A IMAGEM DA NOITE COMO REPRESENTANTE DO CARÁTER DE MACBETH

Por Antonia Joelma Rocha Matias | 10/05/2013 | Literatura

A IMAGEM DA NOITE COMO REPRESENTANTE DO CARÁTER DE MACBETH

Antonia Joelma Rocha Matias[1] 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo buscar identificações entre o caráter do personagem Macbeth com a imagética da noite. Para isso, o que se faz aqui é uma discussão de como a noite representa uma imagem negativa, podendo refletir no caráter e na maneira de como age o personagem Macbeth. Com base na leitura de textos críticos e da peça de Shakespeare, é feito uma retrospectiva dos principais acontecimentos que acontecem durante a noite para assim, fazermos uma ligação da noite com o caráter negativo de Macbeth.

PALAVRAS CHAVE: Macbeth. Noite. Personalidade. Caráter. 

INTRODUÇÃO

     Inicialmente temos que fazer algumas importantes observações sobre o teatro Elisabetano, bem como do escritor Shakespeare para a partir daí se tentar desenrolar um pensamento sobre a peça Macbeth.Segundo Northrop Frye, em “Fábulas de identidade”:

“Não se esperava que o poeta renascentista andasse à deriva pela vida adquirindo “experiência” e narrando na poesia, esperava-se que ele transformasse sua mente num laboratório emocional e adquirisse sua experiência ali mesmo, sob alta pressão e observação rigorosa”.(p.103).

     É dessa observação que parte a ideia de que Shakespeare se desfaz como pessoa para ser escritor. Ao que diz respeito ao teatro de Shakespeare nas suas peças ele se apresenta como alguém que sabe dialogar com épocas tão distintas da sua e que ao mesmo tempo nos remete a acontecimentos tão distantes do nosso tempo.Shakespeare como um bom dramaturgo que era, tinha a função de agradar o público para  quem ele escrevia, ele não objetivava escrever sobre suas opiniões pessoais acerca de determinados assuntos, ele apenas busca com que o espectador crie uma certa identificação com aquilo que está sendo representado nos palcos.Observe:

“Não temos noção de suas concepções religiosas ou   políticas, se é que ele tinha alguma.Suas peças apresentam apenas os aspectos da vida social que podiam ser inteligíveis à audiência e que podiam dialogar com as convicções das pessoas, mesmo assim, ele lidava apenas com aqueles aspectos que se ajustavam à peça que estava escrevendo”.(Northop, Frye,Sobre Shakespeare.p.15).

      Shakespeare ao que parece não criou conceitos novos sobre determinados temas, ele apenas os agrupou de maneira que as pessoas pudessem entender. Observe:

“A realização de Shakespeare como pensador, então , não foi  a de ter formulado conceitos originais ou erigido novos sistemas filosóficos, mas a de ter utilizado os lugares-comuns do pensamento elisabetano tornando-os reais.(Greer Genuaine.Macbeth: o pecado e a ação da graça.p.62) 

    Na idade medieval tudo se explicava a partir da concepção divina, Deus era e estava no centro de tudo, o homem não era valorizado como nos diz Rosenfeld: “Todos os processos temporais correspondem ao plano prefigurado de Deus”...(p.125). Somente a partir da renascença essa visão foi aos poucos sendo modificada e o homem passou a ser responsável por suas ações.     Partindo dessa ideia de que tudo está organizado temos a cadeia dos seres, no qual Deus está no alto, governando tudo, a partir daí tem-se numa ordem decrescente os anjos, demônio, os santos, homem, mulheres, animais, plantas e pedras. Segundo Rosenfeld: “O homem é concebido como um microcosmo que reúne em si, todos os elementos do macrocosmo”.(p.139).Sendo assim, o homem está dentro de um universo em que tudo está ligado e que todas as forças estão submetidas ao poder divino.

2. A LIGAÇÃO EXISTENTE ENTRE A NOITE E O CARÁTER DE MACBETH 

    Ao que diz respeito ao caráter de Macbeth, a primeira impressão que se tem é que Macbeth tem uma personalidade difícil a começar pela análise de suas ações dentro da peça. Macbeth ambiciona ser rei da Escócia, desejo esse que o faz ultrapassar os limites, a ordem e o faz assassinar o rei Duncan.

    A partir desse acontecimento podemos perceber a dualidade existente dentro da peça , por um lado, nós temos o rei Duncan como representante do bem, da justiça, representante principalmente da ordem, como deveria ser um reino fundamentado no princípio de que tudo está organizado corretamente de acordo com a cadeia dos seres, ou seja, até o momento antes do assassinato do rei Duncan o macrocosmo está em harmonia. 

