                      

 

Resumo

O tema “A importância da contação de história na Educação Infantil” levanta várias questões como: Qual a origem da contação de histórias? Quem são os contadores de história? Qual a importância de contar histórias na educação infantil (ou na escola)? Qual a diferença entre ler e contar uma história. Existem outras formas de se contar histórias? Inventar uma história é fato natural e espontâneo na criança, criá-la é uma forma muito completa de expressar sentimentos e ideias, é preciso, porém toda uma atitude positiva e criativa por parte do contador, de forma a ampliar esse poder de imaginação infantil. O principal nesta arte é saber despertar emoções, pois as forças da fantasia, sonho, magia, mistério e da intuição ainda atraem espontaneamente as crianças. Contar histórias em sala de aula é extremamente necessário, pois mexer com o imaginário infantil é uma influência muito benéfica na formação da personalidade da criança, principalmente no primeiro ciclo de sua infância, porque através da assimilação dos conteúdos da história há uma fusão entre o real e o imaginário, isto porque a criança se identifica com os personagens e “vive” o drama que ali é apresentado de uma forma simples, porém impactante, ao mesmo tempo em que distrai a criança lhe apresenta virtudes e defeitos, seu aparente entretenimento disfarça a proposta didática existente através da junção do lúdico e do pedagógico. As histórias apresentadas aos educando, agem em seu inconsciente, através do prazer e emoções, devido ao o simbolismo implícito nas tramas e personagens, facilitando à criança certa compreensão de valores básicos da conduta humana e de convívio social, pois é através dos significados simbólicos dos contos, que a criança incorporará os valores que regem a vida humana, uma vez que a escola tem em sua proposta pedagógica a função de tornar o aluno um indivíduo, participativo e critico. 

 

Palavras-chave: Contação de História, Educação Infantil, Prática Pedagógica.

 

 

 

 

 

  1. INTRODUÇÃO

Desde há muito tempo, a transmissão oral, ou seja, a contação de histórias é passada de geração em geração, esta foi uma das soluções encontradas pelas comunidades que não conheciam a escrita, para informar às gerações mais novas os seus conhecimentos, valores e crenças, que eram considerados fundamentais para a sobrevivência geral da respectiva comunidade.
             O surgimento das creches e pré-escolas ocorreu devido o fato das mulheres começarem a trabalhar fora de casa, necessitando de um local adequado para cuidar de seus filhos enquanto estas estiverem ausentes. Com isso, as creches e pré-escolas passaram a desempenhar dois papéis fundamentais junto às crianças, o de cuidar e educar. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. RCNEI (BRASIL, 1998) é através das instituições de educação infantil que se abrem ambientes propícios para a criança desenvolver-se integralmente. Assim, a educação infantil não pode ser vista, apenas, como um lugar de aprendizado sistematizado, mas como um ambiente que promove o desenvolvimento de habilidades e a socialização da criança, na medida em que possibilita o convívio com outras crianças e, também, com adultos com origens e hábitos culturais diversos. Para TORRES & TETTAMANZY (2008). É função da escola, estimular no aluno, o gosto e o prazer pela leitura, que deve ser disponibilizada em sala de aula de maneira atraente, prazerosa e significativa, devendo estar desvinculada da obrigatoriedade. Assim, é possível afirmar que a arte de contar histórias passa a ser reconhecida como prática oral de um patrimônio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer e que por meio deste processo as crianças aprendem a falar melhor, usam a imaginação e se desenvolvem muito mais. A partir dos contos, das histórias e da motivação do professor, a criança tem a oportunidade de exercitar a imaginação, criando imagens a partir do contexto social na qual se encontra inserida.  Com isso se torna inevitável para a compreensão deste trabalho obter informações sobre: Qual a importância da contação de histórias na educação infantil? Que tipo de livros literários se utiliza? Que materiais a escola disponibiliza para apoiar a leitura? Como esta influencia no processo de aprendizagem da criança?

 

  1. A ORIGEM DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS.

O ato de contar histórias, ou a contação de histórias, tem sua origem desde os primórdios da Grécia antiga, juntamente com o Império Árabe e uma de suas famosas histórias conhecidas por todo o mundo “As mil e uma noites”, contada por Sherazade.

A arte de contar história compõe papel de suma importância dentro do contexto literário, trabalhando assim o desenvolvimento da criança, através de práticas orais, construção do saber reflexivo, estimulando o interesse e a imaginação, que supostamente irá trabalhar seu processo cognitivo, possibilitando a construção de ser um leitor, ouvinte e possibilitando em si, sua própria criação.

