A Gênese e a Multiplicação das Disciplinas

Por Prof. Ubiratã Ferreira Freitas | 11/12/2008 | Filosofia

A Gênese e a Multiplicação das Disciplinas

Disciplina de Filosofia

Por Ubiratã Ferreira Freitas

O conhecimento produzido pela argumentação

Resumo

O conhecimento produzido pela argumentação, é a busca da verdade dentro de uma aceitabilidade, postulando uma coletividade de conceitos. O conhecimento, portanto, distingue das crenças justificadas e produzidas a partir de uma epistemologia, sendo entendido como um processo de conhecimento racionalizado.

Introdução

O conhecimento é tanto a verdade ou opinião, mas dentro da epistemologia, a verdade é que é o sentido ou "discurso", ou ainda a argumentação, onde legitima a verdade do pensar.

Dentro dessa maneira do pensar, a epistemologia sofre um aceitar ou não da prática argumentativa, ou discursiva. A episteme é a justificação daquilo que é produzido, podendo a partir de uma fundamentação racional, haver uma aceitação racional. A aceitabilidade, ou menos, não querendo fazer parte já estabelece uma posição negativa a episteme, mas se for aceito em pré-condição, a aceitabilidade já se concretiza na origem da refeição.

O conhecimento produzido pela argumentação, é a busca da verdade dentro de uma aceitabilidade, postulando uma coletividade de conceitos. O conhecimento, portanto, distingue das crenças justificadas e produzidas a partir de uma epistemologia, sendo entendido como um processo de conhecimento racionalizado.

Para se definir a epistemologia, tem que produzir um enunciado, para discutir uma argumentação. As disciplinas estabelecem validade de conhecimentos, caracterizando um aprendizado diferenciado, possibilitando um estudo mais centrado em um âmbito mais complexo epistemológico.

Dentro desse processo de compreensão, o paradigma se apresenta como um conjunto de enunciados aceito pela coletividade, dentro do processo conceitual. Para compreender a mudança de paradigma, somente através da mudança de contexto e conceitos. Para isso o correr, a disciplina é o fator importante dentro desse processo de mudança, tendo nas teorias, a busca de clareza de uma situação como referencia conceitual.

As origens das disciplinas são variadas diante uma historicidade. O conhecimento está ligado a esses dois fatores importantes o contexto e o conceito; onde as disciplinas na verdade, é um conjunto de coisas que formam a unidade do co0nhecimento, podendo se fundamentar a origem do saber, ou a epistemologia. Na medida em que se busca essa origem, a disciplina torna-se fragmentada e também possibilita outras formas de entendimentos contrários a unidade do saber.

Segundo Paviani:

[...] os diversos significados de conceito de disciplina podem ser esclarecidos, para fins operacionais, examinando, em cada caso, seu significado a partir do contexto de uso. Assim o termo disciplina, às vezes, designa uma área do conhecimento, [...] (PAVIANI, 2008, p. 27). [1]

Dentro do contexto, a disciplina se manifesta através das ciências, se trans forma em um saber como científico, produzindo e sistematizando saberes e se justificando como ciências: Matemática, Física, Química, Biologia, Geografia, História, etc.

Paviani (2008) destaca que "O conceito de disciplina traz marcas que ultrapassam o puro ensinar ou aprender, contem a idéia ou a ação de disciplinar, isto é, de sujeitar o discípulo a receber ensino de alguém, de aprender certos "conteúdos", [...]" [2]. O conceito é outro elemento que compreende uma variação de entendimento conceitual, não satisfazendo plenamente os pensadores e suas teorias. Assim a disciplina é um ramo do saber, um componente curricular, um conjunto de normas.

Essas normas "disciplinares" perfazem uma teoria de conceitos e ordens. Essas ordenações transformam-se e multiplica-se em outras disciplinas, formando em momentos de construção do conhecimento um processo de interdisciplinaridade.

