A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE PARA O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

Por Angela Pelaes | 01/10/2009 | Educação

RESUMO
O artigo trata da importância do desenvolvimento da afetividade paralelamente ao desenvolvimento cognitivo nas escolas, mostrando por meio das teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon, como estão intimamente relacionados. Oferece contribuições para que o professor desenvolva uma relação de afeto com seus alunos e discute a necessidade de atenção a essa dimensão em sala de aula. O artigo tem o objetivo de: discutir a importância do estudo dos teóricos: Piaget, Wallon e Vygotsky, na formação cognitiva e afetiva na criança, analisar como se dá o processo de ensino - aprendizagem nas crianças até 12 anos e analisar de que forma as escolas podem trabalhar a partir dos conceitos dos três autores na formação cognitiva dos estudantes. No primeiro momento, veremos como surgiu o interesse de se fazer uma pesquisa no campo da psicopedagogia, os principais pensadores, um breve resumo histórico das questões que nortearam a pesquisa. Em seguida, os três teóricos serão apresentados de maneira a focalizar suas teorias e relações no campo da educação. Será concluído, abordando as perspectivas psicopedagógica para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Palavras-chave: Afetividade. Cognição. Ensino – Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e a dos anjos (...) se eu não tivesse amor. Eu nada seria.

(Primeira carta de São Paulo aos Coríntios, cap. 13)

A idéia de pesquisar o tema afetividade e cognição: o processo de ensino - aprendizagem nas series iniciais, surgiu após ter concluído os estágios dos módulos 8 e 10 e após ter concluído a disciplina de Introdução a Psicopedagogia do módulo 11, o qual se fundamentou basicamente nas teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon.

Durante todo o curso de Pedagogia foram feitas reflexões sobre as reais contribuições da psicologia para a educação, de forma a desenvolver capacidades e habilidades para futura atuação como mediadores do conhecimento. Pensando nisso surgiu a questão: Como se dá o processo de afetividade/ cognição e aprendizagem com as crianças até 12 anos?

Estudos na área de desenvolvimento humano têm mostrado como questões afetivas e cognitivas influenciam diretamente no processo ensino-aprendizagem. Dentre os teóricos construtivistas enfatizados nesse artigo, Wallon e Vygotsky são proeminentes no estudo de como essas duas faculdades, agindo de forma dialética, contribuem no desenvolvimento da criança.
Levando em consideração esse processo, surgiram alguns questionamentos como:
a) Quais as contribuições que Piaget, Wallon e Vygotsky trouxeram para o desenvolvimento cognitivo no processo de desenvolvimento humano; b) Como a afetividade influencia no processo cognitivo; c) De que forma a escola pode atuar nessa perspectiva psicopedagógica.
Para responder estas questões, primeiramente serão analisadas as teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon separadamente, levando em conta as contribuições para o campo educacional, abordando o processo de cognição e afetividade sob a ótica dos três estudiosos, concluindo assim a perspectiva psicopedagógica e a escola.
A pesquisa será desenvolvida através de coleta de dados por meio de pesquisas bibliográficas.

I- DESENVOLVIMENTO HUMANO: UMA QUESTÃO PSICOPEDAGÓGICA
O estudo da psicologia aplicada na educação tem sido intensa nos últimos anos sob

a luz de alguns teóricos, dentre eles Piaget, Vygotsky e Wallon que serão aqui abordados separadamente. A escola é o segundo grupo da escala social mais importante na vida das crianças. Hoje, boa parte delas, ingressam nas instituições aos quatro meses de idade.
De acordo com De Paula e Mendonça (2007), para o professor é de fundamental importância a compreensão do desenvolvimento humano nos primeiros anos de vida. Esse conhecimento capacita o educador, tornando-o apto a entender as características psíquicas, biológicas e comportamentais da criança em uma fase específica do seu crescimento, possibilitando o reconhecimento de possíveis deficiências no processo, bem como a devida intervenção.
Durante muitos anos, a dificuldade de aprendizagem era vista como problema orgânico. Depois da aplicação de teorias psicanalíticas na área médica essa visão foi modificada com as novas concepções sobre tais dificuldades. Surge o movimento da Escola Nova que durou dos anos 20 até 60. Por meio de experiências educativas existentes nos Estados Unidos e na Europa, o Brasil se empenhou em encontrar respostas para os problemas educacionais que buscava enfatizar uma pedagogia humanística.

