A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO NOS ANOS ESCOLARES INICIAIS

Por Keli Dalcin Pivotto | 27/06/2024 | Educação

A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO NOS ANOS ESCOLARES INICIAIS

 

PIVOTTO, Keli Dalcin1

BRESOLIN, Fernanda2

 

 

RESUMO
 

A educação básica no Brasil e no mundo está em constante evolução. A alfabetização é um pilar importantíssimo dessa educação e os métodos para alfabetizar crianças estão cada vez mais modernos. Hoje, a maioria dos estudos no âmbito pedagógico está se aprofundando no termo de letramento, processo este que pode ocorrer de forma concomitante à alfabetização e é essencial para o desenvolvimento do senso crítico e cidadão dos indivíduos. Alfabetizar letrando proporciona aos alunos uma nova concepção da realidade, e uma visão mais ampla do que significa aprender a ler e escrever. Desta forma, é essencial preparar o professor para esta tarefa tão importante, que é ensinar o desenvolvimento de uma competência e habilidade, e não apenas a prática de ler e escrever. Deve-se ter em mente que a linguagem não é uma competência singular e imutável, e que deve ser trabalhada como uma prática discursiva, com diversas funções e aplicações. Portanto, o objetivo do presente artigo é buscar conceituar os termos de alfabetização e letramento, além de identificar os principais desafios enfrentados pelos educadores neste processo. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e, através da leitura de autores renomados da área pedagógica, elaborado o presente artigo.

 

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Educação Infantil.
 

1 INTRODUÇÃO

 

O sistema educacional brasileiro mostra a latente deficiência no processo de alfabetização de crianças e jovens, não só na leitura e escrita, como na interpretação e compreensão de textos. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018), existem cerca de 11,8 milhões de analfabetos no país. Isso representa 7,2% da população acima de 15 anos.

Estima-se, porém, que este número seja ainda maior, uma vez que uma parcela significativa da população é considerada analfabeta funcional. Isso quer dizer que, embora o indivíduo consiga ler e decifrar símbolos, letras e palavras, ele não é capaz de entender o que lê, por mais simples que seja a informação contida no texto.

Desta forma, torna-se fundamental o papel do pedagogo nas séries iniciais do ensino fundamental, para que este possa transmitir aos alunos não só o conhecimento necessário para garantir que estes saibam ler e escrever, mas também para que se tornem indivíduos pensantes e com senso crítico. Para isso, não basta alfabetizar uma criança. É essencial que haja também o letramento.

Para garantir o sucesso da prática de alfabetização e letramento é essencial que a formação e treinamento dos educadores seja uma prática constante, uma vez que a baixa formação de profissionais da educação básica pode refletir de maneira direta no processo de desenvolvimento educativo, afetando a capacidade de aprendizagem dos alunos.

A educação básica é o pilar para a formação do indivíduo adulto, uma vez que é nela que a criança adquire o conhecimento básico que levará para o resto da vida. É nesta fase que forma-se um vínculo com o processo de aprendizado, e este vínculo pode ter consequências positivas ou negativas no futuro da criança.

Ao sair alfabetizado e letrado das séries iniciais na escola, a criança adquire habilidades essenciais para o bom desenvolvimento do restante de sua vida escolar, sendo que estes anos irão refletir em todo seu futuro – até depois do ensino superior. Portanto, é essencial que a metodologia empregada pelos professores permita também a compreensão e interpretação do que está sendo lido pela criança, uma vez que o número de adultos que são analfabetos funcionais no país é gritante.

O artigo está dividido em seções. Na primeira parte, são apresentados alguns conceitos de letramento e alfabetização, bem como seu contexto histórico, surgimento e expansão. Após, são apresentados os diferentes métodos que existem atualmente para alfabetizar e letrar alunos, destacando suas características e vantagens. Nesta seção são apresentados os métodos sintéticos, que se subdividem em método alfabético, fônico e silábico, e os métodos analíticos, classificados em palavração, sentenciação e método global.

A terceira seção traz as dificuldades e desafios que existem atualmente na alfabetização de alunos, principalmente no cenário brasileiro. Por fim, são apresentadas as considerações finais da autora referentes ao tema abordado no presente artigo.

