A EFICÁCIA DO EROTISMO NA LITERATURA DOS SÉCULOS PASSADO

Por Gilvan Dias Soares | 15/11/2016 | Literatura

Resumo

Por meio das grandes elaborações que vinculam sexualidade e subjetividade, este trabalho tem como objetivo trazer uma reflexão a respeito do conceito fundamental de pulsão, tendência e literatura, tendo em vista ser um construto teórico capaz de demarcar a descontinuidade da psicanálise em relação à ciência sexual, que produziu, na modernidade, um saber sobre o sexo como verdade do sujeito. Inicialmente, situa-se o caráter cientificista da psiquiatria para, em seguida, destacar o aspecto distintivo da teoria Queer mediante a compreensão do campo pulsional através do erotismo. Finalmente, ressaltar a amplitude da concepção sobre o erotismo estabelecida pela psicanálise, que, por ultrapassar questões reprodutivas, posiciona-a como uma teoria bastante relevante para analisarmos os novos formatos que a sexualidade vem assumindo atualmente.

1. INTRODUÇÃO

A relação entre sexo e verdade tornou-se fundamental para os modos de subjetivação da modernidade. Especialmente no século XIX, tendo como uma de suas questões centrais a própria constituição daquilo que nomeamos sexualidade. Tomada como algo que faz parte da idealização de uma natureza humana, pois vinculada à reprodução e a seu aspecto essencial para a existência dos seres vivos, a sexualidade acabou sendo compreendida, em função disso, como detentora de um caráter de perenidade e de imutabilidade. Sem muitas demandas Rosa (2008), deixa bem explicito o que é preconceito e descreve dizendo que é: Uma atitude não positiva contra pessoas de um grupo que não se identifica, fundamentado apenas por pertencer ao grupo, ou seja, um sujeito que tem preconceito contra homossexuais, vai atribuir a todo o grupo as mesmas características, achando que todos os homossexuais são iguais (ROSA, 2008, p. 179). Com tudo isso, foi com relação à reprodução que puderam ser definidos o desvio, as patologias e os tratamentos adequados àquilo que fugia a essa regra biológica. Daí a preocupação com a manutenção da família burguesa, que se transformou, então, no modelo ideal para todas as constituições familiares vindouras, tendo em vista a fixidez dos papéis de suas personagens, facilitando, assim, o regramento de suas práticas sexuais. Para certos autores, alguns termos se mantêm hegemônicos por meio da negação de determinados assuntos, sobre os quais se afirmam por meio de uma hierarquia, mas para Halperin (1995) sobre heterossexualidade ele define dizendo: A heterossexualidade define a si mesma sem se problematizar, ela se eleva como um termo privilegiado e sem marca, pelo processo de tornar abjeta e problemática a homossexualidade. Assim, a heterossexualidade depende da homossexualidade para lhe tomar substância – o que permite que ela adquira seu status de dada, como uma falta de diferença ou uma ausência de normalidade (HALPERIN, 1995, p.44). Dessa forma, as distinções históricas quanto à forma como se lida com o sexo são definidas como; a carne para os cristãos e a sexualidade para o homem moderno, uma tradução do veio do grego os Aphrodisia. Se na Grécia Antiga os atos sexuais não regiam a constituição de quem se é, pois não havia ainda a experiência de uma interioridade que singularizava os sujeitos e os identificava às suas preferências sexuais. Se formos analisar de fato, veremos que a carne não é inteiramente sinônimo de sexualidade, tendo em vista que o pecado da gula também será configurado como problema, pois as mesmas ressaltariam sobre a mesma dimensão. Diante da nostalgia do “essencialismo estratégico”, vale recordar que Foucault (1999), posicionou-se sobre o uso tático da identidade, ou seja, apenas em contextos pontuais e de curto prazo, mas, no longo prazo, defendeu a necessidade de uma estratégia não idêntica, onde diz que: Neste domínio, nem sempre eu fui bem compreendido por certos movimentos visando a liberação sexual na França. Embora do ponto de vista tático seja importante poder dizer, em dado momento, ‘Eu sou homossexual’, não deve, em minha opinião, por um tempo mais longo e no quadro de uma estratégia mais ampla, formular questões sobre a identidade sexual. Não se trata portanto, neste caso, de confirmar sua identidade sexual, mas de recusar a imposição de identificação à sexualidade, às diferentes formas de sexualidade. É preciso recusar satisfazer a obrigação de identificação pelo intermédio e com o auxílio de uma certa forma de sexualidade [...] Eu me recuso a aceitar o fato de que o indivíduo pudesse ser identificado com e através da sua