A importância da arte ilustrada nas obras de literatura e na formação de pequenos leitores

Por SHM. | 17/04/2025 | Educação

Silvana Domingues de OLIVEIRA¹


 

Resumo: A arte ilustrada é considerada uma referência para atrair a atenção das crianças para a leitura e a escrita. As imagens fazem parte de um rol de atividades que devem ser trabalhadas com os alunos desde os primórdios na educação, pois estas podem contribuir para descobertas que não aparecem explicitamente nas obras escritas e aprender a contemplar as imagens contribuirá para a formação de adultos mais atentos e sensíveis. Desse modo, o presente estudo investigará a importância da contemplação das imagens na obra literária pelos professores, e como essa valorização é repassada para os alunos. Pretende-se utilizar como procedimento, a pesquisa bibliográfica para fundamentar o conhecimento necessário para a valorização da necessidade da contemplação das imagens e suas contribuições para o processo formativo do educando. Os resultados obtidos permitiram concluir que quando os olhares são despertados, amplia-se a compreensão dos conteúdos dos livros, além do refinamento da percepção artística. 


 

Palavras-Chave: Arte. Literatura. Ilustração. Aprendizagem.


 


 


 

The importance of illustrater art in Works of literature and in the formation of Young readers


 

Abstract: I ilustrated art is considered a reference to attract children's attention to reading and writing. Images are part of a list of activities that must be worked on with students from the beginning of education, as they can contribute to discoveries that do not appear explicitly in written works and 

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learning to contemplate images will contribute to the formation of more attentive and sensitive. Therefore, the present study will investigate the importance of contemplation of images in literary works by teachers, and how this appreciation is passed on to students. The aim is to use bibliographical research as a procedure to support the knowledge necessary to value the need to contemplate images and their contributions to the student's formative process. The results obtained allowed us to conclude that when eyes are awakened, the understanding of the contents of books increases, in addition to the refinement of artistic perception.


 

Keywords: Art. Literature. Illustration. Learning.


 

1. INTRODUÇÃO

Este artigo analisa a importância das ilustrações nos livros de literatura e da mediação do professor na educação do olhar do aluno e principalmente dos em fase inicial escolar do ensino fundamental do ciclo I, para contemplar, refletir, voltar atenção aos detalhes, ajudando a compreender e decifrar os códigos visuais. 

Nos dias atuais é fato consolidado que as crianças estão permanentemente em contato com imagens. Fica claro devido à realidade digital vigente, com o uso de videogames, celulares, computadores, tabletes, entre outros e se sabe que esses aparelhos atraem muito a atenção das crianças, sendo imprescindível observar que o contato efetivo com os mesmos existe e, na maioria das vezes, com sítios de jogos, e nem todos são recomendados. Desta forma, a importância da seleção e orientação prévia dos professores, afim de proporcionar um uso saudável e adequado às faixas etárias.

Sendo assim, através de pesquisas, notou-se o a pouca quantidade de estudos voltados para a leitura das ilustrações na literatura infantil, gerando uma preocupação com a necessidade de formação de bons leitores de imagens. E o objetivo desta pesquisa, é buscar possibilidades que ressaltem a importância das ilustrações nestas obras e refletir sobre a necessidade da formação, desde a idade mais tenra e por meio das obras de literatura infantil, de leitores competentes de imagens, haja vista que a maioria das crianças manuseiam livros rapidamente, sem contemplar e enxergar significados nas ilustrações, partindo para outros livros, deixando de se atentar aos detalhes artísticos contidos nas mesmas e que lhes ampliaram o entendimento, estimulando também o gosto pela leitura e escrita.

Dessa maneira, é evidente a importância de treinar o olhar, despertar a criatividade, promover o encontro da criança com o imaginário, entre tantos outros benefícios que a associação de imagens e textos fazem entre si.

Diante disso, o que fazer para despertar o interesse das crianças na contemplação das imagens nos livros de literatura? Muitos estudiosos ressaltam que realizar a leitura de imagens de forma competente não é simples, sendo necessário experiência, habilidades para perceber o visível e o invisível, como também, a sensibilidade e os sentimentos.

