A EFICIÊNCIA ECONÔMICA E ECOLÓGICA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE CIMENTO

Por Edno Mendes de Lima Junior | 28/02/2017 | Ambiental

A EFICIÊNCIA ECONÔMICA E ECOLÓGICA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE CIMENTO


Edno Mendes de Lima Junior

RESUMO


Neste artigo será descrito a eco-eficiência e a eficiência econômica do processo de produção do cimento. Cabe ressaltar que as proposições descritas são de cunho hipotético, e partem do pressuposto de um mercado com uma boa regulamentação ambiental e econômica. É importante notar que eficiência econômica neste artigo será descrita e aplicada através da ótica da Economia Ecológica. A justificativa pela escolha do cimento como matéria-prima a ser utilizada neste estudo é dada pela relevância do produto na economia brasileira, como o principal componente da construção civil (SILVA, 2009). Percebe-se ao efetuar o levantamento teórico através da leitura e pesquisa bibliográfica que o assunto já é bastante difundido e explanado. O desenvolvimento se dará através da descrição dos conceitos de eco-eficiência e de eficiência econômica. Com uma abordagem teórica ao Método de Análise Custo-benefício como medida de eficiência econômica, será explanado sobre os desafios ambientais e econômicos da indústria do cimento.

Palavras-chaves: Eficiência Econômica. Ecoeficiência. Cimento.

1 INTRODUÇÃO

A justificativa pela escolha do cimento como matéria-prima a ser utilizada neste estudo é dada pela relevância do produto na economia brasileira, como o principal componente da construção civil (SILVA, 2009). O Brasil é líder na produção e no consumo em comparação com a América Latina (WILLS, 2010). O crescimento da produção de cimento está correlacionado positivamente com o crescimento da construção civil, e estima-se um crescimento a taxas de 7% ao ano com o advento de grandes obras MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E COMERCIO EXTERIOR – MDIC (2013).


Os impactos ambientais da produção de cimento estão bem descritos na literatura, e é um tema de estudo recorrente pela Industria de cimento e pelo governo, através dos Ministérios de Minas e Energias e Desenvolvimento da Industria e Comercio Exterior. Em nível mundial, o impacto do cimento é acompanhado pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), através do projeto Cement Sustainability Iniciative (CSI).

Este artigo está estruturado em cinco partes: Primeiramente descreve-se as condições básicas da produção de cimento, quais as matérias primas, como funciona o processo, qual é o processo mais comum. Em seguida, verifica-se na literatura o que seria Eficiência Ecológica, ou Ecoeficiência, e depois está abordada a Eficiência Econômica através da Análise Custo-Benefício. Depois de traçadas estas bases, discute-se as externalidades causadas pela produção deste insumo, e como pode-se verificar a eficiência econômica e a ecoeficiência. Conclui-se o artigo e lista-se as referências.

2 A PRODUÇÃO DE CIMENTO

A fabricação do cimento demanda de insumos de base mineral como calcário, argila e gipsita (gesso). De acordo com SANTI e SEVÁ FILHO (2004), os insumos extraídos para moagem e produção da farinha crua são “calcário (94%), a argila (4%) e quantidades menores de óxidos de ferro e alumínio (2%)”. Conforme declara WILLS (2010) estes insumos da produção são “recursos minerais que são considerados relativamente abundantes na crosta terrestre”.

De acordo com PINHO (2012), “A fabricação de cimento é geralmente um empreendimento bastante verticalizado [...] Para de minimizar o custo de transporte, as unidades industriais são implantadas junto às jazidas de calcário”. Há hoje basicamente três principais métodos utilizados para a fabricação de cimento: o processo seco (via seca) e o processo úmido (via úmida), há ainda um terceiro, por via semi-seca.

Segundo SANTI e SEVÁ FILHO (2004), o processo tecnológico de produção de cimento implantado na maioria das indústrias brasileiras é conhecido como processo via seca e é constituído, basicamente, de quatro etapas, que vão desde a moagem e homogeneização das matérias-primas(calcário, argila e quantidades menores de óxidos de ferro e alumínio) para obtenção da farinha crua, passando pela clinquerização da farinha crua em fornos rotativos para obtenção e resfriamento do clínquer, seguido da moagem do clínquer para e adição de gesso para obtenção do cimento e então o ensacamento e expedição do produto final.


Segundo a ABNT (apud PINHO, 2012), o cimento cinza está classificado conforme a adição de materiais, pós clinquerização. E de acordo com CARVALHO (2008), o cimento Portland é o mais abundante dentre os tipos, e o mais versátil, podendo ser adicionado materiais como o gesso, materiais pozolânicos (originárias de rochas vulcânicas) e materiais carbonáticos (rochas calcárias moídas). Ainda podem ser adicionados escórias de alto-forno (insumo originário da produção de ferro-gusa).

