A existência dos demônios é real?

Por Anderson Bittar | 24/02/2012 | Religião

“E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela”...

 

Jesus entrega a Simão as chaves do Reino dos céus. Edifica sobre o fundamento dos Apóstolos sua igreja afirmando que as portas do inferno jamais teriam poder sobre ela e dá-lhes o poder de desligar ou ligar todas as nossas ações diante do Senhor. Assim quando confessamos nossos pecados ao sacerdote e recebemos a absolvição diante de um arrependimento sincero são anulados em nós todos os nossos pecados.

Jesus ao fazer essa afirmação a Pedro nos traz uma importante reflexão: Primeiro, e o mais importante, o Reino dos Céus não tem portas está aberto a todos, mas para lá entrar é preciso da chave da conversão, da mudança de vida. É preciso aceitar a Jesus Cristo; Crer em suas palavras e reconhecê-lo como Salvador. Alias uma afirmação depende da outra: Só aceita a Jesus Cristo aquele Crê em suas palavras e as põem em prática todos os dias de sua vida.

Uma segunda reflexão a se fazer é sobre a existência ou não do inferno e dos Demônios. E foi impulsionado por esta pergunta que surgiu a motivação para este artigo: A existência do inferno e dos demônios são situações reais?

Há diversos livros que falam sobre este assunto. Talvez fosse desnecessária a idéia de um texto. Porém muitos não “perderiam” seu tempo se dedicando a leitura de um livro sobre o tema, um simples texto, sem grandes complicações, provavelmente ajudaria essas pessoas.

Respondendo a pergunta:

Acredito que sim. Justificar-me-ei. Jesus Cristo é conhecedor de todas as coisas. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, como Ele mesmo afirmou. Ora se Jesus é a Verdade com certeza Ele não mentiria a respeito da existência dessas duas realidades: Inferno e Demônios. São muitas as passagens que falam a respeito do fato.

Temos visto algumas afirmações, inclusive de sacerdotes, como por exemplo: “quando na Bíblia encontramos Jesus dizendo que alguém estava possesso, não era isso que Ele queria dizer. É que naquela época não se conhecia as doenças psiquiátricas. Muito provavelmente eram ataques de epilepsia, e etc...”. Acredito serem afirmações sérias que podem levar uma a pessoa a perder-se.

Sendo Jesus Cristo o Deus vivo encarnado – como afirma o evangelista João: “No princípio era o Verbo... o verbo era Deus... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 1.14) – e sendo Deus onisciente poderia Ele se enganar e não saber a diferença entre um ataque epilético e uma manifestação demoníaca?

No capitulo 17 de São Mateus vamos nos deparar com uma situação na qual Jesus realiza um exorcismo, vale apena transcrevê-la aqui para melhor meditarmos:


 

O menino epilético

“E, quando eles se reuniram ao povo, um homem aproximou-se deles prostou-se diante de Jesus, dizendo: “Senhor, tem piedade de meu filho, porque é LUNÁTICO e sofre muito: ora cai no fogo, ora na água... já o apresentei aos discípulos, mas eles não o puderam curar”. Respondeu Jesus: “Raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos? Trazei-mo .” Jesus ameaçou o DEMÔNIO e este saiu do menino, que ficou curado na mesma hora.(Mateus 17, 14ss).

Segundo a tradução da Bíblia Ave-Maria o título da narrativa é: O menino epilético[1] isso já nos sugere que existia um conhecimento de doenças neurológicas ou psiquiátricas. Para que não haja dúvidas sobre o conhecimento de doenças psiquiátricas ou neurológicas, ou ainda, psicológicas no versículo 14 diz o pai do menino: “Senhor, tem piedade de meu filho porque é lunático e sofre muito”. Para aquele pai o menino não estava possesso, mas sim com uma séria doença que o fazia sofrer; aquela família acreditava que o menino estava LOUCO, talvez existisse por parte dos pais uma incredulidade a respeito do demônio; ou nem sabiam de sua existência. Quando o levam a Jesus Ele vê além dos olhos humanos; penetrando o coração e a alma daquele garoto percebe que está sendo atormentado pela presença do maligno. Então ameaça o Demônio que no mesmo instante deixa o menino.

