A escola enquanto espaço de desenvolvimento humano
Por Alexandra Paula Cyrino dos Santos Souza | 21/04/2013 | EducaçãoAlexandra Paula Souza.
A Escola enquanto espaço de Desenvolvimento Humano.
O Desenvolvimento Humano é um processo de evolução que acontece de forma gradual e contínua, no qual percebemos o progresso físico, mental , emocional e social dos sujeitos.
A Escola, instituição habilitada para a transmissão de conhecimentos e para construção de saberes, composta por um espaço físico onde educadores, supervisores, diretores... trabalham juntos proporcionando ao educando um aprimoramento das capacidades humanas , dentro de uma perspectiva globalizante, mediante atividades organizadas e regradas. A Escola tem como tarefa - formar e informar indivíduos, explorando e estimulando a capacidade cognitiva do aluno, desenvolvendo uma consciência voltada para o exercício pleno da cidadania, concomitantemente, favorecendo-o uma compreensão de mundo que garanta a completude e o respeito a valores e concepções imprescindíveis ao meio social, permitindo a este educando uma atuação interventiva neste âmbito. Na Escola os educandos desenvolvem formas superiores de pensar e aprender, aprimorando a memória seletiva, a criatividade, o raciocínio abstrato e o pensamento lógico.
Remetendo-nos as ideias de Vygostsk ... “o homem é compreendido como um ser histórico, resultado do conjunto das relações sociais”. Para Vygostsky, os homens se estabelecem entre si, são sujeitos que transformam e que são transformados diante de uma relação de cultura, ou seja, o desenvolvimento humano não é atribuído a fatores unívocos, mas a dialética existente entre os fatores inatos e os adquiridos. Assim, entendemos que o Desenvolvimento Humano acontece diante das relações interpessoais, pautadas por trocas recíprocas durante toda a vida do indivíduo, através do contato entre o indivíduo e o meio - um exercendo influências sobre o outro. Para o Vygostsky somos primeiro sociais depois nos individualizamos.
Diante desta abordagem, podemos nos reportar a concepção de educação colocada por Paulo Freire (1997; p.68) ratificada neste célebre frase: “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
Considerando estas concepções de educação, segundo a visão desses autores, que trazem pontos em comuns, temos a Escola como espaço mediatizador do desenvolvimento humano, que coloca-se muitas vezes numa posição meio que de “contramão” rumo a este progresso. Anteriormente, nas Escolas Tradicionais tínhamos a imagem do mestre como o “todo-poderoso”, único, detentor de todo conhecimento, inquestionável, célebre... ou seja, digno de pedestal, sim, assim se posicionava em sala – em um lugar mais alto que os demais – um “pedestal”. O aluno era visto como um objeto, um repositório, que não interagia, apenas ouviam e tinham que memorizar os conteúdos, conteúdos estes que nada tinha haver com a necessidade dos alunos para garantir sua emancipação diante uma concepção libertadora, mas que servia para aprisioná-los preparando-os para a obediência absoluta, para a disciplina, para reprodução e para o silêncio. Após a concepção da Escola Nova onde o aluno é visto como um sujeito co-participante no processo ensino aprendizagem, ativo, atuante , crítico ... e de total relevância no processo de construção dos saberes, percebemos claramente a transformação do contexto histórico-social diante destas concepções, os valores mudaram, a família mudou, a concepção de Escola mudou, contudo as práticas insistem em resistir a estas mudanças. O paradoxo existente entre uma ideia nova de educação com um currículo bem elaborado, abrangente, quase completo, onde fala-se em educação inclusiva respaldadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, mas por outro lado, temos o Estado como responsável pela condição mínima de sobrevivência dos sujeitos com necessidades especiais que exclui e negligencia sua responsabilidade mais elementar a partir do momento que não favorece os meios para que estes frequentem este espaço. A estes portadores de necessidades especiais é escasso e difícil o acesso a tratamentos clínicos, remédios, suporte psicológicos, etc. Em pauta nos PCN´s encontra-se também o uso dos aparatos tecnológicos no processo educacional, onde por muitas vezes, o professor buscando atender esta tendência, natural diante da globalização e dos avanços a tecnologia, submete-se ao uso desses aparatos sem compreender em essência a importância de sua aplicabilidade no processo educativo ou simplesmente não sabendo fazer um link entre esta tecnologia e a formação dos sujeitos.
Portanto, é condição sine qua non para chegarmos ao ápice desta caminhada, entender que “mascarar” o tradicional não vai nos remetermos ao novo, temos que pensar ações realizáveis, viabilizando os meios que irão favorecer esse processo, considerando a complexidade das relações sujeito/espaço/tecnologia para assim talvez galgarmos caminhos mais firmes e menos obscuros, que nos auxilie no desenvolvimento dos sujeitos que compõem a Escola (Escola enquanto instituição, considerando todos os seus membros) num âmbito globalizado.
