A IMPLICATURA E A PARÁFRASE NAS PRÁTICAS CONVERSACIONAIS

Por Roseli Gonçalves | 27/02/2009 | Educação

 

As implicaturas conversacionais propostas por H. P. GRICE constituem um exemplo paradigmático do poder de explicação pragmática dos fenômenos lingüísticos, especificamente quando se trata de significar "algo mais" do que é realmente dito Grice introduz os termos técnicos implicitar , implicatura e implicitado. Seu objetivo é organizar, ao redor deles, um sistema explicativo dessa significação que (A) e (B) podem entender, mas que, efetivamente, não foi dita. É importante ressaltar, aqui, que Grice usa "dito" como o significado expresso pelo enunciado em termos literais ou, em outras palavras, como a proposição em seu valor semântico.

Existem, dois tipos básicos de implicaturas, segundo Grice: Implicatura Convencional que está presa ao significado convencional das palavras e a Implicatura Conversacional que não depende da significação usual, sendo determinada por certos princípios básicos do ato comunicativo.

As implicaturas convencionais são: presas à força convencional do significado das palavras e reconhecidas pelo interlocutor mediante a sua intuição lingüística. Não dependem de um trabalho de cálculo dedutivo.

            Já as implicaturas conversacionais devem ser: calculáveis ou dedutíveis, canceláveis, não-separáveis, indetermináveis, externas ao sentido do enunciado - não-convencionais e não determinadas pelo dito, mas pelo dizer e dito.

As implicaturas conversacionais podem subdividir-se, segundo Grice, em dois tipos:  Implicaturas Conversacionais Generalizadas e Implicaturas Conversacionais Particularizadas.       As Implicaturas Conversacionais Generalizadas são aquelas que não dependem de especificações de um contexto particular. Consideremos o caso abaixo: "Teresa deu presentes a um bebê ontem." Independentemente do contexto, a frase implica que o bebê não é filho de Teresa. Alias, se alguém acrescentasse em seguida que o bebê em questão era filho dela, a frase surpreenderia por parecer estar quebrando princípio da cooperação. Grice observa que esse tipo de implicatura é muito semelhante às convencionais. Enquanto que as Implicaturas Conversacionais Particularizadas São as que exigem, para que possam ser calculadas, informações de um contexto específico como no exemplo a seguir: Maria está tão feliz agora.

 

 

* Graduanda do curso de Letras Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará.

 

Está frase poderia implicar que "Maria fez as pazes com o namorado" desde que o contexto particular fosse este.

 

Examinemos, inicialmente, a Implicatura Convencional tal como foi estabelecida, considerando os enunciados abaixo:

(1) "José é trabalhador, contudo é pobre."
(2) "João é carioca, portanto não é um homem sério."

 

No enunciado (1), está dito que José é trabalhador e que é pobre, mas não está dito que, sendo trabalhador, não devesse ser pobre. Isso está implicado através do significado convencional das palavras e, no caso, indicado através da conjunção "contudo" . No exemplo (2), ocorre a mesma coisa. "João é carioca" e "João não é um homem sério" é o dito. Há, entretanto, uma implicatura convencional a partir da indicação feita pelo conetivo "portanto" de que o carioca não é serio e isso não foi, realmente, dito.

 

Exemplos de Implicaturas Conversacionais:

 

 dedutíveis

 

(A) Hoje saiu no jornal o resultado dos aprovados da UFPA.

(B)  Tem uma banca de jornal logo ali na esquina.

(A) acredita que (B) está respeitando o princípio da cooperação e, então calcula: se (B) disse que há uma banca de jornal na esquina ao ouvir a minha frase, (B) quer implicar que : Devo ir à banca de jornal. Ela deve estar aberta. Ela deve ter jornal do dia. Eu devo comprá-lo. Isso irá resolver meu problema.

A está parado, obviamente em função de um problema no carro, e dele se

aproxima B; a seguinte conversação ocorre:

 

(1) A - Estou sem gasolina.

 

B - Há um posto na próxima esquina.

 

(Interpretação:  B estaria infringindo a máxima “Seja relevante” a menos que ele pense, ou pense que seja possível que o posto esteja aberto e tenha gasolina para vender; assim, ele implicitou que o posto está aberto, ou pelo menos pode estar aberto, etc.).

 

 

Canceláveis

 

Em primeiro lugar, uma implicatura conversacional pode ser cancelada, simplesmente porque o princípio da cooperação que deve estar sendo respeitado para que ela exista, pode não sê-lo num contexto particular. Consideremos o seguinte exemplo:

 

(A) Posso usar seu celular?

