A ÉTICA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Por MÁRIO DE OLIVEIRA MARTINS | 09/11/2016 | Filosofia

RESUMO

A capacidade humana de se relacionar de forma respeitosa faz da ética uma ação compartilhada. Para isso o ser humano necessita compreender que ética só se vive na liberdade de ação, mas também na busca da alteridade, da personalidade autêntica. Na concepção filosófica de ética é necessário rever posturas que tratam mal o ser humano e esquece que se tornar personalidade depende do outro. No atual pluralismo de opiniões em que se vive uma ética fragmentada, personalizada, é preciso fazer do trabalho um ambiente agradável. O trabalho deve ser a nossa segunda casa. Percebe-se que a educação para a ética é uma condição hoje para as empresas que tem um planejamento estratégico humanizador. Para tanto é necessário obedecer a princípios e padrões rigorosos e estabelecer estratégias de relacionamento respeitoso e de sucesso. Destarte, o trabalho deve proporcionar prazer e alegria e não desprazer. A liberdade deve fortalecer as relações interpessoais e a autonomia na construção de sua postura cada vez mais alicerçada na ética.

INTRODUÇÃO 

   O presente artigo tem como tema a Ética nas relações de trabalho. É fundamental destacar este assunto como principal meio de conduzir as relações de trabalho. Partindo desse princípio, faz-se necessário questionar: O que é ética? Quais os pressupostos filosóficos e éticos que podem ser vividos e revistos? Qual a importância da administração da gestão de pessoas, com foco humanístico? Quais as tarefas da vida humana que são consideradas imprescindíveis no trabalho e por isso tornam-se propósito maior da vida?

   Percebe-se que as pessoas já não admitem mais coações no trabalho, nem desculpas ou até mesmo enganos na ação moral prática. Falar sobre tema é descrever uma trajetória de pessoas, ocupadas e acima de tudo valorizam diversas etapas da vida do estudante, de forma a aplicar prioridades a cada momento. Somente faz isso quem possui domínio de si, de sua identidade como responsável pela construção do conhecimento. Produzir conhecimento é perceber que na vida assumem-se diversos papéis sociais e estes exigem conhecimento científico e não apenas cumprir tarefas para preencher o tempo no trabalho. É preciso agir eticamente todos os dias.

1 O que é ética? O que diz a filosofia sobre a ética e a alteridade? 

   Ética é um conjunto de fatores de reflexão que trata das questões de valores e escolhas que o ser humano faz, de certo ou errado, de bom ou de mal, de justo ou injusto, enfim, é a forma de conduzir a conduta pessoal das pessoas. São princípios que norteiam a vida em sociedade. Segundo Valls (1994, p. 7):

Tradicionalmente ela [a ética] é entendida como um estudo ou uma reflexão científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas chamamos de ética a própria vida [...] A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento.

    Pretende com isso buscar um conceito básico e claro sobre a importância da ética nas relações humanas e assegurar a estas relações limites, direitos e deveres. Por isso é salutar refletir sobre a ética nas relações de trabalho, em vista de um comportamento harmonioso, evitar determinadas posturas que não condiz com o perfil trabalhista do ser humano.         Segundo Chauí (2000, p. 37, apud Kierkegaard 2005, p. 445), há uma relação entre ética e as escolhas: 

Para o filósofo Kierkegaard (2005, p. 445) a ética relaciona-se com a escolha que o indivíduo faz de si mesmo, e com o empenho pessoal, e tem como centro a existência sempre individual e subjetiva; na segunda obra a ética faz

referência não ao gênero humano abstratamente, mas com o indivíduo concreto, e nesse contexto a ética não é somente um saber, mas um agir, inseparavelmente conjunto com um saber. Para o filósofo ser ético é tornar-se personalidade, isto é, tornar-se pessoa autônoma, responsável e livre. Kierkegaard pensa a ética a partir da alteridade, com a responsabilidade decorrente dela. O próximo, o outro, é todo e qualquer indivíduo, o primeiro que aparece. Tal alteridade está além do que pode oferecer a ontologia.

      A ideologia intrínseca a este pensamento é que o homem precisa sempre aprender a viver na diversidade, com o diferente e jamais esquecer que agir eticamente é desenvolver ações de reciprocidade de forma profunda.

