A Força do Império Mongol: Desce a Cortina de Terra

Por Julio Cesar Souza Santos | 28/10/2016 | Sociedade

Qual a Importância da Família Polo nos Descobrimentos? Quais os Mais Importantes Caminhos Terrestres Para o Oriente? A Dinastia Ming Influenciou Nas Descobertas?

 

Nas décadas dos pioneiros das viagens por terra houve entre a Europa e a Ásia um comércio florescente, embora especializado e em pequena escala. Dezenas de mercadores europeus devem ter chegado a essas remotas paragens, mas poucos deixaram relatos em primeira mão das suas viagens, além da família Polo. 

Uma sucessão de frades franciscanos deixou-nos um registro de comunidades de europeus em cidades chinesas. Um dos mais empreendedores foi o franciscano João de Montecorvino que, enviado pelo Papa Nicolau IV em 1289, chegou a Pequim em 1295. 

Na Catedral de Pequim ele batizou cerca de 6000 citadinos, organizou e ensaiou um coro de 150 rapazes. Frei João foi nomeado arcebispo de Cambaluque (em Pequim) e passados poucos anos recebeu três bispos para o ajudarem. 

Outro frade franciscano (Odorico Pordenone) narrou fatos pitorescos da sua vida na China, os quais não foram narrados por Marco Polo como o hábito de deixarem crescer as unhas das mãos e a tradição de enfaixar os pés das mulheres. 

Em 1340, Francesco Pegolotti – agente de uma família de banqueiros – elaborou um manual para viajantes e mercadores que nos dá pistas de um florescente comércio. Ele informa as distâncias entre lugares e os perigos locais, pesos, medidas, preços, taxas de câmbio, regulamentos alfandegários, sugestões práticas sobre regulamentos alfandegários, o que comer, o que não comer e onde dormir. 

 

Mas, esse tempo de ativo tráfego terrestre entre as extremidades da Terra não durou muito, pois João de Montecorvino seria o primeiro e o último arcebispo de Pequim. Seu sucessor (nomeado pelo Papa em 1333) parece nunca ter chegado ao seu destino. Os caminhos por terra para o Oriente foram abruptamente encerrados decorridos apenas um século. 

A força do imenso Império Mongol abriu a passagem terrestre europeia para a Índia e para a China e, durante esses anos, se alguns europeus foram para o Oriente, alguns chineses também vieram para o Ocidente. Eles trouxeram cartas de jogar, porcelanas, têxteis, temas de arte e estilos mobiliários que moldaram a vida das classes superiores europeias. E, algumas coisas como papel moeda, impressão e pólvora abalaram a Mundo. 

Os Mongóis descobriram que o império que tinham conquistado a cavalo não podia ser governado a cavalo e, por isso mesmo, precisavam de uma complexa administração. No interior da China, eles eram invasores estrangeiros, sendo sempre difícil controlar o povo e, por isso, eles colocavam a si mesmos em postos governamentais importantes. 

Entretanto, os Chineses com sua antiga tradição, tecnologia desenvolvida e requintado cerimonial, descobriram muitas razões para condenar seus conquistadores bárbaros. Os Mogóis não tinham o hábito de tomar banho e por isso cheiravam tão mal que os chineses não se aproximavam deles. “Lavam-se com urina” – disse um historiador chinês. 

Em meados do século XIV, a fome no norte da China e as cheias do rio Amarelo aumentaram os problemas mongóis, pois houve rebeliões em todo o país. Toghon Khan – o último dos imperadores mongóis – subiu ao trono em 1333, levando consigo dez amigos íntimos para o palácio em Pequim, onde adaptaram os exercícios secretos da tantra budista tibetana e os transformou em orgias sexuais. 

Mas, o povo resistia às extravagâncias e o clímax chegou em 1368, quando Hong Wu – um autodidata de talento – emergiu como líder da rebelião chinesa para fundar a dinastia Ming. Os nativos tinham organizado a rebelião mesmo debaixo dos olhos dos Mongóis. Nos últimos anos de domínio, os mongóis colocavam informantes em quase todas as famílias e proibiram as pessoas de se reunir em grupos. 

Os Chineses não estavam autorizados a usar armas, o que significava que só uma família em dez tinha permissão para possuir uma simples faca. Mas, os Mongóis tinham se esquecido de suprimir o costume chinês de trocar bolos domésticos decorados com imagens da Lua – e que tinham dentro um papel. 

Na verdade, os Chineses utilizavam esses inocentes bolos como mensageiros, onde continha instruções para uma rebelião, na qual os Mongóis foram chacinados na Lua Cheia de agosto de 1368. 

Em vez proteger seu patrimônio Toghon Khan fugiu com a imperatriz e suas concubinas para seu palácio em Xanadu, onde encontrou a morte. Entretanto, príncipes e generais mongóis lutavam uns contra os outros e o Império Mongol se desmoronava. 

No ano do levante em Pequim, o Tamerlão consumava o 1º estágio do seu plano para a conquista do Mundo. O Império Tamerlão, que seria imenso por qualquer outro padrão, era apenas uma região do reino de Gengis Khan, embora dominasse as rotas terrestres para o Oriente. 

O desmembramento do Império Mongol interrompeu as rotas de passagens seguras, mas o Tamerlão manteve aberta a passagem no seu reino por onde os europeus podiam chegar até a Pérsia. A passagem de europeus para Catai estava fechada e até as notícias de catai se tornaram raras na Europa. 

O próprio Papa não conseguia saber o que se passava em Pequim, embora ele continuasse a nomear bispos de Pequim muito depois de não haver nenhuma esperança de eles conseguirem chegar a sua sé. 

E, mesmo que um europeu chegasse ás fronteiras de Catai, não o deixavam entrar, pois os novos soberanos chineses – com suas recordações da tirania estrangeiras ainda frescas – voltaram ao seu antigo isolamento.

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