A HISTÓRIA BAIANA E A HISTÓRIA BRASILEIRA EM SARGENTO GETÚLIO
Por Juliano Ramos Santos | 20/07/2012 | LiteraturaA HISTÓRIA BAIANA E A HISTÓRIA BRASILEIRA EM SARGENTO GETÚLIO*
Juliano Ramos**
Vitor Hugo Martins***
RESUMO: Este artigo destaca a importância da obra Sargento Getúlio (1971), do escritor João Ubaldo, na formação de uma épica questionadora acerca da história oficial brasileira. Desse modo, estudam-se os fatos históricos das décadas de30 a 50 em seus aspectos político e cultural, ressaltando e revisando os elementos identificados da história baiana e brasileira na obra ubaldiana.
PALAVRAS-CHAVES: Sargento Getúlio, João Ubaldo, história baiana, revisão, política.
ABSTRACT: This article detaches the importance of the workmanship Sargento Getúlio (1971), of the writer João Ubaldo, in the formation of an epic questionadora concerning Brazilian official history. In this manner, the historical facts of the decades of 30 are studied the50 in its aspects cultural politician and, standing out and revising the identified elements of bahian and Brazilian history in the ubaldiana workmanship.
WORDS KEYS: Sargento Getúlio, João Ubaldo, bahian history, revision, politics.
Cabo eleitoral dessa laia não merece respeito. Mesmo agora que perdia autoridade, sempre fica o prestigio. Em Aracaju tenho as costas quentes e não é assim que Getúlio vai se ver de uma hora para a outra. (João Ubaldo Ribeiro, Sargento Getúlio, Rio de Janeiro: Nova Fronteira 1982, p.16).
L
*Artigo apresentado ao docente Vitor Hugo F. Martins, do componente curricular Estudo da Ficção Brasileira Contemporânea, do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus XXI, como requisito para a complementação de nota.
* *Graduando do curso de letras, V semestre, vespertino.
*** Doutorem Literatura Brasileirae professor da Universidade do Estado da Bahia.*
INTRODUÇÃO
Ao escrever Sargento Getúlio, João Ubaldo Ribeiro teve plena consciência de que a obra literária, contrariamente à grande maioria dos textos que têm objetivos unívocos, é plurissignificante e qualquer tentativa de transformar o texto literário em propaganda de determinadas idéias, pode comprometer seu valor maior, qual seja, o de estar continuamente aberto a múltiplas interpretações por seu caráter simbólico. Contudo, isso não impede de, não querendo mudar o mundo, queira mudar o leitor, apresentando-lhe caminhos alternativos de compreensão e da sociedade em ele se insere.
Desse modo, ao escrever na tensão dos contrários, integrando o erudito e o popular, o trágico e o cômico, o sublime e o grotesco, e inscrevendo nesse espaço intervalar elementos de desestabilização das estruturas político-sociais brasileiras, João Ubaldo busca apontar dentro de sua obra elementos procedentes da história, da política e da cultura numa ficção ambígua e ao mesmo tempo engajada.
Assim, as páginas que se seguem reúnem uma releitura da historia oficial baiana e brasileira, bem como informações valiosas que contribuirá para o conhecimento dos movimentos culturais e políticos no Brasil, ressaltando, portanto a repressão pelos quais passaram esses movimentos nas décadas de 30 e 50.
A respeito de Sargento Getúlio, o próprio João Ubaldo afirma ser Sargento Getúlio é um romance engajado. O engajamento de que fala João Ubaldo se realiza de forma muito sutil, pois, em nenhum momento, compromete o valor literário do texto. Desse modo, Sargento Getúlio, escrito em 1971, não é um livro datado, resistindo ao passar dos anos. Segue desafiando os leitores por conseguir resgatar de modo dinâmico e revisatório, a historia política, baiana e brasileira.
No caso de Sargento Getúlio, o personagem se coloca a serviço do cenário político, trazendo verdadeiros manifestos contra o que choca o brasileiro.
Nesse sentido, ao abordar a história baiana e conseqüentemente a brasileira, Getúlio mostrou o seu compromisso literário de forma bastante sutil: denuncia as situações de autoritarismo na política brasileira onde o poder despótico de lideres políticos não tem limites, aliciando os jagunços que torturam e matam em seus nomes. Assim, João Ubaldo centra a narrativa justamente em um matador profissional e autoritário, o famigerado Sargento Getúlio, procurando aludir por meio do nome, “Getúlio Bezerra” (personagem) a Getúlio Vagas, presidente autoritário e truculento.
