A Fila do Banco, O Caixa, E o Caixa Eletrônico
Por Guaraci Celso Primo | 18/11/2008 | CrônicasManhã de uma segunda-feira de verão do dia 02 de
março do ano 2006 da era cristã. Ouve-se ao fundo
o barulho surdo do ar condicionado que há meses espera pela
manutenção preventiva. No Hall de entrada onde
ficam os terminais de caixa eletrônicos daquela
agência bancária interiorana, pode-se ver o inicio
de uma fila de pessoas que dobra o quarteirão. Poucos
minutos antes da abertura, uma estagiaria procura organizar, com a
intenção de efetuar um atendimento
prévio, facilitar o fluxo dos usuários e
clientes.
Os dois únicos caixas convencionais se
entreolham. Dá pra ler seus pensamentos: sinto que teremos
problemas... Ah! A Lei nº 13.400...essa vai pro espaço hoje!
30 minutos de permanência na Fila?! Sem chance!
Aliás, dava pra notar em seus semblantes um leve Stress,
pois há pouco tiveram uma pequena reunião onde
tomaram conhecimento de novas técnicas e novos
códigos para melhor utilização do
terminal (PC), com a finalidade de agilizar o atendimento.
PODEM ABRIR! Alguém grita. Barulho de gente se movimentando. Fila única.
O
primeiro a ser atendido, um Senhor que traz embaixo do braço
um pacote. Trava a porta eletrônica. Tratava-se de uma
razoável quantidade de moedas destinadas a pagar um
só Boleto de cobrança. Primeiro Stress do dia. O
usuário coloca o pacote encima do balcão de um
dos caixas – Quero pagar, e quero o recibo agora! Diz em tom
desafiador.
O caixa tenta ponderar, pois a agência ainda
não possuía a máquina
eletrônica para efetuar a contagem (só de olhar
dava pra ver que aquele embrulho continha mais de mil moedas de todo
valor e tamanho). Contar manualmente levaria umas cinco meias-horas
previstas na Lei. As pessoas na fila esticam o pescoço,
curiosos pra ver o que ocorria. Segundo stress do dia.
Murmúrios! Isso vai travar a fila!
O caixa pede ao senhor
que se dirija ao atendimento alternativo para evitar o impasse. Segue o
atendimento. Fluxo normal. Aparece então aquele Office-boy
funcionário de um Super mercado e de um posto de
combustíveis, juntos. Dentro dos dois
“Malotinhos” de lona, mais ou menos trezentos
cheques, doze maços de notas de todos os tipos, e sessenta
boletos a serem quitados. Tempo na fila: indeterminado. Atendimento
alternativo?! Não. Esperara demais – quero ser
atendido aqui e agora! Novo travamento de fila, novo momento de stress
em menos de meia-hora de trabalho.
Próximo! (The next!
Como dizem os americanos) A dona do açougue, na esquina da
agência do Banco. Simpática. Educada. Primeiro Bom
dia do dia. Atendimento relativamente rápido, já
que se tratava de um “usuário-cliente”
ou cliente que se tornou amigo. Primeiro Obrigado do dia.
Meio
caminho andado. Hora do almoço (caixa de banco
também almoça), apenas um caixa segue atendendo.
Terceiro stress do dia. – Poxa! Só um caixa! Tem
que por mais caixas! Assim não dá! Mas,
felizmente a fila anda. Um ou dois pagamentos por pessoa. Um
depósito pequeno a ser recebido imediatamente (via on-line)
pelo favorecido.
Beleza! Fila andando, ânimos contidos.
Tempo de atendimento dentro da Lei. No guichê, chega
alguém – Quero ser atendido aqui!
Conheço meus direitos! Sim, pois não responde o
caixa. Atende-o rapidamente, com presteza, como quer o Banco. Mais
alguma coisa senhor? Entrega-lhe juntamente com o recibo da
transação um folder: “Como utilizar o
caixa eletrônico”. Tenha um Bom dia Doutor
(parecia! Estava todo vestido de branco).
Fim da fila. A
agência fechara há mais ou menos uma hora. Surge
mais uma pessoa a ser atendida - Desculpem pessoal! Tenho que pagar
esse seguro urgente, pois pego a estrada daqui a pouco. Os caixas olham
um para o outro. Novamente leio seus pensamentos....(Ah! Vai se f*d%!
...procurar uma agência aberta!). Um deles recebe e autentica
o documento... Boa viagem Dr. Ur-gente! (Bem que isso daria para quitar
no auto-atendimento).
Segue o atendimento, digo, o fechamento.
Separa documentos, conta-se o numerário. Tecla
“ctrl+OK”. Bateu! Tapa na mão do
companheiro espalmada para o alto.
Cansado? Stressado? Humilhado?
Qual nada..., melhor que na segunda passada, antes de abrir a
agência, com uma arma apontada pra sua cabeça,
arrumando a grana pro bandido que acabara de assaltar o Banco.
Qualquer semelhança com fatos reais NÃO É mera coincidência.
O
tempo é algo extremamente relativo. Depende sempre da
urgência da pessoa que quer ser atendida, da pessoa que vai
atender e dos recursos disponíveis no momento. No caso dos
Bancos, depende ainda, dos dias que você precisa deles. Quer
em dias de “pico”, quer em dias normais. O
atendimento também depende do município ou da
região onde as pessoas residem. Prevalece aí toda
a cultura e costumes da comunidade.
Essa fase de
transição nos relacionamentos pessoas/empresas
levará algum tempo. Auto atendimento, banco 24 horas,
Internet, adaptações as Leis de regulamento de
direitos dos cidadãos, recursos tecnológicos,
são conhecimentos ainda não disponibilizados para
a grande maioria das pessoas, mas chegaremos lá.
PS: O senhor das moedas entrou com processo contra o Banco e, perdeu.
A senhora do açougue continua amiga do Banco.
O
Dr. Ur-gente, não apareceu mais nos guichês,...
deve ter aprendido a utilizar o caixa eletrônico.