A identidade cultural do yao e a globalização

Por Assane Calisto Uitrosse | 16/02/2018 | Filosofia

Assane Calisto Uitrosse – Doutorando em Inovação Educativa pela Universidade
Católica de Moçambique, na faculdade de Educação e Comunicação de Nampula

A identidade cultural do povo yao e a globalização

1.Resumo
Este artigo intitulado: a identidade cultural do povo yao e a globalização, objectiva analisar a identidade cultural do povo yao e a globalização. Optou-se por uma abordagem metodológica qualitativa com raciocínio indutivo e usou como recurso, a revisão de literatura de alguns autores que referenciam aspectos ligados ao tema, apoiada pelas técnicas de observação. Ao concluir os resultados mostraram que o fenómeno da globalização faz com que as culturas locais reformulem e recriem cada vez mais os seus valores, seus hábitos, suas convicções, seus costumes. Todas as culturas mudam quando há mudança dos seus valores, seus hábitos, suas convicções, seus costumes. Através desta mudança o sistema rompe as barreiras e fronteiras englobando novos elementos, sem tirar mérito a própria cultura.
Palavras chaves: identidade cultural, globalização, povo yao
1.2 Abstract
This article entitled: the cultural identity of the yao people and globalization, aims to analyze the cultural identity of the yao people and globalization. We chose a qualitative methodological approach with inductive reasoning and used as a resource the literature review of some authors who refer aspects related to the theme, supported by observation techniques. In concluding the results they showed that the phenomenon of globalization causes local cultures to reformulate and recreate their values, habits, convictions and customs. All cultures change when their values, habits, convictions, customs change. Through this change the system breaks the barriers and borders embracing new elements, without taking advantage of the culture itself.
Key words: cultural identity, globalization, yao people
1.3 Introdução
O espaço onde manifestam as nossas identidades culturas encontram-se repleto de elementos próprios do processo de globalização, como as antenas de TV e celular, os meios de transporte cada vez mais modernizados, os cabos de fibra óptica, as redes (que nem sempre são visíveis, mas se fazem presentes no espaço), entre outros elementos. O nosso espaço constrói suas bases em inúmeros campos e configurações de modo que a cultura encontre plenamente as transformações das paisagens que variam do natural ao cultural, carregando ambientes constitutivos de todas as sociedades, mas com elementos culturais locais ou regionais, que denotam a singularidade dos lugares. O presente artigo faz uma descrição sobre a identidade cultural e em particular do povo yao e os seus efeitos com a globalização.
1.4 Objectivos
Cervo e Brian (2002,p.83) afirma que os objectivos “definem a natureza, do tipo de problema e os resultados a alcançar”. Lakatos e Marconi (1992,p.102) acrescenta que os objectivos indicam o que o pesquisador pretende desenvolver e os resultados que poderam ser alcançados após a pesquisa.
1.4.1 Objectivo geral
Lakatos e Marconi (2003,p.247) define o objectivo geral como uma “visão geral e abrangente do tema”. Portanto o objectivo geral representa o que se pretende alcançar no final de um determinado percurso ou pesquisa. Neste artigo apresenta-se o seguinte Objectivo geral:
• Analisar a identidade cultural do povo yao e a globalização
1.4.1.1 Objectivos específicos
Cervo e Brian (2002,p.83) afirma que “os objectivos especificos aprofundam as intenções expressas nos objectivos gerais”. Neste artigo apresenta-se os seguintes objectivos especificos:
• Definir a identidade cultural e a globalização;
• Descrever os aspectos principais de identidade cultural do povo yao;
• Demonstrar o surgimento de crise identidade cultural do povo yao com a
crescente globalização.
1.6 Enquadramento da pesquisa
A anàlise da identidade cultural do povo yao e a globalização enquadra-se no planocurricular do módulo de Globalização, filosofia e cultura moçambicana. Este conhecimento constitui um enriquecimento do mosaico cultural moçambicano.
1.7 Perguntas Especificas da Pesquisa
Nahas (2012,p.6) define as perguntas de pesquisa como “indagações em torno da perguntacentral ou problema da pesquisa”. Portanto as perguntas de pesquisas consideradas
comosecundárias e tem uma relação de dependencia directa com o problema de pesquisa. Contudo pode-se afirmar que a pergunta de partida sendo a pergunta central da pesquisa, as perguntas de pesquisa são elaboradas afim de esclarecer com mais cientificidade o problema. Para este artigo deverá responder as seguintes questões:
• O que é a identidade cultural e a globalização?