A edição que utilizamos aqui de Sargento Getúlio é a 22ª, da editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1982, doravante SG.
I – História Baiana: Getúlio dos Santos Bezerra
Alguns escritores sempre são lembrados por trabalhar com as forças simbólicas, em sociedade marcada pelo autoritarismo e dividida em camadas sociais. João Ubaldo Ribeiro é um desses escritores a quem recorri, em Sargento Getúlio, ara mostrar a analogia que ele faz ao governo ditatorial em que vivia o Brasil e efetivamente a Bahia. Desse modo, é imprescindível perceberem Sargento Getúlio as inúmeras características pós-modernas que podemos destacar, como a prática da metaficção historiográfica, a qual é apresentada e comentada por Linda Hutcheon; as ambigüidades e ambivalências, o uso freqüente do estilo paródico, as hibridações de estilos e falas, entre outras, ela é "essencialmente revolucionária e anticonformista", reeditando, a seu modo, o estilo engajado dos anos 1960. Contribuindo, por meio da ironia e do riso, para a desestabilização de estruturas político-sociais injustas e discriminatórias, sendo essa sem sombra de dúvidas uma das metas do escritor no seu cotidiano corpo a corpo com a palavra.
(...) O chefe disse: traga-me esse homem vivo seu Getúlio. Quero o bicho vivão aqui, pulando. O homem era valente, quis combater mas a subaqueira dele aganchou a arma, de sorte que foi o final dele.
(...) Era só questão de dar umas porretadas de ensinamento, não era como quando foi quebrar o jornal comunista. Essa quebra ninguém mandou, mas o jornal aporrinhava o chefe, de sorte que um dia foi queimado e faltou água para os bombeiros. Não sobrou nada e tinha um comunista chorando na porta. Cólera frouxissímo sem duvida baiano.(..) Foi o fim dos udenistas comunistas. Na hora que arrocha, se ao se todos para Caixa Prego. Levei diversos. Luis Carlos Prestes.(...) não teve gueguê nem gagá. Seu Getúlio me compreenda uma coisa, me desça o pau nessa corja.(RIBEIRO, 1982 p.18)
A literatura, assim, ao tratar das questões referentes à realidade, cai no campo da possibilidade, onde ganha força ao que poderia ou deveria ser ressonância de acontecimentos possíveis, portanto, a literatura trabalha com a verossimilhança, dando um caráter de realidade a obra literário.
Assim, em Sargento Getúlio, a verossimilhança é executada por meio de lutas, repressões e violências representadas pelo fiel homem comum rústico, pelo típico “cabo eleitoral” com suas façanhas, que atingindo por influencias externas perde de vista a própria historia de vida e seus sonhos; camuflando-os.
Bonita coisa queima o jornal dos comunistas.
Bonita coisa queima o jornal dos comunistas. Entrou tudo na chefatura, reclamando, reclamando, ah porque não foi eu que e queimei o jornal, ah porque isso não pode, ah porque não sei o quê, ah porque o pai dele é importante e vai soltar ele essas coisas. Marchou tudo para dentro, abriram inquérito. Por mim, estava tudo lá até hoje. Essa gente não presta. Chegaram na casa do chefe e avisaram quer dizer, um coquete avisou que vamos pegar o homem em casa, se não tiver pegamos a mulher do homem, se não tiver pegamos o filho. Veio a força armada da Bahia, botaram cachorro, escondemos o menino e se dispomos por baixos dos oitizeiros da pra pela riba do palanque em cima da piçarra.(RIBEIRO,1982 p.18)
Nesse trecho, é imprescindível salientar que por meio da força simbólica do personagem Getúlio e de seu autoritarismo, o autor quis mostrar a realidade ditatorial brasileira, assim, posto como tais, a história e a literatura como representação respectiva do que sucede e do que poderia acontecer oferecem dois acessos dependentes um do outro, o do acontecimento e o conhecimento narrados em Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, distanciando da simples descrição histórica para atingir as heranças reveladoras das virtudes que faz desse conhecimento e desses acontecimentos uma realidade admissível e numa virtualidade deslumbrante moldada por meio do pensamento fictício e do sonho.
