Resenha: A fabricação do rei

Por Rayanne Aires Rodrigues | 09/05/2018 | História

Resenha

BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV / Peter Burke, tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. -Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed, 1994.

 O livro‘’A fabricação do rei ’’ apresenta a construção de um sistema sólido e perspicaz, a construção da imagem do rei, a partir de diferentes meios de comunicação durante 72 anos de reinado. Burke analisa as formas, fontes e técnicas nesse período. O importante para ele é conscientizar o leitor do caráter interpretativo da história. Numa abordagem original e curiosa, o autor explora o processo da importância da comunicação, da produção, circulação, recepção e tudo que circulava em relação as imagens de Luís XIV; o  publico alvo dessa mensagens o que elas passavam para seus súditos e qual era a importância de tamanha construção de sua imagem.

Através de uma linguagem bastante acessível, a obra apresenta a relevância da mensagem/imagem que Luís passava para seu reinado. A desenvoltura que seus ministros desenvolviam, através de meios, gêneros, estilos e alegorias, estavam destinados para persuadir um determinado público. A imagem do rei estava relacionada ao seu poder, sua característica tinha que ser marcante moderna e com certo toque renascentista.

Luís XIV começou a reinar com 04 anos de idade com uma imagem que já era adorada, e durante sua trajetória governou com auxilio de três grandes ministros (Mazarim, Colbert, Louvois) que utilizaram diversas táticas para que as imagens do grande rei, o senhor do sol fossem exaltadas. No reinado de Luís, tudo foi motivo de comemoração, desde seu nascimento até sua morte, alias todos os seus feitos grandiosos e vitoriosos, claro, foram seladas com inúmeras medalhas. Uma de suas maiores construções foram, sem dúvidas, o Palácio de Versailles seguida da Grande Galerie, entre outras galerias, escolas de artes, literatura, pintura e escultura, onde as exaltações ao seu reinado estavam desde o teto até o chão.

Seu reinado além de glorioso era sagrado. Burke, faz menção a Nobert Elias em uma argumentação paralela a Marc Bloch a respeito do toque real. O valor que o toque do rei tinha para seu governo. O toque sagrado, para seus súditos ele realmente curava, o rei era guiado por uma luz divina.

Uma característica marcante do governo de Luís XIV foi sua declaração de que iria governar sozinho, no entanto sempre teve influência de Colbert e consequentemente seus homens Chapelain, Lebrun e Charles Perralt. Lully responsável por uma das maiores paixões do rei, ballet e a ópera, estava fora do domínio de Colbert.

O rei era exaltado por sua magnificência em diversas obras, pinturas e é claro em suas representações no ballet e na ópera, que inclusive gostava de encenar.

As diversas guerras, entre a guerra da devolução, na qual lutara pelos direitos de sua esposa ao herdar terras de seu pai, e a guerra Holandesa que foi celebrada com muita glória em decorrência da travessia do Reno, foram celebradas com monumentos equestres ‘’digno de um rei’’ Luís, o grande, como ficou conhecido em seu reinado.

É possível afirmar que o clímax de seu reinado se deu durantea orientação de Colbert, que foi orientado por Mazarim. As celebrações gloriosas, as esculturas e pinturas direcionadas ao governo de Luís XIV eram divulgadas por todo o reino.

A partir da administração de Louvois , a reconstrução do sistema passou por serias e profundas crises para o governo. O governo já estava em declive, o rei já estava com seus 45 anos, o que não era considerado como positivo para sociedade do século XVII, e as novas transformações na reconstrução da imagem do rei não estavam sendo tão gloriosas.

Em suma, todo ciclo da vida pessoal e social do rei foram marcadas por um sistema da construção de representações. Em seu reinado ele brilhou como o sol, mas também foi atacado por discordantes de seu governo, esses não tiveram representações tão gloriosas, nem apagaram a magnificência de Luís XIV.

Peter Burke, historiador britânico. Professor emérito de História Cultural em Cambridge é autor de mais de 30 livros. Reconhecido como um dos mais conceituados especialistas em Idade Moderna aborda assuntos da atualidade e enfatiza a relevância de aspectos socioculturais.

Rayanne Aires Rodrigues, acadêmica do curso de História da Universidade Federal do Tocantins (UFT).