• Quais são os aspectos principais de identidade cultural do povo yao?
• Como surge a crise na identidade cultural com a crescente globalização?
1.8 Problematização
Cervo e Brian (2002,p.84) Define o problema como uma “questão intrinseca que envolve uma dificuldade teorica” ou pratica que deve ser encontrada uma solução. Portanto o problema é uma questão colocada para ser respondida. Rudio (1980, p.75) afirma que “formular um problema consiste em dizer de maneira compreensivel, as dificuldades que pretendemos resolver” dentro de um determinado campo, apresentando as suas caracteristicas. Portanto é preciso que o problema seja individualizado, especifico e inconfundivel. Esta artigo apresenta a seguinte problematização: Como se pode perceber o yao é um grupo étnico linguístico da província do Niassa, muitas vezes este povo sofre pressões de outros grupos linguisticos da mesma região, alegando este ter principios culturais ultrapassados e que retardam o desenvolvimento do pais. Assim este povo é obrigado a abandonar a sua identidade cultural assumindo a cultura de outros povos atraves da crescente globalização. Dai que surge a seguinte questão: Como aderir o fenomeno da globalização sem tirar o merito a identidade cultural deste povo?
1.9 Justificativa da pesquisa
Para Lakatos e Marconi (2003,p.247) A justificativa “consiste na exposição sucinta porém completa das razoes de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que tornaram importante a realização da pesquisa”.Uma das razões de desenvolvimento deste artigo é a fraca consideração da cultura do povo Yao que com a crescente globalização, ele é acusado de travar o desenvolvimento do pais atraves de suas praticas culturais Como o unhago (ritos de iniciação). Muitas vezes o governo moçambicano tem dito que os casamentos prematuros é o resultado da existência dos ritos de iniciação logo o povo percebe que há inibição forçosa de praticas culturais de um certo povo.
2.Revisão bibliográfica
Para JUNG (2003, p.128), “normalmente, o levantamento bibliográfico é realizado em bibliotecas públicas, universidades, e especialmente em acervos virtuais - internet”. No presente trabalho, esta técnica foi usada para encontrar suportes científicos sobre o conteúdo da pesquisa em referência.
2.1 A identidade cultural
"Identidade" é algo único, distinto e completo. Na percepção individual ou coletiva da identidade, a cultura exerce um papel principal para delimitar as diversa personalidades,os
padrões de conduta e ainda as características próprias de cada grupo humano. A influência do meio constantemente modifica um ser já que nosso mundo é repleto de inovações e características temporárias. No passado, as identidades eram mais conservadas devido à falta de contacto entre culturas diferentes; porém, com a globalização, isso mudou, fazendo com que as pessoas interagissem mais entre si e com
o mundo ao seu redor. Uma pessoa que nasce em um lugar absorve todas as características desteː entretanto, se ela for submetida a uma cultura diferente por muito tempo, ela adquirirá características do novo local onde está agregada.
Segundo Hall (1999), uma identidade cultural enfatiza aspectos relacionados a nossa pertença a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas, regionais e/ou nacionais. Ao analisar a questão, este autor focaliza particularmente as identidades culturais referenciadas às culturas nacionais. Para ele, a nação é além de uma entidade política – oEstado –, ela é um "sistema de representação cultural". Noutros termos, a nação é composta de representações e símbolos que fundamentam a constituição de uma dada
identidade nacional. Segundo Hall (1999), as culturas nacionais produzem sentidos com
os quais podemos nos "identificar" e constroem, assim, suas identidades. Esses sentidos
estão contidos em histórias, memórias e imagens que servem de referências, de nexos
para a constituição de uma identidade da nação.
Entretanto, segundo Hall (1999), vivemos actualmente numa "crise de identidade" que é decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas nas sociedades modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das estruturas e processos centrais dessassociedades, abalando os antigos quadros de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social. A modernidade propicia a fragmentação
da identidade. Conforme ele, as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade não mais fornecem "sólidas localizações" para os indivíduos. O que existe agora é descentramento, deslocamentos e ausência de referentes fixos ou sólidos para as identidades, inclusive as que se baseiam numa ideia de nação.