Segundo Gouvêa (2005) só a partir da década de 80 a psicopedagogia conseguiu se estruturar graças a sua funcionalidade e eficiência ao tratar com dificuldades de aprendizagem, atuando de forma direta nas escolas de todo o mundo.
O processo de ensino-aprendizagem vai além dos conteúdos didáticos. É necessário conhecer e acompanhar individualmente o desenvolvimento de cada criança durante o período escolar para que seja proporcionada a cada estudante uma metodologia que facilite seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor.

II- PIAGET E OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO


Piaget desenvolveu estudos científicos em diversos campos como a psicologia do desenvolvimento, epistemologia genética e a teoria cognitiva.

O indivíduo tende a um equilíbrio, que está relacionado a um comportamento adaptativo em relação à natureza, que por sua vez sugere um sujeito de características biológicas inegáveis, as quais são fonte de construção da inteligência. O desenvolvimento e caracterizado por um processo de sucessivas equilibrações. O desenvolvimento psíquico começa quando nascemos e segue até a maturidade, sendo comparável ao crescimento orgânico: com este, orienta-se, essencialmente, para o equilíbrio (PIAGET, 1974, p.13).

Esse desenvolvimento apesar de contínuo é caracterizado por determinadas formas de pensar e agir em diferentes idades, formas que o autor denominou estágios e refletem os diferentes modos de a criança pensar ao longo de sua vida. Segundo Piaget, o desenvolvimento passa por quatro diferentes estágios:
O sensório-motor (0 a 2 anos aproximadamente), a criança procura observar os objetos que a rodeia e passa a ter controle motor, adquirindo conhecimentos empíricos que são controlados por informações sensoriais imediatas. A principal característica desse período é a ausência da função semiótica. A inteligência é trabalhada por meio de percepções e ações, como o deslocamento do próprio corpo. A linguagem começa por repetição de sílabas e vai até às palavras que não são frases, mas indicadores de ações já que não representa mentalmente os objetos. A criança nessa fase reage a isolamento e indiferença quanto a sua conduta social, pois acredita que o mundo é apenas ela mesma.
O pré-operatório (2 a 7 anos aproximadamente), a criança procura desenvolver a habilidade verbal. Aqui, ela já consegue nomear objetos e raciocinar intuitivamente, embora ainda não consiga coordenar operações fundamentais. De dois a quatro anos a criança vive o período simbólico, ou seja, a função semiótica permite o surgimento da imitação, linguagem, dramatização, desenho, etc., criando imagens mentais na ausência do objeto ou da ação. É conhecido também como o período da fantasia e do jogo simbólico. A linguagem está no nível de monólogo. Todas as crianças falam ao mesmo tempo sem ter uma linearidade com o que o outro está dizendo. Piaget denomina algumas expressões verbais delas como nominalismo (nomear objetos que ainda não saibam o nome), egocentrismo e superdeterminação (teimosia). Dos quatro a oito anos as crianças vivem o período intuitivo que é marcado pelo desejo de explicação dos fenômenos, onde “os por quês” são freqüentes. Aqui elas já distinguem a fantasia do real.
O estágio operatório concreto (7 a 11 anos aproximadamente), as crianças começam a lidar com conceitos abstratos e é caracterizado por uma constante habilidade de solucionar problemas concretos e por uma lógica interna. O sujeito já é capaz de organizar o mundo da forma lógica ou operatória. Nesse momento as crianças formam grupos, círculos de amizades, compreendendo regras e estabelecem compromissos. Mas, discutir pontos de vista e chegar a um senso comum só será possível na fase seguinte.
O operatório formal (aproximadamente a partir dos 12 anos), a criança inicia sua transição para o modo de pensar do adulto, sendo capaz de refletir sobre idéias abstratas e raciocinar sistematicamente. A partir de estruturas lógico-matemático e hipotético-dedutivo é possível a dialética, permitindo uma conclusão diante de uma discussão e estabelecer relações cooperativas e reciprocidade em grupos sociais.
De acordo com a teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual possui dois componentes que são o cognitivo e o afetivo. Ambos se dão paralelamente e é de fundamental importância o cuidado com o aspecto afetivo no processo de ensino-aprendizagem, pois ela é a dimensão que representa a dificuldade na tomada de consciência do eu e do outro.