 

2 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO – CONCEITOS E ORIGEM

 

 

 

De acordo com Fischer (2006), foi no período neolítico – aproximadamente 3000 antes de Cristo – que surgiram os primeiros vestígios de uma linguagem escrita. Sumérios e egípcios são considerados os pioneiros neste âmbito, tendo criado a escrita cuneiforme e os hieróglifos, respectivamente. A escrita surge trazendo uma infinidade de aplicações, seja no comércio, pesquisas científicas, lazer, troca de experiências, registros históricos, fins religiosos ou a simples troca de informações.

A evolução da linguística deu-se de modo exponencial, principalmente nos últimos séculos, desenvolvendo-se em ritmos diferentes em cada região do globo terrestre, o que deu origem às diversas formas de escrita distintas hoje existentes. Se antigamente apenas um seleto grupo dominava esta habilidade, nos dias atuais a escrita e sua compreensão são essenciais para a vida em sociedade (FISCHER, 2006).

Surge, portanto, o conceito de alfabetização. O dicionário define alfabetização como a ação de alfabetizar; ensinar a ler e a escrever; ação e tornar o indivíduo capaz de ler e escrever. O termo conhecido como alfabetização diz respeito à capacidade de ensino e aprendizagem de uma linguagem escrita (SOARES; BATISTA, 2005).

De acordo com Soares e Batista (2005), dominar a tecnologia de uma linguagem escrita envolve e exige alguns aspectos, como o entendimento de procedimentos referentes ao funcionamento da linguagem representada (aqui se enquadram o entendimento das propriedades do signo linguístico e a automatização das relações entre a escrita e o que ela representa) e à capacidade (tanto motora quanto cognitiva, como seguir a direção correta das letras e palavras em uma página, ou a coordenação necessária para manipular um lápis) que permita manipular instrumentos e equipamentos inerentes à escrita.

O letramento, por outro lado, possui uma história mais recente, sendo que seu surgimento refere-se “à necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais de leitura e de escrita mais avançadas e complexas que as práticas do ler e do escrever resultantes da aprendizagem do sistema de escrita” (SOARES, 2004, p. 6). Para Tfouni et al. (2018, p. 17):

 

O letramento, pensado aqui como um processo mais amplo que a alfabetização e que a contém e determina, está relacionado com a existência e a influência de um sistema de escrita, socialmente vigente em uma sociedade letrada.

 

De acordo com Soares (2004), desde o fim do século XIX o conceito de letramento como é conhecido hoje começou a fazer parte da realidade da área educacional de países como Inglaterra e Estados Unidos. Em outros países, inclusive Brasil, este conceito começou a aparecer em meados da década de 80. Foi também nesta época que a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) ampliou o termo “alfabetização” para “alfabetização funcional” em suas cartilhas e recomendações.

O conceito de analfabetos funcionais tem ganhado destaque no âmbito escolar. É considerado um analfabeto funcional o indivíduo que possui a capacidade de reconhecer letras, números e símbolos, mas que não são capazes de compreender e interpretar nem mesmo textos simples. Conforme Moreira (2000), estes indivíduos podem até possuir certo grau de alfabetização, entretanto, este é insuficiente para que exerçam funções básicas que a atual sociedade exige, apresentando dificuldades em situações típicas do cotidiano, no trabalho, mercado, etc.

Desta forma, surgiu uma necessidade de ampliar o conceito de alfabetização, criando-se assim o termo letramento. Segundo Soares e Batista (2005, p. 50):

 

Hoje, a alfabetização – o saber codificar e decodificar, o domínio das “primeiras letras”, segundo a definição do dicionário Houaiss – não é mais suficiente. A sociedade atual, extremamente grafocêntrica, isto é, centrada na escrita, exige também o saber utilizar a linguagem escrita nas situações em que esta é necessária, lendo e produzindo textos com competência.

 

Para os autores, letramento diz respeito não só à leitura e entendimento de letras e números, mas às ações e habilidades que estão envolvidas no uso da linguagem escrita, e que são essenciais para a convivência e participação em sociedade (SOARES; BATISTA, 2005). Existe um texto que traduz de forma simplificada os dois conceitos – letramento e alfabetização –, que sugere que uma pessoa pode ser letrada e não alfabetizada, bem como o inverso.