2.2 A construção de uma identidade cultural na era da globalização
A cultura é uma expressão da construção humana. Ela é construída através do diálogo entre as pessoas no dia a dia. Nessa interação social é construído gradativamente símbolos e significados que tem sentido a essas pessoas, e são compartilhados entre elas. A construção de uma cultura está repleta de elementos e significados que vão identificar esse povo como pertencente a uma determinada comunidade ou região, diferenciando-os de outras comunidades, surge assim, a identidade cultural. Quando nos referimos às raízes culturais estamos nos referindo à sua origem, principio, ou seja, a forma como foi construída a cultura de um povo, o que determina que alguns elementos ou algumas manifestações culturais sejam considerados tipicamente desse povo. Acredita-se que, não se deve pregar o isolamento cultural, se fechando em guetos. O individuo deve estar aberto e receptível ao novo. Deve-se conhecer e experimentar as outras culturas como forma de valorizar a diversidade cultural dos povos e como enriquecimento cultural. Conhecendo as outras culturas, o individuo compreenderá a importância de mante-la viva na memoria, protege-la e valorizar a cultura como forma de preservar o que somos, nossas características, nossa identidade. Segundo Barros (2008).“proteger não significa defender o
isolamento ou o fechamento ao diálogo com outras culturas, mas sim encontrar meios de promover a sua própria cultura”. Pedroso (l999) afirma que. “Um povo que não tem raízes acaba se perdendo no meio da multidão. São exatamente nossas raízes culturais, familiares, sociais, que nos distinguem dos demais e nos dão uma identidade de povo, de nação”. Percebe-se a importância de se conhecer as raízes da própria cultura para que haja a formação de identidade, no propósito de se definir enquanto cidadão sabendo situar-se na sociedade. Portanto a cultura é construída a partir das ações e inter-relações sociais. As pessoas fazendo parte de uma sociedade acabam interagindo umas com as outras, trocando ideias, conhecimentos e etc., desse relacionamento deriva a cultura desse povo, que foi construída passo a passo. Juntos, constroem uma história de vida, onde os hábitos e costumes, manifestações, expressões, sentimentos e outros estão inseridos, identificando cada componente dessa sociedade determinando o seu modo de viver e de ser. Assim acredita-se que: se as pessoas têm conhecimento de suas próprias raízes e conscientemente sabem da relevância das mesmas para suas vidas, passarão a valorizar esse conhecimento transmitindo-o para as gerações futuras, isso evitará que sejam esquecidas ou adormecidas. Dessa forma, a memória do povo continuará sendo “aquecida”. Pedroso (l999), que enfatiza melhor a importância de se conhecer as próprias raízes. Quem não vive as próprias raízes não tem sentido de vida. O futuro nasce do passado, que não deve ser cultuado como mera recordação e sim ser usado para o crescimento no presente, em direção ao futuro. Nós não precisamos ser conservadores, nem devemos estar presos ao passado. Mas precisamos ser legítimos e só as raízes nos dão legitimidade. Entende-se que a vida tem sentido, em se tratando de identidade cultural, quando conhecemos nossas raízes, de onde viemos, quem somos e como somos. É preciso conhecer o inicio de tudo para entendermos as mudanças culturais que ocorrem no presente e que ocorrerão no futuro.
A construção da identidade é dinâmica e se produz nos contextos sociais. Esta concepção se fundamenta em Barth citado por Cuche (1998), pois o fenômeno da identidade deve ser compreendido pelas relações que se processam entre os grupos sociais. “Uma cultura particular não produz por si só uma identidade diferenciada: esta identidade resulta das intenções entre os grupos e os procedimentos de diferenciação que eles utilizam em suas relações” (CUche1998, p.182). O movimento de construção e reconstrução de uma identidade ocorre nas trocas sociais de acordo com as situações e, portanto, a “identidade existe sempre em relação a uma outra” (CUche, 1998, p. 183) reforçando o vínculo com a alteridade. A identidade enquanto construção social conduz não a afirmativas, mas a dúvidas que devem ser esclarecidas por meio da investigação: “como, por que e por quem, em que momento e em que contexto é produzida, mantida ou questionada certa identidade particular? “ (Cuche, 1998, p. 202). A inclusão dos atores sociais no entendimento do conceito de identidade torna-a mais valorizada, pois se trata do processo de construção de significado com base em um atributo cultural. Identidades organizam significados, logo consistem na “identificação simbólica, por parte de um ator social, da finalidade da ação praticada por tal ator” (Castells 1999, p.23).