A prática de contar história contribui em diversos desenvolvimentos no indivíduo, seja ela intelectual, social, cultural e de descobrimento de seu próprio eu, pois é no mundo imaginário que a criança desperta seus interesses, seja no momento em que está ouvindo ou narrando uma história. Influenciando juntamente com o processo artístico a interação social, o dialogar, conhecimentos e gosto pela leitura.

“Não apenas as crianças, mas também adultos podem descobrir numa história a solução de algum problema e guardo depoimentos valiosos que confirmam isso.” (Betty Coelho, 2004, p. 52).

Os professores/educadores devem inserir em seus objetivos de aprendizados, o processo de contar história com o intuito de ajudar e enriquecer o desenvolvimento das crianças, sendo de suma importância desenvolver desde as séries iniciais, esse mundo de imaginação, formação e promoção ao conhecimento.

   As histórias promovem valores e conceitos onde cada um na sua subjetividade, se descobre juntamente com o mundo real, seja a história ficção, aventura, drama e todos os gêneros já conhecidos, inseridos nos inúmeros livros literários, que dentro de uma sociedade de diversas culturas, crenças, visões políticas, etnias, moralidade, prevê uma aprendizagem reveladora e significativa para cada indivíduo.

Segundo Vanda (2005),

Contar mitos, em muitos lugares da África, faz parte do jeito de educar a criança que, mesmo antes de ir à escola, aprende as histórias de sua comunidade, os acontecimentos passados, valorizando-os como novidade.

A comunicação, a vivência, a interpretação e valor que cada obra tem, atinge todo indivíduo, independente de sua idade ou formação social, porque a leitura e a arte de ouvir e contar história, está presente na nossa história, seja ela na formação da cidadania e todos os paradigmas que a sociedade percorre através do tempo, sendo assim, dentro de nosso próprio contexto individual e coletivo.

A história nada mais é do que a formação e a compreensão da cidadania e do próprio conhecimento, o que para sua prática requer o entendimento do seu processo e dos caminhos que ela percorre, seja no mundo imaginário, transportando-se para a realidade e o desenvolvimento social, crítico e cultural.

 “A força da história é tamanha que narrador e ouvintes caminham juntos na trilha do enredo e ocorre uma vibração recíproca de sensibilidades, a ponto de diluir-se o ambiente real ante a magia da palavra que comove e enleva. A ação se desenvolve e nós participamos dela, ficando magicamente envolvidos com os personagens, mas sem perder o senso crítico, que é estimulado pelos enredos.” (Betty Coelho, 2004, p. 11).

 

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir 
muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem 
para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente 
infinito de descoberta e de compreensão do mundo... 
Fanny Abramovich 


          Os primeiros impressos para crianças não tinham nenhuma intenção mais amena. Páginas coladas a um suporte, que a primeira vista podia servir também de palmatória. Começam a ser usadas em 1440 e continuam a aparecer até 1850. Além do ABC incluíam orações, ensinamentos morais ou políticos. Mas logo a criança descobre as anedotas, contos maravilhosos, episódios de cavalaria. E se apossam dessas narrativas populares, que não foram escritas especialmente para elas. O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem, no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que poderia ter significação para todos. 

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2.1.Porque e para que contar histórias?

As histórias despertam a imaginação e resgatam um pouco de nossas vidas, tornando possível idealizar o nosso futuro e compreender o passado e até mesmo dar sentido a determinados acontecimentos que não podem ser mudados. Segundo (Piza 2006) as histórias possibilitam compreender um pouco de nossa existência. Elas fazem parte de nossas vidas, despertam a capacidade e o gosto pela criação, alimentam as nossas almas e nos ajudam a fazer uma leitura de mundo, permitindo sermos capazes de sonhar e pensar nos nossos antepassados e nossa existência.

Sem as histórias nossas vidas não teriam sentido, pois elas humanizam e nos torna sábios para o reconhecimento de nossa própria historicidade. Uma história puxa outra, e elas vão se multiplicando na teia da vida. (Piza 2006).

Os dias estão cada vez mais difíceis, pois o ato de contar história está em extinção, devido a perca de vários conceitos em nossas vidas, como os laços familiares, a falta de tempo dos profissionais docentes, os afazeres da vida cotidiana e vários outros aspectos tecnológicos que agravam diretamente esta perda.Estamos perdendo nossa essência, nossa imaginação e inteligência, devido a tantas informações prontas sem nexo, sem significações, deixando escassos os espaços livres para a criação de novos saberes. A nossa criatividade está meramente ameaçada, no qual as imagens já chegam para nós manipuladas, no qual não precisamos pensar, pois os avanços tecnológicos não nos permitem criar e sim copiar, por isso estamos perdendo nossa essência.