sexualidade (FOUCAULT, 1999, p. 306). Entretanto, foi apenas através da constituição do dispositivo da sexualidade, e de sua disseminação, que se abriu a possibilidade de colocar uma questão que se tornou inevitável, ou uma pergunta, bastante coerente: Que ser sexual é você? Essa pergunta foi evocada principalmente em relação ao que foi produzido no período oitocentista, conforme foi salientado acima, leva-nos a outro questionamento, mais voltado para os dias de hoje: será que a relação que temos com nós mesmos ainda nos constitui como seres sexuais? Não há dúvidas de que o mundo atual tornou-se distante, em muitos aspectos, daquele que foi discutido anteriormente na história da sexualidade. Abordando sobre esse tema, a Teoria Queer propôs uma atenção mais crítica a uma política do conhecimento e da diferença Miskolci (2007), descreve dizendo que: Dessa forma, os estudos Queer se diferenciariam dos estudos de gênero, vistos como indelevelmente marcados pelo pressuposto heterossexista da continuidade entre sexo, gênero, desejo e práticas, tanto quanto dos estudos gays e lésbicos, comprometidos com o foco nas minorias sexuais e os interesses a eles associados. Cada uma dessas linhas de estudo tomaria, como ponto de partida, binarismos (masculino/feminino, heterossexual/homossexual) que, na perspectiva Queer, deveriam ser submetidos a uma desconstrução crítica. Queer desafiaria, assim, o próprio regime da sexualidade, ou seja, os conhecimentos que constroem os sujeitos como sexuados e marcados pelo gênero, e que assumem a heterossexualidade ou a homossexualidade como categorias que definiriam a verdade sobre eles (MISKOLCI, 2007, p.10-11). Essa atração, nos chama a atenção para o fato de que a relação estabelecida pelo sociólogo, entre essa teoria Queer, nos admite e diz respeito a um modo de subjetivação hoje em declínio. Neste, aspecto observa-se uma minimização da experiência voltada para a interioridade e um incremento da identidade referenciada ao corpo, ou seja, um corpo configurado em termos médicos. Ainda assim, ressalta o método e as análises propostas por Foucault permanecem válidas para pensarmos as mudanças pelas quais vêm passando a forma como lidamos com a nossa sexualidade e a maneira como estamos constituindo aquilo que denominamos de subjetividade contemporânea. Em termos dessa subjetividade a perspectiva Queer constitui uma proposta que se baseia na experiência subjetiva e social da abjeção como meio privilegiado para a construção de uma ética coletiva. Portanto, o propósito deste trabalho é fazer uma reflexão sobre a concepção de sexualidade para os séculos anteriores, trazendo o conceito de pulsão como uma especificidade essencial da teoria, pois demarca uma descontinuidade em relação às demais estratégias para produzir o sexo-verdade na cultura moderna. Para atingir a um objetivo maior, tomou-se como referência, dentro do dispositivo da sexualidade, a psiquiatria que sustentou sua cientificidade para, em seguida, ressaltar sobre a teoria freudiana em seus aspectos emblemáticos, como o campo pulsional e erótico. Por fim, discutir sobre a mudança na maneira como lidar com a sexualidade hoje em dia e de que forma a psicanálise pode se inscrever nessa eficácia. Desse modo, busca-se desenvolver uma pesquisa bibliográfica, que expandirá sobre a eficácia do erotismo, para que todos possam conhecer melhor esse assunto e serem capaz de apreciar um convívio diferenciado dos que estão acostumados a vê. Para Ferrão (2007), o método bibliográfico esta relacionando com esse tipo de pesquisa, pois ele próprio aborda dizendo que: Para o acadêmico, a pesquisa bibliográfica é a técnica mais importante, pois através dela, adquire-se e renova-se o conhecimento sobre um assunto. Através das consultas realizadas nas fontes bibliográficas, exercita-se a capacidade de leitura, análise, síntese, raciocínio lógico e interpretação; aprimora-se a criatividade e a capacidade de expressão escrita e oral; transforma o seu conhecimento empírico em cientifico; passa-se a ter mais confiança na ciência; prepara-se para o mestrado e doutorado (FERRÃO 2007, p.61). Ainda consegue-se ressaltar a analise da posição da psicanálise em relação à psiquiatria justifica-se por alguns aspectos. Primeiramente, visa chamar a atenção para a relevância da eficácia nos dias atuais. Em se tratando de sexualidade um dos autores mais convictos para se basear é o filósofo francês Michel Foucault, onde a referências é muito grande para qualquer estudo que se disponha a investigar a sexualidade.

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