Nesta perspectiva, há uma necessidade urgente de investimento na “alfabetização visual”, pois a interpretação das imagens envolve aprendizagem, permanente exercício e capacitação do observador (Costa, 2009). 

Assim, cabe à instituição escolar e aos docentes, investir na alfabetização escrita, mas também na formação das habilidades para compreender a amplitude e os detalhes que as ilustrações carregam, proporcionando entendimento e assim interesse e encantamento pelas mesmas. Entretanto, Costa (2009) reconhece que a educação não está dando muita atenção para essa alfabetização visual, desconsiderando que as imagens trazem informações e conhecimento, sendo fundamentais para formar leitores proficientes.

De acordo com Ariotti (2023), Leitura de imagens: passo a passo para aprender a interpretar):

Antes de qualquer coisa, você precisa entender que as imagens nunca são meramente ilustrativas, elas também expressam significados! Além disso, podem fornecer pistas importantes sobre a opinião do autor, o que vai ajudar a compreender não apenas a mensagem transmitida, como também a intenção por trás dela. (Ariotti, 2023).

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À vista disso, o objetivo geral desta pesquisa é conhecer a importância da arte ilustrada nos livros de literatura na formação de leitores, através da adequação de práticas pedagógicas, proporcionando que as crianças reflitam e discutam sobre o que veem e questionem a respeito daquilo que não concordam, avançando em suas percepções e consequentemente contribuindo para sua aprendizagem, entrelaçados aos objetivos específicos e, assim, contribuir para a formação artística, visual, interpretativa, lúdica e contemplativa; citar diversos gêneros em que deva refinar o olhar contemplador; identificar nas imagens, a criatividade, olhar atento e apurado, entre outros e determinar mecanismos e processos para despertar o interesse pela leitura de imagens e textos.

 

2. METODOLOGIA

Este artigo adotou a metodologia de revisão bibliográfica, com o objetivo de analisar as produções acadêmicas existentes do tema trabalhado. A revisão bibliográfica foi realizada com o objetivo de conhecer, identificar e analisar as discussões teóricas e de prática relacionada ao assunto tratado. 

Para a construção da pesquisa, foram consultadas bases, como Scielo e Google Scholar, utilizando-se de palavras-chaves 

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relacionadas ao tema. Diante da pesquisa, foram selecionadas algumas obras, das quais as leituras fizeram parte desse trabalho, onde após foi realizada uma análise qualitativa, focando nas principais ideias dos autores, buscando destacar lacunas para direcionar a pesquisa e possibilitar estudos futuros. 

A revisão bibliográfica por sua vez, organiza os assuntos e análises, permitindo uma compreensão detalhada sobre o tema, que possibilita a construção de reflexões estruturas e fundamentadas de forma crítica. Portanto, essa metodologia permitiu uma análise bastante abrangente, a qual contribuiu de forma significativa para a construção deste estudo, trazendo aos leitores uma maior compreensão do tema.


 

3. RESULTADOS 

No Brasil, Juarez Machado citado por Camargo (1995), desenhou o primeiro livro só de imagem: Ida e Volta, que foi publicado em 1975, primeiro em uma coedição Holanda/Alemanha; em seguida na França, Holanda, Itália e, finalmente em1976, no Brasil pela Primor. Desde aquela época, muitos autores como Eva Furnari, Ângela Lago, Regina Rennó, Roger Mello, entre outros têm trabalhado com tal técnica com extrema maestria, impulsionando o gênero dentro do panorama 

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brasileiro da literatura infantil e juvenil. Seguindo esse pensamento, a presente pesquisa bibliográfica vem contribuir para um estudo qualitativo o qual não se pretende esgotar o assunto, mas instigar reflexões e novos estudos. 