 

Um adulto pode ser analfabeto e letrado: não sabe ler nem escrever, mas usa a escrita: pede a alguém que escreva por ele, dita uma carta, por exemplo (e é interessante que, quando dita, usa as convenções e estruturas linguísticas próprias da linguagem escrita, evidenciando que conhece as peculiaridades da linguagem escrita) – não sabe escrever, mas conhece as funções da escrita, usa-as, lançando mão de um “instrumento” que é o alfabetizado (que funciona como uma máquina de escrever...); pede a alguém que leia para ele a carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um ônibus – não sabe ler, mas conhece as funções da escrita, e usa-a, lançando mão do alfabetizado. É analfabeto, mas é, de certa forma, letrado, ou tem um certo nível de letramento. Uma criança pode ainda não ser alfabetizada, mas ser letrada: uma criança que vive num contexto de letramento, que convive com livros, que ouve histórias lidas por adultos, que vê adultos lendo e escrevendo, cultiva e exerce práticas de leitura e de escrita: toma o livro e finge que está lendo (e aqui de novo é interessante observar que, quando finge ler, usa as convenções e estruturas linguísticas próprias da narrativa escrita), toma papel e lápis e “escreve” uma carta, uma história. Ainda não aprendeu a ler e escrever, mas é, de certa forma, letrada, tem já um certo nível de letramento. Uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada: sabe ler e escrever, mas não cultiva nem exerce práticas de leitura e de escrita, não lê livros, jornais, revistas, ou não é capaz de interpretar um texto lido; tem dificuldades para escrever uma carta, até um telegrama – é alfabetizada, mas não letrada (SOARES, 1999, p. 23).

 

Desta forma, torna-se evidente a importância da inter-relação entre o letramento e a alfabetização. São conceitos que, embora dissociáveis, devem andar juntos em busca do pleno desenvolvimento das habilidades não só linguísticas, como também sociais, de quem aprende uma linguagem escrita.

Santos (2014) ressalta que o termo letramento já foi amplamente discutido no cenário educacional brasileiro, sendo importante considerar tanto as diferenças entre os termos de letramento e alfabetização quando a dependência e inseparabilidade destes. É necessário que os educadores consigam, portanto, ensinar alunos a ler e escrever considerando os contextos sociais da prática, sabendo usar a linguagem de acordo com as necessidades e interesses que se apresentam no cotidiano.

Santos (2014, p. 8) traz uma reflexão sobre a distinção entre os dois termos:

 

Assim sendo, alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita: substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas práticas de produção de textos.

 

A importância da compreensão e interpretação de textos dentro de uma sociedade foi explicada também por Veloso, Paiva e Veiga (2018), sendo que os autores sugerem que:

 

A alfabetização e o uso social da leitura e da escrita apresentaram-se como motor de mudanças em seus usuários, do ponto de vista cognitivo, político, econômico, social e cultural; sendo que, para as sociedades, seria considerado um traço da modernidade, uma condição para a civilização e o progresso.

2.1 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

 

Atualmente, alguns autores sugerem a indissociação dos conceitos de alfabetização e letramento, defendendo a interdependência entre eles. De acordo com Colello (2004), defensores do Modelo Autônomo partem do princípio de que a linguagem possui autonomia que deve ser respeitada, sendo que tal aprendizado só poderia ser aprendido através de um processo único. Já o modelo ideológico busca a conjugação entre o momento de aprendizagem e de fazer uso da aprendizagem, ou seja, admite certa pluralidade e aspectos culturais da linguagem.

Segundo Capovilla e Capovilla (2001), existem três níveis ou estágios para o aprendizado da leitura e da escrita:

 

  • Logográfico: diz respeito à visualização da palavra escrita como uma representação pictoideográfica ou desenho visual;

  • Alfabético: se refere ao próximo estágio do desenvolvimento fonológico do aluno, na qual este passa a realizar a decodificação de grafias e fonemas;

  • Ortográfico: neste estágio o aluno desenvolve a rota lexical das palavras, aprendendo por fim a realizar a leitura visual direta de palavras de alta frequência.

 

Dentre os métodos conhecidos na literatura para alfabetização, destacam-se os sintéticos, que se subdividem em método alfabético, fônico e silábico, e os métodos analíticos, classificados em palavração, sentenciação e método global (FRADE, 2007).