Refletindo sobre o papel da Escola que é de fundamental importância para o desenvolvimento humano, visto que, como co-responsável deste processo, propicia aos sujeitos atributos necessários ao convívio social, bem como ao exercício pleno da cidadania, paradoxalmente, nos remete a pensar que esta funciona também como espaço de segregação e exclusão, onde os sujeitos são silenciados dando vazão ao preconceito, a distinção de classes sociais e de sexo, e assim reproduzindos seres para adaptar-se a este ciclo e novamente reproduzí-lo. Esta prática é uma característica bem peculiar da Escola Tradicional, que nada auxilia na formação do “ser crítico” consciente dos seus direitos e deveres; Nesta esta em primeiro lugar a “ordem” dentro do espaço escolar, que é facilmente percebida através das indumentárias utilizadas pelos discentes (fardas), que tem como objetivo padronizar e assim camuflar as suas identidades, apresentando-os como “iguais” e assim enfraquecendo as suas autonomias e as suas capacidades subversivas, limitando-os em criatividade e percepção das diferenças que são fatores imprescindíveis ao processo de emancipação. Ressaltando esta ótica, paira a dúvida. Até que ponto as Escolas, de fato, desenvolvem sujeitos?
Diante destes questionamentos, se faz necessário refletir sobre a Escola enquanto instituição detentora do saber, para tanto, esta afirmação de Libâneo (1998) nos propicia tal reflexão... “ A Escola com a qual sonhamos deve assegurar a todos a formação que ajude o aluno a transformar-se em sujeito pensante, capaz de utilizar seu potencial na construção de conceitos, habilidades e de valores”.
Segundo Libânio nesta afirmativa “ A Escola com a qual sonhamos ....”, demonstra claramente a ineficiência da Escola no desempenhar da sua real função, tanto que, este fala em sonho, algo ilusionário, coisas que existem apenas em nossa imaginação. A escola que se sonha é uma escola democrática com oportunidades iguais para todos, é um espaço onde não existe segregação social e não “ uma escola para ricos e outra para os pobres” (HARPER, 2000, P.33). Para tanto, é imprescindível que esta tenha uma atuação mais firme e mais completa, sabemos que neste espaço de interações contínuas e complexas não é fácil promover desenvolvimento coletivo mediante atividades regradas, visto que, é um espaço multicultural que abrange a construção de laços afetivos na diversidade. Contudo, a omissão das escolas no desempenhar de suas funções parece se colocar de maneira sutil, pouco perceptível ou com pontos ainda não tão claros, dificultando-nos identificar o cerne deste impasse que existe envolto ao processo educativo dentro destas instituições.
Perceber que a transformação da Escola é difícil, não é cruzar os braços e fingir que nada acontece, ou ainda, simplesmente apontar culpados.
“ Mudar é difícil, mas é possível [...] A educação, especificidade humana, como ato de intervenção do mundo [...]... que aspira mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde... “ (FREIRE,1996,p.79,109).
Entender que a mudança no processo educativo é tarefa não muito fácil e que decorre de várias ações que não se realiza de forma instantânea e que isto implica no fator “tempo”, parece um pensamento razoável. Encarar este problema que vivenciamos hoje com apatia e conformismo é que não nos levará a solução.
Considerando a “Escola” como a grande responsável pela disseminação e pela aferição da educação formalizada, e que neste espaço o sujeito deve evoluir em conhecimento, estar apto ao convívio social respeitando a pluralidade dos sujeitos e atuando com criticidade, conhecer e preservar o meio ambiente, entendendo e favorecendo sua sustentabilidade.
Um aspecto importante a ser abordado é que não se adquire conhecimento apenas na escola, mas no conjunto do que se formula na escola se aprende normas, valores e comportamento (HARPER, 2000, 82).
Pensar neste espaço “Escola” em totalidade, é mais que imaginar uma estrutura física com pessoas circulando apenas, mas um espaço onde se desenvolve diversas atividades com intuito de compartilhar informações e ações aprimorando o social de forma organizada e emancipadora.
Não conhecer os direitos e não fazer deles valer é como não exercitar em sua plenitude o que a cidadania nos propõe. É o que chama de cidadania inconclusa, onde um direito é mais importante que outro e não se tem uma dimensão do conjunto, prejudicando então a cidadania. Portanto, a cidadania nos remete a igualdade plena vivenciada em todas as instâncias contidas entre os direitos e os deveres, se faz necessário um elo que favoreça o equilíbrio desses pontos que se colocam como antagônicos mas que penso ser apenas contínuos e complementares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
HARPER, Babette. Cuidado, Escola! : desigualdade, domesticação e algumas saídas. Tradução Letícia Cotrim. São Paulo: Brasiliense, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
REGO, Teresa C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
MAHONEY, A. A. (2002). Contribuições de H. Wallon para a reflexão sobre as questões educacionais.In V.S. Placco (Org.), Psicologia & Educação:Revendo contribuições (pp. 9-32). São Paulo
GADOTTI, Moacir. Escola cidadã. 3ª Ed., São Paulo: Cortez, 1995.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.