Interdisciplinaridade

A formação de disciplinas pressupõe saber negociar critérios epistemológicos e de economia política. Trata-se de uma luta de autoridade científica, pedagógica ou de prestígio pessoal e político para impor, excluir, incluir, consagrar determinado tipo de conhecimento em forma disciplinar. Assim, disciplinas são impostas, eliminadas, modificadas, transferidas por interesses de grupos, por visão larga ou estrita dos assuntos acadêmicos, às vezes deixados de lado os critérios éticos e epistemológicos (PAVIANI, 2008, p. 37). [3]

A interdisciplinaridade é na verdade, uma fragmentação da unidade em busca de resolver problemas com uma ótica diversificada; tendo formas e tipos de realidade. A produção das interdisciplinaridades é também a 'cópia', ou seja, mentem a base e se enquadra um esfalecimento da realidade copiada, então, a reprodução mantém a base e sua historicidade original de um todo na disciplina, com a tentativa de conciliar e colocar perspectivas a conceituação do todo.

A interdisciplinaridade é um conjunto de fatores que estabelecem relações de métodos, especificações, totalidades e unidades; que forma um todo complexo. A epistemologia, tanto pode ser elevada para busca de unidade do passado, como a busca de um futuro complexo dentro da racionalidade.

Como diz Paviani:

A investigação científica que acompanham as reflexões epistemológicas dá-se conta de que a ciência é uma construção regional e aberta, na qual o mundo do sensível e o mundo inelegível não se excluem, [...], os conceitos fundamentais constituídos de múltiplos elementos precisam de uma base lógica comum capaz de integrá-los teoricamente (PAVIANI, 2008, p. 41 - 42). [4]

A racionalidade confunde-se com a lógica – discernimento, revelar a verdade –; é vista como um caçador de conhecimento, como uma grande selva, com suas teorias diferenciadas e específicas; interdisciplinaridade. Produzem enunciados com fundamentos, tanto retóricos como estéticos. A espada como exemplo, tem um simbolismo de cortar as falsas idéias, revelar as verdades, ou seja, a lógica como analise de verdade, falsidades das preposições.

A racionalidade não se reduz ao lógico, mas tem formas e aspectos lógicos – a lógica usando per missas verdadeiras, mas com discursos falsos –. O conceito de racionalidade implica uma gama de saber onde a espada faz a distinção entre racional e lógico.

O discurso científico deve ser racional, pois os critérios devem estar fundamentados dentro de uma verdade absoluta, mas para isso, tem-se que ter um conhecimento de conceitos sem elaborados sobre "racionalidade", para obter teorias coerentes.

Dentro desse processo de racionalização, um fator importante no modo de compreensão é a historicidade, pois ela, a história apresenta um movimento de desmonte da realidade, e construção de outra, formando muitas vezes, um pensamento antagônico, pois no processo de descontinuidade histórico e continuidade, a busca de um pensamento fundamentado favorece a uma interdisciplinaridade.

A racionalidade não pode ser interpretada pela emoção, mas sim a partir da argumentação. Constitui-se de uma racionalização própria, onde assim surge a disciplina em três módulos racionais.

a – A racionalidade explicativa, a partir de critérios baseados na razão da simplicidade. Racionalidade instrumental,

b – A racionalidade instrumental, parte do procedimento de racionalizar como metodologia, conjunto de regras para resolver problemas; a partir do fato de dificuldade de compreensão, é possível haver certo domínio de conceitos, pois possibilita um controle sobre certos discursos.

c – A racionalidade discursiva, a partir de uma conversa, mas não um dizer complicado, e sim complexo, de acordo, com o entendimento e metodologia aplicáveis na construção do conhecimento.

Entre as racionalidades existentes, a aceitabilidade amplia o entendimento. A aceitabilidade tem muitas propriedades que possibilita uma aceitação ou não sobre critérios ou teorias; é uma ação racional ou não.

Não existe um conceito unívoco de racionalidade, ela se manifesta dentro de um universalismo que está internamente em um contexto distinto. A aceitabilidade funciona na medida em que compreende seu bom funcionamento. Também, não funciona dependendo da historicidade de contingente contextualizado.

A historicidade- ruptura, evolução, descontinuidade, continuidade – desenvolve o conhecimento em forma de descobertas que mudam a realidade, sendo contextualizada em uma mudança continua. As teorias que se elegem, somente se legitimam quando elaborada e fundamentada em um crescente evolucionismo.