Dentre as vantagens dos métodos sintéticos, que iniciam o processo de alfabetização com unidades sonoras ou gráficas, ou seja, que vão das partes ao todo. Nestes métodos, a prioridade dada ao som e sua relação com os sinais gráficos, promovendo a transformação da fala em sinais escritos. Já os métodos analíticos partem do todo para as partes, e privilegiam a compreensão e entendimento (FRADE, 2007).

A Figura 1 apresenta um esquema desta divisão de métodos, e os mesmos serão explicados de forma mais detalhada posteriormente.

 

Figura 1 – Métodos de Alfabetização

 

Fonte: Visvanathan (2008, p. 23).

 

2.1.1 Método Alfabético

 

O método alfabético – também chamado de método de soletração – foi o mais utilizado no passado, e consiste em decorar oralmente as letras do alfabeto, conforme exposto por Frade (2007, p. 22):

 

A partir de vários materiais e de depoimentos de alunos constata-se em sua aplicação uma sequência modelar: a decoração oral das letras do alfabeto, seu reconhecimento posterior em pequenas sequências e numa sequência de todo o alfabeto e, finalmente, de letras isoladas. Em seguida a decoração de todos os casos possíveis de combinações silábicas, que eram memorizadas sem que se estabelecesse a relação entre o que era reconhecido graficamente e o que as letras representavam, ou seja, a fala.

 

Esta maneira de alfabetizar consiste basicamente em forçar o aprendiz a decorar e reconhecer as letras, primeiramente em uma ordem, e, após, em palavras ou textos. Desta forma, o aluno associa o formato da letra ao seu som e ao seu nome. É considerado um método de alfabetização arcaico, mas ainda há registros de sua utilização no país, principalmente em regiões do nordeste (FRADE, 2007).

 

2.1.2 Método Fonético

 

Esta técnica de alfabetização é amplamente utilizada nos dias atuais, e sugere que o aluno deve ser introduzido a textos gradualmente, iniciando com textos mais fáceis e evoluindo para outros de maior complexidade conforme suas habilidades são desenvolvidas. Alguns autores, como Capovilla e Capovilla (2007), sugerem que o método fônico é capaz de produzir indivíduos com maior capacidade de leitura e interpretação.

O método fonético ou fônico foi desenvolvido inicialmente na Alemanha e França, cujo princípio básico é relacionar diretamente um fonema a um grafema, iniciando com sons mais simples (como as vogais) e, conforme o avanço do aluno, partindo para sons mais complexos (consoantes) e posteriormente para sílabas e palavras que utilizem tais fonemas e grafemas (FRADE, 2007).

 

2.1.3 Método Silábico

 

O método silábico consiste num aprimoramento do método fonético, onde a introdução se dá diretamente através das sílabas, o que pode facilitar a relação entre o fonema e o grafema, tornando a aprendizagem mais fácil. Neste método também ocorre o avanço gradual do aprendizado, partindo de sílabas mais simples e, após, aumentando a dificuldade conforme o avanço do aluno (CHARTIER; HÉBRARD, 2001).

Chartier e Hébrard (2001, p. 145) explicam o método silábico da seguinte forma:

 

Quando se dispõe de uma consoante e de uma vogal, já se pode fazer “ler” as sílabas e, à medida que se avança nas lições, as palavras. Adota-se aqui a pronúncia da consoante por sua “articulação pura”: nem “enne”, nem “neu”, mas “n”. Assim, podemos fazer construir sem soletração “n” ...a “na”. Quando se dispõe de pequenas palavras, estas últimas são imediatamente reutilizadas nas frases orais através das quais seu sentido será fixado. Ao longo desta aprendizagem, a memorização dos elementos se faz, de maneira complementar, pela leitura e pela escrita.

 

Para Santos (2016, p. 12), o método silábico pode e deve ser utilizado em conjunto com recursos audiovisuais:

 

Nesse método também se aplica a metodologia áudio-visual, como também no método fônico, onde são lançadas imagens onde, por exemplo, se escreve “carro” e se coloca uma imagem de um carro ao lado. Isso faz com que a criança possa fazer a associação entre palavra e objeto e facilita muito da alfabetização infantil.
 

É considerado um aperfeiçoamento do método fônico, pois, embora também trabalhe com o som das letras, utiliza a sílaba como referência principal e a estrutura mais importante da palavra (SANTOS, 2016).