Vejamos, portanto, o contexto em que socialmente é concebido e nasce Sargento Getúlio, Vítima do coronelismo ainda remanescente da década de 50. Assim, descreve Tavares:
Na madrugada de 11 de maio de 1938, militares e civis integralistas atacaram a residência do presidente da republica Getúlio Vargas no palácio da Guanabara, no Rio de Janeiro(...)
Surpreendidos com o barulho dos tiros, vozes altas e correria, o presidente Vargas e sua família armaram-se e defenderam-se. Situação que permaneceu cerca de Três horas, até a chegada de forças de socorro comandadas pelo coronel Osvaldo C. Farias e o general Eurico Gaspar Dutra (ministro da guerra).
A tentativa de assalto ao palácio da Guanabara, repercutiu na Bahia com a prisão de militares da A,B(...).
Nem todos episódios eram os do Brasil estado na vista, sucediam-se também os que testemunhavam à existência de um Brasil desconhecido, um Brasil atrasado e imensamente pobre que ainda não chegava ao século XX.(TAVARES,2000, p.286-287)
Nesse trecho, pode-se confirmar a existência de uma Bahia pobre, necessariamente agrária e dominada pelos latifundiários, os quais tinham a policia ao seu lado. Assim, é essencial citar como exemplo, o episodio no Pau de colher, no município de Casa Nova, caatinga baiana, e ao norte de lampião. Esse episódio comprova o autoritarismo da P.M de Pernambuco. Este acidente entre Bahia e Pernambuco, provocado pela incursão da PM pernambucana ao território o estado da Bahia, (1938), serviu ao menos para revelar mais uma das freqüentes manifestações cultural, religiosa nos sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará. Ficou conhecido sob a dominação da fazenda em que localizou e onde a PM de Pernambuco dizimou dezenas de homens e mulheres.
Localizada na caatinga de São Francisco, área extremamente seca, Pau de Colher era um centro de convergência para centenas de lavradores de uma extensa região, possuía o açude e tinha uma concorrida feira semanal. Sob a liderança do “Santo” José senhorinho, passou a ocorrer ali reuniões dominicais com a participação de centenas de pessoas. O beato cearense Quinzeiro, chegou ali nos meses finais de 1937. Junto com José Sobrinho, Quinzeiro formou uma comunidade hierarquizada em três ordens: 1º, os padrinhos (José Senhorinho era o padrinho “São Jose”, Quinzeiro, o “padrinho padre Cícero”). 2º, os sopradores, mulheres que instilavam forças nos fies soprando em suas cabeças. E 3º, os rezadores.
Com medo de ocorrer uma novo movimento camponês como Canudos, os latifundiários começaram, a reivindicar a de imediato providencias policiais.
Com esse procedimento tornaram se uma perturbação na região de pequena pecuária. Os donos da terra reclamaram providencias policiais. A 10 de janeiro de 1938 o destacamento policia na Casa Nova (Sargento Geraldo Bispo dos Santos, um cabo e quatro soldados) surpreendeu-os, matou o “santo” José Senhorzinho e o beato Quinzeiros. Mas foram cercados e mortos a pauladas. Foi daí que sucedeu a intervenção da PM de Pernambuco. Sob o comando do capitão Optato Gueiros, na madrugada de 19 de janeiro os soldados pernambucanos chegaram a Pau de Colher e destruíram o povoado do que resultou elevado número de mortos. (TAVARES, 2000. p 287 – 288)
Portanto ao apresentar fatos históricos como o acima citado, a literatura se apossa da verossimilhança para dar um caráter real à estória.
Ao focalizar o autoritarismo de Getúlio Bezerra da Silva, João Ubaldo quis evidenciar a ditadura e violência com que o Brasil era governado. O autoritarismo violento e covarde da policia que se aproveitava da sua condição para (matar, prender) proceder de forma ilegal e como, por exemplo, o abuso da autoridade.