III- O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB A LUZ DE VYGOTSKY


A teoria de Vygotsky fundamenta-se no desenvolvimento humano como resultado de um processo sócio-histórico, uma maior importância ao papel da linguagem e da aprendizagem, tendo como centro das atenções a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para Vygotsky (1988),

“a formação de conceitos se da através das relações entre o pensamento e a linguagem, questões culturais na construção de significados, processo de internalização e ao papel da escola enquanto transmissora de conhecimentos.”

Ele propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores tais como a internalização mediada pela cultura.
Segundo Vygotsky, existe a Zona de Desenvolvimento Proximal, que diz respeito a distancia entre o nível de desenvolvimento atual e o nível potencial do desenvolvimento. A idéia de Mediação enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por varias relações. A linguagem representa uma grande importância para a evolução humana. É por meio dela que criamos conceitos, formas de organização do real, a mediação entre sujeito e o objeto do conhecimento. Na Cultura que é fornecido ao ser humano os sistemas simbólicos de representação da realidade, que estão em constante progresso de recriação e reinterpretarão de informações, conceitos e significações.
Para o funcionamento do psicológico, o desenvolvimento do processo de internalização que envolve uma atividade externa que deve ser modificada para se tornar uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal. A interação social se dá no pensamento, memória, percepção e atenção. A motivação, a necessidade, impulso, emoção e afeto, parte através do pensamento. Outra importância da relação ensino- aprendizagem no aspecto emocional se dá através do que Vygotsky classifica como influência da educação no sentimento.     

“Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o pensamento, devemos fazer com que as atividades sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato impregnado de emoção é recordado mais sólido, firme e prolongado que um feito indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno tente afetar seu sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos importante que o pensamento” (Vygotsky)

Assim, se para Vygotsky a emoção e o sentimento são fatores determinantes no desenvolvimento cognitivo, podemos concluir que a escola é onde a intervenção pedagógica interacional desencadeia o processo ensino-aprendizagem.

IV- WALLON E OS ASPÉCTOS AFETITIVOS


Henri Wallon num primeiro momento dedicou-se à psicopatologia e depois ao desenvolvimento da criança, tendo a consciência como fundamental questão, buscando entende-la pela sua gênese. Sua teoria aponta para dois fatores que constitui condições para cada estágio que são os fatores orgânicos e sociais. Essas características se dão em cada estagio em determinada cultura e época. Wallon (2000) aponta cinco estágios de desenvolvimento que são o impulsivo emocional, sensório motor e projetivo, personalismo, categorial e puberdade e adolescência.

O estágio impulsivo emocional (0 a 1 ano), se divide em duas fases. A primeira é chamada de impulsiva que começa no momento do nascimento e dura até o 3º mês de vida, onde a exploração do próprio corpo em relação as suas sensibilidades externas e internas são explorados por meio de movimentos bruscos e desordenados que expressam bem ou mal estar. Na segunda fase que vai do 3º mês ao 1º ano é chamado de emocional, onde já reconhece sensações como o medo e a alegria, ou seja, é capaz de se comunicar com o próprio corpo.
O estágio sensório- motor e projetivo (1 a 3 anos), a criança já percebe o espaço físico ao sentar, pegar e apontar, acompanhados pela fala. Ela já descrimina objetos, separando-os entre si e isso a prepara para o afetivo e cognitivo no próximo estágio.
No estágio do personalismo (3 a 6 anos), é marcado exploração de si mesmo como alguém diferente do outro, construindo sua subjetividade por meio de atividades de oposição e ao mesmo tempo sedução a outras pessoas.
O estágio categorial (6 a 11 anos), nesse momento a criança está em condições de exploração mental do mundo físico por meio de classificação, agrupamento, seriação, abstração e chega ao pensamento categorial que é a organização do mundo físico e compreensão mais nítida de si mesmo.
O estágio da puberdade e adolescência (11 anos em diante), o sujeito se prepara para a vida adulta passando por crises de exploração de si mesmo como uma identidade autônoma, auto-afirmação, questionamentos existenciais e ao mesmo tempo submete-se a valores impostos pela sociedade e pela família embora não compreenda ou aceite. As categorias cognitivas aqui possuem um alto nível de abstração que possibilita discriminação de limites, autonomia e dependência. Mudanças no corpo e na personalidade causam conflitos diante de si mesmo.
Em todas as fases, os aspectos motor, afetivo e cognitivo reagem a estímulos internos e externos, traduzindo a passagem do sincretismo para a diferenciação que está presente no processo de desenvolvimento. O afetivo se origina na intercepção e propriação que são responsáveis pela atividade generalizada do organismo.