2.3 A identidade cultural do povo yao
Segundo Amide (2008) afirma que no povo yao os princípios educativos e a moralidade estão ligados aos ritos de iniciação. Para o yao a vida se transmite através da união de um homem e
uma mulher em família. Através dos ritos preserva-se no povo yao o respeito, a sexualidade, a temperança, o amor, o namoro, o casamento, o valor do trabalho, o valor do sofrimento, a coragem, a responsabilidade, a amizade entre outros.
Para Wegher (1995) afirma que todos que morrem passam a ser antepassados e nos rituais tradicionais são invocados os seus nomes. Neste mesmo aspecto Amide (2008) inspirando se nos escritos de Calandri e de Amaral, afirma que para ser antepassado neste povo não significa para todos que morrem, mas sim, para aqueles que durante a sua vida tiveram descendentes e foram consagrados como régulos ou chefes de uma certa região. Estes é que são invocados nos seus cultos.
Segundo Amide (2008) a morte para o povo yao constitui uma passagem deste mundo para ir fazer parte da comunhão com os antepassados. Mas isto só acontece para aqueles que em vida eram indivíduos que praticavam boas obras. O yao acredita que todo o individuo que morre vai viver em comunhão com deus, por isso o antepassado passa a ser um mediador para pedir a deus. Para além dos antepassados o yao tem arvores sagradas vulgarmente conhecidas por Nsolo e Ntulo, onde ele tem feito pedidos vários, como por exemplo o pedido de chuva e uma boa produção agrícola. Desta forma o yao consegue elevar o seu espirito, ele faz um retorno a sua natureza espiritual da alma. Portanto, a comunhão e a união dos espíritos dos homens ainda na terra com os espíritos dos antepassados e em ultimo com o grande espirito criador, faz o yao sentir-se realizado, feliz e bem-sucedido. E na falta de comunhão com os antepassados e o grande espirito criador, o yao sofre e é mal sucedido em tudo que faz, por isso para remediar o yao tem ido varrer as campas dos antepassados.
2.4 O casamento no povo yao
O casamento ocorre entre homem e mulher, não existem outra forma de casamento aceite. Durante o casamento as as mulheres quando estiverem com o ciclo menstrual não devem colocar sal na comida, nem pode por as panelas ao lume, inclinar se sobre o fogo nem acendelo na presença do marido, apenas a mulher deve fechas as portas, olhar para o marido quando estiver deitada, usar fios de missanga a cintura, deixar agua num recipiente para ser bebida por um parente, por fermento na bebida, usar a esteira que lhe serviu durante o período menstrual quando voltar ao estado normal. Tradicionalmente o yao acredita que se uma mulher confeccionar alimentos pode provocar no marido doenças como lukweso ou mwela. Através do contexto globalizado os yaos ao vivenciarem a sua cultura, como parte do seu quotidiano e em consonância com os seus ideias,por mais que aos olhos das sociedadesocidentais seja algo ultrapassado, estão buscando uma racionalidade para as questões que os atravessam na actualidade. Dessa forma os escritos nao dao o previlegio de valorizar a identidade cultural do povo yao em detrimento do mito, ou vice versa, mesmo porque quanto mais racional a nossa sociedade se torna mais elementos irracionais ela incorpora.