     Por outro lado nós temos Macbeth que se contrapõe completamente ao rei Duncan, pois Macbeth representa o lado obscuro, a maldade, a tirania. É importante mencionar que os acontecimentos principais ocorrem  durante a noite,dentre eles podemos citar:A aparição das bruxas, o assassinato do rei Duncan, as alucinações de Macbeth e também de Lady Macbeth.

    Isso nos mostra que a noite é uma imagem predominante nesta peça porque representa a escuridão, o medo, sentimento de impunidade.Tal situação é percebida no momento em que Macbeth faz uma invocação da noite antes de matar o rei Duncan, observe:

“Astros apagai vossa luz, apagai.Que a vossa luz não saiba,astros, o que vai em minhas ambições mais negras, mais profundas. Não.cerrem-se os meus olhos num só gesto da mão; e possa minha mão, sem medo, executar o que os olhos, depois se espantarão de olhar.”(MACBETH:I,iii)

    Com esse trecho podemos entender que Macbeth além de possuir um caráter mal, ele ao mesmo tempo é covarde, e por essa razão ele faz uma invocação da noite como se a escuridão provinda desta, possa esconder atos ruins que não serão desvendados.Observe ainda outra invocação da noite.

“ Ó vem noite discreta.Vela do dia o olhar misericordioso e despadece tua mão cruenta e oculta esse ato que da faca faz o sangue fugir.A luz se ofusca e espessa. Já do dia as coisas boas desbotando,ao passo que ao seu turno, aí vem acordando.Os agentes da noite em busca da presa.As coisas iniciadas pelo mal devem ser pelo mal terminadas”.(MACBETH:III,ii)

    É importante destacar que  na fala de Macbeth “Já do dia  as coisas boas desbotando”,percebemos que a imagem do dia é apropriado para as coisas boas ,serenas e a noite para as coisas do mal.É como se a noite fosse a própria maldade. O fato de Macbeth matar o rei Duncan é algo de extrema maldade e que trará conseqüências sérias.

    Duncan representa a divindade, o próprio Deus na terra, ele é bondoso, sabe governar com justiça, porque ele é um representante de Deus.

    Macbeth  ao tirar a vida de Duncan está ferindo a ordem das coisas,está matando um homem inocente e até a maneira como ele o faz gera depois um sentimento de culpa, porque Duncan estava dormindo na hora em que foi assassinado e Macbeth mata de certa maneira seu próprio sono, porque a partir dali ele não conseguirá esquecer aquela cena e sua consciência o acusará todos os dias de sua vida.

CONCLUSÃO 

     Macbeth pode ser entendida como uma peça noturna e isso é um comentário que se aplica também ao personagem principal.Quando lemos a peça Macbeth, não percebemos um só gesto de  arrependimento do mesmo, por ter cometido o assassinato do rei Duncan, ao contrário, fica nítido que MacBeth tem um caráter maldoso,ele sabe  o que está fazendo e assume as conseqüências dos seus atos.Uma pessoa extremamente ambiciosa que não se importa com o que deve fazer para atingir seus objetivos, mesmo que seja tirar a vida de alguém tão importante como o rei Duncan.

    Em outras palavras Macbeth tem uma ligação muito forte com a imagem da noite,porque MacBeth representa a maldade humana, a ausência do bem e o seu reino representa um reino de tirania, onde não é possível se ter uma ordem e nem uma vida feliz, porque o reino agora estão submetidas a alguém que não traz consigo a luz,ou seja, o bem como algo superior ao mal.

BIBLIOGRAFIA

CARPEUX,Otto Maria.As Bruxas e o Porteiro.In: Vinte e cinco anos de Literatura.Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1968:p.65-69. 

FRYE,Northrop.1999. Sobre Shakespeare.(Northop Frye on Shakespeare).Org : Robert Sandler. Trad. Bárbara Heliodora.Rio de Janeiro: Jorge  Zahar.

 ROSENFELD,Anatol.1973.Shakespeare e o pensamento renascentista. In: Texto/ contexto. São Paulo, Brasília: Perspectiva,INL,(Debates,7),p.123-145.

 SHAKESPEARE.William.Macbeth.1ª Ed., São Paulo:Editora Martin Claret,2002.Tradução: jean Melville.

 FRYE,Northrop.1999.Fábulas de identidade. Trad. Sandra Vasconcelos.



[1] Aluna do 6º período do curso de letras habilitação em Língua Inglesa, na Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.