A História Local
Por Mauri Daniel Marutti | 27/05/2008 | HistóriaA HISTÓRIA LOCAL
RESUMO
A análise e posterior produção textual aponta para a importância da História Local no currículo do ensino fundamental. Também mostra a preocupação em discernir o regionalismo dentro da História local e os estereótipos preconceituosos construídos a partir do mesmo. A descrição se aprofunda no sentido de valorizar e mostrar a interacionalidade entre o educando e a História de sua comunidade. Também ocorre uma grande preocupação em desmistificar a limitação espacial e cronológica imposta pela endemia da historicidade. Aponta para a expansão em direção a História Universal pelo fomento provocado pela pesquisa inicial ocorrida dentro da comunidade.
Palavras – chave: Educando; Comunidade; Resgate.
1 INTRODUÇÃO
A História Local apresenta-se como tema intimamente ligado à identicidade do educando e deste com o espaço e, portanto, resgata e valoriza esta historicidade. Este processo de aproximação parece ser um caminho louvável para o posterior ensino da História Universal. A apreendência de História in loco e endêmica, onde o educando passa a ser ator dinâmico da mesma, acaba fomentando a curiosidade e conseqüentemente o resgate e, preservação dos traços culturais dessa mesma comunidade.
A valorização da História Local é tão recente quanto a própria redemocratização do país, uma vez que nos tempos "generalescos" a mesma era vista com restrições. Era constante a vigilância sobre o sistema educacional para que os regionalismos não aflorassem com gritos de liberdade e afrontassem o regime vigente. Passados os tempos nefastos da ditadura uma preocupação vem trazendo a tona a História Local. Como ministrar a mesma sem invocar os regionalismos, como fazer desta uma parte integrante do indivíduo sem manifestar preconceitos e estereótipos.
A História hoje enfrenta o desafio de romper com o ensino pragmático e factóide, de tornar a mesma parte integrante do indivíduo para que o mesmo saia do seu microcosmos para a posteriori interligar os fatos regionais com os acontecimentos universais. Quando o educando como ator visualizar os sutis pontos de intersecção, entre cada fato ocorrido em sua comunidade, com os contextos da História Universal e o desenvolvimento da sociedade do Homo fabris, então, chegaremos ao indivíduo crítico e questionador, capaz de alavancar as modificações sociais necessárias para o bem comum.
Toda a pesquisa e análise para a construção textual foram pautadas na web-bibliografia e em bibliografias clássicas, bem como, nos textos normativos do MEC[1]. As opiniões e ponderações foram decorrentes do acompanhamento do estudo da História Local, principalmente aquela proposta pela escola pública. A preocupação cronológica limitou-se aos aspectos contemporâneos.
2 VALORIZAÇÃO DA HISTÓRIA LOCAL
Embora o educando na maioria das vezes não tenha a percepção e não dê a devida valorização para sua história, suas características comunitárias e os traços culturais típicos donde vive é hora de provocar a introspecção, cabendo ao educador apontar para a mesma e explorá-la. Em épocas cosmopolitas o resgate e valorização da história gênica de cada comunidade são fundamentais. A partir do momento que o educando torna-se partícipe do processo ensino - aprendizagem, neste caso o resgate da identidade temporal de sua comunidade, começa a aprofundar-se nos meandros da história, identificando e relacionando o desenvolvimento social de seu grupo. Para Mendes (2004):
[...] trazendo à tona acontecimentos, atores e lugares comuns ao estudante faz com que este se aproxime da disciplina, percebendo a relação dialética entre o passado desconhecido e o presente, tão próximo. Pode-se, a partir desse ponto, estabelecer uma problematização que estimule o aluno a sair da curiosidade ingênua, conduzindo-o a um conhecimento crítico da realidade, contribuindo para a construção de sua consciência histórica e o amadurecimento de sua cidadania.