 

2.1.4 Método da Palavração

 

A história sugere que o método de alfabetização através da palavração surgiu no século XVII. Esta técnica consiste na introdução de palavras em grupos ou conjuntos, sendo que o aluno aprende a distingui-las pela configuração da grafia e pela visualização. Alguns autores também sugerem o uso de figuras no início do processo, de modo a garantir a memorização por parte do aluno (FRADE, 2007).

 

2.1.5 Método da Sentenciação

 

De acordo com Frade (2007, p. 27), neste método “a unidade é a sentença que, depois de reconhecida globalmente e compreendida, será decomposta em palavras e, finalmente, em sílabas”. Outro aspecto deste método de alfabetização é a comparação entre palavras, a fim de buscar e isolar elementos (palavras) de modo a formar novas palavras.

 

2.1.6 Método Global

 

O método de alfabetização global surgiu na França na década de 1920, e, segundo Chartier e Hébrard (2001), a técnica inicia através da leitura de um texto, no qual se trabalha por certo tempo, onde o aprendiz irá aprender e memorizar o sentido geral do que está contido no texto. Após este entendimento, analisam-se as sentenças e identificam-se as palavras, comparando então a composição de sílabas.

 

 

 

 

2.2 ALFABETIZAR LETRANDO NO SÉCULO XXI

 

É imprescindível ressaltar o papel do professor no processo de alfabetização e letramento de alunos. Devido a isso, Soares e Batista (2005) destaca que, de modo a vencer os desafios e obstáculos do letramento, é essencial que o educador domine sua área de conhecimento. Em outras palavras, o professor deve ser letrado em sua área de ensino para que tenha capacidade de ensinar seus alunos.

O profissional educador deve ser um bom leitor e produtor de textos para conseguir letrar seus alunos. Segundo Santos (2014, p. 9) “Isso se refere mais particularmente à formação que o professor deve ter no conteúdo da área de conhecimento que elegeu”. Ainda conforme Santos (2014, p. 10):

 

Para alfabetizar letrando, mais que conhecer um determinado método, o professor precisa conhecer e conceber formas de alfabetização que lhe propiciem fazer a mediação entre os conhecimentos de mundo daqueles que estão se alfabetizando e as diferentes modalidades de linguagem escrita com as quais irá trabalhar, assumindo-se interlocutor nesse processo, catalisando e articulando os diferentes dizeres dos aprendizes, estabelecendo uma relação pedagógica marcada pelo movimento interdiscursivo, intertextual, dialógico que oportunizará, aos alunos, a ocupação de diferentes papéis sociais.

 

Professores devem, portanto, ser mais que alfabetizadores. Devem incentivar o âmbito criativo, o diálogo, a troca de experiências e interações entre seus alunos, de modo a torná-los mais que adultos que saibam ler e escrever, mas cidadãos capazes de pensar e debater criticamente com a sociedade (SANTOS, 2014).

Dentre os maiores desafios enfrentados pelos professores está, sem dúvida, o sucateamento da educação pública básica. De acordo com Cury (2002), garantir o direto à educação é um dever do estado, sendo esta um serviço público. Entretanto, é importante lembrar que o Brasil é um país de realidades contrastantes, com muitas desigualdades sociais. Estas desigualdades acabam trazendo para o âmbito escolar problemas que não deveriam ser da escola, principalmente em regiões vulneráveis, que sofrem com a violência e a fome.

Para tentar amenizar tais problemas e desafios, foi criado o FUNDESCOLA, um Fundo de Fortalecimento da Escola que visa promover ações que permitam melhorar a qualidade das escolas do ensino fundamental brasileiras. Além deste, existem outros programas do governo federal, voltados para as populações mais vulneráveis, como o Bolsa Escola, que incentiva a permanência de crianças provindas de famílias e baixa renda no ambiente escolar (CURY, 2002).

Além disso, para Santos (2014) existe uma dificuldade latente no que se refere à escolarização dos próprios alfabetizadores, uma vez que muitos destes não possuem uma formação específica nesta área. Muitos profissionais que atuam com a alfabetização também passaram por dificuldades e foram vítimas das desigualdades sociais, e é essencial que consigam ultrapassar estas barreiras, com o auxílio de coordenadores pedagógicos bem capacitados para enfrentar tais situações. Somente com uma equipe de apoio pedagógico bem estruturada é que alcança-se o sucesso no processo de alfabetizar e letrar crianças.