Em uma entrevista realizada pela Revista pontocom, Lins (2010), relatou que a imagem nem sempre teve sua importância nos livros didáticos, só passou a ser considerada ao longo das últimas décadas com a evolução gráfica do setor e o surgimento dos computadores. Antigamente, os livros traziam um número de 10 a 15 ilustrações numa obra de 200 páginas, hoje totalmente inconcebível, pois as crianças estão envolvidas em diversas situações imersas em textos: publicitários, jornalísticos, cinemas, internet, imagens gráficas, entre outros, e apresentam uma intimidade com as imagens coloridas, devido às tecnologias, a simultaneidade de ações, a metalinguagem, entre outros, parecem vir de encontro aos interesses das crianças, acostumados ao universo visual e interativo das animações e ajuda a forjá-las, mas, para um texto voltado para o leitor infantil é preciso não somente na construção de texto verbal, mas também de maneira marcante, manifestação visual, muito utilizada nos livros voltados para as crianças. Segundo (Cavalcanti, 2009, p. 31):

A criança, iniciada no mundo da leitura, é alguém que pode ampliar sua visão do outro, que pode adentrar no universo do símbolo, construir, para si, uma realidade 

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mais carregada de sentido. Lê onde e quando mais lhe convêm, no ritmo que mais lhe agrada, podendo interrompê-lo, reler ou parar para refletir, a seu bel-prazer. Lê o quê, quando e como bem entender. Essa flexibilidade garante o interesse contínuo pela leitura, tanto em relação à educação quanto ao entretenimento (Cavalcanti, 2009, p. 31).


 

Segundo (Maia, 2007, p. 127) “a elaboração da linguagem a partir da imagem é uma etapa importante e válida para o processo subsequente: a alfabetização”. Segundo os estudiosos da psicologia do desenvolvimento, o conhecimento infantil começa a se processar pela interação da criança com o objeto, pela sua intuição. Razão por que muitos autores defendem a importância do manuseio de livros de gravuras sem texto ou com textos brevíssimos por criança que têm entre dois e cinco anos. Na faixa etária seguinte, seis a sete anos, a obra literária deve conjugar, num texto ainda breve, palavra e ilustração de forma dinâmica, de modo a favorecer a gradual desvinculação do texto em relação à imagem.

O resgate da leitura de textos e contemplação das imagens se faz emergente, para atrair a atenção da criança para o livro e possivelmente sua leitura, e firmando como Maia (2007), auxiliando na formação de leitores e contribuindo no processo de aquisição da leitura e escrita por parte da criança.

Segundo artigo da Revista Educação Aguiar (2011) relata 

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sobre o poder das imagens, apesar das crianças terem uma intimidade com elas, é preciso que o adulto ajude a criança contemplá-lo, refletir, voltar à atenção aos detalhes, ajudando-a a compreender e decifrar os códigos visuais, evitando o ensino rápido e para alguns pesquisadores, apontam a diferença entre o livro com ilustração, “onde a imagem é apoio, apenas reforçando o que o texto diz e o livro ilustrado, no qual ou se prescinde da palavra escrita ou ela atua juntamente. Assim, 

[...] a referência do indivíduo com parceiros mais experientes cria uma “Zona de desenvolvimento potencial”. Ele usou esse termo para se referir à distância entre o nível desenvolvimento atual – determinado pela capacidade de solução, sem ajuda de problemas – e o nível potencial de desenvolvimento – medido através da solução de problemas sob orientação ou em colaboração com as crianças mais experientes (Davis, Oliveira, 1992, p. 53).


 

Ainda sobre as imagens presentes nos livros infantis, Amarilha (2002, p. 41) afirma que "a ilustração contribui para o desenvolvimento de alguns aspectos do leitor”. Ressalta que, por exemplo, a sua imobilidade “favorece a capacidade de observação e análise" e que ela promove "uma rica experiência de cor, forma, perspectivas e significados". Vê-se, pois, a sua relevância no mundo literário dirigido às crianças e a necessidade de prepará-las para interpretá-las com capacidade e eficiência, usufruindo das múltiplas experiências que lhes propiciam. Lima 

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(2008), complementa esse pensamento a respeito das contribuições das ilustrações à formação de um bom leitor, salientando que, além disso, as imagens possibilitam a ele “reconstruir o passado, refletir o presente, imaginar o futuro ou criar situações impossíveis no mundo real”. 