Muitas manifestações aconteceram na Bahia e em Sergipe, após o golpe de 1937. Seguira-se três meses de intrigas e negociações, no etilo de suspeitos e desconfianças do presidente Vargas. No Final de novembro o coronel Renato Onofre Pinto Aleixo, foi escolhido e nomeado a interventor federal da Bahia (não era baiano), sendo promovido a general pouco depois de ser empossado.
Foi no seu período de interventor que ocorreram alguns episódios de maior destaque na campanha baiana pela participação do Brasil na guerra contra o nazi-facismo.
Em1945, aunião dos estudantes da Bahia comanda protesto que tomaram o centro da cidade de Salvador.
A campanha pela anistia cresceu ao tempo em que o governo Vargas marcava eleições para a presidência da república e surgiam partidos políticos, como UDN, com o seu candidato à presidência. O brigadeiro Eduardo Gomes e o PSD com Eurico Gaspar Dutra. Um dos manifestos então publicados acentuou. “A anistia é mais que uma pratica política, é uma posição de origem popular”. Não deixando um só dia às ruas e praças de Salvador, seja na palavra ANISTIA escrita em muros e paredes, seja em comícios relâmpagos, em debate, associações profissionais e sindicatos.
Como resultado desta campanha a anistia retirava da prisão o capitão Luis Carlos Prestes, o legendário cavaleiro da esperança, há muito tempo identificado com o partido comunista, libertando também centenas de militares, jornalistas, escritores, professores de nível superior, profissionais liberais, intelectuais e operários, e ainda trazia de volta ao Brasil políticos de grande prestigio, dentre os quais estava o baiano Otávio Mangabeira (idem, bdem,.295).
Em 18 de abril o decreto de anistia permitiu a imediata libertação dos prisioneiros políticos. Não sendo tão amplo quanto o desejado, visto que não devolvia as patentes do militares, as cátedras dos professores e os cargos dos servidores públicos. Mesmo assim fora comemorada na cidade com um comício improvisado no alto da ladeira da praça, pois a Anistia abria caminhos ainda fechados para o fim da censura a jornais , revistas e rádios, para a propaganda política e as definições partidárias. Sob este aspecto foi a mais importante conquista política contra a ditadura estadonovista como esclarece Tavares:
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(...) A Bahia conheceu três interventores federais: João Vicente Bulcão Viana (baiano de São Francisco do Conde). Governou de 8 de novembro de1945 a19 de fevereiro de 1946; Guilherme Carneiro da Rocha Mabak, ficou de 20 de fevereiro a 26 de julho de 1946 e o comandante da 6ª RM (Bahia e Sergipe), general Candido Caldas. Seria mais uma indicativa da distancia que o presidente Dutra estabelecia para os políticos, antes que a eles e aos partidos preferindo governar com o dispositivo militar. Promulgada a constituição a sua existência impunha uma nova realidade política: as eleições marcadas para governador e deputados estaduais constituintes (...).(idem (ibdem) p.303).
Otavio Mangabeira foi o candidato do governo da Bahia pela coligação UDN-PSD, como apoio do PR, do PCB, e do PRP contra Antônio Garcia de Medeiros Neto (PTB). Luis Carlos Prestes veio à Bahia em comício na praça da Sé, o apoio dos comunistas a Otávio Mangabeira que foi eleito governo. Também foram eleitos e 60 deputados que compuseram a assembléia constituinte de 1946.
No texto de Tavares que horas se segue, percebe-se claramente que Sargento Getúlio estava efetivamente inserido nesse contexto. Portanto, é evidente que no discurso da obra Sargento Getúlio estão presentes a repressão à violência o preconceito pelos quais perpassavam os que lutavam contra as astutas ciliadas do governo.
Essa quebra ninguém mando um mas o jornal aporrinhava o chefe, de sorte que um dia foi queimado(...) Não sobrou nada e tinha um comunista chorando na porta. Cabra frouxissimo. Sem duvida baiano(...) (RIBEIRO:1982 p.18)
Faz-se necessário salientar que com a expansão dos jornais e revistas, a crônica foi um gênero que ganhou espaço retratando aspectos do cotidiano, em geral de maneira leve, mas na maioria das com forte fundo irônico e critico, como nos textos de João Ubaldo Ribeiro.