Estamos vivendo em mundo globalizado em que tudo se padroniza, não somente os objetos de consumo, mas a nossa maneira de expressar, de sentir, de imaginar e agir, ou seja, deixando para traz as nossas memórias e raízes, deixando de lado a nossa própria história.

 “Precisamos de antídotos, contra a padronização que nos uniformiza e nos faz amorfos”. (Piza, 2006, p.)

A autora relata que “o papel do professor a todo o momento é introduzir um assunto, contextualizá-lo, criar um cenário imaginário, discorrer sobre o mesmo e finalizar sua exposição, dando sentido à fala anterior sintetizando-a”. Afirma que estas experiências educativas servem para melhorar ainda mais as habilidades de narrar.

 Assim diz (Piza 2006), a história está no embrião de cada um de nós e por isso é preciso nos encontrar, dialogar e descobrir com o contador de histórias interior, colocando para fora todo o efeito mágico para despertar na criança o lado imaginário que ela possui dentro de si.

A narrativa faz parte de nossas vidas desde bebê, através da voz encantadora de nossa mãe, no qual já demonstram interesse pelas histórias, por isso que a narrativa deve ser combinada com a voz e movimentos faciais, ou seja, o contador deve se entregar por inteiro, dando emoção ao personagem, fazendo combinações entre olhar, fala e movimentos, prendendo a atenção do ouvinte para que possam compreender e descobrir novos horizontes.

Piza aborda ainda que o narrador que conta uma história, buscando na memória o momento que ouviu de outro contador, ou até mesmo que de um livro antigo que leu, consegue demonstrar a satisfação e o prazer do ouvinte, pois ele passa toda emoção vivenciada do momento em que ouviu, trazendo sua própria recordação com o agora, cultivando as raízes do contador, transformando estas intervenções e memorizações para a mudança de conduta e do conhecimento humano.

“O contador de histórias ensina, envolve, emociona”. Depois de milênios, uma história suscita espanto e reflexão. (Piza 2006 p.34)

A autora afirma que os contadores de história são como os arqueólogos que cavam a terra em camadas e vão descobrindo a história da humanidade, por vezes a própria história. Muitas coisas em nossas vidas passam e vão embora sem retorno, como as amizades, convivências, pessoas queridas que nos deixassem para viver em outra vida, a nossa infância, mas todas estas lembranças estão guardadas em cada um de nós, fazendo parte da nossa historia de vida, que nunca se apagarão de nossa memória.

“Busco as histórias guardadas em minha memória, mas não é uma invenção criadora desta contadora, é um aprendizado que passou de povos para povos. Mesmo quando narro um conto de fadas, essa história já foi modificada por outros contadores” (Piza 2006 pg.44).

O educador por sua vez deve incentivar o aluno a se tornar cidadãos críticos, autônomos e independentes, despertando no educando a descoberta da realidade atual. Pois a maior virtude de um mestre não é dar respostas prontas e sim estimular a pensar e a questionar possibilitando-o a fazer uma autoanálise e reflexão.

Muitos professores ficam desanimados em contar histórias por não conseguir prender a atenção dos alunos, lembrando que o sucesso da história está no narrador que deve ter entusiasmo e conhecer a história antes de ser contada. Um dos fracassos na contação de história acontece devido à falta de conhecimento do narrador, achando que é somente pegar um livro na biblioteca e lê-lo, no qual não existe nenhum significado e nenhuma interação com a história contada.

“Nos quatro anos de convivência com as crianças e com os professores, descobri que para conhecermos e contarmos histórias devemos: enamorar, apaixonar, casar com ela e viver feliz para sempre”.(Piza 2006 pg.61).

Percebe-se, então, quanto é importante que o professor esteja atento às reações infantis, perante as histórias contadas, podendo ser de grande ajuda para compreensão da realidade de cada uma das crianças.

“O compromisso do narrador é com a história, enquanto fonte da satisfação de necessidades básicas das crianças”. (Betty Coellho, 1991).

Um dos principais objetivos de se contar histórias é o da recreação.

Mas a importância de contar histórias vai muito alem. Por meio delas podemos enriquecer as experiências infantis desenvolvendo diversas formas de linguagem, ampliando o vocabulário, formando o caráter, desenvolvendo a confiança na força do bem, proporcionando a ela viver o imaginário. [...]

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