(B) Agora não.

(A) pode entender que (B) está implicando que (A) não deve ligar do celular. (B), porém, pode não estar obedecendo ao princípio da cooperação e, simplesmente, estar protestando contra o gesto de (A).

não-separáveis

Essa propriedade diz respeito ao fato de que as implicaturas conversacionais, para que possam ser calculadas, exigem um conhecimento contextual, além do conteúdo semântico da expressão, não dependendo, portanto, do modo da expressão. Em outras palavras, a implicatura permanecerá desde que se diga a mesma coisa ainda que de outra maneira, com sinônimos, por exemplo.

A) O meu dente está doendo.                          Estou com dor de dente

(B) Há um consultório dentário aqui perto.                  Aqui próximo há um dentista

O diálogo, no caso, tanto no modo de expressão X quanto no modo de expressão Y, revela a mesma implicatura, tendo em vista que o dito não se alterou em X ou Y.

indetermináveis

Neste caso, a metáfora parece ser um exemplo bastante evidente.

(A) O que você acha do professor André?

(B) O professor André é uma fera.

Poderíamos supor que (B) quisesse implicar que o professor é excelente para ministrar aula, em outro contexto que ele é agressivo e arrogante. Enfim, como o cálculo da implicatura pode, às vezes, referir-se a uma lista aberta de implicitados, estes podem ser indeterminados como, alias, é comum nos casos de subentendidos.

não-convencionais

Essa propriedade diz respeito à diferença que Grice estabelece entre implicaturas conversacionais e convencionais. Ele até admite que uma implicatura conversacional possa tornar-se convencionalizada, mas, em princípio, não deve fazer parte da força convencional das palavras do enunciado.

(A) Você acha que Português é uma coisa simples?

(B) Tanto quanto estequiometria.

Neste exemplo (B) deseja implicar que Português é muito difícil e complexo, e isso não faz parte do significado literal do seu enunciado.

 

não determinadas pelo dito

Aqui, Grice tenta demonstrar que só as condições -de- verdade não determinam a implicatura. O que é dito pode ser verdadeiro e o implicado, falso.

(A) Será que Paulo vai fazer a bobagem de faltar aula hoje?

(B) Se ele faltar, faltou.

 

“Paulo pode ter viajado" é o dito e é verdadeiro. "Não adianta mais nenhuma preocupação" é o implicado e é falso, uma vez que (A) pode, a partir daí, tomar decisões que não tomaria se Paulo não tivesse viajado.

A - Bruno parece estar sem namorada ultimamente.

B - Ele tem ido muito a Nova loque.

 

B implicita que Bruno tem, ou pode ter, uma namorada em Nova lorque. (Em vista do comentário feito no exemplo anterior, é desnecessário fazer aqui uma interpretação).

 

PARÁFRASE

 

É uma palavra que vem do grego para-phrasis, que significa repetição de uma sentença. Paráfrase é reproduzir um texto ou unidade dele explicativamente sem alterar suas idéias e por uma linguagem igual ou mais longa do que a do texto principal. Na paráfrase sempre se conservam basicamente as idéias do texto original. O que se inclui são comentários, idéias e impressões de quem faz a paráfrase

            Parafrasear consiste em transcrever, com novas palavras, as idéias centrais de um texto. O leitor deverá fazer uma leitura cuidadosa e atenta e, a partir daí, reafirmar e/ou esclarecer o tema central do texto apresentado, acrescentando aspectos relevantes de uma opinião pessoal ou acercando-se de críticas bem fundamentadas. Portanto, a paráfrase repousa sobre o texto-base, condensando-o de maneira direta e imperativa.

           

Exemplo

 

OS PROFISSIONAIS DO ESPIRITO NATALINO

 

ORIGINAL:  No fim do ano é intenso pela cidade o numero de profissionais da área natalina são bons velhinhos, dendês, e outros que desta festa o seu trabalho.

 

PARAFRASEADO     Chega o fim do ano e eles se multiplicam pela cidade são bons velhinhos, duendes e todo tipo de personagens que fazem da festa seu ofício.

              

 

 

MODA DOS CLASSIFICADOS CRESCEM NA RUAS

 

ORIGINAL:    Muito além dos DVDs e CDs, um verdadeiro universo de produtos é oferecido paralelo de Belém, com ofertas dos pés à cabeça.

 

PARAFRASEADO; O comércio informal de Belém está com uma variedade de mercadorias que vai além de CDs e DVDs; são ofertas que vão desde calçados à boné.

