A escola estratégica da aprendizagem (Learning by Interacting)...

Por Gisele Elios da Silva | 05/11/2016 | Adm

A escola estratégica da aprendizagem (Learning by Interacting): um estudo de caso da empresa LEGO® (Revista Científica UNAR, v. 12, p. 11-41, 2016)

O objetivo principal consiste em apresentar a relação entre a escola da aprendizagem e as estratégias adotadas pela empresa LEGO® quanto ao Learning by Interacting, a fim de possibilitar à empresa a capacidade de inovação e modificação, fatores que possibilitam o desenvolvimento de uma vantagem competitiva e o surgimento de uma nova empresa em seu segmento de atuação. Além, da aplicação da escola da aprendizagem ao estudo de caso, base para o desenvolvimento do presente artigo, apresentaremos os prós e contras desta escola, suas fases e contribuições para o desenvolvimento das estratégias administrativas.

INTRODUÇÃO

Ao iniciar a abordagem ao tema estratégia, torna-se essencial o conhecimento de momentos da história da administração que possibilitaram gerar premissas, as quais fundamentaram cada uma das escolas da estratégia, dentre elas a escola da aprendizagem.
1 Mestrando em Administração pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP).
Coordenador e docente universitário danylo.armelin@hotmail.com 2 Mestranda em Administração pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Servidor público federal, Coordenadora de Gestão de Pessoas do Instituto Federal de São Paulo gelios@unimep.br 3 Mestranda em Administração pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Docente universitária da Faculdade Jaguariúna e Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo.
4 Docente da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) Recebido em: 03/04/2016 Aceito para publicação em: 25/05/2016 Armelin et al. (2016) Revista Científica UNAR, v.12, n.1, 2016. 12 A escola da aprendizagem compreende-se como ações dos indivíduos que se inter-relacionam, produzindo um resultado coletivo, as quais são assim constituídas por ações individuais, que ao se integrarem, passam a ser compreendidas como atividades e experiências que emergem (WEICK;
ROBERTS, 1993).
Para Mintzberg et al. (2010), a natureza complexa do ambiente organizacional e a sua amplitude, juntamente com a extensão do conhecimento necessário à criação de estratégia, gera um processo de aprendizado contínuo.
Diante desse contexto tão complexo e mutável, as empresas precisam se adaptar constantemente, de modo a ganhar competitividade e gerar valor a todos os stakeholders, onde criar um planejamento anual, burocrático e mecanicista apenas com a participação de pessoas que compõem os níveis estratégicos e táticos da empresa, para ser aplicado depois ao longo do ano seguinte não funciona tão bem quanto funcionava no século passado, afinal, os desafios são outros.
Para Kim (1993), de forma consciente ou não, todas as organizações aprendem, devido a sua existência estar diretamente relacionada à aprendizagem. É certo compreender que nem todo processo de aprendizagem gera um processo de melhoria, visto que o resultado depende do que foi aprendido pela organização.
Contudo, uma empresa que encanta várias gerações e remete a todos aos tempos de infância, e que vem aprendendo em cenários desafiadores chamou atenção para confecção do presente estudo. A LEGO® conseguiu sobreviver bravamente e se reinventar ao longo de décadas, adaptando-se a tecnologia, sem abrir mão de sua razão de existir: oferecer experiências de aprendizagem inspiradoras que contribuam para o desenvolvimento de habilidades, competências, atitudes e valores em crianças, jovens e adultos por toda a vida.
Portanto, a pergunta a ser respondida por este artigo é: como a empresa LEGO® utiliza os conceitos da Escola da Aprendizagem, com base na estratégia de Learning by Interacting? Logo, o presente estudo visa abordar uma pesquisa exploratória, analisando um estudo de caso da companhia supracitada, estruturando um quadro comparativo-evolutivo da ampliação e adequação da gama de produtos, Armelin et al. (2016) Revista Científica UNAR, v.12, n.1, 2016. 13 mediante ao aprendizado organizacional na interação com fontes externas, além de apresentar as origens históricas da escola da aprendizagem, suas premissas, contribuições e críticas a esta escola.
Esse estudo também consiste na verificação da aprendizagem estratégica e sua associação com novos conhecimentos e modificações em cenários empresariais da LEGO®, em face da capacidade da inovação e modificação da empresa a fim de melhorar o seu desempenho ou até mesmo continuar em seu segmento de atuação, desenvolvendo assim sua vantagem competitiva.


