A GESTÃO DO TRABALHO NO CAPITALISMO
Por Orlando Rodrigues | 26/01/2010 | AdmA ciência da administração está intimamente ligada ao conceito de organização, sob o ponto de vista da ordenação racional de coisas e pessoas no tempo e no espaço, visando o melhor desempenho na execução de determinadas tarefas.
O conceito de organização é também entendido como uma união de pessoas que, num dado momento, compartilha de objetivos comuns, tornando-os, muitas das vezes, prementes em relação às necessidades individuais de cada uma dessas pessoas.
No propósito de transformar seus objetivos em resultados efetivos, essa união de pessoas utiliza-se de métodos, técnicas e conceitos, presentes na ciência da administração.
Desde seus primórdios o ser humano, para garantia de sua sobrevivência, buscou organizar-se em pequenos grupos visando produzir os meios necessários à satisfação de suas necessidades e de seus pares, cujo modelo de produção evoluiu de forma gradativa, do modo de produção artesanal, no sistema feudal, até o trabalho industrializado, proporcionando diversas transformações nas estruturas dos grupos sociais, então existentes.
O fenômeno da revolução industrial (1780-1914) foi decisivo para o surgimento e desenvolvimento das empresas, notadamente as indústrias e por conseqüência desse crescimento, a necessidade de obtenção do máximo de aproveitamento das máquinas e equipamentos.
O cenário econômico e social da época, com advento do processo de mecanização da produção, provocou uma ruptura no modelo de sociedade feudal e agrária, expandindo as cidades e criando hábitos de consumo, bem como, propiciando aos detentores dos meios de produção a acumulação de capital, origem do modo de produção capitalista.
Daí em diante, tornar as empresas cada vez mais eficientes, proporcionando maior acumulação de capital, passou a ser o objeto de estudo dos dirigentes das organizações da época.
Todavia, o emprego de máquinas na produção industrial, por si só, não constituiu na necessidade do emprego de métodos racionais para a organização e execução do trabalho, o que só foi possível com o aparecimento da Escola de Administração Científica, cuja primeira tarefa nesse sentido, foi a de estabelecer padrões para cada trabalho, possibilitando assim, a seleção científica do trabalhador, a padronização do trabalho a partir de sua divisão racional, com conseqüente especialização do operário e a determinação do volume ideal de produção, para um dia de trabalho.
Essa abordagem clássica da administração, idealizada por Taylor e Fayol, enfatiza a importância da tarefa e da estrutura organizacional, principalmente em relação aos princípios de hierarquia, autoridade, poder, divisão e especialização do trabalho.
Nesse sentido, a tarefa da administração consiste em realizar coisas através de pessoas, baseando-se em princípios de eficiência e eficácia. Porém, para que isso se torne realmente possível, faz-se necessário interpretar adequadamente os objetivos organizacionais, transformando-os em ação organizacional.
Para a efetivação dessas ações a administração reúne quatro componentes essenciais a essa afirmação: Planejamento, Organização, Direção e Controle. Estas chamadas funções administrativas constituem o método racional para obtenção dos melhores resultados para as organizações, utilizando-se aí dos métodos e técnicas necessários para a aferição dos níveis de produção e produtividade.
Dessa forma o trabalho é idealizado, pensado e organizado racionalmente no nível de direção das empresas, para que no nível operacional, sua execução possa refletir em ganhos de produtividade, eficiência e eficácia.
No contexto da busca de satisfação de necessidades, o modo de produção capitalista estabelece a relação entre meio de produção e força de trabalho, enquanto objeto de troca. Cabe aí uma reflexão: Temos tudo o que precisamos ou precisamos de tudo o que temos?
Dentro da ótica capitalista, podemos inferir que ao se adquirir meios de produção e força de trabalho, fazem-se com a finalidade de valorização de seu capital, ou seja, a produção de mais-valia. Assim, fica entendido que a força de trabalho assume contornos de mercadoria, barganhada enquanto instrumento de troca, na busca de satisfação mútua.
No processo de produção capitalista, o comando está nas mãos dos proprietários dos meios de produção. Esse comando se reflete na superestrutura política, jurídica e ideológica, que se organiza com vistas ao domínio da classe capitalista, detentora do poder econômico sobre o restante da população.
A administração, ou a utilização racional de recursos para realização de fins, adquire, na sociedade capitalista, como não poderia deixar de ser, características próprias, advindas dessa situação de domínio. (Paro, 1986 p. 45).
A evolução histórica do pensamento administrativo, em verdade, ratifica os princípios gerais da administração, ancorando-se, desde os primórdios, na racionalidade e nas demais características ligadas à acumulação de capital e à força de trabalho.
Do mesmo modo, a noção de trabalho ao longo da história das sociedades, independente das posições ideológicas advindas da relação força de trabalho e modo de produção, têm em comum o fato de que o trabalho é o esforço humano necessário à aquisição dos meios de subsistência humana.