  1. A ética: ontem e hoje. 

   O homem é um ser social e desde o início de sua existência na terra tem vivido em sociedade. Entretanto foi fundamental criar normas e princípios para organizar de forma colaborativa a cidadania e as relações interpessoais. Esta foi a forma que ele encontrou para melhor suprir algumas de suas necessidades coletivas, tais como segurança, respeito, limite.

    Segundo Sá (2005, apud COWLES, 1996; MORROW JR., HANSEN e PEARSON, 2004; PEARSON, 2004), é necessário haver atitudes de comportamento maduro e aspectos afetivos nas relações interpessoais, principalmente no trabalho:

Nas relações interpessoais, parece existir uma tendência à existência de confiança com um elemento cognitivo: as pessoas confiam por terem ‘boas razões’ para confiar no outro. Neste aspecto, a geração de confiança por um indivíduo, grupo ou organização passa por avaliações empíricas ou concretas do comportamento pregresso, avaliação de atributos e características de outra parte, relacionadas com as habilidades, a competência, a previsibilidade de comportamento, levando em conta ainda aspectos afetivos.

                O interlocutor traz o desafio da busca de confiança no outro. Isso é que enriquece as relações de trabalho. Se não houver confiança não existe trabalho e nem eficácia no resultado.

                 Para Avalone Filho (1999, p. 82), existe um poder maravilhoso do empregador para que se tenha relações sadias e proveitosas, a saber:

O poder diretivo do empregador (e especialmente sua manifestação disciplinar) deve sempre ser exercido de forma responsável e coerente, com sensatez, transparência e equanimidade, procurando-se observar o uso da polidez, da simplicidade, da tolerância, da temperança, da boa-fé, da generosidade, da gratidão, da honestidade, da solidariedade e até da doçura, virtudes morais sem as quais seríamos corretamente qualificados de inumanos e que, afinal, constituem o verdadeiro poder: o Poder da Humanidade.

 

     Avalone Filho (1999, p. 121) traz a questão radical, num tempo de ideologias controversas, sobre a fragmentação ética e o fim do indivíduo:

[...] A reflexão ético-social do século XX trouxe, além disso, uma outra observação importante: na massificação atual, a maioria hoje talvez já não se comporte eticamente, pois não vive imoral, mas amoralmente. Os meios de comunicação de massa, as ideologias, os aparatos econômicos e do Estado, já não permitem mais a existência de sujeitos livres, de cidadãos conscientes e participantes, da consciência com capacidade julgadora. Seria o fim do indivíduo?

     Para fazer uma boa avaliação da conduta ética no trabalho é preciso proporcionar liberdade de ação entre os colaboradores. Não pode haver sujeito livre se no trabalho se vive a desconfiança, a opressão, além da pressão psicológica. A liberdade é o substrato da ação moral e com isso do comportamento sadio e frutuoso. 

  • A ética é liberdade              

O homem é um projeto infinito, um caminho aberto, um ser jogado no mundo, um ser aí, dasain, segundo o existencialismo sartreano. Assim, na construção de sua identidade o homem se define. Para Sartre (Gallo, 2014, p. 75) o homem se autodetermina na alteridade (relação com o outro):

Falar de ética significa falar da liberdade. Num primeiro momento, a ética nos lembra as normas e a responsabilidade. Mas não tem sentido falar de norma ou de responsabilidade se a gente não parte da suposição de que o homem é realmente livre, ou pode sê-lo. Pois a norma nos diz como devemos agir. E se devemos agir de tal modo, é porque (ao menos teoricamente) também podemos não agir deste modo. Isto é: se devemos obedecer, é porque podemos desobedecer, somos capazes de desobedecer à norma ou ao preceito. 

        Tacitamente esta é a tentativa de dizer que o homem tem dentro de si o senso do dever e isso deve ser um eixo proporcionador de ações livres no ambiente de trabalho.

 A educação para um trabalho ético 

            A educação que se recebe nas instituições trata de maneira formal sobre a importância das atitudes sadias de caráter e de um diferencial na vida do trabalho. O site “administradores” apresenta várias dicas de “como ser ético no trabalho”, conforme abaixo. (

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