Nada é permanente, durante as experiências históricas; as rupturas se mostram a partir de uma disciplina como movimento de descontinuidade e favorecendo uma continuidade na construção do saber. Só a partir da experiência histórica é que podemos perceber a interdisciplinaridade, pois os fragmentos e descontinuidades favorecem a disciplina a se modificar. A verticalização torna-se hipertrofiada e perde as possibilidades de transformações, ou seja, o modo de ver a produção do conhecimento.

Hoje existe uma pluralidade teórica – teoria sistêmica – e a interdisciplinaridade é necessária, pois vai favorecer a base das disciplinas e vinculo entre disciplinas. Ou seja, com relação de disciplinas diversas, forma outra disciplina em figura de critica; nesse caso, a interdisciplinaridade se mantém com uma diversidade, mas somente funcionará quando os fundamentos teóricos estiverem bem dispostos, assim, vai haver a interdisciplinaridade.

Já no fundamentalismo é outro refutante, não se sustenta em seus próprios fundamentos. O fundamentalismo é relativismo, são avessos às fundamentações básicas, não possuem a interdisciplinaridade. Para obtermos as relações disciplinares, temos que ter em mente as perspectivas que possibilitam um formar disciplinar já produzido, podendo impetrar um ganho de conteúdo sobre a visão do mundo.

O conhecimento em forma de conceito, é igual à construção sobre posta de tijolos, o pedreiro mistura a massa com as medidas iguais proporcionais de componentes – cimento, areia, água – se a massa não fica homogenia, surge o problema e a construção não tem uma boa base. Assim quando se percebe que o conceito criado não funciona, tem que se reavaliar o que foi produzido conceitualmente. Podemos dizer também, que o conceito é uma mudança conceitual, ou mudança de conduta, ou seja, começa ater uma percepção mais aprimorada, assim, o crer condiciona a percepção, o crer é sobre a historicidade, o acervo, o arquivo conceitual.

A busca de um princípio é o motor inicial para criar uma interdisciplinaridade, dentro de uma totalidade e universalidade. Esse encontrar da unidade com suas particularidades, em relação a outras unidades, vem formar a interdisciplinaridade, onde as relações entre ambas formam a multiplicidade.

Quando parte-se da unidade a forma é indutiva, é a metodologia de explicação. Quando parte-se da multiplicidade a forma é dedutiva. O importante é o saber como vamos trabalhar a dedução? Qual a unidade para formar o conceito dedutivo? É a partir da indução que fomentamos as possibilidades particulares dedutivas.

Com a interdisciplinaridade nascem à fragmentação de áreas específicas, como as especializações. Assim existem tipos e níveis de conceitos para haver uma aplicabilidade; a produção do conhecimento não pode ocorrer sem uma organização do conhecimento ou pedagogia; para entender a formulação interdisciplinar.

A interdisciplinaridade e a ação têm como princípio, sistematizar o conhecimento em sua grandeza estrutural; perfazendo integrar conhecimento de diferentes disciplinas e seus conceitos.

Como se refere Paviani:

Uma alternativa possível é a de realizar um projeto de interdisciplinaridade capaz de produzir o novo, articulando diversas disciplinas, prevendo na medida do possível resultados imprevisíveis e impossíveis de serem alcançados isoladamente. [...]. A interdisciplinaridade pode ser realizada na produção de conhecimentos novos, na sistematização do conhecimento já produzido, [...] (PAVIANI, 2008, p. 45 – 55).

O conhecimento é um processo infinito e constante de informações auto-reguladas, que forma uma unidade do saber. Reorganiza-se na medida em que ele se complementa dentro do processo de trans formação do todo múltiplo de conhecimento complexo.

Referência

PAVIANE, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. 2ª ed. Caxias do Sul: Educs, 2008.



[1] PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. 2ª ed. Caxias do Sul, RS: Educs, 2008.

[2] Idem, p 29

[3] Idem, p. 37

[4] Idem, p. 41 – 42.