Sem dúvida, Sargento Getulio é uma obra que merece destaque pro distanciar-se da simples descrição histórica para atingir as nuanças reveladoras das virtudes que fazem dos acontecimentos e conhecimentos já explícitos na historia oficial e uma nova realidade admissível e deslumbrante moldada por meio do pensamento fictício, da imaginação.
O que acontece no livro Sargento Getulio é uma revisão da história oficial, uma nova visão dos fatos ocorridos e idos como verdadeiros. É uma reescritura dos acontecimentos sobre uma ótica analítica e critica.
II. Getúlio Dorneles Vagas: Historia do Brasil
A revolução de 1930 foi o marco de uma nova fase política do Brasil. Em caráter provisório, mas com amplos poderes, Vargas assume a presidência do Brasil com o propósito de estabelecer a ordem para convocar eleições presidenciais. Entretanto, Vargas mudou os planos, permanecendo no poder por 15 anos consecutivos divididos em três fases: Governo Provisório, Governo Constitucional e Estado Novo.
Em outubro de 1930, Getúlio Vargas, gaúcho de São Borja, assumia o poder no qual se, manteve por 15 anos. A princípio como chefe de governo provisório; depois como presidente eleito pelo voto indireto, finalmente, como ditados, Getúlio foi deposto em 1945, para retornar à presidência pelo voto popular em 1951. Este último mandato, porém, não chegou a completar, suicidando-se e 1954. (Mozer, 2002. p. 204)
Uma vez no poder, Getúlio eliminou a constituição de 1891, proporcionando assim mesmo, plenos poderes e respaldado pela Lei Orgânicade 06 de novembro de 1930 r com o aval das Forças Armadas, tomou medidas necessárias para consolidar a questão política, como por exemplo, o fechamento do poder legislativo nas três esferas. Em 16 junho de junho de 1934 foi promulgada uma nova habilidade política de Vargas, valeu-lhe o título de “Pai Dos Pobres” e conseguiu ser eleito pelo voto indireto pela assembléia constituinte.
Em 1937, quando se aproximava o fim do seu mandato previsto na constituição de 1934, Vargas e seus colaboradores mais próximos trataram de encontrar u meio de suspender as eleições marcadas para 03 de janeiro de 1938.
Assim como tinham feito os nazistas na Alemanha, os seguidores de Vargas usaram um pretexto, a ação dos comunistas-mesmo estando quase todos presos. Chegou-se a elaborar um plano falso, o Plano Cohen. Tido como plano de origem soviético, com o propósito e implantar o comunismo, com base nas informações dos membros do setor de segurança do Estado.
O Plano Cohen foi divulgado com grande estardalhaço provocando comoção nacional. Disso se aproveitou Getúlio para decretar o estado de guerra que lhe permitia prender qualquer pessoa sem ordem judicial e obter o apoio das forças armadas e dos governadores para seus planos golpistas.
Poucos foram contrários, como o governador paulista Armando Sales Oliveira, que julgava possível afastar o comunismo sem cancelar as eleições.
Getúlio tinha certeza do sucesso do golpe que ministro da justiça, Francisco Campos, já redigia em segredo, uma nova constituição.
Contando com o apoio de vários segmentos sociais, como a Igreja, a classe média e o exército, temerosos da implantação do regime comunista, Vargas suspendeu as eleições; tendo o aval integralista, fechou o poder legislativo em suas três instancias e no dia 10 de novembro de 1937, deu u golpe de estado e implantou uma nova fase política, O Estado Novo, no dia seguinte, outorgou uma nova constituição a qual concentrou todos os poderes nas mãos do presidente.
Congresso nacional fechado, sindicato e associação e classe sob intervenção. Prisões políticas tortura e impressa sob censura prévia – essas foram algumas das armas da ditadura do Estado Novo para conter e calar a oposição. Se isso não suficiente Getúlio Vargas partia para atitudes mais contundentes. Muitos dos presos encontraram a morte nas seções de tortura dos porões do Estado Novo.
Intelectuais, comunistas, artistas, escritores, jornalistas, eram presos ou proibidos de se manifestarem sob o risco de prisão. O jornalista Everaldo Dias, para não ser preso periodicamente teve que responder a interrogatórios sobre onde morava, o que fazia, quem eram seus amigos. Graciliano Ramos um dos maiores escritores do país, foi preso em Alagoas e em seguida trazido para o Rio de Janeiro, teve sua cabeça raspada e ficou mofando de presídio em presídio, sem processo e sem nunca ter sido ouvido.
