A HISTÓRIA SE REPETE (1919-2019) - SECA E CHUVAS NO CEARÁ.

Por Jose Wilamy Carneiro Vasconcelos | 04/04/2019 | História

 A HISTÓRIA SE REPETE (1919-2019) -  SECA E CHUVAS NO CEARÁ.

Essa é uma história para ser contada, lembrada e discutida por físicos, pesquisadores estudantes, meteorologistas e estudiosos do mundo inteiro.

Estamos em pleno semiárido nordestino, Região Nordeste do Brasil, estado do Ceará. Para muitos pesquisadores e doutores em climatologia e Geografia não é a primeira vez que esses acontecimentos (fatos) surpreendem nosso povo. Nossa região é de clima quente, pouca pluviometria, baixa densidade de chuvas durante o ano. Somos até chantageados por outras regiões brasileiras que aqui no Nordeste não têm água de maneira nenhuma. Discordo com alguns internautas e jornais que tentam fazer certo sensacionalismo com o nosso povo.

Sofremos bullyng quando estamos em estados diferentes de nossa Federação. Eu já fui interrogado por populares de outras regiões num Congresso de Direito que acontecia em outro estado brasileiro, com perguntas picantes, desfavoráveis e sem nexo. Para os desavsiados, nossa área costeira que passa pela Mata Atlântica no litoral brasileiro é uma das mais belas em noso território, com praias exuberantes, afrodisíacas, cheia de vistas, animais, sem contar com nossa flora e fauna.   Mas, entretemo-nos na climatologia de nossa região do Ceará.

“O Semiárido brasileiro é composto por 1.262 municípios, dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. Os critérios para delimitação do Semiárido foram a precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a 800 mm”. Segundo IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

O que quero dizer que nossa região é desprovida de baixa pluviometria (Chuva), porém, acrescento que regiões nordestinas superam com grandes quantidades de chuva, isto é, chove basicamente o ano inteiro. O Rio São Francisco localizado na Região Nordeste é um rio perene e um dos maiores em volume d’água, abastencendo minúmeros municípios brasileiros.

Nos anos que antecederam, desde o século XIX e século XX em meados dos anos 1877/ 1879 foi o ano de maior seca e mais devastador da História do Brasil, aconteceu no Período Imperial brasileiro.  Outra grande seca aconteceu há trinta anos na província do Norte nos anos de 1844 e 1845.

A Grande seca do Nordeste foi responsável pela morte de 400 a 500 mil nordestinos. Muitos migraram para a região norte, chegando no estado do Amazonas. Outros seguiram para regiões distintas.  A mais castigada foi à província do Ceará. De tudo tem o lado bom. A região paulista se firmou com a mão de obra nordestina e na Região Norte com o ciclo da borracha; a construção da Transamazônica, a Fundação de Brasília. A colheita do café e cana de açúcar, algodão e setores agropastoril em regiões vizinhas.  As famílias mais abastadas daqui dessa região cearense deixaram o sertão e mudaram-se para regiões promissoras. Outras foram pedir auxílio a parentes para região serrana da Serra do Ibiapaba, Serra da Meruoca, Serra do Baturité, Serra do Barriga  e outras, refugiado e levando seu gado e famílias com seus escravos.. Desde a seca de 1844 já se cogitava a transposição da Água do Rio São Francisco para toda região Nordeste, coisas que agora estão saindo do papel.

Nos anos de 1877 a 1879, abre uma frente trabalhista para a construção da Estrada de Ferro de Camocim à Sobral, ordem dada pelo Governo lmperial com inauguração em 1882. Construção de açudes nesse ano com ordem e apoio do Imperador D. Pedro II. Inicia-se a construção de barragens e açudes.   Açude Cedro em Quixadá foi um deles.  Segue a construção dos açudes até o ano de 1919. O Açude de Forquilha no município de Sobral.  Fatos ocorreram nesse período e estão em livros de escritores cearenses de Domingos Olímpio, Raquel de Queiroz, Rodolfo Teófilo, José de Alencar. Entre os escritores cantores como Patativa de Assaré com a música “Triste Partida’ e Luiz Gonzaga - Rei do Baião com a música “Vozes da Seca.”

Mas, supreendentemente o inesperado acontece. Cai a chuva, o sertão fica verdinho, as águas brotam dos riachos. Os sapos coaxam. As aves de arribação como as avoantes retornam. Marrecos, jaçanãs, aves aquáticas fazem seus ninhos nos lagos cheios pelas novas águas provenientes da chuva. A siricora (saracura-do-mato) canta avisando que é tempo de chuva. O João-de-barro com seu ninho. Coisas da Mãe-natureza que nem o homem explica.

Nesse ano que faz cem anos desde 1919/2019, renovam a esperança do povo cearense e do semiárido nordestino. As chuvas de março e abril enchem os riachos, lagos, rios, açudes. O semblante da serra e sertão renovam com a flora e fauna. Os córregos descem até chegar aos rios. Dos rios aos açudes e seus afluentes, desaguando no Oceano Atlântico. Diariamente escutamos em jornais locais, em rádios e TV, açudes sangrando em nossa região, barragens molhadas com força total. A bica do Ipú voltou a jorrar fazendo seu espetáculo.

Os açudes dos municípios de Alcântaras, Meruoca, Massapê, Santana do Acaraú voltam a sangrar. Em Granja cidade próxima a Camocim registra a maior chuva de todos os tempos. Registro pelo FUCEME, órgão responsável registra que foram as maiores chuvas desde os últimos onze anos. Os noticiário se espalha por toda região do semiárido e estado do Ceará. Os municípios de Itapipoca, Santana do Acaraú, Tianguá, Meruoca, Sobral com ruas alagadas pelas torrentes chuvas e cheias das barragens que sangraram nesses últimos dias.

Ano de fartura na mesa do sertanejo, do agricultor cearense. As plantas revigoram com nova roupagem mostrando suas vestes verdinhas nas folhas. Os sabiás, planta do semiárido solta suas pétalas brancas como um véu de noiva perfumando o sertão, e no chão fica como plumas de algodão. Assim também é o Pau-branco, a Aroeira. E quem explica esse fenômeno fantástico que acontece de séculos em séculos, ou quando vêm as chuvas renovando a esperança do homem do campo. Só Deus pode explicar!

O trabalhador braçal que leva como suas armas; o chapéu de palha, a enxada, o facão, a foice e uma cabaça cheia de água natural para matar sua sede e plantar seu próprio alimento. O feijão, o milho, mandioca, jerimum, maxixe, melancia.  Com ele a semente seca guardada de um ano para o outro do pepino, da fava, do feijão e milho enrolado num saquinho mesmo que seja de uma embalagem de açúcar ou vidrinho com rolha dependurado num frecha da cumeeira de sua casinha de sapé. Na trilha ou estrada feita pela pisagem do homem ou animal seguem juntinhos seus companheiros de labuta dois animais resistente à  seca e chuva: O cachorro vira-lata e o jumento, animais que topam tudo na vida e são amigos inseparáveis do  bicho chamado “Homem”. 

 

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Wilamy Carneiro é porfessor, poeta, historiador, cronista e memorialista. Autor dos Livros "Os Estados Unidos de Sobral.."Tempo de Sol"  e outras publicações.