A FALTA DE ÉTICA PODE SER UMA DAS CAUSAS DO SOFRIMENTO HUMANO
Por Anissis Moura Ramos | 31/07/2011 | PsicologiaApesar de ver e ouvir muitas coisas no decorrer do dia, ainda fico surpresa e não sei se este seria o melhor termo a usar, em relação ao comportamento das pessoas. É impressionante e até mesmo triste de ver a falta de ética que vem imperando nas relações humanas em nossa sociedade.
Muitas pessoas ainda pensam, apesar de este ser um assunto que está muito em voga, que a ética só existe nas relações profissionais, comerciais. Não sabem que se não formos éticos conosco, não conseguiremos ser com os demais. A ética cabe em qualquer situação de nossa vida.
O conceito de ética não pode ser confundido com o conceito de moral. A ética é totalmente internalizada, construída no ambiente familiar, cultural, acadêmico e afetivo, no decorrer do desenvolvimento da personalidade. Ela é construída de dentro para fora (endógena). Apesar de a moral também ser internalizada e construída, ela parte de um grupo social, que lhe ensinará as normas ou regras de como deverá funcionar, mas não as impõe. A moral é construída de fora para dentro (exógena).
Durkheim conceituava moral como a "ciência dos costumes", sendo algo que é anterior a própria sociedade. Já no entendimento de Piaget o indivíduo vai internalizando conhecimento e saberes, construindo a sua consciência ética e moral.
Entretanto o que tem se percebido no mundo moderno é que esses conceitos em relação à ética e moral foram se perdendo, levando as pessoas agirem da forma que lhes beneficie, não importando os prejuízos que poderão causar no outro ou a si mesmo.
O avanço da ciência, da tecnologia parece ter contribuído muito para isso e aí sou obrigada a lembrar de Rousseau que colocava que "o avanço da civilização provocou o retrocesso moral do homem". Nesse mundo dinâmico em que vivemos, não podemos pensar em ética e moral como coisas estáticas, pois as mudanças constantes que vem acontecendo em todos os segmentos de nossas vidas, nos obrigam a rever nossos conceitos, nossos julgamentos.
Entretanto, o preocupante é a falta de ética que as pessoas têm para consigo mesmo. Não se valorizam, não se respeitam, se violentam, se agridem, desenvolvem um falso self que atenda as demandas que a sociedade lhes exigem. Não percebem que se trata de uma sociedade perversa, que cada vez cobra mais do humano, sem nada lhe dar em troca.
Por não verem ou não quererem ver, as pessoas acabam se deixando levar, tendo que criar simulacros para se sentirem inseridas em determinados grupos. Só que chega um momento, que em que são obrigadas a se defrontarem com a sua realidade e aí sofrem.
Sofrem por ver que não estabeleceram relações sólidas, que muitas vezes foram apenas um objeto de uso para o outro. Que tudo o que criaram, não está de acordo com a sua realidade. A dor de estar só pesa, porque percebem que além de estar só, já não sabe mais quem realmente são. Muitos têm a sensação de estarem vivendo um pesadelo e acreditam que podem retomar a situação anterior.
Mendiga pela atenção, o carinho, o amor do outro, mas, no entanto, não conseguem se amar. Procuram no externo, algo que possa justificar o que está acontecendo. Tentam encontrar desculpas que lhe permitam continuar se enganando, não percebendo que isso só aumentará o seu sofrimento.
E no meio de tanto sofrimento e dor, as pessoas não conseguem se dar conta que não estão sendo éticas com elas. Até porque já esqueceram o que é ser ético.
Tudo isso que vemos no nosso dia-a-dia é o resultado do mundo capitalista em que vivemos, onde o ter passou a ser o centro de tudo. As pessoas não têm mais valor pelo que são, mas sim pelo que tem. Os relacionamentos se firmam em cima de interesses e não de sentimentos.
Isso nos leva a pensar na teoria do neolítico moral, onde a ética não acompanha o avanço científico, tecnológico e material do homem.
Penso que talvez consigamos reverter essa situação, esse sofrimento emocional e psicológico que as pessoas vivem, se nos ativermos mais a alguns conceitos éticos e morais e não nos permitirmos sermos tratados como uma simples mercadoria. Não é o dinheiro, o status que estabelece as nossas virtudes, mas os nossos valores, a nossa postura ética, principalmente a que temos para conosco.
Para encerrar, deixarei uma das máximas de Sócrates, a fim de convidá-los a repensar a sua postura para com você e para com os outros; "a virtude não é dada pelo dinheiro e todos os outros bens do homem, tanto público como privados".