2.5 A globalização
A globalização pressupõe a ideia de desterritorialização e desinstitucionalização, em um movimento em direção a um mundo sem fronteiras. A falta dessas, no entanto, implica na perda das referências. São elas que tornam o sujeito, ao mesmo tempo, igual entre iguais e diferente entre todos, já que a pertinência a um território significa pertinência a um elo de identificação
e a pertinência a uma instituição – seja ela política social ou, especificamente, cultural – significa compartilhamento de crenças, convicções ou ideais. Com a Globalização, ampliaram-se as facilidades de comunicação e, consequentemente, a transmissão dos valores culturais. Assim, observa-se que as diferentes culturas e os diferentes costumes podem se interagir sem a necessidade de uma integração territorial. Entretanto, observa-se também que esse processo não se dissemina de forma igualitária, de modo que alguns centros economicamente dominantes transmitem em maior número os seus elementos culturais. Por esse motivo, muito se fala em uma homogeneização das culturas, isto é, a padronização dos modos de ser e agir dos indivíduos com base em uma referência dominante, fazendo sucumbir os valores locais e tradicionais. Nesse sentido, muitos acusam o processo de globalização de ser um sistema perverso, uma vez que ele não se democratiza inteiramente e só atinge os setores economicamente dominantes do mundo e das sociedades. Sob o aspecto de identidades culturais, Arnett (2002) situa o facto de que parte da identidade, especialmente de adolescentes, é enraizada na cultura local e parte é influenciada pela cultura global. Por cultura global, entende-se aquela liderada por países ocidentais desenvolvidos que induzem valores orientados por individualismo, consumismo e liberdade de mercado, em consonância com o que preconizam os adeptos da teoria da indústria cultural, mas também a democracia, direitos humanos e liberdades individuais. Ainda segundo Arnett (2002), uma certa confusão de identidades está crescendo entre jovens de culturas não ocidentais devido à globalização. Adolescentes e adultos jovens não mais se sentem confortáveis ou participantes nem de sua cultura local, nem da cultura global. Quando os jovens são expostos aos valores da cultura global, podem perder o interesse em manter sua cultura original, mas também rejeitarem ou não se integrarem à nova cultura porque esta vai contra os seus valores ou por falta de oportunidades, emprego, baixa renda, etc. (Arnett, 2002). O resultado é o que Arnett chama de confusão de identidades, com a consequente marginalização e tendência a maiores taxas de depressão, suicídio e abuso de drogas. Esse processo de aculturação seguido de marginalização é bastante conhecido entre nós e já foi estudado em profundidade. Outra consequência da confusão de identidades.
Segundo Arnett (2002), é a possibilidade de escolhas individuais entre diferentes culturas. Essas escolhas são aquelas que pessoas com interesses e visões em comum fazem ao unir-se a determinados grupos para adquirir um senso de identidade que não é mais possível obter nem na cultura local. Por exemplo existem indivíduos do grupo étnico yao que preferem o homossexualismo e o lesbismo e assumem como a sua própria cultura. Através da globalização os meios de comunicação como DVD, TV e principalmente a Internet põem os yaos em contacto com outras culturas e eles cabam por aculturar aquilo que vêem e ouvem. Os pais, ocupados em trabalhar para manter o bem-estar da família, deixam os filhos entregues a si mesmos e ainda lhes dão pouca atenção, o que tende a gerar muitos problemas. Aí a personalidade dos jovens yaos, hoje em dia, acaba por ser formada, principalmente, pelos meios de comunicação, que funcionam como os seus educadores. Com isto os jovens yaos acabam por perder a sua própria cultura, e aspectos importantes dessa cultura que os mais velhos tanto preservaram, como certos valores. Por isto não é exagero afirmar que a nossa cultura, com as suas características únicas, estão em vias de extinção. Os yaos mais novos já nascem com uma nova cultura: a da sabedoria precoce de coisas não que deveriam ser permitidas às crianças. Assim, mudam os tempos e o comportamento de crianças e jovens também.
2.5.1 Importância da globalização
Em certa medida, a diversidade cultural poderá pelo menos ser mantida e estimulada pela preservação das especificidades culturais dos diferentes grupos sociais: assim como se criam bancos de genes de espécies vegetais para evitar o empobrecimento da diversidade biológica e o enfraquecimento de nosso ambiente terrestre, é preciso, para que a vitalidade das sociedades não seja ameaçada, conservar, ao menos, a memória viva de costumes, de práticas e saberes insubstituíveis que não devem desaparecer. Pois é a diversidade que deve ser salva, não o conteúdo histórico que cada época lhe conferiu e que ninguém saberá perpetuar para além dela própria.
