A fé da ciência

Por David de Souza Rodrigues | 04/04/2012 | Filosofia

A Fé da Ciência

No texto "Neolíticos e Modernos" de José A. de Lacerda Júnior da Universidade Federal Fluminense, é abordado um tema onde trata da nossa conduta em virtude do acúmulo de conhecimento estabelecido pelo caráter científico da Modernidade. Todavia, nos é comum que o cientificismo sempre fora o instrumento mais utilizado para se compreender o mundo. Mas não seria, pois, em função disso que estamos caminhando rumo a uma desestruturação social? Um caos? Vejamos, portanto, em linhas gerais, os porquês dessa questão.
No livro "A Dialética do Esclarecimento" (1947), Adorno (1903-1969) e Horkeheimer (1895-1973) também já criticavam a Modernidade por depositar todos os créditos na Ciência como detentora do saber universal. Para estes filósofos a pretensão científica não se deu no início da Modernidade juntamente com René Descartes (1596-1650) e nem no Iluminismo, mas já é possível encontrarmos o germe dessa aspiração nos poemas de Homero no séc. XIII a.C.
Os filósofos de Frankfurt expõem o que Homero narra no Canto XII da Odisséia, como Ulisses se utiliza da razão (Ciência) para não cair nos encantos das sereias que desorientavam os navegantes. Após ordenar que fosse colocada cera no ouvido dos tripulantes, Ulisses pede que alguém o amarre, sem tapar os seus no intuito de conhecer a música. Amarrado, Ulisses se encanta com a melodia, mas não é tragado pelo mar. Nesse sentido, parece-nos que Ulisses, embora tenha usado sua razão (Ciência), queria conhecer o "mistério" das sereias.
Não negamos que a sociedade do conhecimento é hoje um reflexo da cientificidade. E a partir disso, percebemos que o método científico utilizado na intenção de compreender o mundo sempre caminhou por estradas nebulosas ocasionando cada vez mais distanciamento entre o homem e o seu objetivo. No entanto, que objetivo é esse? O que é que estamos buscando afinal de contas nessa jornada científica?
A sociedade atual se denomina detentora da Ciência e busca compreender os mistérios: a verdade. Contudo, o problema está no fato de mesmo não sabendo o que é a "verdade", tal qual Ulisses, estamos em busca dela numa expedição que já conta com mais de dois mil anos. Não estará essa jornada científica causando a subtração dos recursos naturais do planeta em função da parafernália que criamos para tentar compreender dificuldades criadas por nós mesmos? Porque se extrair tanto da Terra em busca de uma verdade transcendente? Não é "fé" a Ciência acreditar que um dia alcançará o conhecimento absoluto e o controle total?
Por fim, será que deixamos de ser mitológicos mesmo acreditando que "cientificamente" encontraremos a resposta para todas as perguntas um dia? Concordamos com Immanuel Kant (1724-1804) que durante o Iluminismo afirmou: "não temos total capacidade de conhecimento, pois somos limitados." É também o que pensa Lacerda quando afirma que nos tornando presunçosos ao desacreditar totalmente nos mitos, isto é, a forma de ver o mundo dos antigos.