A GRANEL
Por Sergio Sodre | 05/08/2010 | AmbientalA GRANEL
Naquele tempo a infância corria de pés descalços pelas ruas de chão batido e brincava na água deixada pela chuvarada, sem se preocupar com a Leptospirose. As frutas não eram tão vistosas, mas tinham mais sabor, duravam mais na fruteira e não traziam toxinas na casca. A gente dava boa noite para o Cid Moreira quando acabava o jornal nacional e os Mp3, Mp4 e similares não tinham fone de ouvido e eram chamados de rádio à pilha.
Naquele tempo não existiam Supermercados, mas sim, Armazém de secos e molhados onde se comprava alimentos a granel, ou seja, existiam caixas de madeira retangulares e com divisões onde se colocava arroz, feijão, açúcar cristal e até mesmo macarrão - cada uma em sua local. O dono do comércio retirava somente a quantidade solicitada pelo cliente e enrolava em papel manteiga (que depois era utilizado para fazer fogo no fogão à lenha, na casa do cliente).
Um dia eu fui levado a um Supermercado e fiquei maravilhado ao ver os produtos organizados e em embalagens coloridas, cada um no seu lugar; foi bem rápido também que vi os pacotes de papel serem substituídos por sacolas plásticas, na hora dos produtos serem embalados no caixa. No mesmo passo que surgiam mais supermercados, fechavam-se as portas dos secos e molhados e as caixas de madeira ganhavam o mesmo caminho do já sem uso, papel manteiga: o fogão à lenha.
Anos depois, já no início dos anos 90, quando eu concluí o segundo grau (atualmente chamado de ensino médio), na disciplina de Estudos Sociais, a professora falava em crescimento desorganizado, controle de natalidade, êxodo rural e outras coisas deste gênero e contemporâneo a isso, as pessoas vendiam aos carroceiros, algumas garrafas vazias de refrigerante, pois os supermercados estavam vendendo refrigerante em garrafas PET.
Os anos foram passando; o espelho já me mostra alguns cabelos brancos. As grandes guerras chegaram ao fim e só se combate agora os Radicais Livres. Quando se vai ao Supermercado para comprar um pimentão, dois limões e três maçãs, chega-se em casa com tudo isso e mais três sacos plásticos e, no mínimo, uma sacola e ao preparar uma refeição, calcula-se o seu valor calórico, mas se esquece de pesar a quantidade de lixo seco que se coloca na lixeira; sem esquecer que a quantidade de alimentos de rápido preparo, cresce, mas faz crescer também a quantidade de lixo descartado.
Ao fim do jornal, já não se dá mais boa noite ao apresentador, pois a última matéria que foi apresentada sobre degradação do planeta, mostrou pilhas e mais pilhas de garrafas PET, sacolas plásticas, baterias de diversos aparelhos provocando alterações drásticas na sociedade e atacando os recursos naturais e nos deixa apavorados e por minutos, sem esperança e desligados.
Correndo o risco de ser Tachado de saudosista e retrógrado, reflito sobre as aulas de Estudos sociais e as garrafas vendidas à sucata e observo o imenso mal que fizemos em não ter tomado as medidas certas nas épocas certas, pois as chamadas "Futuras gerações" estão entre nós e não poderão experimentar aquela vida simples de correr de pé descalços, comer frutas saudáveis e, acima de tudo, ter um planeta limpo para viver, com saúde e vida de acordo com a vontade de cada um... a granel.