A FRAGILIDADE DO SENTIDO DO UNIVERSO
Por João Valente | 02/03/2010 | ReligiãoA FRAGILIDADE DO SENTIDO DO UNIVERSO
Conversando com um cético de carteirinha, o ceticismo acaba sempre no nada ou fica emaranhado nos próprios tentáculos.
Um amigo cético um dia escreveu um texto no qual defendia, com a força dos furacões, a idéia implícita de que o ceticismo é mais inteligente porque sempre contempla a dúvida, e não a descrença. Concordo que a dúvida é um sinal de inteligência (sem examinar o contrário), e que os duvidosos são melhores do que os incrédulos. Porém a fé é superior a ambos, e é isto que tentei mostrá-lo na ocasião, com a resposta que reproduzo na íntegra para o leitor de Webartigos. Foi assim:
SÁBIO AMIGO CÉTICO:
Respondo-o aqui, após suas citações em negrito.
Você escreveu: “Eu não descreio que hindus voassem em aeronaves há milhares de anos. Apenas duvido”. - Queiramos nós ou não, toda dúvida “pré-supõe” uma descrença, ou reclama a ausência perante a coisa alegada, o que torna todos os relatos duvidosos. Se todos os relatos são duvidosos, o que deve prevalecer, com toda razão e justiça, é a D.I.A. (Doutrina da Ilusão Absoluta), que advoga a noção de que, se nada merece crédito, então tudo o que existe deve ser ilusório, inclusive todos os seres vivos, incluindo quem o alega. Assim, a frase “penso, logo existo”, significa apenas “duvido que eu mesmo exista” (E esta, pode crer, é uma frase de grande sucesso). Se o duvidador duvida de sua própria existência, por que outra pessoa deveria crer nele?
Você escreveu: “Nem
mesmo aqueles que criaram e compilaram as histórias pretendiam que fosse tomado
literalmente. Devem ser sempre interpretados”. - Duvido que você tenha lido
tudo. Mas não direi que isto é um erro de quem não leu o que li, e sim um erro
que me dá o direito de dizer, “eu duvido dessa interpretação”. E me dá a chance
de perguntar: Você nunca leu um relato descritivo de um naufrágio? Então todos
os que escreveram descrevendo como o seu navio afundou, e qual tipo de barco
era, estão todos mentindo? Então como a ciência avançou baseando-se em “falsos”
relatos? (Um filólogo anônimo que me influenciou escreveu: “os fatos antigos
foram todos assassinados pelo ceticismo moderno, porque, uma vez que seus
narradores já morreram e não estão mais aqui para contar a história, esta
fatalmente será tratada como estória por algum figurão cheio de canudos,
julgando-se hermeneuta, e os demais aplaudirão!”).
Você escreveu: “A antítese da crença não
é a descrença. O oposto de um sujeito que crê fervorosamente em algo não é um
sujeito que descrê fervorosamente em algo. É simplesmente um sujeito que
duvida. Daí o ceticismo, oposto da credulidade, ser a dúvida, não a descrença”.
- Não é o que o mestre Aurélio diz, para quem gosta de língua culta. De
qualquer modo, adoto a sinonímica oficial, e posso crer que tudo o mais é
“duvidoso”...
Você escreveu: “Agora, se um sujeito
disser "não parece haver evidência satisfatória disso"... "há
explicações alternativas"... pode parecer algo banal, trivial, que não
adiciona nada. Mas é ceticismo verdadeiro e é muito mais importante do que
parece. Colocar as coisas em sua devida perspectiva. No caso aqui, é o que
sugiro ao Ramayana. Se tivesse detalhes técnicos e diagramas de uma aeronave...
mas infelizmente são só referências a máquinas voadoras, sem qualquer detalhe
concreto.” - Detalhe concreto??? Diagrama de uma aeronave??? Que loucura,
pra não dizer uma tremenda ingratidão para com os escritores sagrados, que
muitas vezes não tinham a prosopopéia da ciência, mas tinham a lealdade d’alma, e por isso mesmo eram
escolhidos pelo Sobrenatural para comunicar coisas! Há, há, e HÁ mesmo, com ou
sem a sua crença, coisas que não podem ser provadas. Para estas, o único
caminho é a crença. Muitas das ignorâncias vencidas pela Ciência foram
debeladas justamente porque um cientista (às vezes anônimo) ousou crer na existência
de algo e foi em frente, contra a descrença geral de seus colegas de
laboratório. Assim, se desconsiderarmos a nossa ignorância parcial (ou total)
acerca de tudo o que nos cerca, e, junto com ela, as limitações estruturais de
nossa mente, então teremos chegado a um ceticismo pior que a pior descrença do
pior incrédulo; pois este último, por limitação mental, apenas não crê e
pronto, ao passo que os céticos deveriam crer (pelo menos por dever de
humildade) que há coisas que simplesmente não cabem na mente humana, como um
computador não cabe na mente de uma pulga. E se essas coisas “incabíveis”
existem, então o cético estaria obrigado, por lógica, a simplesmente crer, dada
a impossibilidade de se provar. Afora isso, amigo, o que resta é a tal D.I.A. E
somente isso.
Finalmente, muito obrigado por oportunizar uma conversa dessas... Valeu. Abraço.
Eis a resposta. Agora volto-me para o leitor. SIM, meu
amigo. Nada há mais frágil do que o sentido do Universo. Justamente porque, se
não incluirmos nele um Criador, tudo o que existe equivale a nada!... E se
assim é, então a crença é a mais lógica de todas as razões, pois é a única que
dá razão a todas as outras. Ponha Deus em tudo, e tudo terá sentido. Retire
Deus e você próprio será extinto, para não dizer expulso. Siga o conselho do
sábio: tenha fé ou não tenha de jeito nenhum, mas não fique em cima do muro,
esperando ser vomitado por Jesus, e botando culpa na dúvida. Pois esta é apenas
um eufemismo esfarrapado para camuflar a descrença, que não confia em si e por
isso não confia
Prof. João Valente de Miranda.