Reaprender a História Local é na verdade a múltipla oportunidade de resgatar um passado ainda pulsante nas comunidades, é valorizar o conhecimento popular através de método cientificista que o próprio educando aplicará, gerando credibilidade as tradições de pouco registro e até mesmo as orais. Outro fator a ser ressaltado é a produção do conhecimento implícito no processo e sua conseqüente publicação ou registro oficializando a pesquisa. Completando a tríade destacamos a valorização do indivíduo e sua recuperação de estima típico de um processo participativo e útil a toda comunidade.
A cidadania alcançada através da autonomia é conseqüência natural do desenvolvimento da pesquisa. A medida que o apreendente associa sua história e a relaciona com sua condição atual, começa a refletir sobre a ausência de casualidade nas mazelas impostas pelo modelo vigente de sociedade economicista. Identificando então as ligações existentes entre o seu meio circundante e a situação paralela de outras regiões no contexto globalizado. Leiamos os apontamentos de Freire (1996, pp. 85 e 86) acerca da ação patrocinada pelo indivíduo:
É o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar.
3 EX LOCUS ET MUNDI
Imaginar que o estudo da História a partir das comunidades é aprisionar o educando em suas limitações geográficas e temporais é ignorar as múltiplas capacidades natas do homem. O objetivo do estudo da localidade é justamente buscar subsídios para um alargamento das fronteiras do conhecimento da história das sociedades e os constantes vínculos dos processos de dominância. Dominar a história da comunidade e interagir com a mesma é tornar o educando agente ativo e modificador da realidade desta comunidade.
Quando o aluno de maneira consciente e crítica compreende a história que o construiu tem a tendência de ampliar seus horizontes de pesquisa e com mais facilidade e, intensidade penetra na História Universal. O que parece obstáculo, no caso, as questões limítrofes de espaço e tempo acaba sendo um motivador, já que fomenta e irradia de maneira natural e espontânea o estudo histórico da sociedade.
Iniciar o estudo de História a partir de uma visão universal e alheia ao convívio da criança, onde são apresentados espaços geográficos e temporais distantes da compreensão do educando, mostrou-se pouco produtivo e auxiliou a criar estereótipos. Situar a criança espacialmente e temporalmente, primeiro em sua comunidade e, depois estendendo para a historicidade geral, onde efetivamente o indivíduo consegue visualizar-se como elemento participante da história é valorizar o agente tornando-o ser social e histórico.
4 CONCLUSÃO
A importância do estudo da Histórica Local está na tentativa de fazer com que o educando reaprenda e valorize a historicidade de sua comunidade e, de sua própria história. Mostrar ao educando que o mesmo é partícipe da história e torná-la importante é o principal desafio do professor. Desmistificar o ensino de História desconstruindo o ensino tradicional de simples memorização sistêmica de datas e fatos ocorridos, para a construção de um estudo participativo, investigativo, cientificista e crítico da realidade histórica das comunidades em um contexto de universalidade, deve ser o pilar de sustentação do educador.
A participação do educador é fundamental neste resgate da história das comunidades onde o agente primordial é o educando. O educador deve estimular e apresentar as ferramentas necessárias para este resgate. Os aspectos metodológicos e que levam ao cientificismo devem ser devidamente compreendidos pelos participantes. A necessidade de registro de todo o processo é o marco fundamental e a garantia de existência do processo ensino – aprendizagem realizado. Fatores como o motivacional e criativo não devem ser dissociados da prática educativa.
Finalmente reafirmamos a necessidade de interação entre escola, na figura do educador e dos educandos e, a comunidade, alvo da pesquisa. Provocar a comunicação com a comunidade é elemento fundamental na reconstrução histórica da mesma. A medida que os personagens e fatos familiares começam a vir a tona dentro da comunidade é recuperada a identidade do personagem principal – o educando. A própria comunidade reconstrói a sua identidade que passa da oralidade para os registros documentais, mesmo que escolares.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 25 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MENDES, Anderson Fabrício Moreira. Ensino e vivências: as apreensões da história local no cotidiano da sala de aula. Disponível em: <http://www.revistatemalivre.com/anderson09.html>. Acesso em: 03 de maio 2008.
[1] Ministério da Educação e Cultura.