3 ECOEFICIÊNCIA


Ecoeficiência está intimamente ligada ao conceito de sustentabilidade. De acordo com a World Business Council for Sustainable Development – WBCSD (2000), a ecoeficiência é atingida por meio do fornecimento de bens e/ou serviços a preços competitivos, que satisfaçam a necessidade dos consumidores e ao mesmo tempo, proporcionem qualidade de vida e reduzam o impacto ambiental, bem como o consumo de recursos.

A ecoeficiência pode ser alcançada quando as empresas forem capazes de fornecer bens e serviços em um nível satisfatório às necessidades humanas e que trazem qualidade de vida e pari passu buscam a redução do impacto ambiental (SISSINO e MOREIRA, 2005). De acordo com BURNETT e HANSEN (2008) “a ecoeficiência chama para si a possibilidade de aumentar a produtividade e ainda reduzir os custos ao passo que simultaneamente produz melhorias na performance ambiental”(1). Para VELLANI e GOMES (2010) a ecoeficiência está no limiar entre a integração econômica e ecológica.


4 DEFINIÇÃO DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA PELA DESCRIÇÃO DA ANALISE CUSTO-BENEFÍCIO


A Eficiência Econômica pela visão neoclássica é aquela que define a fronteira ótima de alocação dos recursos para a produção. Como citou WILDAVSKY (1966) sobre Eficiência Pura: “Efficiency consisted in meeting the objective at the lowest cost or in obtaining the maximum amount of the objective for a specified amount of resources”. Entretanto, mesmo não sendo o objetivo deste artigo, existe um ramo da economia (a Economia Ecológica) que desconsidera a visão neoclássica por ser falha e incompleta (LIMA JUNIOR e MARQUES, 2011).

Uma das formas de se analisar a eficiência econômica é através da Análise Custo-Benefício. Esta pode ser definida, com base em MOURA (2000), como “uma forma racional de decidir sobre a adequabilidade e aceitabilidade de prosseguir com um projeto”. Como descreve FERNANDES (1991): “A análise de custo-benefício é uma técnica que procura determinar e avaliar os custos e benefícios sociais do investimento para ajudar a decidir se um projeto deve ou não ser implementado”.

Muito tem se disseminado no uso desta técnica para avaliar projetos, inclusive projetos sociais. A respeito do processo de formação da analise custo benefício, THOMAS e CALLAN (2010) descreve que: “Para uma política ambiental, por exemplo, a taxa de desconto social deverá refletir o custo de oportunidade social dos fundos alocados para o fornecimento de um bem público”. Isso pode ser reforçado por BIROL et al. que diz: “In a classical CBA, the economic efficiency of projects or policies with long-run-accruing costs and benefits is often assessed using the net present value (NPV) rule”.

5 O DESAFIO DOS CUSTOS AMBIENTAIS E SOCIAIS DO CIMENTO


Retomando a produção do cimento, sabe-se que o consumo do cimento deve ser rápido, devido às próprias condições químicas do produto (característica hidráulica descrita por CARVALHO: 2008). Inclusive, o próprio MDIC (2013) ressalta que “por ser um produto perecível, com baixa condição de estocagem, requer condições específicas de armazenamento”.

Conforme SANTI e SEVÁ FILHO (2004) o processo da via seca possui uma vantagem econômica e ecológica determinante ao se economizar combustível já que não tem água para evaporar no forno, o que reduz custos e diminui a emissão de poluentes. WILLS (2010) cita como um impacto positivo “a geração de empregos e novas oportunidades de negócios para a população local, particularmente em regiões mais remotas, onde existem poucas opções de desenvolvimento econômico”. A indústria brasileira tem motivos para se orgulhar: o padrão de emissões é referência mundial, como o país com a menor emissão de CO2 por tonelada de cimento (MDIC, 2013).

Como denota CARVALHO (2008): “A indústria do cimento é uma atividade que representa elevado potencial poluidor”. Em todas as etapas do processo existem o risco de poluição. Os Impactos Ambientais negativos segundo WILLS (2010) incluem danos à paisagem, poeira e ruídos, e emissões de gases poluentes, reforçados por PINHO (2012) que relata a extração de matérias-primas, afeta a população próxima as minas, à biodiversidade e a alteração nos registros fósseis. Também o autor contribui ao listar os impactos decorrentes da operação fabril inclui ruídos, resíduos sólidos e contaminação dos rios pela drenagem de águas pluviais.