O Estado novo utilizou o trabalho de muitos artistas que recebiam dinheiro para fazer músicas de exaltação ao Brasil, ao ditador e as suas iniciativas. Isso foi uma das formas utilizadas pelo Estado Novo para transmitir a ideologia do nacionalismo, a qual visava, portanto controlar e manipular o povo. Como parte de seu trabalho de propaganda, o DIP(Departamento de Impressa e Propaganda, organizava o programa A Voz do Brasil, diariamente transmitido à mesma hora, por todas emissoras de rádio do país. A função do programa era divulgar as realizações do governo, destacando a figura de Getúlio Vargas e dos outros líderes do regime.
Todo esse esforço da propagando tinha por objetivo legitimar e exaltar o Estado Novo. Para isso era necessário não só manter e ampliar o apoio da população a Vargas, mas, também criar uma mitologia ao redor do líder, transformando Getúlio em uma figura providencial, alguém enviado pela providência divina para salvar o Brasil da ameaça comunista.
Um dos aspectos dessa mitologia foi a criação da imagem de Getúlio como governante benévolo e colonial, como o titulo de “Pai dos Pobres” que concedeu “generosamente” aos trabalhadores a legislação trabalhista. Por isso, o governo contou com a colaboração de líderes sindicais ligados ao ministério do trabalho.
Um dos grandes acontecimentos ocorridos no Estado Novo foi à eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Adotando uma postura neutra, Vargas procurou tirar proveito da situação já que o Brasil era cobiçado pela forças do conflito (Aliados e o Eixo). Nesse contexto dualístico, Vargas conseguiu um empréstimo norte-americano, ficando preso aos interesses dos Aliados.
Em janeiro de 1945 ocorreu uma manifestação importante realizada pelo congresso brasileiro de escritores. Reunidosem São Paulo, os escritores exigiam o retorno do país a legalidade democrática e a eleição de um novo governo pelo voto direto dos cidadãos.
Cada vez mais isolado, em fevereiro de 1945 Getúlio Vargas deu início a uma reforma constitucional, regulamentado as eleições para presidência da república, os governos estaduais, o congresso nacional e as assembléias legislativas. Em seguida, anistiou os presos políticos e deflagrou um processo de formatação de partidos políticos.
Surgiram, portanto, doze partidos, sendo quatro de maior representatividade: O Partido Social Democrático (PSB) era formado por políticos ligados ao Estado Novo e a Vargas; O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) reunia lideres militares do movimento sindical ligado ao presidente; a União Democrática Nacional (UDN) foi articulada por banqueiros e empresários nacionais contrários a política de Vargas; o Partido Comunista do Brasil (PCB) que saiu da ilegalidade e agrupava militares de esquerda.
A UDN e outros setores lutavam pelo afastamento de Vargas e pela instituição de uma assembléia constituinte. Mas Vargas pretendia continuar no poder. Para isso conseguiu o apoio dos trabalhistas e dos comunistas que passaram a defender a tese da constituinte com Getúlio. O movimento ficou conhecido como Queremismo: “Queremos Getúlio” era palavra de ordem.
Entretanto, ambos os setores, sociedade e militares não queriam mais Getúlio. Aproveitando um pretexto da nomeação de Benjamim Vargas, irmão do presidente para o cargo de chefe de polícia do distrito federal, em 29 de outubro de 1945, os chefes militares obrigaram Getúlio Vargas a deixar o governo. A presidência foi entrega a José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal. Getúlio retirou-se para sua estânciaem São Borja, no Rio Grande do Sul.
Nas eleições presidenciais de dezembro de 1945, três candidatos concorriam o General Eurico Gaspar Dutra, apoiado pelo PSD, - PTB - Partido ligado à Getúlio; o Brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) e Yedo Feuza do PCB, vencendo, portanto, Dutra da coligação PSD – PTB.
No mundo que começava a ser dominado pela guerra fria, o governo Dutra alinhou-se dedicadamente aos Estados Unidos. Orientado por essa posição em 1947 o governo colocou na legalidade o partido comunista, cujos parlamentos tiveram seus mandatos cassados. No ano seguinte rompeu relações diplomáticas com a União Soviética.
