A força do sangue
Por Sandra Oliveira | 10/02/2010 | ContosElizabeth ainda não tinha quarenta anos e já era uma mulher bem sucedida profissionalmente,amava sua profissão,era professora de História ,Antropologia e Sociologia em uma faculdade.O amor por esses assuntos nasceu quando ainda era criança,ela não gostava de seu cabelo,que era vermelho e encaracolado,não entendia porque a sua irmã e sua mãe tinham o cabelo liso e preto, e a pele das duas era mais morena que a sua.Houve uma época em que chegou á pensar que era adotada,porem sua mãe com muita paciência e muito tempo consegui convence-la de que seus traços fisicos originavam-se de seus antepassados.A família de sua mãe era descendente de irlandeses e segundo fotos antigas e conversas familiares, constataram que a maioria das mulheres da família tinham o mesmo tipo físico que Beth.
Na escola gostava das aulas de Geografia e História,tanto que foi essa a primeira faculdade em que se formou, as outras foram complementares.
Na faculdade tinha material disponível,mestres , professores e condições para realizar sua pesquisa, sua busca particular,o sonho de conseguir encontrar dados,fotos,qualquer coisa que pertencesse aos seus antepassados.Queria,precisava conhecer mais coisas,histórias do seu povo.Com muito empenho,estudo e também um pouco de sorte conseguiu organizar famílias inteiras até a quarta geração que antecedeu a sua.Mas nesta busca encontrou situações que era comum á outros povos daquela região.Essas situações ou estórias estavam contidas num episódio terrível da história do Catolicismo,a Santa Inquisição.
Ela conhecia o assunto do ponto de vista acadêmico,´porém,como a sua busca era pessoal passou a se interessar e pesquisar de uma maneira mais intensa, mais completa.Durante as pesquisas conheceu as mais variadas religões,seitas e crenças praticadas naquela época,mas uma em especial lhe tomou a mente e o coração,era a religião dos Celtas, um povo que habitou aquela parte da Europa.Hoje esta religião,embora não seja reconhecida como tal,é chamada de Wicca,a religião da Grande Mãe.Com suas pesquisas sobre assunto acabou ficando surpresa com a maneira que as mulheres celtas viviam,eram respeitadas e tinham os mesmos direitos que os homens,e também muito conhecimento e respeito sobre a vida.Porém o mais interessante era o fato de conseguirem dar sentido, na pratica e no dia a dia ,á união e harmonia que existe em todo o universo,sabiam que toda criatura está ligada uma á outra,que somos todos filhos dos mesmos Deuses,representados pelo Deus Sol e a Deusa Lua.Isto fez com que voltasse os olhos e o coração novamente para a Santa Inquisição Para ela,acredito que para muita gente,é difícil demais entender como que em nome de Deus,de Jesus,puderam assassinar,torturar,mutilar tantas pessoas e também seus familiares e descendentes.
Em algum ponto de sua pesquisa,não sei se através de documentos ou conclusão própria,ou quem sabe as duas coisas,percebeu que a ira dos poderosos da Igreja Católica tinha um motivo em particular,a ganância.Toda pessoa que delatasse alguém, depois de da execução ,tinha direito à parte dos bens do condenado,sendo que a outra parte pertencia à Igreja.
Outro ponto era que o número de mulheres denunciadas era muito maior que o de homens.As mulheres eram acusadas de bruxaria ,de adoradoras do demônio,de conspirar contra o clero ,de adultério ,traição e coisas assim.
Tantas informações e tantos detalhes fizeram com que Beth pensasse no porque daquelas mulheres terem sido tão desvalorizadas e perseguidas pelos homens,e concluiu que era medo, o medo de terem que dividir o poder que só aos homens pertenciam. Pensando e pesquisando concluiu que existiam outras possibilidades originadas de vários pontos de vista .Uma possibilidade é que as mulheres passavam mais tempo em casa,cuidavam do plantio dos alimentos, dos filhos e dos animais domésticos.Nesse cuidar podiam observar como a vida funcionava,a época das chuvas, da seca,da influencia causada pelas diferentes fases da lua no plantio,na colheita,nos partos,sabiam por instinto e por experiência como a natureza funcionava.Porem as mais perseguidas eram as curandeiras,mulheres que sabiam administrar chás ,ungüentos e poções que curavam algumas doenças,e esse conhecimento,conquistado pelo olhar mais atento aos hábitos dos animais, por exemplo, que morriam ou se curavam ao alimentar-se de certas plantas.Se era bom para o animal era bom para o homem.
Aos olhos dos poderosos,tanto conhecimento poderia dar as mulheres o desejo de poder, o que era inaceitável,pois somente os homens detinham o poder,então a Igreja passou a acusa-las de pratica de bruxaria e assim o julgamento e a condenação se tornaria de caráter religioso.
Nesse período foram praticados os mais absurdos,violentos e humilhantes métodos de tortura contra as acusadas até que fossem executadas e seus bens confiscados.Não raro era o fato de suas famílias e descendentes serem torturados e banidos do lugar onde viviam.
E assim as curandeiras passaram á serem vistas como bruxas ,coisa que a Igreja Católica passou séculos alimentando, e até hoje as crianças do mundo inteiro vêem essas mulheres como gente má ,sem coração e que trabalham e vivem para praticar o mal,servindo não ao Deus da Igreja Católica mas ao Diabo.
Beth mergulhou nessa pesquisa de corpo e alma,quanto mais descobria mais tinha á descobrir,por isso sempre que pode e até quando não pode volta ao estudo,só que agora feliz e orgulhosa de ser descendente das bruxas irlandesas de cabelo vermelho e que por sua vez são descendentes das mulheres celtas.Mas ela sabe muito bem que por mais que as coisas tenham mudado,que as mulheres tenham se libertado e evoluído,ainda há muita coisa por conquistar e que ela concluiu que sua pesquisa é só uma ponta do imenso iceberg da história da humanidade.
Conhecendo o passado entendemos presente e nos preparamos para o futuro.