A Escola do professor Chico
Por Edson Terto da Silva | 07/10/2010 | ArteEdson Silva
Não ouvi ainda e gostei muito! Pode parecer estranho, mas é exatamente assim que me sinto em relação à coleção de Mini-Livros/CDs de Chico Buarque de Holanda, lançado pela Abril Coleções e que está no sexto de seus vinte volumes.Tenho todas as músicas (que conheço e das quais gosto do Chico), por isso seria indiferente eu adquirir a coleção só pelos CDs. Acho também necessário dizer que muitas das músicas do Chico, por serem muito lentas, podem não agradar a roda de amigos no bar, embalada por algum duvidoso ritmo da atualidade, devidamente abafado pelo alívio sonoro provocado pela cerveja gelada.
Mas as letras do Chico, estas, e quase todas, são poéticas e são demais. Mas nem tente argumentar isto junto aos amigos do barzinho ou lanchonete, eles dirão que você está fora do juízo e repetirão coros sem sentidos das tantas músicas da modernidade. Mas, como diria o Oswaldo Montenegro, não era isso que eu queria dizer sobre a coleção do Chico. Eu quero e vou dizer que os livretos integrantes da coleção não são meros complementos dos CDS, com histórias das músicas, letras das mesmas e outras curiosidades sobre a vida pessoal e a carreira do artista e de seus amigos.
Eles são verdadeiras aulas sobre a recente história política e social do Brasil, principalmente sobre os "Anos de Chumbo", da Ditadura Militar. A época foi vivida de maneira intensa por Chico Buarque, que nasceu em 1944, e tinha 20 anos quando ocorreu o Golpe Militar, que duraria até 1985, ano em que um presidente civil, embora por eleição indireta, via Colégio Eleitoral, voltaria a governar o Brasil. O "eleito", Tancredo Neves, morreu antes de assumir o governo, cabendo esta tarefa ao seu vice, José Sarney.
Uma curiosidade que chamou atenção num dos livros, sobres o ano de 68, do famigerado Ato Institucional no. 5 (AI-5), que baniu as liberdades individuais no Brasil, é que Chico vivia, assim pode se dizer, entre a cruz e a espada, com seu tipo de música sendo contestado pelos engajados da Música de Protesto, que o estudantes elegeram como expoente o poeta revolucionário Geraldo Vandré, e a modernidade do Tropicalismo, liderado por Gilberto Gil e Caetano Veloso. Vale lembrar que nesta efervescência cultural ainda havia a Bossa Nova, a Jovem Guarda e lógico o samba brasileiro.
Um dos livretos históricos da escola da vida do professor Chico relata que certa vez Gil teria puxado um coro de: "superado, superado!" durante uma apresentação de Chico, que revidaria a desfeita com um artigo em jornal, que traria entre críticas elegantes e cultas uma frase que serve, no mínimo, para nos fazer refletir sobre tudo na vida, inclusive nas próprias condições que todos vivemos: " Nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha" . Isto foi em recado do genial Chico dado no final dos anos 60, mas há algo mais moderno e atual? Obrigado pela aula, meu caro amigo e professor Chico...
Edson Silva, 48 anos, jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré.
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