A organização e o desenvolvimento das sociedades, ao longo dos séculos, gradativamente, moldam o trabalho, adequando-o ao modo de produção vigente e modificando a partir daí, a relação entre as pessoas; reordenando a organização social do trabalho.
Opondo-se à excessiva massificação da produção, em detrimento da própria condição humana, no contexto organizacional; fortemente presente na administração científica, ou também conhecida como abordagem clássica da Administração, difundida por Taylor, Ford e Fayol, surgiu a abordagem Humanista, iniciada por Elton Mayo, que compreendeu a também chamada revolução ideológica.
Essa abordagem, segundo Rodrigues (2006), enfatiza a importância do indivíduo, sua relação com o meio e com fatores externos e internos ao ambiente de produção, que intervém na capacidade produtiva.
As experiências coordenadas por Elton Mayo em uma indústria de manufatura, no bairro de Hawthorne, em Chicago, demonstraram as influências dos indivíduos em relação a seus respectivos grupos, inibindo ou contribuindo para o aumento da produção.
No decorrer da década de 1930, Kurt Lewin desenvolveu pesquisas referentes à dinâmica de grupo que influenciou conceitos teóricos de autoridade e motivação, sendo precursor do movimento conhecido como desenvolvimento organizacional em que se estabelece a importância da cultura organizacional, nos processos de mudança das organizações.
Contemporaneamente, o que se busca em termos de teoria das organizações é uma constante quebra de paradigmas, por conta da própria reestruturação produtiva e acirrada competitividade, a exigir dos administradores, visão sistêmica do todo organizacional, senso crítico e flexibilidade.
Com isso a noção de trabalho sofre modificações, com o intuito de se adequar à realidade mercadológica, hoje direcionada para a questão das competências.
A memorização de procedimentos necessária a um bom desempenho em processos produtivos rígidos, típicos do regime anterior de acumulação com base no taylorismo/fordismo, passa a ser substituída pela capacidade de usar o conhecimento científico de todas as áreas para resolver problemas novos de modo original, o que implica em domínio não só de conteúdos, mas dos caminhos metodológicos e das formas de trabalho intelectual multidisciplinar, o que exige educação inicial e continuada rigorosa, em níveis crescentes de complexidade.
A organização do trabalho descentralizada e as tarefas de trabalho integradas horizontalmente são características essenciais dos novos conceitos de produção.
Ao lado dessas características estão as exigências por um comportamento independente na solução de problemas, a capacidade de trabalho em grupo, de pensar e agir em sistemas interligados, e de assumir a responsabilidade no grupo de trabalho.
Percebe-se, portanto, que o espaço de ação dos trabalhadores é ampliado e ganha importância em relação as qualificações intelectuais e sociais, através de uma maior necessidade de comunicação e cooperação.
Os processos de modernização nas empresas favorecem também o desenvolvimento de estruturas de trabalho integral e de potenciais de ação subjetivos. O que se busca é uma participação efetiva do trabalhador no planejamento e organização do trabalho, focada nos objetivos estratégicos da organização.
Esses preceitos da Administração por Objetivos, formulados por Peter Drucker, abrem caminho para reorganização do trabalho, reestruturação produtiva e gerenciamento da qualidade total.
A reestruturação produtiva tem sua lógica derivada de um contexto social, político e econômico marcado pelas crises financeiras, de mercado e social (conflitos capital-trabalho, relativos à organização da produção e do trabalho, e distributivo).
O processo de reestruturação produtiva, entretanto, não acontece nas organizações de maneira genérica e sem traumas. O processo é lento e requer uma série de adaptações, tanto da parte dos empresários, quanto dos trabalhadores.
Um elenco importante de mudanças deve ocorrer nas organizações de maneira constante e gradativa, sem desconsiderar os operários, enquanto sujeitos desse processo de mudança.
O papel dos operários diretos passa a ser o de gerir a variabilidade e reduzir a vulnerabilidade, com vistas a manter o fluxo de produção dentro das especificações de tempo e qualidade de conformação (...) Operar significa acompanhar o desenrolar da produção, prevendo e antecipando-se aos problemas, gerenciando os imprevistos decorrentes da matéria prima, do equipamento, da organização, da ação operária (e não operária) de estágios anteriores da produção. (Salerno, 1994, p. 61)
O conjunto das mudanças implica em um novo modo de pensar a administração e exige dos gestores, uma visão mais ampla e mais aberta da empresa, como também sugere aos colaboradores uma mudança de perfil, ou seja, indo mais além, uma quebra de paradigma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PARO, Vitor H. Administração escolar: introdução crítica. São Paulo: Cortez, 1988.
RODRIGUES, Orlando Barbosa. Administrador: Perfil e Formação. Das Diretrizes Curriculares oficiais ao funcionamento real do currículo e da metodologia de ensino. RJ. Corifeu. 2006.
SALERNO, Mario Sergio. Trabalho e Organização na Empresa Industrial Integrada e Flexível. In: FERRETI, Celso João et. al. (org.) Processo e gestão do Trabalho. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1994.