Fica claro que a leitura eficiente de imagens promove conhecimento e proporciona o desenvolvimento do sujeito. Consequentemente, as ilustrações são valiosas para a literatura infantil, propiciando uma trajetória relevante no processo de ensino e aprendizagem, indo além da capacidade visual, relacionando-a com outros sentidos, colaborando na compreensão dos significados e oportunizando a concretização do objetivo principal, que é o encantamento das crianças pelas palavras e ilustrações, aguçando a criatividade e a imaginação.

É preciso, pois, reconhecer que as ilustrações são arte e, como tal, instruem, desenvolvem o conhecimento visual e a percepção das coisas. Por sua criatividade, colorido, projeção, estilo ou forma, ampliam e podem até superar a própria leitura do texto narrado por Lima (2008). Por isso, lidar com imagens, lê-las com competência, percebendo seus recursos, é fundamental na época atual, como afirmado por Fonseca, (2009) e embora muitas vezes não se dê a isso a devida importância e ainda haja 

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lacunas graves na formação de leitores de imagens (Ramos, 2011).

Lins (2010), afirma sobre o livro infantil e a importância e o lugar da imagem, que, “seja ela ilustração, desenho, grafismo ou a própria forma de se colocar o texto, uma letra maior ou menor, fazem parte da história e ajudam a contar história”. Afirma também que a linguagem visual precede a linguagem falada e escrita e dessa forma, a linguagem visual tem papel de enriquecer e completar a história. Para ele, a imagem e o texto juntos, dão ao leitor, o poder de criar na sua cabeça a única história que realmente interessa, a história dele.

Visualizar é, sobretudo, inferir significados, por isso visualização é uma forma de inferência, justificando a razão dessas duas estratégias, serem abordadas mais proximamente. Quando os leitores visualizam, estão elaborando significados ao criar imagens mentais, isso porque criam cenários e figuras em suas mentes enquanto leem, fazendo com que eleve o nível de interesse e, assim, a atenção seja mantida. (Souza; Girotto, 2010, p. 85).


 

O professor mediador vem para facilitar, incentivar e motivar o aluno em relação à aprendizagem, ajudando-o a atingir seus objetivos, por isso é necessário que dialogue com seu aluno, ajude-o a descobrir o gosto de aprender, a ter autonomia, instigar sua criatividade, fazendo provocações, trocas de discussões, criando um vínculo e uma facilidade de interação entre ambos, 

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possibilitando entendimento progressivo entre professor/aluno. Sobre isso, Cademartori (1986, p. 4) enfatiza que “a linguagem visual é muito rica e propõe relações de sentido de grande potencialidade, mas o olhar precisa ser educado”, ou seja, precisa ser mediado.

Para Oliveira (2008, p. 29):

Infelizmente priorizamos para as crianças de forma até perversa, o aprendizado da leitura das palavras como atestado de alfabetização. Seria mais conveniente se, nas escolas de ensino fundamental, a iniciação à leitura das imagens precedesse a alfabetização convencional. Certamente teríamos no futuro melhores leitores e apreciadores das artes plásticas, do cinema e da TV, além de cidadãos mais críticos e participativos diante de todo o universo icônico que nos cerca. A própria posterior alfabetização convencional seria muito mais agradável às crianças. (Oliveira, 2008, p. 29).


 

Livros com recursos gráficos variados, materiais diversos e com diferentes histórias, podendo ser atuais ou não, despertam o interesse de pequenos leitores, resultando em inúmeras e importantes aprendizagens, ao passo que ajuda a despertar o gosto pelo ato de ler e consequentemente, auxiliam no processo não só da alfabetização, mas do letramento do indivíduo (Camargo, 1995).