Durante quinze anos em que governou o País –1930 a1945, Getúlio Vargas tornou oficial muitas das conquistas dos trabalhadores. Era parte de uma política populista que atraía a simpatia de o apóio das camadas populares. Graças à instituição dessas leis e a intensa propaganda do estado Novo, ditador conquistou entre setores humildes da sociedade uma imagem favorável. Sustentada por base, Getúlio venceu as eleições para presidente em 1950 e voltou ao poder “nos braços do povo” como ele próprio dizia.
Com uma imagem de mito populista, Vargas volta ao governo em eleições diretas, graça a sua política populista e paternalista no ano de 1951. Mantendo sua postura nacionalista, procurou alavancar a indústria brasileira, mesmo com investimento estrangeiros desde que a maioria ficasse na mão de nossos empresários.
O nacionalismo e o populismo continuaram a ser a marca do seu governo. Getúlio tomou medidas de impacto como o aumento de 100% do salário mínimo congelado há muito tempo.
As medidas causaram intensa repercussão política. Entres os descontentes estavam os grandes empresários e os altos chefes militares. Acusado de ceder em demasia aos sindicatos e a de pretender instalar uma república sindicalista, o presidente passou a sofrer forte oposição do congresso, especialmente da UND.
Um dos principais porta-vozes dessa oposição era o deputado udenista Carlos Lacerda. Na tribuna da câmara ou nas páginas do seu jornal carioca Tribunal da Impressa, Lacerda fazia ataques constantes a Getúlio Vargas e seus auxiliares, a quem acusava de corrupção. Em 05 de agosto de 1954 Lacerda sofreu um atentado de morte na rua Toneleros, em Copacabana – RJ, sendo alvejado na perna, no entanto foi vitimado o major da aeronáutica Rubens Vaz.
Em 23 de agosto, Vargas recebeu um manifesto assinado por oficiais das Forças Armadas, exigindo sua renúncia.
Cada vez mais acusado e sem meios de defesa Vargas optou pela trágica atitude de suicídio com um tiro no coração na manhã de 24 de agosto de 1954.
É imprescindível salientar que dentre as principais realizações de Getúlio Vargas, vale destacar a criação da Petrobrás, estabelecendo monopólio estatal sobre a prospecção e refinamento do petróleo; o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) e a criação da Eletrobrás, que passava a ser monopólio estatal mesmo sendo controlada, até então, pelas empresas estrangeiras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos limites impostos ao corpus desse trabalho não foi possível abordar todos os aspectos relativos ao tema tratado. Buscou-se, então desencadear uma reflexão a cerca da necessidade de relacionar ao conhecimento da analogia assim feita de Sargento Getúlio com a política no Brasil nas décadas de30 a 50, como também contribuir para uma análise da política ditatorial do regime militar.
A metodologia sugerida, calcada essencialmente no estudo de texto e na obra ubaldiana, Sargento Getúlio, contribuiu para o desenvolvimento da competência na execução desse ensaio.
Além das precípuas finalidades culturais, a operacionalização do resultado das pesquisas proporcionou-nos o despertar para a valorização da cultura nacional e, consequentemente, da política e da literatura.
Na opinião do escritor o mais fascinante nesse tipo de literatura, e o vinculo que ele faz com seus romances de suas raízes. Toda via o gênero tem permissão para explorar e expor a língua brasileira, o contexto histórico e social da época, trazendo verdadeiros manifestos contra o que choca os brasileiros. Ai fica evidente que a lógica da obra de João Ubaldo Ribeiro, é fazer com que acontecimentos do passado expliquem o presente.
Assim, o maior serviço prestado por Sargento Getúlio ao leitor é o resgate da memória histórica, sobre um ponto de vista critico e revisatório da história oficial, e paralelo com o entretenimento. Portanto, este artigo não pretende esgotar o assunto, pelo contrário, deixa em aberto a possibilidade de ampliação de todo o tema proposto, dando condições de novas leituras ou releituras acerca da problemática em questão.
REFERÊNCIAS
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RIBEIRO, João Ubaldo. Sargento Getúlio. 22ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
TAVARES, Luiz Henrique Dias. História da Bahia. Correio da Bahia. Salvador, 2000, p. 273 – 309.