Nesta Era da Globalização, que vivemos, existe uma crescente uniformização de hábitos e tradições culturais em todo o mundo. Os cidadãos sentem a obrigação de salvaguardarem as suas culturas, locais, regionais e nacionais, face à importação de novos hábitos. Por outro lado, manifesta-se uma rarefacção da cultura patriótica, que tem sido uma constante dos nossos dias. Neste tempo novo em que predomina uma cultura tecnocrática tem-se relegado a cultura Humanista e o grupo dos intelectuais para um segundo plano e talvez, por isso, a crise de valores e de lideranças tem sido tão devastadora.
A Globalização tem criado inúmeras situações contraditórias. Se esta rede de ligações mundiais permitiu a democratização da cultura, também possibilitou a sua degenerescência qualitativa. Hoje em dia, os cidadãos mais instruídos têm, também, menos cultura geral, apesar de estarem rodeados de inúmeras fontes de informação. Na verdade, o excesso de informação que circula, em resultado dos múltiplos recursos disponíveis, tem diminuído o espírito crítico dos cidadãos e dos dirigentes, não obstante haja os novos canais que parecem querer colmatar esta carência. Esta realidade conjuntural tem-se traduzido numa diminuição da cultura geral dos indivíduos das classes médias que ficam mais expostos às prepotências das elites “esclarecidas” da tecnocracia, fazendo lembrar os modelos dos “despotismos esclarecidos” do século XVIII. Com efeito, a cultura materialista de consumo, desenfreado, tem afastado os cidadãos da cultura dos Valores Humanistas e da efectiva defesa dos direitos humanos, não obstante estes temas estejam na ordem do dia dos debates públicos. Deste modo, só esta “cultura do ter” pode explicar a omnipresente evocação, todos os dias, nos meios de comunicação social da crise financeira dos países ricos quando no de África morrem milhões de pessoas à fome. As novas tecnologias têm feito diminuir os tempos de leitura das gerações mais jovens. Por esta razão, a Globalização tem, concomitantemente, possibilitado a transformação dos consumidores passivos em ativos produtores de conteúdos, tornando os cidadãos maisinterventivos através das redes sociais.Em suma, faz falta a esta Globalização a superação do paradigma da cultura hiperespecializada por outro modelo que volte a confiar no paradigma da cultura Humanista: a única capaz de incrementar uma Cultura Global que forneça aos cidadãos os instrumentos indispensáveis para uma atuação cívica com paginável com os ingentes desafios desta nossa aldeia global.
3. Descrição metodológica
Vilelas (2009,p.102) define método como a parte onde o investigador insere as suas actividades e decisões com vista a dar resposta as questões de investigação anteriormente formuladas. Para Marconi e Lakatos (2003,p.134) acrescenta que os “métodos constituem etapas mais concretas
de investigação,” com finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenómenos menos abstratos. Este artigo foi feita a partir da fundamentação teórica das obras de alguns autores que tratam aspectos relacionados como tema.
3.1 Tipo de pesquisa
Quanto ao objectivo geral e a natureza do tema é uma pesquisa qualitativa. Vilelas (2009,p.106) afirma que a pesquisa qualitativa visa a “interpretar como as pessoas dão sentido as suas própria experiências” e o meio real que elas vivem. Isto significa que a abordagem qualitativa faz uma descrição interpretativa de uma determinada realidade social.
3.2 Técnicas e instrumentos de recolha de dados
Moresi (2003,p.65) define a técnica de recolha de dados como o “conjunto de processos e instrumentos elaborados para garantir o registo das informações,” o controle e a análise dos dados. Neste contexto, para a presente artigo usou-se a observação e a pesquisa bibliográfica
4.Apresentação e discussão de resultados
Lakatos e Marconi (2003,p.73) define a interpretação e discussão de resultados como uma “acção intelectual que dá valor as respostas, vinculando-as a outras esferas de conhecimento atraves das opiniões de vários autores,” em torno do tema em estudo. Portanto a interpretação e discussão representa a exposição do verdadeiro valor dos dados apresentados em relação aos objectivos e ao tema.
Segundo Amide (2008) os ritos de iniciação ensinam como se transmite a vida através da união entre homem e mulher em família e não apenas contacto sexual como algo de satisfação biológica. Mas na actualidade com a crescente globalização e a pouca consideração sobre a nossa cultura colocam em crise a moral sexual do africano. Como
temos visto que nos yaos também a um aumento de indivíduos que praticam a homossexualidade e o lesbismo.
A sexualidade no povo yao apenas ocorre no acto conjugal por este ser privilegiado daunião vital e da harmonia que existem entre os esposos e as respectivas famílias. Na actualidade através da quebra de fronteiras culturais aparecem filmes pornográficos que ao invés de ensinar a sexualidade como um grande valor da pessoa humana, ensinam indivíduos prematuros a arte da vida sexual intima. Esta arte faz com que os yaos sejam chamados de “Diulesˮ (corruptos sexuais) porque as tais praticais não dão valor ao sexo.
A língua constitui a identidade de um povo, por isso os nomes identificam a tribo e família de um determinado individuo. Ainda pode se afirmar que o nome confirma a existência de um ser ontológico e na falta deste ele torna se desconhecido, incógnito. Actualmentecom a globalização existem o risco de privilegiar os nomes de origem árabe, portuguesa e inglesa em detrimento das nossas alegadamente por serem faladas por pessoas de culturas baixas.
No povo yao nem todos aqueles que morrem são considerados como antepassados, o que significa que não basta morrer para tornar antepassado. Para se tornar antepassado deve se morrer com uma idade avançada e ter tido descendentes ou ter sido régulo de uma certa região.
Os antepassados são mediadores e o yao pensa que eles vivem num determinado espaço em comum com deus. Mas actualmente com o aparecimento da bíblia o yao percebe que quem se encontra junto a deus é apenas Jesus Cristo e não o seu antepassado. Mesmo com essas versões o yao ainda acredita que os antepassados estão vivos e por isso quando nasce uma criança dão o nome de um deles, pois o antepassado se reincarna na família e torna o defensor. Para além dos antepassados o povo yao tem arvores sagradas denominadas Nsolo e Ntulo que também são mediadoras do seu deus.
Segundo p. wegher (1995) nas árvores sagradas eram colocadas bebidas e farinha como
sacrifício oferecido para fazer pedidos de chuva e outros tipos acções que o yao pretendia. Hoje algumas dessas práticas permanecem mas com muito pouco hábito, porque as pessoas usam princípios da bíblia e do alcorão, realidades que não fazem parte da moralidade africana. Antes do aparecimento da religião na África os yaos rezavam em árvores sagradas, mas depois foram aperfeiçoando outra forma de rezar a deus através da bíblia o alcorão. Para o povo yao ser mãe constitui uma honra, não ter filhos é uma maldição, anormalidade inexplicável, significa não ter cumprido com algumas exigências impostas pela tradição ou ter sido enfeitiçada por alguém. Mas na actualidade não ser mãe significa ser estéril, tem a ver com uma deficiência genética e não proveniente de feitiços. Para o yao a esterilidade só é atribuída a mulher e pode ser causa de divórcio e da obrigação na devolução pelo pai desta. Com a globalização a ciência nos ensina que a esterilidade pode ocorrer nos homens e nas mulheres.
5.Conclusão
Através do processo de globalização, existem ameaça de substituição de cultura local por uma mais global, o que representa a perca de identidade, mas é preciso que a cultura local põe em acção as suas estratégias e praticas para melhor se adaptar ou conseguir responder as espectativas da modernidade num contexto mais acelerado e globalizado. O fenómeno da globalização faz com que as culturas locais reformulem e recriem cada vez mais os seus valores, seus hábitos, suas convicções, seus costumes. Todas as culturas mudam quando há mudança dos seus valores, seus hábitos, suas convicções, seus costumes. Através desta mudança o sistema rompe as barreiras e fronteiras englobando novos elementos, sem tirar mérito a própria cultura. Dai que as culturas locais no da globalização são consideradas hibridas e sempre são constituídas por misturas do novo e do velho, pese embora cada cultura procura a todo custo um esforço para dar impressão de manter de forma estática os seus valores e não aderindo para recriar os seus. A cultura não é um produto da natureza ela pode e deve mudar para permitir que haja um desenvolvimento. Mas antes de tirarmos uma conclusão definitiva sobre os elementos culturais e suas transformações na mundialização das sociedades, é necessário estarmos sempre atentos aos eventos e informações, sempre com a preocupação de compreender e assimilar os fatores modernos da sociedade, sem negar ou sobrepor os valores tradicionais deles constitutivos.
6.Bibliografia
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