6 CONCLUSÃO

As proposições não são tão simples como se gostaria. Poder-se-ia discorrer longamente sobre as formas de se calcular a eficiência econômica através da relação Custo-Benefício. Poderia se eleger a teoria do Valor Econômico Total (LIMA JUNIOR e MARQUES: 2011). Entretanto foi abordado puramente os conceitos e o processo de produção do cimento.
Aproveitando a revisão literária, conclui-se que a eficiência econômica e a ecoeficiência só ocorrem no caso de a indústria de cimento se ocupar em reduzir seu impacto ambiental na região (ou ecossistema) onde está inserida. Como WILLS (2010) declarou: “O modo que as companhias valoram e gerenciam os aspectos sociais e ambientais afeta diretamente a qualidade de vida das comunidades envolvidas, e também a reputação da indústria cimenteira”. Um conceito bastante interessante a ser considerado é o de ecoeficiência através da redução de saídas ruins (resíduos, desgaste de energia), como a descrita por BURNETT e HANSEN (2008).
Ainda que a indústria de cimento brasileira seja referência em economia, outras alternativas devem ser repensadas no presente. Existem trabalhos que aproveitam o co-processamento de queima de outros resíduos ao passar para a fase de clinquerização do cimento, destruindo termicamente a produção de resíduos (CARVALHO: 2008). Outra possibilidade é a intensificação do uso de cimentos à base de escória de alto forno, reduzindo assim a dependência de insumos básicos. Neste último caso, há apenas a postergação da utilização de uma matéria necessária.

REFERÊNCIAS


BIROL, E. et al. Assessing the economic viability of alternative water resources in water-scarce regions: Combining economic valuation, cost-benefit analysis and discounting. Ecological Economics 69 (2010) 839–847.

BURNETT, R. D. e HANSEN, D. R. Ecoefficiency: Defining a role for environmental cost management. Accounting, Organizations and Society 33 (2008) 551–581.

CARVALHO, Maria Beatriz Maury de. Impactos e Conflitos da produção de cimento no Distrito Federal. Dissertação (Mestrado). Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília. Brasília, 2008.

FERNANDES, Pedro Onofre. Economia da Informação. Revista da Informação. Ciência da Informação, Brasília, 20(2): 165-168, jul./dez. 1991.

LIMA JUNIOR, E. M. de. e MARQUES, L. J. S. Economia Ecológica: Uma abordagem teórica sobre Valoração Econômica para uma Análise Custo-Benefício, 2011. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso para Bacharel em Ciências Econômicas). Universidade Nove de Julho - UNINOVE. São Paulo, 2011.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC - Nota Técnica Plano Indústria, Subsetor Cimento. Brasília, 2013.
_________________. Plano Setorial de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Indústria de Transformação. Brasília, 2013.

MOURA, Luiz Antônio Abdalla de. Economia Ambiental: Gestão de Custos e Investimentos. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000.

PINHO, Marcelo. Economia de Baixo Carbono: Avaliação de Impactos de Restrições e Perspectivas Tecnológicas – Indústria do Cimento. Ribeirão Preto, BNDES, 2012.

SANTI, A. M. M. e SEVÁ FILHO, A. O. Combustíveis e riscos ambientais na fabricação de cimento: casos na Região do Calcário ao Norte de Belo Horizonte e possíveis generalizações. II Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade – ANPPAS. Campinas, 2004.

SISSINO, C. L. S. MOREIRA, J. C. Ecoeficiência: um instrumento para a redução da geração de resíduos e desperdícios em estabelecimentos de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(6):1893-1900, nov-dez, 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/csp/v21n6/29.pdf> Acessado em: 15/05/2014.

THOMAS, J. M., CALLAN, S. J. Economia Ambiental: fundamentos, políticas e aplicações. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

VELLANI, C. L. e GOMES, C. C. M. P. Como medir Ecoeficiência Empresarial? XII Seminários em Administração – SEMEAD. São Paulo, 2010. Disponível em: < http://www.ead.fea.usp.br/semead/13semead/resultado/trabalhosPDF/215.pdf> Acessado em:15/05/2014.

WILLS, William. Industria de Cimento. Projeto Perspectivas dos Investimentos Sociais no Brasil (PIS), Estudo # 61. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Belo Horizonte, 2010. Disponível em: <http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/pis/Estudo%2061.pdf> Acessado em: 16/05/2014.

WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT – WBCSD. A Eco-eficiência: criar mais valor com menos impacto. Lisboa, 2000.

 

 

(1) “Ecoefficiency claims that it is possible to increase productivity and thus reduce costs while simultaneously improving environmental performance”.