A esse respeito, Camargo (1995, p. 79) salienta que:

O livro de imagem não é um mero livrinho para crianças que não sabem ler. Segundo a experiência de vida de cada um e das perguntas que cada leitor faz às imagens, 

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ele pode se tornar o ponto de partida de muitas leituras, que podem significar um alargamento do campo de consciência: de nós mesmos, de nosso meio, de nossa cultura e do entrelaçamento da nossa com outras culturas, no tempo e no espaço. (Camargo, 1995, p.79).


 

Segundo Maia (2007), hoje existe uma coleção infantil que merece destaque, que é a Gato e Rato, de Mary França, ilustrada por Eliardo França. Com mais de dez títulos, todos os livros se caracterizam pelo recurso visual, em que ilustrações de intenso colorido e de página inteira reforçam o texto curto e revelam situações divertidas, como o enorme, feio e desajeitado chapéu usado pelo rato, porém muito útil na hora da tempestade; as pintas do preá que dão a impressão de outra coisa; o pega – pega entre o galo e o gato, personagens que querem pegar o rato; a bota que não serve para o bode; o papagaio que consegue enganar o tamanduá, o serelepe e o porco-espinho; o pato magro e o pato gordo, que querem trocar de lugar; entre outras aventuras.

A coleção é uma excelente opção de leitura, que consegue unir o tátil e o agradável. É possível observar nas ações espontâneas das crianças, como a leitura se torna algo muito agradável, pois foi estimulada a ler e contemplar um livro literário e a leitura se tornam algo muito mais produtivo e de encantamento e, é claro que os textos que chegam as mãos das 

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crianças devem ter intensões educativas, permeadas pelo mediador, pois quando há esse envolvimento (texto, aluno, mediador), a compreensão certamente se dará com sucesso.

O texto imagético proporciona uma leitura que transcende os limites da oralidade e da escrita. Além disso, o domínio da leitura de imagem, assim como aponta Gregorin (2010, p. 85) “é importante para o desenvolvimento cognitivo, artístico, imaginativo e cultural do leitor infantil, pois é fonte de organização de pensamento, acompanhada de texto verbal ou não”.

A leitura visual não se restringe a decodificar os elementos narrativos, simbólicos, e o contexto em que se insere o objeto artístico. A imagem possui ritmo, contraste, dinâmica, direção e, ainda, uma série de outras características que não suportam ser traduzidas em palavras. A imagem tem lá os seus silêncios (Frank, 2014, p. 1).


 

As imagens exercem grande fascínio, encantando o leitor, deixando-o curioso ao virar cada página, além de permitir a reflexão e aguçar a imaginação. Ao propor que as crianças contemplem uma sequência de imagens e posteriormente verbalizem a narrativa, por meio da oralidade, percebendo os detalhes percebidos por cada participante, leva a criança a ter contato com a arte, fazendo emergir uma intensa relação com o livro e com a literatura, abrindo as janelas para a imaginação e 

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para os olhares para o mundo.

Segundo Faria (2004), nos bons livros infantis ilustrados, o texto e a imagem se articulam de tal modo que ambos concorrem para a boa compreensão da narrativa; claro que a interpretação é aberta aos leitores, cada qual dentro de seu contexto e sua bagagem cultural, e, por isso, segundo o Caderno do Ministério da Educação (2010, V, p. 37 e 38):

A escola deve ter objetivos claros em cada etapa da alfabetização dos pequenos leitores, pois não é possível ao leitor iniciante (nem mesmo ao experiente) perceber de uma só vez todas as sutilezas de um texto – ambiguidades, ironia, lirismo, estratégias de persuasão, referências intertextuais e factuais, seu enquadramento num gênero, elementos de sua estrutura, da linguagem utilizada ou construída, relações entre texto e as imagens que compõem seu projeto gráfico etc. Ao trabalhar com determinado texto, cabe ao professor ter clareza sobre onde quer chegar e sobre o caminho a ser trilhado para atingir seus objetivos. (Brasil, 2010, p. 37 e 38).


