A frieza da aparência

Por Rodrigo Dobkowski Mandryk | 31/10/2016 | Poesias

Quantas mentiras a aparência pode contar?
Perguntou-se ao notar
Aquele rosto assimétrico
Frio e gélido
Que esforçava-se para expressar
Uma alegria inexistente.

Mas um rosto enganador
Não conta com um observador
Detido e cuidadoso,
Que traspassa a aparência
E busca dentro do peito
A contradição do ser. 

E foi assim,
Com a sensibilidade clínica
E precisão cirúrgica
Que abriu-lhe o peito.
Uma camada pós outra
Sentindo em si cada corte
Agitando-se a cada barreira vencida! 

O que vira ali
Não era explicado em livro algum...
Um coração estático que bombeava
Um sangue que não esquentava
Pra uma vida que não existia...

Uma lágrima correra por seu rosto.
Como poderia tal coisa?
Sentia em seu peito um aperto
E para seu espanto
Aquele coração sangrante e parado
Que consumia mas não sustentava
Era o mesmo que batia em si.