A Guerra Civil a Brasileira
Por Filipe Machado do Carmo | 30/10/2017 | EducaçãoA nossa criminalidade tem matado mais que a guerra civil da Síria. Mas tudo bem, "não" constitui um problema social, pois quem morre é preto e pobre de periferia.
Também não constitui um problema econômico, não é ? Pois quem financia a bala que mata esses mesmos pretos e pobres é o Estado, pois temos uma das polícias que mais mata no mundo.
Também não constitui um problema religioso, pois apesar de cidadãos do bem acreditarem em um remoto paraíso, a religião adota o discurso da prosperidade e é usada para fins eleitoreiros, logo muitos líderes religiosos nada dizem sobre o ódio praticado gratuitamente contras gays, lésbicas, mulheres e praticantes de religiões afro.
A Guerra da Síria, diferente da nossa, ocorre devido às ingerências de potências como EUA e OTAN (Inglaterra, França), Rússia, já a nossa é um Projeto de Estado genocida, em que, entra governo e sai governo, e a morte de índios, negros, pobres e mulheres não são freadas, mas, pelo contrário, são os "entretenimentos" mais costumeiros para os apresentadores de programas policiais destilarem seu ódio medonho, fazendo crer que o que aqui funciona é a lei do cão, a lei da mídia, a lei do cão midiático...
Resumo da ópera: guerra civil à brasileira não tem "cara" de guerra, tem cara de "status quo", tem cara de programa policial, de terrorismo de "cidade alerta"... Às vezes uma coisa muda para que tudo permaneça o mesmo... há quem tenha medo de que o medo acabe.
Uma bala na nuca de um menor qualquer, num beco qualquer, filho de um fulano qualquer, por um PM qualquer, com a conivência de um criminoso qualquer, evento espetacularizado por uma emissora qualquer, que apavora uma dona de casa qualquer, destilando um medo qualquer, produzindo estatística a ser citada numa palestra qualquer, para um graduando ou doutorando usar como fonte numa tese qualquer, corpo a ser esquecido num IML qualquer...
Tudo isso faz crer que a ideia de sociedade é um grande engodo civilizatório e que acabamos criando um simulacro chamado de sociabilidade para enganarmos uns aos outros para desencargo de consciência para seguirmos em frente, pelo menos até o momento em que a arma do Estado que está apontada para o menor não se volte contra nós ou contra nossos filhos.
Nossa egolatria tem nos matado há anos e não nos damos conta.
Filipe Machado, 28, um historiador qualquer.