A ética da política amapaense: ou gato por lebre.

Por Wendel Fernandes | 21/03/2013 | Política

Os Góes (PDT-AP) vão ter que exibir musculatura filosófica no discurso como candidatos nas eleições amapaenses em 2014, se não quiserem passar vergonha. O mesmo terão que fazer os Capiberibe (PSB-AP). Se não compreendi mal, nestes últimos anos, parece-me que a ética, nos políticos amapaenses, não é um objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é o interesse pessoal. A ética (a deles, claro) é um meio, e não um fim. Que coisa!

Imaginamos os palanques em 2014 nas praças de Macapá: os candidatos falando, então, em termos eloqüentes, rebuscados, e a oratória poderia dar inveja a um Cícero, um Catão ou um Demócrito, grandes sofistas da história. Se eu acreditasse em reencarnação, eu diria que o espírito de Cícero baixaria em Waldez Goes e que Catão seria Camilo Capiberibe… Êta, os homens são bons de papo!

Lotear o Estado é a coisa mais comum do PSB. Na primeira mexida no primeiro escalão, tirou dois aliados da Assembleia, deputados Bruno Mineiro (PTdoB) e Cristina Almeida (PSB). Na vaga dos dois, entraram Jorge Salomão (DEM) e José Luiz Nogueira (PT), ou seja, ampliou seu poder de fogo no GEA e na ALAP. Cristina Almeida, depois da surra nas municipais, foi cuidar do setor primário do Estado, assumindo a pasta da Secretaria de Desenvolvimento Rural; e de cara recebeu um significativo apoio financeiro através do Programa de Transferência de Renda para Agricultura Familiar (PROTAF), que são financiamentos feitos aos agricultores para que possam melhorar suas produções. Bruno Mineiro foi cuidar das estradas. Setores estratégicos que não estavam dando resposta ao governo. Até agora não fez nada.

O Amapá passa por um momento particularmente infeliz no que diz respeito à ética porque, com efeito, o PSB é herdeiro moral do vale-tudo socialista — que no fundo é, disfarçadamente, comunista. E, em nome do que vende como “causa da humanidade”, não só pratica as piores presepadas como as transforma em ferramenta de progresso social, como fez o PDT por oito anos — um partido, em práxis, comunista. Esse amoralismo amapaense, que apela a amanhãs gloriosos, se casa perfeitamente com os interesses das elites reacionárias amapaenses, como os Borges, os Favacho, os Alcolumbre, os Amanajás.

Epa! Faltou um nome que inclusive goza de um enorme prestígio junto ao Ministério Público: Senador Randolfe Rodrigues (Psol). A boca miúda corre que, todas as vezes que Camilo se aproxima de Randolfe pergunta-lhe: “Vamos estar junto em 2014?”; e Randolfe coloca uma mão para trás, cruza os dedos e garante: “sim, claro”. Randolfe Rodrigues tem origem no movimento estudantil; dois mandatos na Assembleia Legislativa; saiu do PT junto com a corrente de puristas que culminou com a fundação do Psol; foi vice de Camilo numa eleição vencida por Roberto Góes. Dois anos mais tarde, foi rejeitado por Capiberibe em uma proposta de aliança onde ele pretendia ser o cabeça de chapa numa dobradinha com os amarelinhos para o governo estadual. Não restou alternativa: ele lançou a candidatura para o Senado com clara intenção de atrapalhar a eleição do velho e bom de voto João Alberto Capiberibe. O que Randolfe, e muito menos seus aliados não esperavam, era que uma operação policial lhe abriria as portas do cenário político nacional. Foi o mais votado e no Senado destacou-se como um parlamentar combativo e intolerante com a corrupção. Renunciou no último instante à candidatura para a presidência do Senado Federal. Randolfe Rodrigues até hoje tem sido estilingue. Vamos ver na hora do “vamos ver”. Será que o cabra é macho? Só uma eleição doméstica para responder essa pergunta.

Neste momento estou soltando um suspiro. Aff! Essa gente nunca teve têmpera revolucionária, a empregam como farsa. Porque, de fato, como reacionários nunca tiveram como perspectiva um novo Amapá. Os supostamente revolucionários querem é dividir o comando da reação. E conseguem. No fundo, são todos do mesmo partido, da mesma ética. Os partidos se dizem hoje irmanados na defesa do bem comum, em nome do qual tudo é permitido. São sérios candidato a sucessores de Renan Calheiros!

A ética de Renan se fez ética encarnada por estas bandas tucujus. É espantoso! Hoje em dia, intelectuais de esquerda, os petistas e tipos como Renan passaram a demonizar o discurso da ética e da moralidade públicas. O discurso seria sempre e necessariamente falso; só poderia se exercer como moralismo de fachada. Nessa perspectiva, não se deve mais censurar este ou aquele pelo crime cometido; cumpriria, então, indagar: mas por que eles fazem tal coisa? O fim é nobre?

De fato, a ética não é uma finalidade em si, mas um instrumento. Só que há uma consideração que certamente não passa pelo amoralismo do PSB e PDT amapaenses e dos setores da esquerda que são hoje seus aliados: os meios empregados qualificam os fins. Se Maquiavel retirou a política da esfera quase celeste e a devolveu à terra ao constatar que, na vida real, os fins acabam justificando os meios, tomada tal perspectiva como um norte ético, mergulha-se, então, no vale-tudo.

Mas, Wendel Fernandes, espere ai! Você está dizendo que não há divergências políticas no Amapá, que todos formam uma só panelinha? Boa pergunta. Em tese o PSB é um legítimo representante ou herdeiro da esquerda. Mas, ele é esquerdista? Claro que não. Até namorou com o PC do B quando jovem, mas isso não tem importância. O Psol de Clécio, em tese, é revolucionário. Mas, faz revolução? Randolfe Rodrigues, a nossa figura mais prestigiada, vem do movimento revolucionário. Mas, os interesses dos reacionários amapaenses é a revolução? Claro que não.

Vamos levar um pouco mais longe e de maneira viva o questionamento ético no Amapá. Vou por a nu um por um. A elite dirigente que hoje comanda o Amapá transformou em norte moral a máxima de que o fim justifica, sim, os meios empregados. Essa visão de mundo contamina setores da imprensa. A nossa imprensa, toda ela, é manipulada. É raro encontrar um jornalista corajoso, comprometido com a causa social. Esses fanfarrões de programas sensacionalistas não contam. A grande maioria faz lobbies para as famílias reacionárias, que eu já citei.

Em meu artigo “Parlamentares: macacos de Darwin”, eu falo sobre a estratégica da inimizade. Há um interesse em proceder e extrair vantagens com o partido oposto. Em política, sempre se quis a aniquilação dos inimigos. Antigamente, mandava-os à forca; mas, na modernidade, agora há uma vantagem em que os inimigos subsistam. No âmbito político, a inimizade se tornou mais do que uma estratégia: quase todos os partidos se dão conta de que, para a sua própria autoconservação, lhes interessa que o partido oposto não perca forças. Quantos não são aqueles que justificam a aliança partidária em nome do interesse próprio?

Isso explica por que Waldez Goes, Edinho Duarte ou Moisés Sousa saem proclamando aos quatro ventos que concorrerão às eleições em 2014: eles derivam do moralismo udenista. Não me admira se Pedro Paulo aparecer de cara lambida. 

Estão nos dando gato por lebre em matéria de moralidade. Que negócio sujo é a política atual no Amapá! Se a esperança é a “última que morre”, então aqui na política ela tem muitas vidas; quando uma morre a outra lhe dá sopros para reviver...

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