1. ESCOLA DA APRENDIZAGEM E SUAS ORIGENS

O planejamento apresenta-se dividido em dez escolas, as quais possuem natureza prescritiva, ou descritiva, ou configurativa. A escola do aprendizado enquadra-se na descrição, visto que se difere das demais escolas que a antecedem. Compreende-se como descritiva já que pelo prisma dessa escola as estratégias se formam nas organizações, fruto ao aprendizado dos estrategistas ao longo do tempo, sugerindo que é melhor ter soluções eficientes, mesmo que tais sejam menos inteligentes (HENZ et al., 2014).
A publicação do artigo "A Ciência de Alcançar o Objetivo de Qualquer Maneira" de Charles Lindblom em 1959 que deu início a esta escola (MINTZBERG et al., 2010).
Na visão de Mintzberg et al. (2000), na escola da aprendizagem as estratégias emergem do momento em que as pessoas aprendem, de forma individual ou coletiva, por meio da identificação de uma situação específica, e também quando a organização é capaz de lidar com ela (HENZ et al., 2014).
O termo estratégia emergente foi introduzido por Henry Mintzberg na década de 1970, visando conceituar que uma estratégia emergente consiste em uma estratégia não planejada, sendo percebida como tal pela organização na medida em que ela vai se desenrolando ou já tenha acontecido (MARIOTTO, 2003).
Para Restrepo & Restrepo (2005), a escola da aprendizagem questiona a adaptabilidade estratégica das teorias tradicionais, em especial as existentes na década de 1980 e 1990, nos Estados Unidos. Para os autores, a escola Armelin et al. (2016) Revista Científica UNAR, v.12, n.1, 2016. 14 busca formular-se por meio de novas formas de vantagens competitivas, alcançadas por modificação dos contratos de negócios, ou com a criação de mercados desenhados pelos novos competidores.
Pode-se compreender que a escola do aprendizado sugere um aprendizado constante, que ocorre por meio da detecção de um problema, uma solução eficaz e a incorporação da solução como verdadeira para a organização (HENZ et al., 2014).
Desta forma, de acordo com Henz et al. (2014), tem-se que os passos que levam uma organização a aprender são:
a. Observação de um problema;
b. Sugestão da solução;
c. Implementação;
d. Verificação do resultado.
O aprendizado ocorre de forma emergente, influenciado por um comportamento que busca estimular o pensamento retrospectivo para que se possa compreender a ação. São assim as estratégias padrões do passado que podem vir a se transformar em planos para o futuro e como perspectivas guiar o comportamento geral da organização (MINTZBERG et al., 2000).
A escola do aprendizado tem uma visão de mundo complexo, o que possibilita que as estratégias sejam desenvolvidas de uma só vez, emergindo de pequenos passos, à medida que a organização se adapta ou aprende (ALVES FILHO; SALM, 2000).

1.1 As fases da escola da aprendizagem

Para Mintzberg et al. (2010), a escola da aprendizagem tem diversas fases, as quais são: a. Incrementalismo desarticulado b. Incrementalismo lógico c. Teoria revolucionária d. Empreendedorismo estratégico e. Estratégia emergente f. Compreensão retrospectiva Armelin et al. (2016) Revista Científica UNAR, v.12, n.1, 2016. 15 g. Compreensão emergente a. Incrementalismo desarticulado Nos anos 60, Charles Lindblom elaborou um conjunto de ideias com o rótulo de incrementalismo desarticulado, no qual aponta que as decisões são tomadas mais para resolver problemas do que para explorara oportunidades. Sendo que os agentes da estratégia buscam um ajuste mútuo (MINTZBERG et al., 2010). Ainda para o autor, em um momento posterior, sua teoria poderia ser resumida como “a geração de políticas é, geralmente, um processo infindável de etapas sucessivas, em que pequenas mordidas contínuas substituem uma boa mordida” (MINTZBERG et al., 2010, p. 179). Lindblom possibilitou uma abertura quanto ao pensamento da formulação da estratégia. b. Incrementalismo lógico O Incrementalismo lógico tem início com a obra de Quinn (1980). Para o autor, a estratégia evolui à medida que as decisões internas e eventos externos fluem em conjunto para criar um novo e amplo consenso para a ação entre os membros-chave da equipe gerencial. Quem elabora as estratégias são os executivos, podendo sofrer uma flexibilização assistida frente à movimentação seletivas de pessoas. Cabe aos executivos utilizar da credibilidade empresarial para mudar ou incorporar símbolos, pontos de vistas ou superar a oposição, visando com isso legitimar a estratégia formulada e implementada (MARIETTO et al., 2012). Nas organizações que são bem dirigidas, os gerentes guiam de forma proativa as ações e os eventos, de forma incremental, buscando convergir para estratégias conscientes (MINTZBERG et al., 2010).

[...]

Artigo completo: