A IDADE DO AMOR
Por Sandra Oliveira | 08/05/2010 | ContosIsabela tinha quarenta e cinco anos,mas aparentava trinta.Era uma mulher muito bonita e sabia disso,mas isso não impedia que seu complexo de inferioridade e insegurança influenciasse tanto sua vida amorosa.
Era bem sucedida profissionalmente e socialmente.Nunca se casou,queria viver apenas para a carreira,o que não impediu de viver muitos amores.
A maioria dos seus romances eram com homens casados e com um trabalho parecido com o seu,pois nessa convivência acabava por conseguir vantagens profissionais e mais experiência nos negocios ,escondendo convenientemente sua insegurança emocional.
Homens casados não podem cobrar nada, pois não podem oferecer nada alem de presentes caros e ocasionalmente um ótimo desempenho sexual,portanto ela ficaria sempre numa posição confortável,sem preocupações com família ,marido e filhos,podendo assim se dedicar totalmente à carreira profissional.
No fundo ela era uma mulher que nunca tinha amado ninguém verdadeiramente,e as paixões que vivia não chegavam á durar seis meses,tamanho era o medo de se prender,se entregar e depois sofrer.
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Após ter conseguido um excelente contrato e um altíssimo lucro para a empresa onde era uma das mais importantes executivas,recebeu da presidência um premio,como agradecimento pelo sucesso de seu empenho no fechamento daquele contrato, na verdade mais um premio,pois não havia negocio que não fosse fechado quando ela estava na negociação.
Depois de dois anos sem férias,iria passar uma temporada de três meses na Espanha,talvez até um pouco mais,pois a empresa com a qual fechara o negocio que lhe rendeu o premio ficava nesse país.
Em menos de quinze dias já estava hospedada no Hotel El Prado, no centro de Madrid.
N a sua primeira noite na cidade,resolveu descansar,foi deitar-se por volta das dez horas da noite,queria adaptar-se ao fuso horário o quanto antes.Quando acordou pela manhã fazia um dia lindo, cheio de sol e luz,lembrou-se da ultima vez que esteve ali,não estava só,tinha a companhia de um de seus colegas de trabalho e com quem estava tendo um romance..Pedro e ela trabalhavam em um contrato e assim que fecharam o negocio,coisa que levou cerca de dois meses para ser concretizado,acabou-se também o romance.
Isabela não sofria com o termino destes casos , afinal tudo fazia parte dos negócios,mas nesta manhã sentiu-se diferente,sozinha,vazia,então tratou de convencer à si mesma que eram férias e não precisava estar acompanhada e tampouco pensar em trabalho,apenas se surgisse algum imprevisto no contrato recentemente assinado,mas essa era uma possibilidade bastante remota.
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Tomou um banho,vestiu-se e foi até o restaurante do hotel para tomar café da manhã e enquanto comia sem medo das calorias ingeridas tão prazerosamente,lembrou-se de que todas as vezes que estivera ali, nunca tinha saido para conhecer a cidade como faz qualquer turista e decidiu que aquele dia seria seu dia de turista.
Pediu à um funcionário do hotel alguma sugestão acerca de algum lugar interessante que pudesse ir,o rapaz lhe sugeriu o Museu Nacional do Prado,que ficava do outro lado da Praça Cibeles.
Terminado o seu café da manhã,saiu do hotel em direção á praça,parou em frente á estatua de Cibeles,admirando aquela obra de arte,uma deusa sentada numa espécie de carruagem puxada por dois leões.Deusa Cibeles,a deusa da Vida e da Fertilidade,tinha aprendido alguma coisa sobre ela num curso de historia da arte que havia feito há alguns anos atrás
Olhando para a estátua,perguntou á si mesma se havia feito a escolha certa,abrir mão de construir uma familia em favor de uma carreira.,de qualquer modo era tarde para mudar de idéia,e seguiu andando em direção ao museu.
Caminhando pelos corredores e apreciando cada pintura,cada escultura,não percebeu os olhares insistentes e insinuantes vindos de um rapaz que também estava interessado nas obras de arte,pelo menos até o momento em que a viu,linda e encantada com o que via nos corredores do museu.
Fazia frio dentro do prédio, e num gesto espontâneo de abraçar á si mesma,como se quisesse afastar o frio, foi a oportunidade que o rapaz teve de se aproximar e de lhe oferecer seu casaco.Um tanto surpresa,agradeceu em espanhol, recusando a gentileza.
O rapaz insistiu, perguntando se ela era da cidade ou se era turista.Isabela lhe respondeu que era brasileira e estava de férias. Apresentaram-se de maneira informal e caminhavam juntos pelos corredores, agora sem o interesse de antes em apreciar as obras de arte.
Depois de algum tempo conversando,foram á uma cafeteria próxima ao museu,e enquanto tomavam café a atração entre eles crescia quase que descontrolada.
Eduardo tinha vinte e dois anos,era estudante de artes plásticas,graças á uma bolsa de estudo,era brasileiro e trabalhava em uma danceteria .O salário que ganhava não era muito,mas cobria suas despesas pessoais com alguma folga.
Era um homem bonito,corpo de atleta, pele bronzeada,mas tinha um olhar triste,que lhe dava aparência mais velha,cansada.
Ele a convidou para conhecer a danceteria onde trabalhava,já que era a noite de sua folga,poderiam se divertir e se conhecerem melhor.Ela aceitou,afinal estava de férias.
Á noite, Eduardo foi busca-la no hotel,saíram andando,pois a danceteria era perto do hotel e a noite estava ótima para caminhar.Dançaram,beberam e se divertiram com os amigos de Eduardo,jovens e divertidos.No inicio da madrugada,já um pouco cansados e um pouco afetados pela bebida,resolveram ir embora.Na porta de saída,foram empurrados acidentalmente,por um casal que passou por eles bastante embriagados,e com esse movimento, seus corpos ficaram muitos próximos e ainda mais quando aconteceu o beijo ensaiado durante a noite toda.
O beijo causou em Isabela sensações que nunca tinha experimentado antes,ela que era tão forte e segura neste assunto,sentiu-se frágil e teve medo da diferença de idade entre os dois.Mas, o segundo beijo, mais envolvente, dissipou de sua mente qualquer pensamento que pudesse evitar aquela sensação mágica que tomava conta dela por inteiro.
Naturalmente,acabaram indo para o pequeno apartamento de Eduardo,onde fizeram amor o resto da noite.
Aos dois parecia que o mundo se resumia naquele quarto,e todas as pessoas do mundo eram somente os dois,ali,entrelaçados,grudados,formando um só corpo,uma só sintonia,uma única energia.
Acordaram pela manhã com o barulho de trovões que acompanhava uma forte chuva.
Como se tivessem combinado,pularam da cama ao mesmo tempo e correram para a pequena varanda e deixaram-se banhar pela chuva por alguns minutos.
De volta á cama ,depois do amor,Isabela feliz mas assustada com os sentimentos novos que a dominavam,depois de relutar muito,teve que admitir que pela primeira vez na vida não estava apaixonada apenas,estava amando loucamente aquele menino que começava á ser um homem e por ele seria capaz de qualquer coisa para vê-lo feliz.
Eduardo preparou o café enquanto Isabela fazia panquecas,ou tentava,cozinha não era seu forte.Eduardo pediu á Isabela que fosse buscar suas coisas no hotel,não queria nem podia ficar longe dela,ela concordou e saíram juntos,ele para a escola ela para o hotel.
Quando ele voltou,encontrou seu apartamento todo arrumado e limpo,e uma linda mesa onde ela lhe serviu um almoço,preparado e entregue por um restaurante próximo.
Quanto a sobremesa,não houve surpresas, amor,uma tarde inteira de amor.
Nos raros momentos em que não estavam fazendo amor,conversavam e planejavam um futuro que agora já era presente.Isabela ,pediria transferência para a filial da empresa em Madrid,Eduardo pararia com a danceteria para se dedicar somente aos estudos, afinal a renda de Isabela era mais que suficiente para manter os dois com muito conforto.A principio ele não aceitou,mas ela o convenceu de que era um investimento,pois quando ele tivesse conseguido o trabalho que estava há tanto tempo esperando,seria a vez dele pagar as contas que por hora eram dela.