 

 

HOMEM É ASSASSINADO COM QUATRO TIROS

 

ORIGINAL: Vítima morava sozinha, não tinha inimigo. O assassino ainda roubou aparelhos de Tv e DVD e ventilador.

 

PARAFRASEADO: Um homem que morava sozinho e que não tinha inimigo segundo a vizinhança foi assassinado e ainda teve seus aparelhos de TV , DVD e ventilador roubados 

 

REPROVAÇÃO

 

ORIGINAL:    Reprovação ainda é uma das questões mais polêmicos do sistema educacional brasileiro, merecendo discussão e análise sob os diferentes pontos de vista.

 

 PARAFRASEADO: Na educação há assuntos polêmicos que merecem ser discutidos e analisados entre eles podemos citar a questão da reprovação.

 

CALCULO DAS APOSENTADORIAS VAI AO CONGRESSO NACIONAL

 

ORIGINAL: Dirigentes sindicais saíram do encontro inconformados. Rejeitaram alternativas.

 

PARAFRASEADO: A alternativa foi recusada no encontro, de onde os dirigentes sindicais saíram inconformados.

 

MINISTRO DOS ESPORTES APÓIA CPMI

 

ORIGINAL: Segundo o ministro, uma crítica bem feita sobre a maneira como o esporte nacional é gerenciado pode contribuir para melhoria.

 

PARAFRASEADO: Uma crítica bem feita, sobre a forma de como o esporte brasileiro é administrado, segundo o ministro pode contribuir para melhoria.

 

 

O USO DE APOSTILAS

 

ORIGINAL: Hoje temos apostilas que trazem mais informações que muitos livros didáticos. O problema basicamente não é o uso das apostilas em detrimento dos livros. O problema está na forma como se usa.

 

PARAFRASEADO:O problema do uso de apostila esta na forma como se usa, e não no seu uso, já que esta traz informações importantes que não encontramos em livros didáticos.

 

A INCLUSÃO

 

ORIGINAL: A inclusão continua sendo um dos grandes desafios da escola, apesar de ser uma necessidade inadiável. Como enfrentá-la praticamente? Como promover ações educativas que realmente promova a inclusão?

 

PARAFRASEADO:Existe ainda muitas indagações sobre a Inclusão, ainda que ela seja uma necessidade imprescindível continua sendo um grande desafio dentro da escola.

 

 

POEMA PARAFRASEADO

 

 

Testamento (Manuel Bandeira)

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros - perdi-os...
Tive amores - esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!


 

Testamento ( Vânia Alvarez) (PARAFRASEADO)

 

O que desejo não tenho

Tenho aquilo que não desejo.

Dinheiro: ganho, gasto, perco.

Amores, se os tive se foram...

Nem no desespero rezo.

Praguejo, desdigo a má sorte.

Lamento o que não fiz...

Desculpo-me ... choro...

 

Vi terras que nunca foram minhas.

Fatiguei os olhos de cores, lugares, amores

E nos mosaicos da memória...

Reinventei a vida...feitas de ficção, mentiras tolas!

 

Crianças sempre povoaram meus sonhos.

Mas outros filhos será tarefa impossível...

Neste mundo que é só meu.

O filho que nasceria, já existe em mim...

Feito de dores, de lágrimas, de noites insones...

Filho feito de risos, de cheiro de alfazema no ar!

Amargo e doce...gota a gota...servido

Em doses que se bebe lentamente.

 

Quis cursar Medicina

E morrer em cada paciente...seres desenganados

A literatura me desejou ter e fazer...

Nem poeta pude ser, porque os versos que escrevi

Foram copiados as ressas...

Transcrito entre o gostar de viver.

E uns lampejos suicidas, agônicos!

Da vida sim, nunca desistir.

Eternamente lutei

 

 

 

 

CONCLUSÃO

 

 

            Tanto a implicatura como a paráfrase está muito presente na prática conversacional, isto ocorre muitas vezes sem ser percebido. Com o estudo deste tema fica bem clarA essa questão, e com isso pode-se usar da melhor essas formas de se entender e ser entendidos no momento da comunicação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

CUNHA, Antônio Carlos. Pragmática lingüística e didática das línguas. Belém: Universitária UFPA. 1991.

 

AUSTIN, J.L. Quando dizer é fazer: palavras e ações. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

 

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia, 7.ed. São Paulo: Ática, 2000

 

Revista Aprendizagem, Ed. Melo nº 3- novembro/ dezembro de 2007.