Existe ainda um terceiro desafio para a prática de alfabetizar letrando: o ensino tradicional e rígido da escrita, que impossibilita que os alfabetizandos tragam a sua própria realidade para dentro da sala de aula. Esse engessamento do sistema de ensino apresenta a prática do ler e escrever como sendo um processo maçante ligado estritamente à vida escolar dos alunos, o que pode acabar distanciando-os.

É essencial que sejam mostrados os caminhos que podem ser abertos através do letramento, que ultrapassam a barreira escolar e formam indivíduos conscientes, críticos e participativos na sociedade, contribuindo para seu desenvolvimento e evolução (SANTOS, 2014).


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A formação continuada dos profissionais que trabalham com a alfabetização e o letramento é essencial para garantir o sucesso do processo de aprendizagem. Como pedagogos e educadores, é fundamental que busquem-se sempre novas formas de incentivar a leitura, escrita e produção de textos nas séries iniciais. É nesta época que desenvolve-se o gosto pela leitura, e, se o processo for feito de maneira adequada, o indivíduo terá muito mais facilidade no aprendizado futuro.

Por fim, destaca-se que as práticas realizadas em sala de aula em séries iniciais devem ser voltadas e orientadas para a promoção da alfabetização na perspectiva do letramento, construindo habilidades e capacidades que permitam o uso efetivo da tecnologia da linguagem escrita.

Portanto, o profissional responsável por ensinar tais aspectos linguísticos deve levar em conta a realidade em que os aprendizes estão inseridos, tentando trazê-la para dentro da sala de aula, possibilitando assim trocas de experiência e compartilhamento de diferentes culturas e aspectos sociais.

 

REFERÊNCIAS

 


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CHARTIER, A. M.; HÉBRARD, J. Método silábico e método global: alguns esclarecimentos históricos. História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, vol. 10, p. 141-154, 2001.

 

COLELLO, S. M. G. Alfabetização e letramento: repensando o ensino da língua escrita. Videtur, Porto, n. 43-52, 2004.

 

CURY, C. R. J. A educação básica no Brasil. Educação Social, Campinas, vol. 23, n. 80, p. 168-200, 2002.

 

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FRADE, I. C. A. S. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Santa Maria, vol. 32, n. 1, p. 21-40, 2007.

 

FISCHER, S. R. História da Leitura. Editora UNESP, 348p., 2006.

 

MOREIRA, D. A. Analfabetismo funcional: introdução ao problema. São Paulo, FEA USP e FECAP – Julho 2000. Disponível em: . Acesso em 10 dez. 2019.

 

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______. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, n. 25, 2004.

 

SOARES, M.; BATISTA, A. A. G. Alfabetização e letramento. Editora Ceale, Belo Horizonte, 64p., 2005.

 

SANTOS, R. C. Alfabetizar letrando. Revista Brasileira de Educação e Saúde, vol. 4, n. 1, p. 7-11, 2014.

 

SANTOS, S. C. Análise dos métodos de alfabetização em séries iniciais. Universidade Federal de Goiás, 2016.

 

TFOUNI, L. V.; PEREIRA, A. C.; ASSOLINI, F. E. P. Letramento e alfabetização e o cotidiano: vozes dispersas, caminhos alternativos. Calidoscópio, vol. 16, n. 1, p. 16-24, 2018.

 

VELOSO, G. M.; PAIVA, A.; VEIGA, C. G. Método de alfabetização global de contos e o papel da leitura como renovação das práticas e modernidade pedagógica (1918-1938). Educação em Revista, n. 34, 2018.

 

VISVANATHAN. C. Como funcionam os métodos de alfabetização. Publicado em 22 de julho de 2008 (atualizado em 22 de julho de 2008). Disponível em: . Acesso em 12 dez. 2019.

1 Aluna, Pós em Alfabetização e Letramento - UNINTER.

2 Professora Orientadora de TCC do Grupo UNINTER, graduada em Comunicação Social - Jornalismo (Universidade Tuiuti do Paraná) e em Pedagogia (UNINTER). Pós-graduada em Alfabetização e Letramento (UNINTER).

 

 

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