V-A ESCOLA E A PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA


Na perspectiva psicopedagógica, os autores: Piaget, Vygotsky e Wallon contribuem com suas teorias de forma significativa e eficaz para a compreensão do desenvolvimento humano no processo de ensino-aprendizagem nas séries iniciais.
Jean Piaget, oferece aos professores uma teoria didática para que possam desenvolver as capacidades e habilidades cognitivas e afetivas nos alunos por meio de estímulos. É de suma importância a definição dos períodos de desenvolvimento da inteligência para que auxilie o professor no entendimento da fase que seus alunos estão passando e montar uma didática específica para o grupo.
Baseado na teoria de Vygotsky, o professor é o mediador entre o sujeito e o objeto de estudo, interferindo no processo de aprendizagem, levando em conta aspectos da linguagem, cultura, processo de internalização, função mental e zona de desenvolvimento proximal. O aluno aprende junto ao outro o que produz o grupo social seja na linguagem, valores ou conhecimentos.
Wallon propõe uma teoria pedagógica tendo o “meio” como um conjunto de circunstâncias no qual as pessoas se desenvolvem interagindo com o outro.

 

  IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O amor é um conceito diverso, repleto de contrastes, antíteses, paradoxos e peculiaridades que o tornam tão singular quanto complexo. (...) amor transcende qualquer ciência. Ele nasce, cresce e se multiplica, ocupando espaços maiores ou menores, mas sempre edificados com o que há de mais nobre no espírito e no coração do ser humano (CHALITA, 2003 P.22)”

Dessa maneira, o artigo aqui apresentado sugere que o professor compreenda as teorias do desenvolvimento humano e tenha atitude de investigador do aluno e da sua prática por meio de pesquisas na área psicopedagógica. O estudo acerca da relação entre afetividade e sua influência no processo de desenvolvimento da aprendizagem da criança com base nas teorias leva a algumas considerações. A primeira delas é o fato de que afetividade e inteligência constituem um conjunto inseparável na evolução do psiquismo da criança, pois ambas têm funções bastante definidas e quando se integram, permitem à criança alcançar níveis de pensamento cada vez mais elevados e a constituição da sua pessoa, que expressa a sua forma de ser única no mundo. Na escola, um bom ajustamento afetivo se torna condição necessária ao pleno desenvolvimento do aluno. Foram evidentes durante os estágios II e III, que as Regras de Boa Convivência e o Jogo de Xadrez foram instrumentos importantes, trabalhando tanto o aspecto afetivo quanto o cognitivo, que são indissociáveis na conduta humana. Nesse caso, o professor desempenha o papel de mediador no processo educativo, isso significa que a ação do professor precisa ser pautada no conhecimento acerca do desenvolvimento psicológico da criança e, consequentemente, das suas necessidades.

Acredito que dessa forma, o professor terá condições de tomar as decisões comprometidas com o desenvolvimento de habilidades e potencialidades, que façam desse aluno uma pessoa mais feliz e plenamente realizada em suas aprendizagens.

  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHALITA, G; Pedagogia do Amor: a contribuição das histórias universais para a formação de valores das novas gerações – São Paulo: 19ª Ed. - Editora Gente, 2003. 208 p.

PAULA, E M A T. de; MENDONÇA, F W. / Psicologia do Desenvolvimento./- Curitiba: IESDE Brasil S.A. 160 p.

SÁ, M S M; VALLE, B de B R do; DELOU, C M C; et al./        Introdução à Psicopedagogia. / 2ª Ed – Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008. 140 p.