Será que foi sem fundamento que São Paulo ao escrever aos coríntios sobre a diversidade dos Carismas[2] fala do discernimento dos espíritos e ainda em Efésios 6 nos exorta quanto a luta espiritual que teríamos de travar contra as forças do Mal espalhada nos ares? Não! Ele não escreve sem fundamento.

Naquele instante, Jesus, impulsionado pelo discernimento dos espíritos, pois Ele é detentor de todos os dons, tem a certeza de que aquele menino está sob a influência do mal e por isso pôde realizar a libertação.

Quantos dos filhos de Deus não andam por aí sofrendo, com um terrível fardo em suas costas, com doenças que não se sabem sua origem e passam a vida inteira de médico em médico e nada da certo. Não só carregam um fardo como se sentem um próprio peso e não mudam de vida porque ainda existem pessoas que não crêem que elas possam estar sob o jugo do mal.

Se seguirmos em frente no diálogo que acontece entre Jesus e os discípulos logo após o ocorrido Ele afirma que: “quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e jejum”.

Como percebemos na passagem acima é feita uma distinção entre uma doença neurológica, ou psiquiátrica, e possessão demoníaca. O pai acredita que seu filho está LOUCO, mas Jesus realiza um exorcismo e se decepciona com o fato de que seus discípulos não o puderam fazer: “raça incredula até quando estarei convosco?”. Na reflexão percebe-se que seus seguidores não realizaram a cura por não terem uma fé convicta (por causa da vossa falta de fé. Mt 17, 20a), ou talvez por estarem orando para uma cura física quando na realidade a situação era de uma possessão (há demônios que só se pode expulsar com jejum e oração).

Não existe aqui a intenção de se fazer uma exegese sobre o assunto, nem elaborar uma grande tese, por isso vamos apenas nos apoiar na Sagrada Escritura e no CIC.

Na Catequese nos é ensinado sobre o valor da Bíblia, sobre a sua importância para que sejamos bons cristãos e que devemos acreditar em tudo o que ali está, pois é a palavra de Deus. Na Sagrada Escritura Deus se revela a nós e toda a verdade nos é dada em favor da nossa salvação. Ele nos fala por meio da Sagrada Escritura. É claro que existe um fato importante: é preciso lê-la dentro de cada contexto histórico, dentro da realidade de cada povo, das crenças religiosas, das políticas e da cultura da época. E, ainda, é preciso interpretá-la sob a ação do Espírito Santo[3].

A Respeito da S. E. O CIC (105-108) nos diz que:

“Deus é o autor da Sagrada Escritura. “as coisa divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo.”

“A santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto no Antigo como no novo testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados à própria igreja.”

“os livros inspirados ensinam a verdade. Portanto, já que TUDO o que os autores inspirados afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus em vista de nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras.”

 

Como vimos no ensinamento do CIC a Palavra de Deus é verdade. Ora se a Palavra é “fielmente e sem erro” a verdade que Deus nos quis revelar porque acreditar em alguns fatos e em outros não? Não seria no mínimo estranha a afirmação de que Satanás não existe? Não seria ainda colocar em xeque a Verdade de Deus a nós revelada? Não estaríamos nós desacreditando daquilo que Deus, em vista da nossa salvação, quis nos revelar? Que cada um diante da sua própria consciência responda a essas perguntas.

Mas para que não fiquemos em achismos, ou ainda sejamos acusados de uma leitura fundamentalista da palavra de Deus, sobre a existência ou não das forças espirituais do mal (Ef. 6, 12s) vamos ao  CIC, pois ele é o norte que, após Sagrada Escritura, orienta a nossa vida de cristão, apoiado no Canon da Igreja, procura transmitir aos fiéis a verdade da doutrina da igreja “universal”. Se negar a Palavra de Deus é um desrespeito e um grave pecado, negar a doutrina da igreja seria uma afronta ao seu magistério, então melhor que não fossemos cristãos, católico apostólico romano. Vejamos o que ele nos fala a esse respeito.