Na empresa,seus colegas e os poucos amigos que tinha,tentaram dissuadi-la da idéia de morar definitivamente na Espanha,sua transferência faria cair sua renda e ainda teria que reconstruir a ótima reputação profissional que tinha no Brasil numa terra estranha,mas em vão,amava loucamente aquele rapaz,que como ela não tinha mais ninguém no mundo.
Ambos foram criados por famílias adotivas,que valorizavam a educação e os estudos.
E o tempo foi passando,e Isabela via isso no espelho todas as manhãs.
Já havia completado dois anos que estavam juntos,ainda se amavam,mas agora sem o furor de antes.Eduardo terminara seus estudos e trabalhava no Museu do Prado, como era seu sonho,mas ainda não tinha alcançado o cargo que sonhava e nem o salário, é claro.
Isabela ficava á cada mais insegura,entrava em pânico quando pensava na possibilidade de perde-lo, quando o via brincando com alguma criança,afinal ele era jovem e seria normal que quisesse ter filhos,coisa que para ela não havia mais condições .
Sua insegurança começou á tornar-se um motivo de brigas constantes,sentia ciúme de tudo e todos,os amigos de Eduardo já não freqüentavam mais sua casa,e ele foi ficando cada dia mais isolado,sentindo-se sufocado por Isabela.
Houve momentos em que o amor que ela sentia por ele,envolto pela sensatez, lhe aconselhava á deixa-lo,pois não era justo nem para um,nem para o outro continuarem vivendo naquela situação que a cada dia ficava mais dolorosa.E foram se afastando cada dia mais,ele procurava passar o máximo tempo possível no trabalho,voltando para casa bem tarde.Ela por sua vez se enterrava no trabalho também,para não chegar em casa e encontra-la vazia, sem a presença dele.
Ambos sabiam que a separação era uma questão de tempo,mas nem um deles tinha coragem para encara-la,porque apesar de tudo ainda se amavam,mas tinham contra esse amor a natureza,que mais cedo ou mais tarde,vem cobrar o que lhe é devido.
Numa manhã,quando Isabela separava as roupas sujas para que a empregada lavasse,sentiu um perfume diferente nas roupas de Eduardo,revistando seus bolsos,achou o que não queria achar,um par de brincos que não eram seus.O chão sumiu debaixo de seus pés,não conseguia respirar,tremia sem saber o que fazer.Num canto do quarto chorava como criança,era dor mais terrível que já sentira na vida.Ficou ali por horas,até que acabaram as lagrimas.
Ignorando os telefones que não paravam de tocar,foi tomar um banho na esperança de clarear as ideias e decidir o que fazer.Depois de algum tempo embaixo do chuveiro,possuída por uma coragem que nem mesmo ela sabia que tinha,olhou o relógio,era pouco mais de onze horas,ligou para o aeroporto fazendo uma reserva para o primeiro vôo para o Brasil que partiria ás seis horas.Era tempo mais que suficiente para arrumar as malas,ir até a empresa entregar seu pedido de demissão,caso não conseguisse transferência para qualquer lugar do mundo,que a mantivesse longe de seu amor.Ao voltar da empresa,chamou um táxi,nele colocou suas malas pedindo ao motorista que a aguardasse .
Voltou para dentro da casa,usando suas ultimas forças,olhou para o espelho do quarto que lhe mostrou mais uma vez o caminho á seguir.Achou uma caneta e um papel,escreveu um bilhete despedindo-se do homem,em que se transformara aquele menino, que havia feito desabrochar a mulher que morava no corpo daquela executiva fria que nunca havia amado alguém,disse em poucas palavras,mas com toda a emoção,como se quisesse pedir perdão por ter nascido tantos anos depois dele,que o amava demais e que tinha aprendido á amar a mulher que ele havia construído nela,para ser agora um peso,impedindo que a vida dele seguisse o rumo natural.
Num ultimo esforço,colocou o bilhete embaixo do par de brincos,como se estivesse dizendo "eu sei,entendo e perdôo".
Trancou a porta e os portões,jogando sua copia das chaves por sobre o muro em direção á porta da frente,respirou como se fosse a ultima vez que respirasse,entrou no táxi que seguiu rumo ao aeroporto,sem olhar para traz.