A exploração econômica de seguidores religiosos no Brasil.
Por Marcos Carvalho da Silva | 10/08/2011 | ReligiãoTema: A exploração econômica de seguidores religiosos - Sobre expulsão de fiel por não ter contribuído com o dízimo.
Já dizia o ditado popular: "Brasileiro que se preserva não discute política nem religião em rodas de amigos".
Que um bom papo sobre futebol é preferência nos nossos momentos de lazer. Não é nenhuma novidade. Más quando se fala de assuntos polêmicos, a sociedade civil procura omitir ao máximo suas convicções. Ou tais temas seriam desinteressantes para a maioria e inconvenientes a determinados setores?
O que se sabe é que na busca de determinados padrões morais ao longo dos anos, temos deixado em segundo plano, discussões importantes acerca da fé. Entre elas, o comportamento das instituições religiosas.
Refiro-me a exploração econômica de seguidores religiosos no Brasil, seja direta ou indiretamente. A citar o caso publicado pelos Jornais de grande circulação da Região Metropolitana de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo no dia 02 de agosto de 2011, em que uma senhora teria sido expulsa de determinada igreja por não ter contribuído com o dízimo.
Casos como esse, levam-nos a indagar: Por que a religiosidade constitui um instrumento tão persuasivo nas mãos de golpistas e aproveitadores?
A democratização dos veículos de comunicação e a disseminação das Estratégias de Marketing permitiram a expansão nunca vista das instituições religiosas. Do dia para a noite a fé reafirmou ser um grande negócio. Igrejas de fundo de quintal tornaram-se mega conglomerados econômicos, agregando inúmeros portfólios de produtos.
Kotler (1995), um dos gurus do marketing ressalta que, as economias latino-americanas seriam determinadas por uma cultura de alto contexto. Nessas culturas as palavras têm muito menos valor do que o contexto em que elas são empregadas. A posição social é determinante e o conhecimento sobre ela também.
Não é de se estranhar que o Brasil possua um campo tão fértil para essas idéias "transcendentalistas". Ou seja, não importa quantos processos em julgado tenha o seu líder espiritual. O importante é que seja Ele o seu canal de graça.
Alguns autores afirmam que no processo de dominação e controle coletivo, a desqualificação do indivíduo constitui processo pioneiro. Hector H. Bruit (1995), importante historiador chileno ressalta que a Igreja teve um papel essencial no sucesso da colonização Ibero-espanhola. E mais, diante do sagrado pouco se podia questionar. Afinal, mesmo os que não crêem também temem o desconhecido.
A livre interpretação dos livros tidos como sagrados abrem espaço para tamanhas aberrações. Basta dizer que estamos vivendo a "Era dos Sacerdotes Estrelas" que andam cercados de seguranças armados em carros de luxo blindados. Sem falar nos conglomerados de mídia cuja igreja representante capta recursos e os reinveste sem ônus algum. "Tudo às custas da carne e dos ossos de suas ovelhas"
É preciso dizer que estamos reinventando a "neo-simonia", onde são comercializadas receitas de sucesso e salvação prontas para o consumo. E pagas por um altíssimo preço, diga-se de passagem. Não no ato, más na sua finalidade.
Não cabe aqui discutir o caráter divino da coisa. E sim a "coisificação da fé" numa escala alarmante. O debate sobre fé e obra perdeu espaço diante do absurdo. Ações individuais de solidariedade e fraternidade estão sendo sufocados pelo "enclausuramento" espontâneo dos indivíduos.
São corriqueiros slogans do tipo: Pague o seu dízimo aqui, pois somos mais honestos que aquela outra. Más afinal, se existem Tantas quem é a mais ética?
O que é pior. Estão tirando até mesmo a possibilidade de um lazer saudável por parte da maioria dos trabalhadores que esmeram 05 dias, na expectativa de um final de semana tranqüilo com a família. Más são levados a acamparem-se em bolhas de felicidade e salvação, a preços exorbitantes.
O reflexo de tudo isso são pessoas doentes da mente, do corpo e da alma. Sem falar no radicalismo religioso ou no ateísmo exacerbado.
Vale lembrar que, muitos desses processos se dão de maneira muito sutil, sobretudo, por parte daqueles que estão mais acostumados a ouvir do que raciocinarem.
Diante de um cenário tão absurdo, reformas e rupturas são inevitáveis e imprescindíveis. A própria Escritura Sagrada dos Ocidentais alerta seus fiéis para a verdade (João, 8,32). E para o bom senso de não só orar, como também vigiar, e muito, para que não sejamos vítimas desses criminosos.
Autor: Marcos de Carvalho da Silva
Contato: m.carvalho.silver@hotmail.com
Vitória, 10 de agosto de 2011