 

Ao trabalhar com determinado texto, cabe ao professor ter clareza sobre onde quer chegar e sobre o caminho a ser trilhado para atingir seus objetivos. Logo, Paulino (1999, p. 55), destaca que: 

O leitor, à medida que se desenvolve, pode escolher textos a partir de seus interesses: ou artísticos como a música, a pintura, a literatura, a escultura; ou escolhe textos por outros interesses, como o de disciplinar a sociedade, de manter a saúde, o de transmitir conhecimentos científicos. Mas para o leitor que acredita na criação, na fantasia, a escolha recairá em aspectos como a apreciação, a admiração, a comoção diante de 

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algo que lhe pareça muito bonito, diferente e instigante. Diante disso, outros interesses podem surgir e ocupá-lo, pois eles sempre estiveram e estão associados à experiência artística. (Paulino, 1999, p. 55).


 

As obras literárias são de extrema importância na formação das crianças, pois possibilitam a construção de significados, elaboração de inferências, ampliação de suas experiências e internalização dos esquemas estruturais dos textos escritos e percebe-se por meio da análise de um número considerável de textos produzidos para crianças, que as sociedades delimitam subcomponentes textuais ao qual os enunciadores recorrem no momento da enunciação e uma lista de opções de figuras vem sendo produzida desde que a pedagogia propôs que publicassem textos adequados a um mundo construído histórica e ideologicamente, o mundo da criança, sendo, então, uma produção cultural modificada à medida que novos valores são sendo delimitados na sociedade e isso de fato se consolida, uma vez que quem escolhe os livros para as crianças são os adultos. E para Bakhtin (1992, p. 101):

O livro literário trata-se não de uma linguagem, mas de um diálogo de linguagens, por apresentar o texto verbal com seus variados gêneros, e também um projeto gráfico que vai da ilustração, à ambientação. Aos caracteres, ao estilo do desenho, à escolha das cores, ao formato, que dão ao conjunto da obra o caráter dialogal entre texto e imagem, tão importante para o desenvolvimento da educação estética da criança. Aqui, a palavra estética é 

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entendida como ligada à beleza e à arte, pois trata das emoções e sentimentos que objetos, naturais ou não, despertam no ser humano pelas condições de sua aparência (Bakhtin, 1992, p. 101). 


 

Percebe-se que uma grande maioria (90%) dos alunos de uma escola municipal de uma cidade do interior de São Paulo, que entram no 1º ano do ensino fundamental não se atentam aos livros como deveriam, pegam diversos livros, folheiam rapidamente e descartam sem ao menos pararem para contemplar as imagens e posteriormente quando realizadas perguntas sobre o que diz o livro, não sabem responder, pois não foram treinados para isso, ou seja, não aprenderam a apreciá-los.

Através de análise de referências bibliográficas pode-se conhecer e aproveitar relatos de experiências de autores que trabalharam com as imagens junto ao contexto literário e obtiveram resultados qualitativos na ênfase do trabalho e segundo Maia, (2007, p. 52), “quanto mais cedo for iniciado o processo de formação do leitor, maior a possibilidade de sucesso”, e ao ler uma história, a criança desenvolve todo seu potencial crítico e a partir daí ela pode pensar, duvidar, se perguntar e questionar.


 

4. DISCUSSÃO 

Diante das análises realizadas, fica evidenciado a 

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importância da interação entre texto e imagem, revelando que o componente visual está presente no processo de formação dos leitores. Diante desse conhecimento, muitos autores citados no texto têm aprofundado suas pesquisas acerca da importância do uso de imagens nos livros infantis, ampliando a compreensão das crianças durante a leitura, como destacado por Camargo (1995). 

Lins (2010), por sua vez afirma que com a tecnologia e sua evolução gráfica, permitiu uma aproximação íntima entre leitores e imagens, de modo a criar um momento onde a leitura visual seja tão fundamental, quanto a leitura verbal. Logo, o texto mostra que o mundo é rodeado de imagens e estímulos visuais, demonstrando que as crianças possuem mais familiaridades com as imagens do que com os textos escritos. 

Dessa forma, a interação entre texto e imagem presentes nos livros infantis é muito importante, uma vez que as imagens não servem somente como meras ilustrações e sim compreendem componentes ativos na construção dos significados da história, possibilitando que a criança experimente variadas formas de interpretação. 

