A EPIFANIA NO CONTO SRA. BRILL DE KATHERINE MANSIFIELD
Por Andréia Costa Pereira | 04/11/2013 | LiteraturaA EPIFANIA NO CONTO SRA. BRILL DE KATHERINE MANSIFIELD
Mansifield é uma escritora neozelandesa que tinha uma vida social conturbada, conhecida por ser muito cruel com seus personagens, no conto Srta. Brill ela nos mostra uma mulher que vive como um corpo estranho na sociedade, sem interagir com as pessoas, se satisfazendo em apenas em assistir a tudo ao que acontece a sua volta passivamente
Srta. Brill a personagem do conto é uma mulher solitária, aparentemente já velha, ainda solteira, que vive em um país estrangeiro. Ela sente prazer, nas coisas mais simples e corriqueiras e em sair de casa todos os domingos, sentar sempre no mesmo banco da praça e observar as pessoas, escutar suas conversas muitas vezes se emocionando e até tomando partido como se fizesse parte das histórias, porém silenciosamente.
Tem como companhia uma pele que assim como ela já não era tão nova e que por ser um artigo de luxo era guardada para ocasiões especiais. Para Srta Brill a pele parece ter vida, é como se as duas fossem duas amigas, companheiras. Ela representa-a, pois ambas vivem isoladas, a pele em sua caixa e ela em seu quartinho que mais parece um armário. A pele parece lhe trazer boas recordações talvez de sua juventude: “Miss Brill put up her hand and touched her fur. Dear little thing! It was nice to feel it again”. (MANSIFIELD, p.184).
Nesse conto podemos perceber alguns momentos epifânicos onde a personagem toma consciência de si, do seu papel no mundo. Era um domingo diferente na vida de Srta. Brill, havia mais pessoas no parque e estava feliz por estar usando sua pele. Ela faz uma descrição detalhada das pessoas que lá estão, caracterizando-as a partir das conversas que ouve ou gestos que ela vai lhes atribuindo sentido, imaginando histórias. Após uma breve reflexão ela compara aquele lugar a uma peça teatral, onde cada um é indispensável, e então percebe que não é apenas uma espectadora e sim uma atriz, e aquele papel que desempenhava era tão essencial como qualquer outro, ela constrói seu próprio mundo e imagina-o como um lugar maravilhoso, onde as pessoas eram boas e alegres, e o melhor de tudo é que ela era importante, viaja na imaginação descobrindo porque aquilo tudo lhe dava tanto prazer.
That Miss Brill discovered what it was that made it so exciting. They were all on stage. They weren´t only the audience, not only looking on; they were acting. Even she had a part and came every Sunday. No doubt somebody would have noticed if she hadn´t been there- She was part of the performance after all. (MANSFIELD, p. 188)
Após essa breve reflexão mais extasiada, ela se prepara para desempenhar seu papel de ouvinte quando um casal de jovens apaixonados senta ao lado dela, o casal que em seu mundo era considerado como herói. Pela primeira vez ela consegue uma interação, por causa da pele ela consegue ser notada, só que de uma maneira negativa.
‘But why? Because of that stupid old thing at the end there?’ asked the boy. ‘Why does she come here at all – Who wants her? Why doesn’t she keep her silly old mug at home?’(MANSFIELD, P. 190)
De repente ela toma consciência de que eles tinham razão de que seu tempo já havia passado e que ela era uma velha insignificante, assim como aquela pele fora de moda. A partir daí há outro momento epifânico onde ela percebe que a imagem que o mundo tinha dela é diferente da imagem que tinha de si própria, ela vê que era exatamente igual aquelas pessoas que considerava estranhas, ela não era a única a ter aquela rotina, talvez existissem mais dezenas de pessoas que executavam um papel igual ao seu.
Other people sat on the benches and green chairs, but they were nearly always the same, Sunday after Sunday, and – Miss Brill had often noticed – there was something funny about nearly all of them. They were odd, silent, nearly all old, and from the way they stared, they looked as though they’d just come from dark little rooms or even – even cupboards!
Após essa revelação todas as suas esperanças acabam e ela não vê mais sentido na vida, todos os seus sonhos foram destruídos através das palavras do jovem casal, tudo aquilo que antes lhe dava prazer, as conversas ouvidas no banco da praça, a fatia de bolo e a amêndoa surpresa, agora não importava mais. Seu mundo particular havia desmoronado e junto com ele todas as suas emoções e sentimentos, agora seu coração chora por saber que nada será como antes.
REFERÊNCIA BOBLIOGRÁFICA
MANSFIELD, KATHERING, ‘Miss Brill’, IN: The Garden Party and Other Stories. London: Penguin, 195