A Evolução e os Retrocessos

Por José Gilderlan | 05/08/2009 | Direito

É inegável que evoluímos. Diante dessa afirmação a qual se mostra inicialmente ingênua, resta-me fazer uma minúscula indagação: no que evoluímos?

Essa pergunta vem à tona, quando, não muito raramente, deparo-me com a naturalidade com a qual nos comportamos diante das crueldades as quais os nossos semelhantes estão sujeitos. Tratando sobre essa "naturalidade" canta acertadamente Caetano Veloso: "morrer ou matar de fome, de raiva e de sede são, tantas vezes, gestos naturais".

É! Cheguei ao ponto que queria: a fome, a morte, a barbárie: o natural.

De acordo com a Organização das Nações Unidas o mundo comporta 6,5 bilhões de pessoas, dentre essas, 1,2 bilhão passam fome. Diriam os neomalthusianos: "não produzimos tantos alimentos para o número de pessoas existentes", o mesmo Organismo Internacional desmente essa afirmação quando informa que produzimos alimentos para mais de 11 bilhões de pessoas, quase que o dobro do número de habitantes do planeta terra.

É sabido que a fome tem como causa principal a má distribuição de tudo, a começar do alimento produzido, passando pelos recursos naturais, até chegar à renda, pelo menos foi o que demonstrou as estatísticas da ONU.

É inadmissível que em pleno século XXI, estágio da sociedade em que o homem constrói prédios astronômicos, que desenvolve materiais inteligentes, que chegou à lua, verificarmos ainda, a vergonha que atende por nome "FOME".

Evoluímos para onde? A essa pergunta o Senador Cristovam Buarque responde indiretamente e acertadamente: "Evoluir para o abismo é burrice". Corroboro com o Nobre Senador.

Espero que as bandalheiras as quais presenciamos contemporaneamente sirvam de motivo para, cada vez mais, nos escandalizarmos com a mutilação de vidas e mais vidas, haja vista que os mutilados são nossos semelhantes e assim como nós precisam não só daquilo que não têm -- de comida-- mas também de algo que transcende esse ponto, a dignidade, fundamento que está expressamente traduzido em nossa Carta Maior, mas que infelizmente ainda não foi trazido à nossa realidade com eficácia e eficiência.

Tenho a esperança, enquanto tiver vida, de que chegará um dia o qual não mais vou verificar a causa de minha tristeza maior: a fome; não obstante, tenho a lucidez de admitir que essa esperança somente tornar-se-á concreta se não só uma minoria agir objetivando esse fim, mas sim quando a sociedade como um todo tiver como meta a extinção desse mal, por isso peço-lhes: sejamos mais Humanos!