Na reflexão sobre os sete pedidos presentes no Pai-Nosso o CIC reflete sobre a existência do mal quando pedimos: “Mas Livrai-nos do Mal”.

Ensina-nos: “neste pedido, o mal NÃO É uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O Diabo (diabolos) é aquele que “se atira no meio” do plano de Deus e de sua obra de Salvação realizada em Cristo.”

Percebemos neste texto que a igreja nos ensina que o mal é uma pessoa e recebe o nome de Satanás. Segunda a tradição da igreja e a própria Escritura o Diabo foi um anjo destronado, ele e os demônios foram criados por Deus tinham uma natureza boa, mas se tornaram maus por iniciativa própria. Eles caíram livremente após rejeitarem a Deus e o seu Reino de amor[4].

Diante dessas afirmações contidas no CIC fica-nos claro que a Igreja não apenas crê, mas atesta a existência de Satanás e de seus anjos rebeldes que vagam pelo o mundo a fim de perder as almas.

Apostando, ainda, na incredulidade de alguns vamos discorrer um pouco mais sobre o assunto procurando a vivacidade do fato diante da própria crença da Igreja Católica. No rito do Sacramento do Batismo, se já prestamos atenção em toda a celebração, traz em seu significado, também, a libertação do pecado e da influência do mal sob o nome de satanás[5]. Durante a celebração do Batismo é realizado de forma simples um exorcismo[6] e a renuncia do mal sobre o candidato ( no caso da igreja Católica, a criança), para depois professar a fé em Deus e na Igreja de Jesus Cristo.

Se não bastasse, acreditando na influência de satanás sobre a vida das pessoas a Igreja designa Ministros Ordenados para realizar os exorcismos:

 “O exorcismo solene, chamado grande exorcismo, só pode ser realizado, ser praticado por um sacerdote, com permissão do Bispo. Nele é necessário proceder com prudência, observando as regras estabelecidas pela igreja. O Exorcismo visa expulsar os demônios ou livrar da influência demoníaca, e isto pela autoridade espiritual que JESUS confiou à sua igreja.[7]

 É verdade que a igreja faz distinção entre influência demoníaca, possessão diabólica e doenças psiquiátricas, como mostra o texto, fazer distinção não significa negar, mas afirmar a existência de ambos, com isso exorta aos Sacerdotes que façam tudo com discernimento verificando se o caso é de uma influência do mal ou uma doença psíquica.[8]

Enfim, assim como existe o Reino de Deus a existência o reino de satanás também é real. Negar a existência desta ultima é colocar em questão a veracidade da Palavra e Deus e a Doutrina da Igreja. É certo que não podemos viver em função dela e muito menos nos encurralar de medo, pois nosso Deus é maior que tudo. O CIC afirma que “o Advento do Reino de Deus é a derrota do reino de satanás[9]”, este já é um derrotado e Cristo é o vitorioso. “Os exorcismos de Jesus libertam o homem do domínio dos demônios. Antecipam a grande vitória de Cristo sobre o príncipe deste mundo. É pela cruz de Cristo que o Reino de Deus será definitivamente estabelecido: Regnavit a ligno Deus – Deus reinou do alto do madeiro.[10]” Mais poderoso é nosso Deus e Nele temos a certeza da salvação. Na cruz Ele nos garantiu a libertação e nos abriu o Reino dos Céus, a fim de que um dia pudéssemos com Ele, com a Virgem Santíssima, os anjos e os santos, participar da vida eterna.

 

 

 



[1] Na tradução da Bíblia de Jerusalém traz o titulo: o endemoninhado epilético. O versículo 15 do texto traz a mesma narrativa da tradução da Bíblia Ave-Maria: ... “é LUNÁTICO”.

[2] I coríntios 12, 4-11

[3] Cf.: CIC I capítulo, Artigo 3. §109 – 119.

[4] CF.: CIC 391-395.

[5] CF.: CIC 1234-1237

[6] CF.: CIC 1673

[7] Idem.

[8] Idem.

[9] CIC 550

[10] Idem.