A contribuição de Maia (2007), para a pesquisa também é fundamental para entender o processo de alfabetização, ao qual 

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destaca que a interação das crianças com livros contendo imagens é muito importante, principalmente de 2 a 5 anos, sendo que nessa faixa etária, manusear livros com poucos textos ou somente com imagens favorece a criança o desenvolvimento da linguagem e da compreensão de mundo, promovendo que crie sua visão da realidade. 

Entretanto, Aguiar (2011), enfatiza que apesar de ser importante esse contato das crianças com os livros, também é necessário e importante a presença do educador de modo a agir como mediador no processo, auxiliando a criança na reflexão das imagens, decodificando os códigos visuais que compõem as mesmas. Logo, essa reflexão permite que seja construído significados que superam a simples interpretação literal, possibilitando maior imaginação e criatividade. 

Oliveira (2008), também aponta que a formação de leitores perpassa a alfabetização convencional, aumentando a oportunidade de sucesso no processo de aprendizagem da leitura e escrita. Afirma que quando as crianças trabalham com imagens, desenvolvem muito mais que a leitura visual, pois adquirem mais capacidade reflexiva e apreciativa da arte e da cultura que o rodeia. Dessa forma, é de extrema importância que educadores reconheçam a importância das imagens na formação de leitores 

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no contexto da literatura infantil. 

Por fim, Bakhtin (1992), afirma que o livro infantil age como um diálogo entre as múltiplas linguagens, ressaltando que a palavra e a imagem se completam e enriquecem a obra de forma mútua. O autor ressalta também que essa interação entre imagem e texto é essencial, promovendo o desenvolvimento estético e cognitivo das crianças, uma vez que possibilita a exploração de diversas formas de expressões e construção de significados criativos. 

Assim, o texto deixa claro a importância da utilização de imagens na literatura infantil, evidenciando-a não somente como ferramenta complementar à leitura e compreensão de textos, mas sim como imprescindível para a formação e desenvolvimento de leitores críticos, reflexivos e também sensíveis ao mundo que o rodeia. 


 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A literatura é uma arte construída pela palavra escrita apoiada pela exposição de imagens, que juntas contribuem para o campo da linguagem. Para que uma criança aprecie uma leitura ou um texto literário, é necessário que aprenda a ouvir, a ver, a refletir sobre tudo que vê, ouve e aos poucos ocorrerá o despertar pelo prazer na leitura e na apreciação de imagens.

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As imagens por si só, instigam a curiosidade da criança para o enredo, criando expectativas e envolvimento, complementando os textos, mas para isso é preciso instigar a criança a entender que há uma relação entre o texto escrito e as ilustrações.

A formação do leitor se caracteriza por hábitos, gosto, compreensão e prática-social, pois são as experiências significativas que possibilitam à criança o contato com o aspecto lúdico da linguagem, da convivência com a arte literária, o despertar do gosto estético, o enriquecimento de experiências e numa extensão ampla, a compreensão do homem e do mundo que a cerca.

Sendo assim, é essencial que desde pequenas, as crianças experimentem intensamente a observação e a leitura de ilustrações nos livros literários, sendo capazes de notar as pequenas sutilezas que os ilustradores trazem, o que ampliará e enriquecerá a sua formação enquanto leitor. E mesmo que ainda não exista a relevância que deveria haver no contexto escolar, a pesquisa bibliográfica em questão, deixou claro e evidente a necessidade do investimento na alfabetização visual das crianças, no que tange a promoção do desenvolvimento crítico e cognitivo, afim de estimular, enriquecer e ampliar a criatividade, evitando 

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que se transformem em crianças consumidoras passivas de ilustrações que não compreendem.


 

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SOUZA, R. J.; GIROTTO, C. G. G. S. Estratégia de Leitura: para ensinar alunos a compreender o que leem. In: SOUZA, R, J. (Org.). Ler e compreender: estratégias de leitura. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010.

 

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